Capítulo 3 – O Ataque dos Caça Orelha

por Rafael Santos
Arte Destacada,  Wizards of the Coast

Aquela noite no templo foi tranquila e sem nenhum incidente grave. Os heróis fizeram guarda enquanto os guerreiros de Pedra Noturna descansavam. Vince havia dito que seria melhor que descansassem, pois passaram os últimos dias em estado de alerta no Castelo Pedra Noturna. Durante o turno de Calima, a elfa percebeu que os dois goblins tentavam se soltar da maneira goblin de fazer as coisas, dedilhou algumas notas, e os dois dormiram a noite inteira, babando no colo um do outro. 

No dia seguinte, todos estavam revigorados e animados para continuar sua busca pelo povo de Pedra Noturna, estavam arrumando suas coisas para partir e dando os últimos avisos para os dois goblins se manterem comportados. 

– Como é o nome de vocês dois? – Perguntou Ray. 

– Não tente puxar assunto com essas coisas, Ray. – Lara reprovou o amigo. – Goblins não são sociáveis, e muito menos são confiáveis.  

– A qual é? Eu só quero saber o nome desses dois. 

– Meu nome é Yark. – Revelou o primeiro goblin. 

– E o meu é Glang. 

– Certo, Yark e Glang. Em sua caverna, existem muitos de vocês? 

– Muitos de nós! Chefe Hark reuniu muitos goblins para mandar saquear fazendas e aldeias! 

Os heróis trocam olhares curiosos. 

– Certo, se tentar nos enganar, vamos mata-los. – Revelou Ray. 

– Nós não trair! – Yark falou assustado. 

 De repente, Syndril e Torem subiram as escadarias do templo correndo esbaforidos. 

– Temos visitas! – Revelou Torem preocupado. – Parece ser um grupo de monges. 

Os heróis trocaram olhares preocupados e então desceram para o andar de baixo. Quando saíram para o ar livre, viram quando um grupo de sete pessoas vestidas como monges – usavam túnicas de cor marrom – e cavalgavam belíssimos corcéis. Os homens eram liderados por um sujeito de aparência exótica. Embora seu rosto fosse duro com uma cicatriz na bochecha, tinha um aspecto de certa forma encantador, e uma orelha levemente pontuda. Lara logo percebeu que se tratava de um meio-elfo, assim como ela. 

O homem parecia confuso e assustado, olhando ao redor a procura de algo ou alguém. 

– Kella Esperança Negra! – gritou o meio-elfo olhando ao redor. 

Os olhos do homem se focam nos heróis que estavam parados na entrada do templo o encarando. Ele faz um gesto para que seus homens seguissem até os heróis. 

– Ei, vocês! – chamou o meio-elfo se aproximando. 

O grupo levou a mão as armas, assim como os homens que estavam com o meio-elfo, que ergueu uma mão para que todos ficassem calmos e tirassem as mãos das armas. 

– Não estamos aqui para confrontá-los. – revelou o meio-elfo – Sou Xolkin Alassandar, monge dedicado a Ordem da Mão Branca. Estou em busca de uma companheira. 

Os heróis trocam olhares incertos, Vince assumiu a frente. 

– Saudações, Xolkin Alassandar! – fez uma mensura, o mago. – Eu temo que a pessoa a quem procura já não esteja nessa cidade, ou se estiver, esteja debaixo dos destroços dessas casas. 

– O que aconteceu aqui? 

Vince conta tudo o que sabe para Xolkin, a cada detalhe o meio-elfo trocava olhares preocupados com os demais homens ao redor. 

– Isso é tudo que sabemos. Não sei se sua companheira ainda está viva, mas fiquem a vontade em procura-la, não iremos impedi-los. 

– Faremos isso. – respondeu Xolkin com um aceno. 

Xolkin e seus homens partem para investigar a cidade, os heróis trocam olhares incertos. 

– Não sei se o que eles disseram foi verdade. – disse Calima desconfiada. – Eles não me passam confiança em seus objetivos aqui em Pedra Noturna. 

E, de certa forma, Calima estava certa. Enquanto caminhavam pela cidade destruída, Xolkin e seus homens conversavam baixo, lamentando que um “posto avançado” tão promissor tenha tido um final tão terrível. 

*** 

– Devemos partir imediatamente. – decretou Vince aos outros. – Estamos perdendo tempo aqui, e quanto mais tempo perdemos, mais os habitantes de Pedra Noturna correm perigo. 

