Forjando os Reinos – Tharamralar “Sangue dos Observadores”
por Ed Greenwood
traduzido por Daniel Bartolomei Vieira
disponível em: http://dnd.wizards.com/articles/features/tharamralar-blood-beholders
Imagem de Destaque, “Ranger Attacks”, por Jesper Ejsing
Como, onde e quando os Reinos Esquecidos começaram? Qual é o cerne da criação de Ed Greenwood, e como o Grande Mestre dos Reinos usa seu próprio mundo quando narra aventura de D&D para os jogadores em sua campanha? “Forjando os Reinos” é uma série onde o próprio Ed Greenwood responderá essas perguntas, e mais.
Ao longo dos séculos, muitas lendas locais (lendas horríveis, geralmente) de toda Faerun falam de famílias humanas que serviam a observadores (ou eram escravos de tiranos oculares), que cultuavam observadores em vários cultos interioranos e urbanos de “fundo de quintal”, e que até mesmo criavam observadores que poderiam mudar de forma.
A maioria das pessoas nos Reinos ridiculariza tais lendas, porém, secretamente, temem a idéia de que alguns tiranos realmente possam se metamorfosear e morar entre humanos sem serem detectados. Os sábios, quase que em na totalidade, rejeitam a ideia de que os observadores e os humanos, em qualquer forma, possam ter descendentes; eles acreditam que a maioria desses contos começou como explicações incorretas para humanos sendo feitos para se parecerem como observadores, ou vice-versa, através do uso de ilusões mágicas.
A palavra que se espalha agora, é que um indivíduo bonito, carismático e totalmente implacável pode ser uma prova viva de que pelo menos um observador mudou de forma e foi bem-sucedido em se reproduzir com um humano.
O Homem-Observador
Tharamralar afirma não ter sobrenome, mas é conhecido por espalhar o apelido que tem quando chega a uma cidade, e depois negocia em cima o medo ou do respeito que este gera. Até mesmo os céticos observaram duas habilidades que podem sustentar a crença de que ele é do “Sangue dos Beholders”. Ele irradia um campo antimagia contínuo, invisível e de curto alcance (semelhante aos poderes da maioria dos olhos centrais dos tiranos), e ele tem olhos que podem se abrir nas palmas de ambas as mãos. Cada um emite feixes mágicos quando ele deseja. Ele normalmente mantém as mãos fechadas; elas têm pálpebras sobrepostas e sem cílios, que são difíceis de serem vistas entre as linhas profundas de suas palmas calejadas pelo trabalho. Os contos variam muito sobre os efeitos mágicos que esses feixes oculares têm, mas todos os relatos concordam que são feixes estreitos e retos que não vão longe (talvez de vinte e um a vinte e quatro metros, no máximo) e que Tharamralar deve manuseá-los com cuidado para não errar os alvos. Ele não é considerado por ter uma boa mira, e é mais efetivo com seus feixes oculares contra alvos ou inimigos imóveis no alcance de doze metros.
Alguns relatos dizem que Tharamralar também tem dois bastões oculares retráteis nas axilas, e que eles também emitem feixes contra inimigos (telecinese e efeitos de lentidão são mais frequentemente descritos), mas a maioria dos relatos não faz menção a estes.
Todos que afirmam conhecer Tharamralar de perto, e quem sobreviveu para escrever ou falar sobre isso, mencionam alguns atributos adicionais: O “homem-observador” é resistente à maioria dos venenos, regenera-se muito rapidamente (e, portanto, quase foi morto várias vezes, mas sobreviveu e mostra poucos sinais de ferimentos anteriores), e evita a intimidade, não mantendo amantes.
Algumas testemunhas (incluindo a veterana ladra Yarathra “Mão-Ligeira”, de Athkatla, famosa por dançar pelos telhados para celebrar os roubos bem-sucedidos; e o, aparentemente idoso, comerciante de caravanas Tharagul Mrosk, de Scornubel, considerado um dos fabricantes e vendedores mais bem-sucedidos das “medicinas” [remédios líquidos engarrafados] na Faerun de hoje) dizem que Tharamralar precisa de muito pouco sono, e muitas vezes dorme por breves períodos durante o dia, na sela da montaria ou mesmo sentado a uma mesa. Assim, durante a maioria das noites, ele está desperto e alerta, geralmente maquinando, embora possa, em certas ocasiões, fingir dormir para acalmar os possíveis atacantes, de forma a revelar-lhes as intenções.
