Capítulo 5 – Campos Dourados – Parte 2

por Rafael Santos
Arte Destacada,  imagem da Wizards of the Coast

Os aventureiros deixaram o templo de Chauntea em direção a Estalagem Fim da Trilha Setentrional para encontrarem Miros Xelbrin. Seguiram através de Campos Dourados, divagando sobre o que acabaram de ouvir. Gigantes estavam agindo em todo Vale do Dessarin ou na Costa da Espada? Era algo a se preocupar. 

Enquanto caminhavam entre as inúmeras fazendas verdejantes de Campos Dourados, os heróis viam toda a vida que explodia na paisagem ao redor. Pomares estavam abarrotados e fartos de frutos que, de tão abundantes, se amontoavam embaixo das arvores com folhas verdejantes, os campos de trigo pintavam a paisagem de colheitas eternas, o gado era gordo, as flores eram mais coloridas, as fazendas eram largas e espaçosas para os animais. Os caules saltavam da terra boa, úmida, cheia de estrume fértil e minhocas que devoravam e ajudavam a germinar mais e mais vida. 

Tudo em Campos Dourados parecia exagerado demais. Rico demais. E tudo nascia naquela terra abençoada por Chauntea. 

As pessoas eram mais felizes, acenavam, saudavam os aventureiros. Um homem gorducho de bochechas redondas e coradas retirou o chapéu para os aventureiros e os saudou em nome da Deusa da Colheita. Uma senhora entregou uma maçã vermelha como a vida para Lara, que agradeceu com um aceno e um sorriso satisfeito. Um homem passou pela estrada logo a frente deles, guiando sua carroça puxada por dois cavalos, as rodas afundando na terra fofa, pois o veículo estava pesado de tantas frutas e legumes que transportava no carroção. 

Enquanto cruzavam o vasto campo de vida, viram erguido ao norte da cidade, um edifício de pedra de três andares com janelas arqueadas que ofereciam uma vista dos jardins circundantes. Finas plumas de fumaça saíam de suas muitas chaminés em dias chuvosos e noites frias. Estátuas de tamanho real de cavalos empinando flanqueavam as portas duplas que levavam à sala comunal.  

Acima dessas portas estava pendurado um letreiro de madeira que proclamava o nome deste grande estabelecimento, Fim da Trilha Setentrional, em letras extravagantes. A oeste do edifício principal havia um estábulo que podia abrigar e alimentar até cinquenta cavalos. 

Ao adentrarem no estabelecimento, os heróis viram toda a beleza e magnitude da estalagem. Um amontado de mesas e cadeiras de madeira nova, brilhavam de tanta limpeza. A grande maioria estava ocupada por fregueses, camponeses que viviam em Campos Dourados ou comerciantes. Uma equipe de vinte limpadores e serviçais corriam de um lado a outro servindo os clientes ou anotando algum pedido.  

– É um belo lugar! – Disse Ray olhando ao redor. 

– Bem mais agradável do que a Portal Bocejante – completou Lara. 

E, de certa forma, aquele lugar, embora cheio de gente, agradava a selvageria de Lara e Turok.  

Os heróis foram atendidos por Miros Xelbrin, um homem com seus mais de trinta invernos, alto, barba farta e barriga de tambor, braços grossos como toras e um sorriso fácil na face. Vestia-se de forma rústica, como um lenhador ou mesmo um fazendeiro local, mas se fosse comparado com os demais habitantes locais, era o mais bem vestido.  

Reconheceu de imediato o grupo como sendo de aventureiros, o que deixou Ray curioso como sempre. 

– Reconheceria um grupo de aventureiros a quilômetros de distância, meu rapaz – disse o homenzarrão com uma grande gargalhada que ecoou por toda estalagem enquanto colocava as mãos na cintura. – Venham, sentem-se em uma das mesas. Irei trazer uma bebida a vocês. 

– Senhor, estamos aqui a pedido de Morak U’gray, de Pedra Noturna – disse Vince. 

– Ora, são amigos de Morak? E como está aquele anão barrigudo e marrento? 

– Bem, senhor… mas trouxemos uma mensagem para o senhor. 

– Claro, claro. Sentem-se em uma mesa, vou levá-los bebida e comida.  