Todos concordaram, arrumaram suas coisas e, então, se prepararam para partir em direção às Cavernas Gotejantes. Quando saíram do templo, viram Xolkin e seus homens partindo para fora da cidade. Notaram que na garupa da montaria do meio-elfo, ia uma bela mulher de cabelos dourados na altura da nuca, um olhar sagaz e confiante. 

– Vejo que conseguiram encontrar sua parceira. – disse Calima interessada. 

– Sim. – riu Xolkin. – Graças aos deuses ela ainda estava viva. Essa é Kella Esperança Negra, nossa irmã na fé. 

Kella fez apenas uma mensura e sorriu com certo desdém para os heróis. Os homens viram que os heróis tinham dois goblins com as mãos amarradas e andando a frente deles como dois cães. Um deles não resistiu e perguntou o que os heróis iriam fazer com os dois monstros. 

– Eles nos levarão onde os habitantes de Pedra Noturna estão sendo mantidos presos. – revelou Lara. 

– Boa sorte em sua empreitada! – disse Xolkin. – Adoraríamos ajudar, mas temos assuntos em Vau da Adaga.  

– Tudo bem, boa sorte. – Vince fez uma mensura. 

Quando os dois grupos atravessavam a ponte de madeira, alguma coisa no horizonte os surpreendeu. Sobre uma colina, um grupo de orcs surgia. Eram em torno de vinte deles, e os monstros olhavam para Pedra Noturna com gana de conquista. 

– Mas o que em nome dos deuses significa isso? – Perguntou um dos homens de Xolkin. 

– Não é problema nosso. – respondeu o meio-elfo. – Já conseguimos o que viemos buscar, devemos retornar imediatamente para Vau da Adaga. 

Xolkin fez um gesto e partiu em cavalgada veloz na direção contrária aos orcs. Os heróis olharam a cena com surpresa. 

– Mas que bando de covardes! – rosnou Turok. 

Sobre a elevação, os orcs rosnavam e babavam em antecipação, eram criaturas odiosas e loucas por saques e mortes. Esses em particular tinham sua peculiaridade, usavam colares feitos de orelhas pontudas – possivelmente de elfos. Um dos monstros, um orc magricelo e de aparência deplorável e mais velho que os demais, tinha um tapa olho e empunhava um cajado com a caveira de algum humanoide – possivelmente um humano ou elfo – se aproximou do que parecia ser o líder do bando. 

– O Assentamento humano parece desprotegido, chefe Gurrash. – disse o orc Olho de Gruumsh. – É a recompensa que Gruumsh está nos dando depois da nossa humilhação perante os elfos da floresta. 

Gurrash, o líder daquele bando era um orc impressionante, todo inchado de músculos e veias pulsando, sua pele esverdeada e fosca estava coberta de cicatrizes e uma de suas orelhas havia sido arrancada e ainda sangrava, mas isso não parecia incomodá-lo.  

Lembrava com desgosto daquele ferimento incômodo. Há pouco tempo atrás ele e sua tribo, os “Caça Orelhas”, confrontaram os elfos da Floresta Ardeep em um ataque fracassado que custou mais da metade da horda de orc. Os sobreviventes foram obrigados a fugir. Gurrash e vários orcs fugiram para fora da floresta, fazendo seu caminho para o sul, até esse momento. 

– Então vamos tomá-la para nós! – decretou o líder orc. – Norgra, banhe a todos com as bênçãos de Gruumsh 

Norgra, o xamã Olho de Gruumsh urrou em empolgação e ergueu o cajado no ar. Os demais orcs urraram em fúria coletiva, batendo em seus próprios peitos em um ritmo de contentamento pela batalha que estava por vir.  

Norgra, o Olho de Gruumsh, começou uma cacofonia de oração bizarra e profana, enquanto dava pulinhos, dançava, se agachava e jogava areia para o alto, enquanto os demais orcs começavam a urrar em antecipação, se deixando tomar pela fúria da batalha. 

Na entrada da cidade, os heróis estavam preocupados com tudo aquilo. 

– O que vamos fazer? – Lara perguntou curiosa. 

– Aquele é o único caminho? – Ray perguntou para Yark e Glang. 

– Sim. É o único caminho. – respondeu Yark se adiantando. 

– Teremos que passar por eles. – foi o decreto do guerreiro. 

