Como Interpretar um Dragão de Ouro como um Defensor Íntegro

Por James Haeck
Originalmente publicado em 06 de agosto de 2018 em https://www.dndbeyond.com/posts/290-how-to-play-a-gold-dragon-like-a-righteous
Traduzido por Sandro Albertini; revisado por Paulo Henrique Lima
Imagem Destacada da Wizards of the Coast


Imagem da Wizards of the Coast

O dragão de ouro encarou sua presa — um brilho fanático em seu olhar gentil e misericordioso.

O grupo tentou permanecer firme sob a imensa sobra, mal disfarçando o medo. A guerreira conteve o nó na garganta e avançou apesar do medo. Ela olhou diretamente nos olhos do dragão e conseguiu dizer, “Não somos maus, Oh, grandioso!” Não existe razão para lutar conosco, nós simplesmente…!

“Silêncio!”, rugiu o dragão. Sua voz ecoou pelos corredores daquela masmorra que lhe servia de lar. “Não tolerarei mentiras de malfeitores como você. Saquem as armas e rezem ao deus negro ao qual servem. Farei com que seu fim seja rápido.”


Não há inimigo maior em D&D do que os dragões que estão no nome do jogo. São criaturas de incrível poder, força, e — ao menos quando se trata dos dragões metálicos — beleza. Dragões metálicos, os primos de alinhamento bondoso dos dragões cromáticos, são algumas das criaturas mais poderosas do Monster Manual: Livro dos Monstros… mas devido aos seus corações nobres, poucos aventureiros têm a chance de realmente enfrentar essas criaturas.

A série “Como Interpretar” normalmente foca nas táticas dos monstros, mas visto que Waterdeep: Dragon Heist foi lançada e um dragão de ouro se destaca na arte promocional da aventura, parece apropriado dar um olhada no mais nobre dos dragões.

Lutando como um Dragão de Ouro

Dragões de ouro são os mais sábios e poderosos entre todos os dragões metálicos, e são atraídos pelos ideais de lei e justiça de forma tão fervorosa quanto suas contrapartes cromáticas — os dragões vermelhos — são atraídas pelo caos e crueldade. Sendo assim, esses exemplares dracônicos são comumente atraídos ao conflito com seus rivais escarlates e seus lacaios.

Quando se trata das habilidades de combate, dragões de ouro têm muito em comum com os vermelhos — com poucas exceções. Ler Como Interpretar um Dragão Vermelho como um Gênio do Mal, o primeiro artigo dessa série, pode lhe dar algumas ideias de como interpretar um dragão de ouro que tenha corrompido seus ideais benéficos e se entregue à maldade paranoica. Mas ainda que os dragões vermelhos e de ouros tenham muitas habilidades similares, eles se portam de maneira completamente distinta em combate. Isso devido aos seus códigos éticos divergentes e suas visões de mundo completamente contrárias.

Um monstro no D&D é mais do que seus ataques, pontos de vida… e sopro de fogo. Ainda que o combate seja uma parte de destaque e também fundamental nas regras de D&D, é uma excelente oportunidade para interpretação. Uma boa interpretação não é só falar com uma voz de personagem e repetir frases de efeito. Inclui se comportar como o ser que você está encarnando, e táticas de combate são uma parte muito importante no comportamento de uma criatura. Adotar diferentes táticas para seus impetuosos monstros irá, além de intensificar o realismo do cenário de campanha, fazer também com que seus combates com dragões pareçam únicos e inovadores, ainda que várias das habilidades sejam quase que completamente idênticas. Na verdade, muitas das habilidades de monstros são nada mais que as habilidades de outros monstros com um pequeno retoque. Isso é ainda mais frequente ainda quando se trata de dragões, já que boa parte deles apenas se diferencia no tipo de imunidade a dano e uma arma de sopro com uma particularidade.

Dito isso, essas diferenças existem por uma razão. Existe alguma diferença mecânica entre a linha de um sopro de relâmpago e um cone de sopro de fogo, e o mais importante sobre essas pequenas diferenças é que elas contam histórias diferentes. Um dragão que sopra um relâmpago passa uma sensação diferente de um dragão que sopra fogo, e os jogadores lembrarão deles de forma diferente — não importa quão céticos ou entediados eles sejam. Seu trabalho, ao encarnar um dragão de ouro, é fazer com que essas habilidades pareçam diferentes através de toques e interpretações — sem que sejam necessárias mecânicas diferentes.