O homem se retirou para o fundo da Estalagem deixando os heróis desconcertados. Mesmo assim, eles atenderam ao pedido do estalajadeiro e se sentaram a uma das mesas. Notaram que no fundo da estalagem, uma jovem humana de cabelos curtos e negros estava sentada de pernas cruzadas lendo um grande livro, concentrada. Ela se vestia de forma elegante, com uma robe detalhado com vários desenhos feitos com fios de prata. Vince logo a reconheceu como sendo uma maga. 

– Talvez uma estudiosa de feitiços de encantamento – presumiu o mago. 

– Ela daria uma ótima parceira para você, Vince – riu Calima com a semelhança entre os modos do amigo mago e da jovem estudiosa. 

– Por que não fala com ela? – incentivou Ray. 

– Não viemos aqui para isso. Temos que entregar a mensagem para o estalajadeiro e ir embora. 

– Qual o problema de você chegar até ela e conversar sobre assuntos de metamagia e coisas da arte? – Calima ainda tinha um sorriso divertido na face. 

Após muita insistência dos amigos, Vince se levantou e foi conversar com a jovem. Descobriu que ela se chamava Naxene Drathkala, uma Águaprofundense membro da Ordem Vigilante dos Magistas e Protetores de Águas Profundas, que tem um acordo com Campos Dourados. A cada inverno, a guilda enviava um de seus membros para Campos Dourados como um sinal de seu compromisso em proteger os interesses de Águas Profundas. Tal mago servia por um ano e atuava como uma ligação entre a cidade e a abadia, embora também ajudasse na defesa de Campos Dourados e que ela era a atual agente da ordem na cidade. 

– Vivo em uma suíte luxuosamente decorada acima do estábulo dessa estalagem, e passo a maior parte do meu tempo escrevendo artigos sobre assuntos arcanos e esotéricos – completou a jovem. 

Vince estava visivelmente interessado nos assuntos de Naxane. Além de ser um membro da Ordem Vigilante, Naxene era um agente da Aliança dos Lordes e uma espiã leal para a Senhora Laeral Mão Argêntea. Vince falou sobre seus objetivos em ingressar na Aliança dos Lordes e se encontrar com a própria Senhora Declarada de Águas Profundas. 

– Sua família é muito requerida nas fileiras da Aliança dos Lordes, senhor Harpell – disse a jovem com um sorriso gentil – Irei recomendá-lo para senhora Laeral na próxima carta que enviar, em dois dias, para Águas Profundas. 

– Eu agradeço grandemente, milady.  

Os demais heróis estavam em sua mesa, vendo toda a movimentação ao redor. Entre os outros clientes do Fim da Trilha Setentrional, estavam numerosos atores, músicos, acrobatas e outros artistas vindos de Águas Profundas e Vau da Adaga.  

Um halfling cantor e tocador de alaúde chamado Oren Yogilvy tocava músicas que falavam sobre comida e bebida, e de como o “Gole Dourado”, a cerveja local, era deliciosa. Uma das garçonetes disse que Oren era o único residente permanente da pousada dentre músicos e artistas de sua trupe, e que o tal “Gole Dourado” ao qual ele se referia era a deliciosa cerveja produzida por Miros. 

Não demorou muito para que a mesa do grupo fosse recheada de comida e bebida, inclusive, a tal cerveja artesanal fabricada por Miros. O Gole Dourado era uma mistura de cerveja anã com ingredientes frescos colhidos diretamente nos Campos Dourados, cuja receita Miros não revelava por motivos óbvios, é claro. Não queria que sua receita caísse nas mãos erradas. 

– Muito bem, amigos – Disse Miros ao sentar na mesa com os heróis. – Contem-me como estão as coisas em Pedra Noturna. 

– Nada bem – começou a relatar Vince. – A cidade foi atacada por gigantes das nuvens, e muita gente morreu. 

Miros ficou surpreso com a notícia. Ele sabia das atividades dos gigantes da colina na região do Vale do Dessarin, mas não sabia nada sobre ataques de gigantes das nuvens. 

– Mas essa nem é a pior das notícias… 

Miros encarou os heróis preocupado. Calima contou ao homem sobre a morte dos pais dele, deixando Miros Xelbrin visivelmente abalado. 

