Como Interpretar um Lobisomen Como um Predador de Topo

Por James Haeck
Originalmente publicado em 06 de março de 2019 em https://www.dndbeyond.com/posts/447-how-to-play-a-werewolf-like-an-apex-predator
Traduzido por Daniel Bartolomei Vieira
Imagem Destacada da Wizards of the Coast


“Hoje é noite de lua cheia, meu filho”, disse a nobre a seu filho, uma criança de apenas três invernos. Ela puxou as peles ao redor dos ombros, o ar frio do crepúsculo a gelou até os ossos, apesar da ebulição maldita de seu sangue. Mesmo com um dia inteiro de distância, a lua crescente incitou-a a sucumbir e se submeter ao poder do lobo. Ela se ajoelhou e olhou no rosto do filho, e agarrou sua mão com força. “Lembre-se do que eu ensinei a você. Todos os dias, você resiste a essa maldição. E todos os dias estou orgulhosa de você. Mas esta noite, você não será capaz de resistir. Quando a lua surgir no céu…”. Ela se contorceu, e suas unhas, começando a formar garras compridas e peroladas, cravaram-se na palma da mão de seu filho.

O menino gritou e recuou. O sangue escorreu por seu braço até que o pêlo fino e preto-acinzentado que crescia em sua pele parou de crescer. Ele colocou a ponta da palma da mão na boca para estancar o sangramento. Sua mãe deu um passo adiante para tirar a mão da boca da criança, mas parou quando uma sombra caiu sobre ele. Uma figura estava no topo das ameias, cobrindo o sol poente e lançando o menino na escuridão.

A figura vestia roupas de homem, mas seus membros eram longos e peludos. Seus joelhos dobrados para o lado errado e suas unhas eram longas e afiadas como adagas. Seu nariz se estendia em um focinho coberto de pelo emaranhado pelo sangue.

“Querida,” o homem-lobo rosnou. “Não encha a cabeça de nosso filho com tais mentiras.”

A nobre olhou desafiadoramente para o lobisomem que assomava sobre seu único filho. Ela respondeu com um rosnado bestial. “Você fique longe dele.” Ela estendeu a mão para o cinto e puxou uma adaga com gume de prata e quase vomitou com o fedor nauseante do metal. Ela apontou para o ex-marido com o braço trêmulo. “Não dê mais um passo.”

“Meu garoto,” o lobisomem disse sorrindo, “Sua doce mãe o ensinou a lutar tanto, mas pelo quê? Para perder o controle de qualquer maneira na noite de lua cheia?” Ele saltou da ameia em que estava empoleirado e caminhou em direção ao menino. “Eu aceitei minha maldição. Eu aceitei a liberdade. Sua mãe está sufocando seu espírito com regras idiotas. Ceda à sua maldição. Fuja deste castelo cheio de portões e muralhas, e corra pelas florestas à meia-noite ao meu lado. Não torne a lua cheia desta noite mais dolorosa do que deve ser.”

“Eu disse, vá embora!”, rugiu a nobre. Ela se lançou sobre o homem, e a adaga de prata caiu de sua mão enquanto seu corpo inteiro se esticava e distendia, o pelo crescendo acinzentado. Antes que o homem pudesse reagir, um lobo monstruoso vestindo os restos esfarrapados de uma camisola estava sobre ele, rosnando e rasgando sua carne com garras afiadas como navalhas.

Enquanto os lobisomens lutavam, seu filho fugiu. A batalha deles durou até a lua subir alto no céu noturno, e a floresta escura ecoou com um coro de uivos bestiais.

Imagem da Wizards of the Coast

Os lobisomens estão entre os monstros mais icônicos do folclore europeu e da fantasia ocidental. Mesmo quando a ficção de fantasia saiu de moda, o mito do homem-lobo sobreviveu em filmes de terror e outros contos paranormais. As histórias de metamorfos que assumem a forma de animais, tanto bons quanto maus, são comuns em todas as tradições folclóricas. Assim como as bruxas, vampiros e outras criaturas clássicas de fantasia de terror, a versão do lobisomem de D&D é uma destilação de inúmeras mitologias conflitantes. Na verdade, apesar de sua etimologia lupina, o termo licantropo foi ampliado para incluir todos os tipos de criaturas, incluindo homens-urso, homens-javali, homens-rato e até homens-tigre!

Licantropos em D&D também têm uma grande diferença de quase todas as outras representações folclóricas dessa criatura: eles podem se transformar em qualquer momento, não apenas na temida lua cheia! Isso torna mais fácil usar licantropos como um inimigo tradicional, mas requer um pouco de conhecimento especializado além do amplo conhecimento do folclore que a maioria dos jogadores de D&D pode ter. Vamos explorar mais informações sobre o lobisomem, sua mitologia nos mundos de D&D e algumas táticas para você interpretá-los como inimigos inteligentes e astutos para seu grupo.

Vamos lá!