Transformar as nuances da interpretação em táticas de combate não é fácil. É preciso uma leitura cuidadosa do texto e algum tempo de estudo para transformar uma coisa em outra. Uma maneira de encontrar dicas para ajudar nesse processo é focar em cada um dos traços de personalidade do dragão de ouro, conforme apresentados no Monster Manual: Livro dos Monstros; aqui estão alguns exemplos:

Nobreza. O coração justo de um dragão de ouro diz muito sobre ele, desde sua personalidade diplomática até a sua majestosa postura em combate. Ele prefere forçar os inimigos a se render do que lutar, mas jamais abriria mão de combater se um ser maléfico se recusar a se entregar. Por essa razão, um dragão de ouro geralmente faz uso de seu distinto Sopro Enfraquecedor para iniciar um combate, em vez de calcinar os inimigos com fogo. Um dragão extremamente paciente poderia até mesmo pedir a seus inimigos que reconsiderem após consumir suas forças.

“Eu os tenho sob minha mercê, e não tenho intenção de matá-los. Rendam-se agora, eu lhes darei um pouco de compaixão.

Curiosidade. Dragões de ouro podem ser os membros mais sagazes entre os dragões, mas compartilham da mesma natureza inquisitiva que marca a personalidade de seus primos metálicos. Um dragão de ouro anseia por aprender coisas novas sobre o mundo. Ainda que isso possa ser explorado como uma fraqueza, sua curiosidade não precisa implicar ingenuidade. Um dragão de ouro em combate não recorre à força bruta quando provocado, como um dragão vermelho normalmente faria, e em vez disso, busca sorrateiramente descobrir as fraquezas de seus inimigos. Você poderia representar a sensatez e curiosidade de um dragão de ouro permitindo o uso de 1 Ação Lendária para aprender algo sobre seus inimigos. Essa Ação Lendária é idêntica a característica de classe “Conheça Seu Inimigo” do Mestre da Batalha.

“Sim… agora eu vejo do quê vocês são capazes. Em meus longos anos de vida, vi muitos que faziam uso de tais táticas. Agora eu sei exatamente como derrotá-los.”

Memória Atípica. Dragões de ouro vivem por eras, mas eles não necessariamente se lembram dos humanoides pelas mesmas características que nós os reconhecemos. Citando o Monster Manual: Livro dos Monstros:

“(Dragões de ouro) constroem suas opiniões a respeito de humanoides com base em contatos anteriores. Dragões bondosos podem reconhecer linhagens humanoides pelo cheiro, farejando cada indivíduo que encontram e lembrando-se de qualquer parente com o qual tenham tido contato através dos anos. Um dragão de ouro pode nunca suspeitar da duplicidade de um vilão esperto, assumindo que o vilão tem as mesmas intenções e o coração tão puro quanto o de sua boa e virtuosa avó. Por outro lado, o dragão pode se ofender com um nobre paladino cujo ancestral roubou uma estátua de prata do tesouro deste mesmo dragão séculos atrás.”

Esse é um grande motivo para dragões nobres entrarem em conflito com um grupo de heróis. Enganado pela própria astúcia, ele pode acreditar que um membro do grupo seja como seu desonrado antepassado — um que tenha lesado o dragão séculos atrás. Ou ele pode se ressentir com o ladino desonesto do grupo, que surrupiou uma estátua de seu tesouro enquanto estava ausente. O grupo pode encontrar uma solução rápida através da rendição. Permita que isso aconteça! Esta é oportunidade perfeita para o dragão os incumbir de uma missão e exigir que provem seu valor ou enfrentem toda a sua fúria. Ou, se o grupo for muito orgulhoso para abaixar as armas, terão que lutar por suas vidas.

“Você se parece com alguém que conheci muitos séculos atrás. Vocês humanos são tão previsíveis; posso sentir o fedor do mal exalando de sua forma mortal.”

Habilidades Únicas de Combate

Como foi dito antes, dragões de ouro compartilham muitas habilidades com os outros dragões, especialmente com os vermelhos. Eles são vinculados com o elemento fogo e possuem imunidade a fogo e armas de sopro que causem dano ígneo. Entretanto, existem algumas diferenças fundamentais que fazem com que uma luta com um dragão de ouro pareça mecanicamente diferente de uma com um dragão vermelho.