Sabe-se que Tharamralar é habilidoso no arremesso de facas e em cobrir as lâminas das armas que usa com vários venenos e peçonhas, preferindo aqueles que causam paralisia.
Uma Carreira Vilanesca
Nos últimos anos, Tharamralar viajou pelos Reinos, de cidade em cidade, posando como um comerciante de caravanas. Ao chegar em uma cidade que não esteve antes, ele se oferece para ser contratado para trabalhos servis (como carregar, descarregar, entregar, receber pedidos ou entregar mensagens; tarefas que permitem que ele se desloque com frequência pela cidade e observe) e, despretensiosamente, descobre quais indivíduos locais têm muita riqueza portátil (geralmente mestres de guilda, chefes de crime locais ou nobres).
Tharamralar aprende o que puder facilmente das rotinas deles, bem como interesses e paradeiro habitual, então ele se põe a considerar como melhor matá-los e aproveitar a riqueza deles. Freqüentemente, isso envolve enganar as vítimas com crises imaginárias para fazê-las liquidar as riquezas, movimentar depósitos de tesouro de um lugar para outro ou, pelo menos, fortalecer a tutela sobre a riqueza deles, de modo a revelar a localização destas.
Se um nobre ou uma guilda já estiver silenciosamente fazendo negócios com um lorde do crime, Tharamralar pode assassinar e personificar aquele lorde, ou se posicionar como um rival e tentar amedrontá-lo para fazer com que este faça algo imprudente, ou fazer com que clientes abastados tomem decisões precipitadas. Como resultado, ele acaba brevemente como o chefe do crime local em várias ocasiões. Ele parece ter adquirido uma antipatia por tais carreiras ultimamente, e agora ele prefere montar chamarizes ou iscas para o senhor do crime, pegando dele o que precisa e deixando-os para enfrentar as consequências ou qualquer guerra entre as cabalas criminosas rivais que resulta disso.
Tharamralar é motivado a acumular moedas (quando as têm em excesso, ele as usa para comprar propriedades nas cidades, a partir das quais pode obter renda) e para descobrir tudo o que puder sobre famílias poderosas e as interconexões de sangue e poder ao redor de todos os governantes do Norte faeruniano.
Aqueles que prestaram mais atenção a ele o veem como preferindo ser o poder por trás de um trono ao invés de um governante conhecido publicamente, mas o veem também como um poder capaz de controlar uma grande e importante cidade-estado (nada menor do que, digamos, Iriaebor ou Scornubel) ou, quiçá, um reino inteiro.
Táticas
Tharamralar frequentemente faz amizade e trabalha com meio-orcs, outros mestiços, “maculados” (como os humanos que têm escamas e pés com membranas, e assim se pensa que eles têm sangue de tritão ou do povo lagarto em algum ponto da ancestralidade deles), os desfigurados e feios, ou párias que são evitados por parecem diferentes do outros cidadãos, sempre que os encontra (vielas, esgotos e favelas de muitas cidades faerunianas abrigam essas pessoas).
No entanto, ele também sabe bem que, para realizar certos engodos ou negociar de maneira eficaz, ele precisará de indivíduos bonitos do tipo certo (como um membro da vigília ou guarda de uma cidade, ou um jovem nobre romanticamente desassociado) e os recruta também.
Ele toma o cuidado de inspirar a lealdade em seus subordinados, descobrindo o que eles desejam (e como podem ser motivados pessoalmente) e tenta conseguir-lhes lentamente e pouco a pouco, pois tais realizações os mantêm trabalhando para ele o maior tempo possível, enquanto os desejos e necessidades destes são alcançados. Por outro lado, ele torna exemplos brutais aqueles que o enganam ou o traem, e ele, sem hesitação, sacrifica qualquer um que tentar esconder algo dele ou se alguém avançar sobre algo que ele próprio está tentando alcançar.