– Eu… eu sempre pensei que em Pedra Noturna eles estariam protegidos – disse Miros cabisbaixo e visivelmente triste. – Não pensei que meus pais fossem ter um fim assim. 

Miros conversou mais um tempo com os heróis e então se retirou para um dos quartos para chorar seu luto. Os heróis também demonstraram abate após entregar a triste notícia ao pobre homem. 

– Que os deuses o confortem – disse Lara. 

Durante aquela noite, Calima tocou uma animada música com o halfling Oren Yogilvy. O pequeno até que era habilidoso com seu instrumento musical, mas as habilidades artísticas da elfa eram infinitamente maiores, e os clientes se encantavam não apenas pela beleza da barda, mas também por suas belas canções sobre lendas élficas, guerras épicas e heróis fantásticos.  

Após a apresentação, Calima convidou o pequeno halfling a se juntar a ela e seus companheiros na mesa para que pudessem trocar histórias. 

– Oren, por um acaso ouviu boatos sobre gigantes vagando pela região? – perguntou Calima. 

– Hmm… gigantes. Na verdade, sim. – disse Oren coçando o queixo. – Acho que ouvi alguns fazendeiros mais cedo dizendo que haviam visto gigantes da colina vagando pela região do outro lado do Rio Dessarin. Alguns disseram que eles estavam acompanhados de ogros e goblinoides. 

– Gigantes acompanhados de goblinoides nunca é uma coisa boa! 

– Sim, também ouvi alguns boatos de que eles estiveram atacando fazendas. Até Campos Dourados teria sido atacado alguns dias atrás, mas isso eu duvido muito. Por mais burros que gigantes da colina sejam, eles não chegam ao nível de atacar um lugar fortificado como Campos Dourados. 

Calima ia falar algo, mas de repente todos ouviram um estrondo ensurdecedor. Mesmo ao longe, o barulho foi ouvido por toda fazenda de Campos Dourados. 

– Poderosa Yondalla! O que foi isso? – Oren pulou da cadeira com os olhos esbugalhados. 

Outro poderoso estrondo.  

– Estamos sob ataque! – uma voz era ouvida vinda do lado de fora. – Às armas! Às armas! 

Os aventureiros correram para fora da taverna. Uma névoa baixa cobria e espalhava-se entre as fileiras de cabanas escurecidas da abadia de Campos Dourados. A noite estava visivelmente nublada, e nenhuma estrela era vista no céu. 

Enquanto se perguntavam o que estava acontecendo, Lara olhou para cima e viu uma enorme pedra vindo voando na direção da taverna. 

– Cuidado! – gritou a patrulheira, assustada. 

Lara se jogou sobre Ray e o tirou do caminho da enorme pedra que explodiu contra a taverna logo atrás, destruindo parte dela e a fazendo desmoronar. Vince, Calima e Turok escaparam facilmente da enorme rocha. Os clientes e alguns trabalhadores berraram de pavor, enquanto um homem azarado foi atingido pela enorme rocha e pelos destroços que caíram do teto. 

Miros desceu do seu quarto berrando apavorado e atordoado com tudo o que estava acontecendo. 

– Por Chauntea, minha estalagem! 

Do lado de fora, o grupo de heróis viu quando de dentro da nevoa surgiram vários goblins, mas eles estavam acompanhados de hobgoblins, criaturas maiores, do tamanho de um humano adulto, alguns eram fortes e bem constituídos, outros eram magricelas, mas aparentavam agilidade enquanto brandiam suas cimitarras no ar. As outras criaturas eram bugbears, seres tão grandes quanto Turok, inchados de músculos e com o corpo coberto de pelos negros e marrons. Todos tinham algo em comum, a sagacidade e a maldade das criaturas selvagens no olhar. Estavam acompanhados de ogros e liderados por dois gigantes da colina.  

As criaturas urravam e avançaram sobre os heróis que após um berro de fúria de Turok, partiram em direção aos monstros. Um dos gigantes que segurava uma grande pedra, urrou e arremessou a rocha contra eles. Os heróis saltaram para longe escapando da pedrada que atingiu o chão. A rocha quicou e foi cair sobre uma das casas próximas.  