Deslocamento de Natação. Tente incorporar áreas aquáticas no covil de um dragão de ouro… talvez um vulcão submerso com respiradouros geotermais lançando água superaquecida. Dragões de ouro de qualquer categoria de idade possuem um ótimo deslocamento de natação e podem usá-lo como vantagem contra os personagens na água. Podem até mesmo usá-lo para defesa, já que muitos ataques armados são enfraquecidos quando o atacante se encontra submerso — a menos que o atacante também possua deslocamento de natação!

Sopro Enfraquecedor. Todos os dragões metálicos possuem uma arma de sopro adicional, a qual divide seu tempo de recarga com o sopro que causa dano. Os de ouro possuem o Sopro Enfraquecedor, que impõe desvantagem em todos os testes baseados em Força, incluindo jogadas de ataque feitas por criaturas afetadas pelo ataque de sopro.

Metamorfose. Dragões de ouro anciões e adultos possuem a habilidade de metamorfosear-se tanto em humanoides quanto em feras. Entretanto, ao contrário da forma animal do druida, o dragão não recebe um bônus adicional nos pontos de vida, tornando essa habilidade mais útil para disfarces, diplomacia e subterfúgio. É dito que quando Bahamut, deus dos dragões bondosos, assume a forma humana para caminhar entre os mortais, ele o faz acompanhado por sete canários. Cada um desses pássaros aparentemente inofensivos é, na verdade, um dragão de ouro ancião que protege seu deus. Um dragão poderia utilizar essa habilidade para abandonar o combate e esconder-se entre seus lacaios quando uma luta começar a ficar difícil — ou usá-la antes do combate para enganar seus perseguidores.

Ações de Covil. Ainda que as Ações Lendárias de um dragão de ouro sejam idênticas as de todos os outros dragões, aqueles que se encontram em seus covis têm acesso a várias ações de covil bem interessantes. Um dragão de ouro em seu covil pode ganhar vantagem em todos os testes por um turno — basicamente ganhando os benefícios da magia de 9º círculo sexto sentido por um único turno. Ele também pode banir um de seus inimigos para um plano onírico criado por ele, de forma similar à magia banimento Essa ação, contudo, depende de um teste resistido de Carisma conforme o personagem luta contra a poderosa personalidade do dragão para escapar desse semiplano onírico. A criatura é, lamentavelmente, expulsa do plano onírico na contagem de iniciativa 20 da rodada seguinte.

Criando uma Luta entre os Caras Bonzinhos

Uma vez eu fiz o meu grupo lutar contra um dragão de ouro que tinha sido dominado por uma aberração parasita psiônica dos Reinos Distantes. A personalidade nobre do dragão tentou, por toda a luta, escapar do controle da aberração, e foi até mesmo capaz de resistir a influência do parasita por um turno e revelar ao grupo alguma informação útil antes de ser tomado pela influência da criatura maléfica mais uma vez. Resumindo, dragões de ouro são oponentes formidáveis com um potencial narrativo incrível que não é tão explorado quanto poderia ser.

Encontrar uma maneira de fazer dragões bondosos lutarem contra grupos heroicos que não seja, nas palavras de meus jogadores “um besteira forçada”, não é um trabalho fácil. Mas é possível. Estude seus jogadores e personagens. Se você conhece as motivações deles e o que os incentiva, você pode fazer com que suas ações se voltem contra eles, fazendo com que participem de um combate que nunca esquecerão.

Que encontros de combate bem-versus-bem você já experimentou em D&D? Algum foi contra um dragão de ouro? O que você nunca esquecerá nesses encontros?


James Haeck é o principal autor para os artigos do D&D Beyond, o co-autor de Waterdeep: Dragon Heist e do Cenário de Campanha de Tal’Dorei do Critical Role, e um escritor terceirizado para a Wizards of the Coast, da D&D Adventurers League e da Kobold Press. Ele mora em Seattle, Washington com sua parceira Hannah e duas gatinhas capazes de tirar sonecas dignas de dragões, Mei e Marzipan. Você normalmente pode encontrá-lo perdendo tempo no Twitter em @jamesjhaeck.


 

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