Turok quase pulou de alegria, embora tivesse sangue orc, a lembrança do atual líder de sua aldeia e a morte do seu pai fazia seu sangue ferver, e a vontade de matar aqueles que estavam a sua frente o impulsionava para uma fúria selvagem que faria qualquer orc tremer. 

Vince respirou fundo, ajeitou sua túnica e respirou fundo. Embora não quisesse, teria que abrir caminho entre aquelas criaturas selvagens e, assim, salvar o povo de Pedra Noturna. 

– Faremos isso então. – Ray disse sacando sua espada das costas. 

– Calima, por favor! – chamou Vince. 

A barda sacou seu alaúde e começou a dedilhar o alaúde. Começou a cantar uma belíssima música que falava de heroísmo e de coragem. Os heróis foram tomados por um ânimo nunca antes sentido. Sua coragem e sua e determinação aumentavam no ritmo da música élfica. 

Do outro lado, Norgra também banhava seus aliados com sua oração profana, pedia ao deus orc que abençoasse seus servos. Os orcs urravam em uma fúria selvagem. Gurrash sacou seu enorme machado das costas e ergueu para o alto em comando. 

– Em nome de Gruumsh! – Começou Gurrash – Matem todos! 

Gurrash apontou à diante e os orcs responderam a ordem do seu líder e correram, descendo a elevação em direção aos heróis na entrada de Pedra Noturna. O líder e o xamã ficaram sobre a elevação observando o desenrolar daquela investida. 

Lara sacou uma flecha, armou e mirou, esperou que os inimigos chegassem mais perto, e então disparou a seta que cruzou uma grande distância e foi se cravar no pescoço de um dos orcs que tombou capotando no chão. Os dois orcs que vinham mais atrás tropeçaram no cadáver e então rolaram em uma confusão de braços e pernas. 

– Atacar! – Ray gritou, ordenando o ataque. 

Ray e Turok partiram para o combate corpo a corpo. Logo atrás, Lara sacou mais uma flecha e armou, mas Vince Harpell calmo e impassível, terminava um feitiço, recitando palavras arcanas enquanto erguia sua mão a frente semelhante ao movimento que Lara fazia com sua arma de longo alcance. Foi então que um arco de energia brilhante surge em sua mão, ele faz um gesto puxando uma corda invisível e então o ar queimou ao seu redor e um cheiro azedo exalou quando uma flecha feita de uma substancia caustica e corrosiva surgiu na arma de energia. Vince terminou seu feitiço. 

– Flecha Ácida de Melf! 

O mago soltou a seta que cruzou o ar, deixando respingos corrosivos por onde passava, queimando a grama e corroendo as rochas. A flecha feita de pura energia ácida encontrou o peito de um orc e então a magia explodiu em pura dor e corrosão mortal. O monstro urrou em agonia enquanto sua carne ardia e era derretida, deixando a mostra seus órgãos internos. Os respingos causados pelo impacto da seta mágica atingiram os olhos de outros dois orcs ao lado e os monstros que urraram e se debateram.  

Ray e Turok chegaram aos inimigos. O guerreiro deu um pequeno salto e atacou com a espada em riste. Um dos monstros, um orc baixinho, mas parrudo, bloqueou o ataque com sua espada enferrujada. Os dois começaram a trocar golpes tentando se atingir. Ao lado, Turok teve mais sorte e desferiu um golpe de baixo para cima, seu machado atingiu a virilha do inimigo e descreveu um corte feroz rasgando o ventre e atravessar o ombro do monstro. 

Um outro orc veio e enterrou sua espada no ombro do bárbaro, outro o atingiu na cabeça com uma maça-estrela. Turok sentiu o mundo girar e sua vista se tornar vermelha pelo sangue que escorria por sua cabeça. Tomado pela fúria, o meio-orc urrou em uma fúria doentia e desceu o machado contra o crânio do primeiro atacante, o partindo de cima até a altura do abdômen, chutou o corpo do cadáver livrando sua lâmina e urrou para o orc que o tinha atingido com a maça. 

Os demais orcs corriam em direção a Vince, Lara e Calima. A elfa barda deu um passo à frente, dedilhando seu alaúde com um leve sorriso no rosto. Com um refrão em élfico, ela ergueu sua perna direita e então pisou firme no chão. Uma onda elétrica se expandiu e atingiu três orcs que se aproximavam ao mesmo tempo. Os monstros urraram enquanto todos os seus corpos enrijeciam com a descarga elétrica.  