Os goblinóides correram na direção ao grupo, se jogando em uma batalha furiosa. Lara começou a disparar flecha após flecha em direção aos inimigos, pedindo a Mielikki que guiassem suas setas. A deusa atendeu e as flechas foram se cravar no peito, e cabeça de três goblins que tombaram. Turok urrou e avançou com seu machado erguido. Quando se encontrou com os primeiros inimigos, deu com a arma contra o pescoço de um bugbear, o decapitando. Em seguida, partiu um goblin ao meio com um golpe de cima para baixo. Ray deu um salto percorrendo a distância que faltava e pousou no meio dos inimigos, desferindo uma série de golpes precisos, e a cabeça de um bugbear e um hobgoblin rolaram no chão.  

– Vocês atacaram a cidade errada, seus malditos! – gritou o guerreiro tentando intimidar os inimigos. 

Um dos ogros avançou com seu tacape erguido. Calima deu um salto adiante e enterrou a espada entre as costelas e o coração do monstro. Enquanto o ogro soltava a arma e recuava com as mãos tentando parar o sangramento, a barda cantarolou algo e pisou no chão liberando uma onda elétrica que atingiu o monstro. O ogro urrou enquanto estremecia e tombava no chão. 

Vince fez uma série de movimentos, e então suas mãos arderam e ele lançou uma enorme bola de fogo contra um dos gigantes. A esfera de chamas explodiu espalhando uma nuvem de fogo que engolfou o monstro. O seu parceiro também foi atingido, urrou e se debateu para longe enquanto o primeiro urrava e tinha sua carne incinerada. 

Turok correu e pulou na barriga do ogro que Calima havia derrubado. Usando a protuberância como um trampolim, ele soltou vários metros no ar e enterrou o machado no ombro do outro gigante atordoado. A criatura urrou de dor, e então fechou sua mãozorra no calcanhar do bárbaro. O monstro bateu o corpo de Turok várias vezes contra o chão como se ele fosse um boneco de pano, e então arremessou o meio-orc contra um celeiro próximo.  

Os heróis viram com horror o bárbaro ser soterrado por vários destroços que caíram do teto da construção.  

– Ajudem o bárbaro! – ordenou Vince. 

Lara correu para ajudar o companheiro enquanto os demais se focaram nos inimigos. Ray decapitou um goblin e depois partiu para cima de um bugbear enorme. O monstro desceu seu machado com um golpe de marreta, mas o guerreiro ergueu sua espada e aparou o golpe. Em seguida, ergueu seu joelho na boca do estomago do monstro que se curvou de dor, e na sequência decapitou o bugbear com um corte limpo de sua espada. 

O guerreiro viu quando o gigante que havia arremessado Turok longe vinha em sua direção com as mãos estendidas para agarrá-lo, mas o guerreiro foi rápido e se jogou para frente, rolando por debaixo das pernas do brutamontes que se desequilibrou e quase caiu para frente, tateando o ar.  

Aproveitando a brecha deixada pelo gigante, Calima correu com sua espada em riste e, com um movimento elegante de espadachim, enterrou a espada entre as costelas da criatura. Recitando uma poesia élfica, ela eletrocutou o monstro de dentro para fora. O gigante urrou e tombou no chão com a boca aberta liberando fumaça por todos os orifícios do corpo. 

Vince disparou uma bateria de mísseis mágicos que foram furar o peito de dois bugbear, que tombaram. O mago viu quando um o gigante que havia sido queimado por sua bola de fogo veio em sua direção, urrando de dor e fúria. O monstro deu com os dois punhos de marreta contra o mago, mas Vince recuou para trás com um salto e as mãozorras explodiram contra o solo fértil, lançando poeira para todos os lados. Vendo que teria que ter um espaço maior para conjurar seu feitiço, Vince correu enquanto o enorme gigante o perseguia. 

Lara retirava os destroços que haviam desmoronado com o impacto de Turok contra a construção. Ela imaginava que o amigo estivesse com os ossos esfarelados depois daqueles ataques possantes do gigante, mas grande foi a sua surpresa quando o meio-orc emergiu urrando de fúria cega do meio dos escombros. Seu corpo inteiro estava coberto de feridas e sangue, mas incrivelmente, o bárbaro estava bem. Talvez por sua resistência quase sobrenatural ou seu sangue orc que não permitia que caísse tão facilmente. 