Licantropos em D&D

Esteja você assistindo O Lobisomem (1941), lendo Harry Potter ou pesquisando os julgamentos medievais de lobisomens, descobrirá que os poderes e comportamentos exatos do lobisomem diferem dramaticamente com base no narrador do conto. Em D&D, um lobisomem é um humanoide que ganhou o poder de se transformar em um lobo (ou um híbrido lobo-humano) após ser mordido por outro lobisomem. Em D&D, um lobisomem também pode nascer com a maldição se um ou ambos os pais também forem lobisomens, embora aparentemente nem todos os filhos nativos de lobisomens estejam destinados a carregar a maldição da licantropia.

Magia pode ser usada para curar a licantropia, embora alguns licantropos se irritem com o uso da palavra cura. Licantropos homens-urso são compelidos a atos bons em vez de maus, e tendem a usar sua mordida apenas para espalhar o poder de sua transformação para pessoas que ganharam tal honra. Da mesma forma, pessoas más que ganharam o poder da licantropia do lobisomem se divertem com seu poder recém-descoberto e não querem abrir mão de seu dom.

Na Europa medieval do mundo real, os lobisomens eram fortemente associados à bruxaria e ao mal herético que representavam. No entanto, alguns folclores incluíam metamorfos que se transformavam em formas animais para lutar contra o mal e as forças satânicas. Em D&D, nem todos os licantropos são maus. Lobisomens, homens-javali e homens-rato são naturalmente atraídos para os poderes caóticos e maus, neutros e maus e ordeiros e maus (respectivamente) por causa de sua maldição. Os homens-urso são atraídos para o alinhamento bom e neutro, e os homens-tigre são compelidos a atos de egoísmo e isolamento que os fazem tender para a verdadeira neutralidade.

Imagem da Wizards of the Coast

Além disso, a aventura A Maldição de Strahd inclui os homens-corvo como licantropos um tanto suspeitos, mas ordeiros e bons.

A diferença mais notável entre os licantropos de D&D e a comumente conhecida mitologia pop do lobisomem é que os licantropos de D&D podem se transformar mesmo quando não é lua cheia. Bem, alguns deles podem. Em D&D, os licantropos têm uma escolha. Se um ser está amaldiçoado com licantropia, eles podem escolher resistir a ela. A maldição permanece dentro deles, fervendo e fervendo até que o surgir da lua cheia conceda-lhes poder suficiente para superar a resistência do hospedeiro e assumir o controle. O Monster Manual: Livro dos Monstros diz que “se a criatura amaldiçoada não está ciente de sua condição, ela pode não se lembrar dos eventos de sua transformação”, sugerindo que algumas criaturas podem resistir à licantropia apenas por instinto. Considere esta regra da casa: a menos que a tendência de uma criatura seja igual à do licantropo que transmitiu sua maldição, ela automaticamente resiste à maldição, a menos que opte por não fazê-lo.

Licantropos que resistem se transformam apenas na lua cheia, como a maioria dos lobisomens da cultura pop. Eles entram em um surto sangrento, durante o qual o Mestre pode até assumir o controle do personagem. Observe que essa fúria corresponde ao alinhamento do tipo de licantropia pela qual são afetados, então, enquanto um lobisomem pode se transformar em um monstro caótico e mau na lua cheia, um homem-urso se transforma em uma criatura neutra e boa. Como é isso? Talvez o urso espreite as florestas, protegendo os viajantes contra monstros saqueadores. Se você está narrando um jogo mais leve, talvez eles invadam a mansão do governante local e destruam todos os registros de impostos de pessoas que não podem pagar.

Contudo, licantropos que cedem à maldição mudam automaticamente os alinhamentos para combinar com sua maldição. Ceder à maldição da licantropia do lobisomem, por exemplo, instantaneamente torna uma criatura propensa a atos de caos e maldade. O Monster Manual: Livro dos Monstros sugere que o Mestre pode automaticamente assumir o controle de uma criatura que ceda à maldição. Em alguns jogos, isso faz sentido. Se você tem um grupo de jogadores que pode lidar com uma pessoa interpretando um personagem caótico e mau sem arruinar a diversão de todos os outros, não há razão para o Mestre assumir seu personagem. Da mesma forma, homens-tigre neutros e homens-urso neutros e bons (e francamente, homens-rato ordeiros e maus) provavelmente ainda são bons para o grupo típico de aventureiros.

O principal benefício de se entregar ao poder da maldição é a habilidade de se transformar à vontade, permitindo que se transformem entre a forma humana, a fera e a forma híbrida de homem-fera com uma ação.

Características do Lobisomem

Como monstros, lobisomens e outros licantropos são combatentes bastante diretos. Suas defesas são numericamente fracas em todos os aspectos, com CA e pontos de vida baixos, mas um lobisomem poderoso pode encomendar uma armadura personalizada para usar em sua forma híbrida. Contudo, todos os licantropos possuem uma potente imunidade a dano de armas não mágicas que não são de prata. Armas mágicas, armas prateadas e danos de outras fontes, como magias, ainda os afetam normalmente, tornando essa imunidade menos útil ao enfrentar aventureiros de nível alto. Em níveis baixos, no entanto, essa imunidade a dano torna os lobisomens incrivelmente difíceis de se derrotar sem uma preparação extensa (e talvez cara).