Lara aproveitou e disparou mais duas flechas com velocidade. As setas foram se cravar no pescoço e na cabeça de dois inimigos. Vince já terminava de conjurar sua nova magia, seus dedos a brilhar e ele disparou uma barragem de mísseis mágicos. As setas serpentearam no ar como se tivessem vida própria e foram atingir mais dois orcs. 

De sobre a elevação, Gurrash e Norgra assistiam a derrota dos seus orcs com fúria e desespero no olhar. O líder orc estava diante de mais uma vergonha perante seu deus caolho. 

– Vamos lutar. – rosnou Gurrash – Não permitirei mais essa vergonha ao nosso deus! 

Então o xamã tocou-lhe na cabeça e o abençoou. O líder orc sentiu todos os seus músculos incharem em antecipação, apertou o cabo do seu machado com força e soltou um urro enlouquecedor, partindo em um frenesi selvagem. O velho xamã orc veio logo atrás, berrando e com seu cajado erguido no ar, uma lança espectral, feita de energia fantasmagórica surgiu sobre sua cabeça e o acompanhou na investida. 

Ray se abaixou, desviando de um golpe de machado, o guerreiro passou por baixo dos braços grossos do monstro, mas não sem deixar sua espada no ventre da criatura e com um corte limpo, abre a barriga do orc, o forçando a largar seu machado e levar as mãos ao talho por onde suas tripas pulavam para fora. O guerreiro partiu para o próximo adversário, um orc enorme que usava um mangual. O monstro girava a enorme bola espinhenta sobre a cabeça aguardando o jovem guerreiro e desceu em um golpe pesado. Ray pulou para o lado, tirando o corpo da trajetória da arma que afundou no solo, e então com um golpe de baixo para cima, o guerreiro decapitou o enorme inimigo.  

Turok desferia golpes furiosos no orc que empunhava uma maça espinhenta, os dois trocavam golpes violentos. O orc desferiu um golpe no ombro do bárbaro, Turok sentiu uma dor que quase o fez desmaiar, mas aguentou firme e retribuiu o ataque. Deu com seu machado na perna direita do orc o aleijando. O monstro caiu urrando e xingando em sua língua quebrada, mas o meio-orc o finalizou enterrando sua arma no peito do infeliz. 

Quando ergueu os olhos, Turok viu Gurrash vindo em sua direção, girando o machado sobre a cabeça e urrando em fúria cega. O líder orc desferiu um golpe horizontal e o bárbaro teve que saltar para trás dando um pulo. 

– Traidor! – Rosnou Gurrash. 

O líder orc investiu contra o bárbaro desferindo golpes velozes, Turok aparou dois ataques, mas no terceiro, o machado de Gurrash atravessou a defesa e afundou no ombro do meio-orc. Turok sentiu a vida se esvair enquanto o machado entrava mais fundo em seu ombro e o líder orc o pressionava contra o chão. 

O líder orc puxou sua lâmina, se pondo sobre o meio-orc e ergueu a arma sobre a cabeça mais uma vez. Quando Turok pensava que seria seu fim, sua visão já turva pela perda de sangue ainda viu quando o líder orc foi arremessado para longe. 

Ray havia aparecido no último segundo, abraçando o líder orc pela cintura e com toda força que conseguiu reunir, se jogou para trás, rolando no chão com o enorme guerreiro. Os dois se ergueram em um salto se encarando e empunhando suas armas. 

– Se quer morrer primeiro, humano – urrou o líder orc – então que seja! 

Os dois avançaram um contra o outro e chocaram suas armas, e começaram a trocar golpes.  Lara viu seu companheiro meio-orc caído no meio da turva de inimigos e ficou preocupada. 

– Calima, venha comigo! – Disse a meio-elfa preocupada. 

Calima viu Lara correr em direção a turba de inimigos. A meio-elfa disparou duas flechas uma após a outra e cravejou a testa de dois orcs que vinham em sua direção. Um terceiro arremessou uma lança contra ela, e a patrulheira se jogou e rolou no chão escapando do ataque. O orc já sacava sua espada curta e quando ia enterrar a lâmina em Lara, Calima pisou no chão e causou um tremor de terra que fez o orc se desequilibrar e cair para frente em direção à patrulheira. Lara sacou sua espada e aparou o inimigo, enterrando sua lâmina na garganta do monstro. 