Lara não teve tempo de falar qualquer coisa, pois o companheiro saltou para o meio da rua, agarrou seu machado e investiu contra os inimigos próximos urrando em uma fúria que beirava a loucura. O bárbaro desceu o machado de cima para baixo, partindo um bugbear do ombro até a altura da cintura. Os demais goblins ao redor berraram de medo e tentaram empreender fuga, mas dois foram derrubados por flechas de Lara e o outro foi interceptado por Calima que o estripou com sua espada. 

Vince corria do gigante de pele queimada. O monstro estava tão furioso e cego pela selvageria quanto Turok, e quando estava prestes a pegar o mago, Vince se jogou no chão escapando das mãozorras que se fecharam no ar. O gigante quase pisoteou o mago no processo, mas passou direto, cambaleando sem equilíbrio para frente e caindo de barriga no chão causando um estrondo. 

Ray correu e se jogou nas costas do gigante, enterrando sua espada na pele do mesmo. O monstro urrou e se levantou, debatendo-se em agonia e urrando. O guerreiro segurou firme o cabo da espada enquanto se balançava.  

– Ataquem agora! – gritava o guerreiro segurando firme o cabo da espada presa ás costas do gigante que se debatia. 

Turok correu e deu com o machado na virilha do gigante. O monstro uivou de dor e fúria e deu um tapa no bárbaro o arremessando de costas ao chão. O monstro ergueu o punho, mas não chegou a descer, pois uma saraivada de flechas se cravou em seu peito, braços e garganta criando vinhas que começaram a se alastrar pelo corpo do monstro. Lara estava ao longe, e já sacava mais flechas. 

Vince conjurou suas magias e então disparou uma bateria de mísseis mágicos que fustigaram o peito do gigante. O gigante se debateu tentando se livrar. Calima cantarolou algo e dedilhou o alaúde, então uma nuvem de adagas surgiu acima de sua cabeça e ela as fez chover sobre o monstro. O gigante não resistiu e tombou para trás, mas não antes de Ray puxar sua espada e saltar para o chão, rolando para longe e escapando por pouco de não ser esmagado pelo corpanzil.  

A batalha em frente da estalagem havia acabado. O que se via eram goblinóides e dois gigantes mortos ao redor. Aos poucos, as pessoas que estavam na estalagem foram saindo aos poucos. Miros, Oren e Naxene foram os primeiros. 

– Pelos deuses! – Exclamou Miros ao ver a carnificina diante de sua estalagem. 

– Ainda acha que as atividades dos gigantes são apenas boatos, mestre halfling? – Calima perguntou com um meio sorriso a Oren que apenas negou com a cabeça. 

– Precisamos ajudar as pessoas de Campos Dourados – disse Vince olhando ao redor. – Algo me diz que esses monstros estão atacando em várias linhas de frente. 

– Se Campos Dourados está sendo atacado, então eu vou me juntar à defesa – disse Miros empunhando firme seu machado. 

– Eu, como agente da Aliança dos Lordes e da Ordem dos Magistas devo proteger Campos Dourados – Naxene decretou. 

– Preciso curá-lo, Turok – disse Lara tocando no ombro do enorme bárbaro. 

O corpo de Turok pulsou em uma energia pura e branca, e parte de suas feridas se fecharam, mas era visível que a benção da patrulheira não fora o suficiente para fechar todas as feridas. 

– É o bastante – decretou o meio-orc com um sorriso na face. – Eu posso lidar com os inimigos nessas condições. 

– Veja se não vai morrer, grandalhão.  

E assim os heróis partiram para ajudar nas outras linhas de frente. As pessoas de Campos Dourados começavam a sair de suas casas, apavoradas e gritando. Pela cidade, a guarda se juntava aos defensores de Campos Dourados. Um grupo de entes que protegiam os pomares e bosques eram liderados por uma árvore desperta que conjurava magias druídicas e afastavam os monstros das plantações. 