Diz-se que Tharamralar tem uma memória fraca, mas ele deseja acumular fatos de chantagem e outros conhecimentos úteis sobre indivíduos e grupos que o interessam (nomes, endereços, locais de encontro, tavernas e clubes favoritos, escândalos e relacionamentos com outros feudos, além de desavenças, bem como amizades, envolvimentos românticos e laços comerciais), portanto ele anota o que descobre em uma série aparentemente interminável de “pequenos livros” daqueles do tamanho de um bolso, como ele os chama. Ele carrega um desses livros, tinta e uma pena em caso de notar algo “interessante”, o tempo todo, e mantém essa coleção bem escondida. Ele não está acima de vender informações aos rivais, mas prefere que a maioria das pessoas nunca descubra que ele toma notas e as acumula em caderninhos. Ele, certa vez, desmembrou , ainda vivo, um subalterno que se atreveu a roubar um de seus caderninhos, diante de seus outros servos.
Herança
Tharamralar não discute suas origens. Ao responder perguntas sobre de onde ele é, ele tende a responder que é de Athkatla (a menos que ele esteja em Amn no momento, ao que ele dirá ser de Saerloon) ou dirá ser de uma cidade em que ele esteve há mais de uma década, se achar que o questionador não estará pessoalmente familiarizado com o fato.
Vários ex-subordinados têm escrito curiosos e sensacionais cordéis sobre o tempo que passaram a serviço dele (escritos e publicados antes de vários “atos de desaparecimento” destes), nos quais mencionam uma misteriosa irmã mais nova de Tharamralar, chamada Anthra, que ele parece temer. Esses subalternos eram servos deixados para trás em uma cidade da qual Tharamralar partiu, e desde então eles se mudaram para outros lugares, mudaram seus nomes e aparências, e se achavam relativamente a salvos da vingança dele. Ledo engano.
Pelos relatos, Anthra é morena, mais baixa que Tharamralar, magra e de aparência bastante comum. Ela o segue secretamente até alguma cidade de tempos em tempos, ou já é uma residente da cidade em que ele chega. Depois de identificar um dos subordinados dele, ela aborda a pessoa em particular para perguntar se Tharamralar “Já está pronto para ver a sua Anthra?“, Ela, então, foge, não organizando reuniões posteriores. Invariavelmente, Tharamralar fica perturbado ao ouvir sobre ela e, normalmente, envia subordinados para caçá-la e “trazê-la de volta para mim, agora!“. As buscas que ele emprega são sempre infrutíferas. Tudo o que ela revelará é que é a irmã dele e anseia por vê-lo.
Apenas um único relato, o do bardo Skulkyn Bittersar de Portal de Baldur, descreve Anthra como tendo de “quatro a seis” aparentados de observadores (isto é, observadores flutuantes em miniatura) que voam de dentro do busto ou de esconderijos nas roupas dela, e se afastam sob ordens, presumivelmente para espionar por ela, e também, que ela fala com eles.
O comerciante de caravanas Berin “Sapo Velho” Awmgloth (assim apelidado por causa da pele acinzentada e dos olhos esbugalhados), de Delzimmer, diz que viu Tharamralar viajando com caravanas locais por anos antes de se aventurar para o norte e para o oeste da Costa da Espada, vindo das terrar ao redor do Mar das Estrelas Cadentes, o que sugere que ele possa ter nascido em algum lugar do “Leste do Sul”. Ele disse uma vez a Awmgloth que a mãe estava morta, mas não disse nada a respeito do pai.
Sobre o Autor
Ed Greenwood é o homem que lançou o cenário de Forgotten Realms, os Reinos Esquecidos, em um mundo vivo. Ele trabalha em bibliotecas, e ele escreve histórias sobre fantasia, ciência, ficção, terror, mistério e romance (algumas vezes tudo isso em um mesmo livro), mas ele fica feliz quando produz Conhecimento dos Reinos, Conhecimento dos Reinos e mais Conhecimento dos Reinos. Ele ainda possui umas salas em sua casa que têm espaço para guardar mais algumas pilhas de papel.