Lara jogou o corpo do orc para o lado e se levantou, agradecendo Calima que se aproximava. A elfa confirmou com um aceno e sacou sua espada. 

– Tenho poucas magias agora. – revelou a elfa. – É melhor guardar para salvar o meio-orc. 

Lara agradeceu em silêncio. As duas correram para salvar o companheiro que agonizava no meio do campo de batalha. Mas no meio do caminho, foram interceptadas por Norgra, o xamã orc que dançava em meio aos seus companheiros os abençoando com sua magia, enquanto uma lança espectral dançava ao seu redor o protegendo de qualquer um que se aproximasse.  

As duas companheiras trocaram olhares e confirmaram com um aceno, Lara sacou uma flecha, armou e disparou, atingindo o peito do orc Olho de Gruumsh o atrapalhando em sua dança bizarra. Norgra encarou a dupla e urrou em fúria, apontando o cajado na direção delas e ordenando que a arma espiritual atacasse. A lança espectral cruzou o campo de batalha e tentou empalar Lara, mas Calima bloqueou com sua própria espada e salvou a amiga. 

Lara aproveitou a deixa e correu de lado, já disparando duas flechas uma após a outra. As setas atingiram Norgra no ombro e no pescoço. O xamã orc escarrou sangue e caiu de joelhos. Calima desviou a lança espectral e correu contra o velho orc, cantarolou alguma palavra élfica e sua espada emitiu um brilho prateado. Ela enterrou a lâmina no meio do olho bom do inimigo, atravessando o crânio da criatura. 

Norgra estava morto. 

Vince disparava raios azulados de suas duas mãos espalmadas à frente. Dois orcs tiveram as faces brevemente congeladas e se debateram em agonia. Outros dois seguiram com suas lanças para estocar. O mago aproveitou uma brecha e correu para frente, agarrando a face dos dois orcs e os empurrando para trás com toda força que podia ter no momento. 

– Sintam o Toque Chocante de Mystra! 

Os dois orcs foram eletrocutados e urraram enquanto o mago os soltava aos seus pés. Vince olhou ao redor, a batalha estava terminando, faltava apenas o líder orc e alguns poucos que cercavam Lara e Calima. 

Ray recuava enquanto o líder orc tentava atingi-lo com seu machado. O guerreiro saltava com pequenos pulos enquanto a lâmina do oponente apenas encontrava o chão. As bênçãos de Gruumsh haviam deixando o corpo de Gurrash, e o ferimento em sua orelha cobrava-lhe o preço, e com isso, os ataques do orc ficavam cada vez mais lentos e imprecisos. Ray aproveitava para cansar o adversário e quando o líder orc ergueu o machado no ar novamente, o guerreiro enterrou a espada como um furador de gelo, atravessando o coração de Gurrash. 

O líder orc escarrou um rio de sangue e soltou o pesado machado no chão. O guerreiro puxou a espada, trazendo um jorro de sangue. Gurrash caiu de joelhos e então tombou morto aos pés do guerreiro. 

– Isso vai ensiná-los a não se meter mais conosco. 

Lara e Calima combatiam outro bando de três orcs. A barda bloqueia a maça do inimigo e o chuta entre as pernas. O orc solta um urro penoso enquanto se curva de dor. A elfa enterra a espada no crânio do monstro que morre ainda uivando de dor. Lara aparou uma espada com seu arco, a arma aguentou o ataque e ela aproveitou para sacar sua espada curta e então enterrou na jugular, o orc tombou de lado. Ela se virou e já viu o último orc saltando sobre ela, o peso do monstro a fez cair de costas no chão, e quando a criatura ergueu a espada para enterrá-la no coração da patrulheira, uma espada brilhante surgiu o atravessando de trás para frente. Calima havia salvado a amiga. 

Calima puxa sua espada e o orc tomba com a boca aberta em um grito mudo. A batalha havia acabado. 

– Bom trabalho, pessoal! – Ray tinha um sorriso satisfeito na face enquanto limpava a lâmina de sua espada. 

Preocupada, Lara arrastou Calima até Turok. O bárbaro ainda agonizava no chão, enquanto sangrava por um número de ferimentos. A barda usou sua música curativa para fechar a maior parte dos ferimentos do bárbaro. 

– É o máximo que posso fazer no momento. – disse Calima frustrada. – Os ferimentos foram muito graves para serem curados com magias desse nível. 

– Devemos levá-lo para ser cuidado na aldeia. – disse Vince. 