Ao virarem em uma rua, notaram um bando de goblinoides e ogros lutando contra a milícia da cidade-fazenda. Os homens lutavam como podiam contra os monstros, mas não eram o suficiente. Um deles acabou sendo esfaqueado e caiu ferido no chão e o outro foi achatado por um ogro. 

– Vamos ajudá-los! – ordenou Ray já correndo para entrar na briga. 

Lara disparou quatro flechas em sucessão, que foram se cravar em dois hobgoblins que tombaram. Os monstros olharam assustados ao redor e viram quando os heróis se aproximavam. Turok e Ray decapitaram dois bugbear, e em seguida investiram contra os dois ogros. Turok avançou, pulando sobre um dos ogros e enterrando seu machado nas costas de um deles, ficando pendurado na criatura. Com o peso do seu corpo, ele faz o brutamontes tombar pesado no chão. 

Vince disparou uma bateria de mísseis mágicos e Calima conjurou adagas espectrais que foram chover sobre os inimigos, que tombaram. 

Os brutamontes tentaram atacar, mas receberam as lâminas de Ray e Turok em seus estômagos fartos. Ray enterrou a espada no joelho de um ogro, que se curvou só para em seguida ter o crânio empalado de baixo para cima. Turok deu um golpe na perna de outro ogro, que tombou. Em seguida, o meio-orc enfiou sua lâmina na jugular da criatura, a matando. Lara disparou suas flechas derrubando os últimos goblinoides.  

– Bom trabalho, amigos! Rápido e fácil! – disse Ray com um sorriso confiante. 

Os guardas estavam assustados, mas aliviados com a chegada dos heróis. A vila ardia em chamas furiosas, enquanto gigantes e goblinoides atacavam. 

– Graças aos deuses! Aventureiros! – disse aliviado um dos soldados. 

– Estão todos bem? – perguntou Vince. 

– S-Sim… mas a aldeia inteira está sendo atacada – respondeu um outro soldado mais jovem e amedrontado. – Eles estão atacando o curral e o moinho. Estão roubando nossa comida! 

– Vamos continuar ajudando, companheiros. Vocês, se juntem aos outros guardas! 

O guardas confirmam com um aceno e os heróis partiram para ajudar a população. Outros dois gigantes, acompanhados de uma pequena turba de goblinóide, atacavam as fazendas. Um deles levava duas vacas embaixo dos braços, enquanto outro corria atrás das ovelhas.  

Os goblinoides e ogros carregavam sacos cheios de frutas e grãos dos celeiros e moinhos. Várias casas ardiam em chamas ateadas pelos goblins que pulavam e comemoravam. Quando os heróis chegaram ao local, viram todo o caos causado pelos monstros. 

– Isso é um ataque para roubar comida! – disse Turok. 

– Não importa, vamos detê-los! – disse Vince já conjurando sua próxima magia. 

Calima dedilhou seu alaúde e sua música imbuiu os companheiros com coragem e aumentou suas habilidades, os inspirando a serem heróis. Ray e Turok correram para cima dos monstros. O gigante que estava carregando as duas vacas viu quando a dupla vinha correndo pela estrada. Lara, mais atrás, sacou duas flechas as armou em seu arco, soltando as setas que voaram no ar e foram se cravar no joelho do gigante. O monstro urrou e largou as duas vacas que caíram pesadas no chão mugindo e pateando o ar, desengonçadas.  

O gigante urrou em fúria e puxou seu tacape das costas, investindo contra Ray e Turok. Vince, porém, conjurou uma flecha feita de puro ácido e a soltou no ar. A seta percorreu toda a distancia e foi atingir o peito do gigante que já tinha seu tacape erguido sobre a cabeça. 

O ácido corroeu a carne e o gigante urrou, largando sua arma pesada que caiu com um baque abafado na terra fofa. Turok deu um salto percorrendo a distância que faltava e enterrou seu machado no meio do peito do brutamontes, que tombou de costas no chão com o impacto poderoso do ataque. Ray saltou e pousou sobre o monstro, enterrando sua espada na garganta dele. O gigante se debateu e morreu ali mesmo. 