Lobisomens também possuem uma fraqueza secreta – e uma força secreta. Eles têm o subtipo “metamorfo”, que possui algumas interações notáveis. Primeiro, metamorfos como licantropos, mímicos e certos slaad são imunes à magia polimorfia. Essa resistência oculta faz pouco para ajudar um lobisomem, infelizmente, já que um monstro de nível de desafio 3 provavelmente não será o alvo desta magia conjurada por um personagem. Isso se torna muito mais poderoso nas mãos de um personagem licantropo ou de um PNJ licantropo que se tornou mais poderoso do que o lobisomem padrão de ND 3.

Além disso, a magia raio lunar – que pode ser conjurada por druidas e paladinos que seguem o Juramento dos Anciãos – é especialmente poderosa contra metamorfos. Os metamorfos não têm apenas desvantagem em salvaguardas para resistir ao dano da magia, mas falhar na salvaguarda também força os metamorfos a voltarem à sua forma original, não podendo mudar novamente até que deixem a área da magia. Uma vez que a forma humanoide de um lobisomem é mais fraca ofensivamente e defensivamente do que suas formas de fera ou híbrida, esta magia pode realmente estragar o dia de um lobisomem.

Táticas do Lobisomem

Imagem da Wizards of the Coast

Lobisomens e outros licantropos não possuem nenhuma habilidade especial inata além de sua habilidade de mudar de forma e sua característica Audição e Faro Aguçados. Enquanto alguns licantropos, como os homens-urso, ganham uma opção de movimento adicional (um deslocamento de escalada), os lobisomens são limitados a se mover pelo solo. Os lobisomens são proficientes nas perícias Furtividade e Percepção, tornando-os habilidosos emboscadores que podem detectar e se esconder de suas presas com facilidade. Sua característica  Audição e Faro Aguçados  facilita ainda mais para eles seguirem suas presas.

Um lobisomem sempre quer enfrentar seus inimigos em suas formas de lobo ou híbrida, a menos que esteja tentando esconder sua licantropia. Uma vez que as imunidades e pontos de vida de um lobisomem são os mesmos, não importa a forma que assuma, um lobisomem pode assumir a aparência de um campeão invencível de um reino humano. Lâminas quebram contra sua pele “divinamente abençoada”, e ele usa seu poder e reputação para se aproximar do monarca da nação e transferir a maldição da licantropia para ele também. Uma vez que os lobisomens de D&D podem escolher assumir qualquer forma que quiserem, você pode usar isso para criar um mistério atraente em seu jogo de D&D.

Mesmo que as habilidades de um lobisomem sejam bastante simples, suas imunidades únicas a dano, proficiências em perícias e taxa de deslocamento de 12 metros permitem que você os interprete de forma diferente de outros inimigos, até mesmo de outras criaturas caóticas e más, como os orcs. Uma batalha com um lobisomem tem duas fases principais. A primeira fase é a espreita – o lobisomem espreita sua presa antes de atacar de surpresa. Se o lobisomem está caçando com uma matilha de lobos, lobos atrozes, lobos invernais, worgs ou outros lobisomens, pegar um grupo de aventureiros desprevenido pode levar a uma rodada surpresa devastadora.

Enquanto outras criaturas podem atacar e assumir uma posição defensiva, a maioria dos lobisomens está totalmente segura de sua invencibilidade, e se mantém firme mesmo quando em menor número. Somente quando se revela que um personagem possui uma arma mágica ou uma arma de prata e que o lobisomem pode ser realmente ferido, é que o licantropo começa a usar táticas mais evasivas.

Criando Licantropos Mais Complexos

Uma vez que lobisomens são mecanicamente simples, você pode querer torná-los mais complexos para manter seus jogadores ocupados. Felizmente, uma vez que quase qualquer humanoide pode ser afetado pela licantropia, é fácil simplesmente adicionar características de outros blocos de estatísticas ao bloco de estatísticas ao lobisomem.

Você pode tornar um lobisomem típico um inimigo muito mais complexo, dando a ele a característica Conjuração, como um mago ou druida, o que permite que ele conjure magias na forma humanoide ou híbrida, mas não na forma de lobo. Um lobisomem espião ou um goblin lobisomem pode usar sua característica Ação Ardilosa ou Escapada Ágil para Desengajar após cada ataque com uma ação bônus, forçando os inimigos a lutar em seus termos.

Quais PNJs ou criaturas humanoides poderiam ser licantropos interessantes? Um githyanki homem-rato? Um bugurso homem-urso? Deixem nos comentários quais licantropos legais vocês podem colocar para seu grupo enfrentar!


James Haeck é o principal escritor do D&D Beyond, co-autor de Waterdeep: Dragon Heist, Baldur’s Gate: Descida ao Avernus e do Explorer’s Guide to Wildemount, da Critical Role. É um membro do Guild Adepts, e escritor freelance para a Wizards of the Coast, D&D Adventurers League e outras companhias de RPG. Ele vive em Seattle, Washington, com sua parceira Hannah e suas felinas aventureiras, Mei e Marzipan. Você pode encontrá-lo perdendo tempo no Twitter em @jamesjhaeck.


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