– Isso vai nos atrasar. – disse Calima. 

– Não podemos deixá-lo morrer! – era Lara preocupada. – Não podemos ir sem ele! 

Os heróis discutiram por um momento, e então decidiram levar Turok de volta à aldeia para que ele se recuperasse no templo onde os protetores de Pedra Noturna estavam acampados. Enquanto retornavam para a aldeia, Ray percebe a ausência de Yark e Glang. 

– Pessoal, aonde estão os goblins?  

Vince praguejou em silêncio, os dois goblins eram mais espertos do que se pensava e eles fugiram enquanto a batalha campal contra os orcs ocorria. 

*** 

Os heróis levaram Turok de volta ao templo de Lathander e Mielikki dentro da aldeia de Pedra Noturna. Sydiri, Torem, Alara e Kaelen ajudaram carregar o pesado bárbaro para dentro da construção e o colocaram sobre uma mesa. 

– Não podemos deixa-lo morrer! – dizia Lara preocupada com o amigo. 

– Estamos dentro de um templo, deve haver alguma poção de cura aqui. – Lembrou Calima. 

Com a ajuda dos quatro guardas de Pedra Noturna, os heróis procuraram por todo o templo, até que Calima encontrou um pequeno compartimento ao lado do palanque onde, abaixo, havia uma caixa com algumas poções de cura. 

Fizeram Turok beber uma, e como que por milagre, seus ferimentos começaram a se fechar, e em poucos segundos, o bárbaro estava de pé novamente e pronto para outra. Lara, ainda preocupada, mas aliviada, deu uma bronca no brutamontes que deu um sorriso amarelo e desconcertado. Era da natureza de Turok se jogar em um combate com tudo o que tinha de forma imprudente, se entregando apenas a selvageria. 

– Se continuar agindo assim nas lutas – Dizia irritada Lara apontando na cara do bárbaro meio-orc – você jamais vai se vingar pela morte do seu pai. 

Após a cena curiosa e até meio engraçada, os heróis agora pareciam estar sem rumo. Os pequenos e espertos goblins haviam desaparecido, os rastros que as pessoas haviam deixado ao fugir de Pedra Noturna haviam desaparecido e, acima de tudo, a batalha contra os orcs havia esgotado os recursos dos aventureiros. 

– Talvez aqueles dois goblins não sejam tão espertos assim. – Lara tinha um sorriso confiante na face. – Eles fugiram de volta para o covil deles, logo, deixaram novas pegadas fresquinhas para que possamos segui-los. 

Era um fato que Lara era capaz de detectar pegadas de vários dias. Ela poderia muito bem procurar as já apagadas marcas de pés deixados pelos moradores da aldeia no vasto campo que sai de Pedra Noturna, mas agora ela tinha um rastro muito mais fresco, e o melhor, direto ao covil dos goblinoides. 

Os quatro guardas de Pedra Noturna quiseram acompanhá-los, mas Vince achou melhor que ficassem e cuidassem da aldeia até que retornassem com os prisioneiros dos goblins. Assim, os cinco heróis deixaram a destruída Pedra Noturna para trás, sendo guiados pelos dois goblins que iam mais à frente. 

*** 

Como esperado, os rastros de Yark e Glang estavam frescos. Suas pegadas, mesmo que não fossem tão visíveis por se tratarem de criaturas leves, ainda assim estavam em evidencia na trilha que seguia até as colinas que existiam nos arredores de Pedra Noturna.  

Aquela era uma região de terreno irregular e ondulante, com pequenas e grandes colinas se mesclando e formando trilhas difíceis e que serpenteavam na paisagem. Lara ia sempre à frente, concentrada e sem perder o foco e nem os rastros.  

Quando o sol estava no meio do céu, fizeram uma parada para comerem ração de viagem. Lara disse que poderia caçar algumas lebres para fazer um guisado, mas Vince lembrou que o cheiro do cozido poderia atrair os monstros e os animais famintos da região. Após a parca refeição, continuaram seguindo os rastros, e algumas horas depois, avistaram na base da colina uma bocarra de caverna.  

Perceberam que se tratava do lugar certo, pois logo na frente, havia um grupo de quatro goblins que jogavam alguns dados feitos de ossos, e dois worgs dormiam tranquilamente. Os heróis trocaram olhares e sorriram confiantes. 


Continua no Capítulo 4 – As Cavernas Gotejantes – Parte 1

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