Ray pulou de cima do corpanzil do gigante e avançou rumo aos celeiros, enquanto Turok pegava seu machado fincado no peito do monstro e o seguia. Lara pulou o cercado e já sacava mais flechas e disparava contra os monstros. Dois goblins incendiários tombaram e os demais viram o grupo vindo em sua direção. 

Os monstros sacaram suas espadas e foram para cima da dupla de combatentes corpo a corpo. Os dois que estavam mais à frente tombaram de imediato pelos dois talhos precisos produzidos por Ray. Turok correu para um ajuntamento maior, derrubando dois deles com um encontrão de seu ombro, depois girou o machado e destroçou o crânio de dois inimigos, Lara cravejou outros dois com flechadas no meio dos olhos.  

– Vão aprender da forma mais terrível a não atacarem uma aldeia de gente inocente, monstrengos! – Ray ameaçou enquanto se preparava para avançar sobre o outro goblin. 

Calima e Vince também pularam a cerca e se juntaram aos demais. A barda, dedilhando seu alaúde e inspirando seus aliados, aumentava as capacidades deles enquanto o mago conjurava suas magias. Seus dedos brilharam e ele disparou uma barragem de mísseis mágicos contra o outro gigante. Os dardos brilhantes serpentearam no ar e foram atingir o peito do grandalhão, que cambaleou atordoado para trás. Calima sacou sua espada longa e avançou para um combate mais próximo ao inimigo. 

– Que minha espada rimbombe com a canção trovejante! – a barda recitou sua frase. 

A lâmina da espada pareceu ficar envolta em pequenas faíscas e a elfa desferiu uma estocada contra o ventre do brutamontes diante dela. A espada entrou macia na gordura espessa e o gigante uivou de dor. Em seguida, ele desceu seu enorme punho de marreta contra a barda, que foi obrigada a recuar para trás, escapando do golpe que explodiu no solo. Os ataques eram fortes e rachavam o chão, mas eram ineficientes. O monstro golpeava usando os braços como marretas, Calima fazia movimentos de um lado a outro desviando e recuando. A barda correu e passou por baixo das pernas do gigante, cortando-lhe uma das pernas. O gigante caiu de joelhos urrando de dor.  

Um ogro desceu seu tacape pesado contra Ray, mas o guerreiro se jogou e rolou de lado, escapando. Se ergueu em um salto e enterrou a espada entre as costelas do monstro, fez força e a lâmina entrou até o limite do cabo, atravessando o coração da criatura. O ogro tombou com os olhos revirados.  

Turok girava o corpo e cabeças rolavam. As criaturas haviam-no cercado, e ele mal movia o corpanzil e não se preocupava em se defender. Seus olhos estavam brancos, tomados pelo frenesi da fúria enquanto golpeava com o machado, a lâmina subia e descia, girava e dilacerava.  

Lara atingia o outro gigante que lutava contra Calima com disparos certeiros. O monstro se enfureceu e correu na direção dela brandindo seu enorme tacape. 

– Que a vinha açoitadora de Mielikki surja para me auxiliar nessa hora! 

Enormes raízes saíram de debaixo da terra e se enroscaram na perna do gigante, que se desequilibrou e caiu pesado para frente, causando um estrondo. A meio-elfa correu e pulou sobre o corpanzil da criatura. Em seguida, começou a disparar flechas na nuca dele. O gigante, em fúria, se debateu e a patrulheira caiu de costas ao chão e rolou a tempo de não ser pega pela mãozorra da criatura.  

Ray e Turok haviam acabado de eliminar os últimos goblinoides e avançaram em direção ao gigante. O bárbaro deu um grande salto percorrendo a distância que faltava, e enterrou o machado entre o nariz deformado do gigante e seus olhos. O monstro urrou e se ergueu, debatendo-se. Ray correu por baixo das pernas dele e deu com a espada na panturrilha do brutamontes, que se desequilibrou e caiu de costas ao chão. Turok deu um outro salto no ar, e pousou sobre o monstro, enterrando seu machado no peito dele, finalizando. 

– Mais um gigante morto, amigos! – riu confiante Ray. – Mas ainda não acabou! 

Os heróis olharam ao redor e viram Campos Dourados com vários filetes de fumaça no ar, mas também perceberam que toda a comoção havia diminuído e os inimigos jaziam abatidos. 

– Na verdade, acho que já acabou sim. Está tudo muito silencioso.  

– Sinal de que os monstros se retiraram da aldeia ou foram derrotados – completou Vince. 

*** 

Os habitantes de Campos Dourados apagavam os focos de incêndio de suas casas. Os heróis estavam parados no meio da estrada, vendo toda a comoção dos habitantes da cidade-fazenda. De repente, eles são abordados pelos guardas que haviam ajudado antes. 

– Com licença, aventureiros… – disse um dos guardas, se aproximando. – Queremos agradecê-los pela ajuda que nos deram mais cedo contra os goblins e os ogros. 

– Tudo bem. Sinto muito pelo seu amigo esmagado – respondeu Ray. 

Os guardas abaixaram a cabeça, tristes. 

– Bem que estávamos temerosos com os gigantes há dias. Desde que os vimos espreitando do outro lado do Rio Dessarin.  

– Avisamos ao capitão Strog, mas ele disse para não nos preocuparmos, que os gigantes não atravessariam o rio e que Campos Dourados estava protegida. 

O grupo trocou olhares. Um homem se aproximou do grupo, trajando armadura leve. 

– O que estão fazendo aí parados, homens? 

– Capitão Strog… – disse um dos soldados, assustado. – Desculpe senhor! Estávamos apenas agradecendo aos aventureiros que nos ajudaram. 

Strog encarou os heróis. Ele era um homem que aparentava ter seus quarenta invernos. Tinha a experiência no olhar, vestia uma bela armadura impecáve, sem qualquer arranhão, e montava um belo corcel. 

– Então vocês são os aventureiros que ajudaram a lidar com os monstros, hein? 

– Fizemos apenas o que aventureiros fariam, capitão – respondeu Vince. 

– Obrigado pela ajuda. Já havíamos avistado esses gigantes e goblinoides do outro lado do rio há alguns dias atrás, mas então eles desapareceram nas colinas e não os vimos mais. Não pensei que fosse algo a se preocupar, já que temos problemas maiores para resolver. 

– Deveria ser mais cuidadoso com a segurança de sua aldeia, capitão – disse Ray encarando o homem. 

Strog ficou vermelho de raiva. Como aquele pirralho poderia dá ordens a ele? 

– Eu me preocupo com o povo de Campos Dourados, meu rapaz. Mas assim como você, também sou humano. Eu erro, e ter confiado nos muros grossos dessa cidade-fazenda me custou isso – o capitão fez um gesto com as mãos mostrando os arredores. – Agora eu vou ter que arcar com as consequências do meu erro perante a Aliança dos Lordes. 

Os heróis trocaram olhares incertos. 

Strog contou que os goblins, bugbears e hobgoblins foram os primeiros a entrar, escalando os muros nas partes menos protegidas, então eliminaram os guardas sem causar nenhuma suspeita e por fim adentraram a cidade-fazenda abrindo caminho para que os ogros e gigantes os seguissem. 

– É claro que nada disso foi pensado pelos gigantes da colina – completou o capitão. – Isso tudo é complexo demais para a pouca inteligência desses monstros. 

– Pelo menos capturamos dois deles. – revelou um dos soldados para a surpresa dos heróis. 

Strog disse que dois dos gigantes se renderam quando foram encurralados pela guarda da cidade. O capitão decidiu não os matar e investigar melhor o porquê de eles estarem atacando Campos Dourados tão de repente e em um curto espaço de tempo. 

– Estou começando a achar que isso foi uma péssima ideia – disse o capitão com olhos frustrados. – Os malditos gigantes não entendem o que falamos e nós não entendemos o que eles falam. Talvez devamos matá-los de uma vez por todas e acabar com isso. 

– Não faça isso por enquanto, senhor – pediu Calima ao capitão. – Acho que posso conseguir descobrir o que eles estão procurando ou fazendo na região. 

Strog concordou em deixar que os heróis o ajudassem, e então conduziu os aventureiros até onde os dois gigantes estavam sendo mantidos prisioneiros. 


Continua no Capítulo 6 – O Morcego de Vau Wom – Parte 1 (em breve)

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