As Guerras do Alvorecer

Por Daniel Bartolomei Vieira


O conhecimento do nosso mundo deve ser nutrido como uma flor rara, pois é o bem mais precioso que temos. Portanto, guardai as palavras escritas e ouvi as palavras ditas – e tomai nota destas antes que desapareçam. Assim, aprendereis a arte da leitura, da escrita e distinguireis a verdade da mentira, e isto vos levá-lo-ás à maior arte de todas: o entendimento.

― Alaundo do Forte da Vela

No artigo anterior, vimos como Lorde Ao, a divindade suprema, criou os primeiros deuses, o Mar Astral e outros planos de existência e como isso levou à criação dos planetas e estrelas e a mais divindades. No meio dessa “sopa existencial”, surgiu um planeta conhecido na época como Planeta Azul, Abeir-Toril, e o florescer da vida em sua superfície atraiu os primordiais, entidades vindas de outros planos de existência. Eles tinham sua própria versão de vida e existência e começaram a interferir na criação dos deuses.

Os deuses, por sua vez, se irritaram e irrompeu uma guerra entre eles e os primordiais, conhecida como Guerras do Alvorecer. Primeiramente, a guerra era somente para definir quem governaria Abeir-Toril, mas logo ela tomou uma extensão e proporção maiores. Isso começou quando o Deus Louco Tharizdun, também conhecido como Olho Elemental Ancião, faminto por poder, decidiu criar, no meio da guerra, um lugar só para ele, em que ele fosse o governante supremo.

Para atingir seus objetivos, Tharizdun criou o Fragmento da Pura Maldade e o colocou nas mãos dos obyriths, uma espécie de demônios ancestrais tão antigos e primitivos que não possuíam forma humanoide. Até então, os obyriths viviam no vácuo e na escuridão, longe de tudo, e as poucas vezes que haviam se manifestado era para tentar destruir algumas criações dos deuses. De posse do Fragmento, os obyriths ficaram ainda mais corrompidos e enlouquecidos, e sendo Tharizdun o Deus da Loucura, também ficaram suscetíveis a ele.

Tharizdun então os enviou até o Mar Astral e ordenou que eles plantassem o Fragmento lá, prometendo-lhes, como sempre, um pedaço do que sobrasse. Embora fosse reconhecidamente louco, Tharizdun sabia que esse plano não iria funcionar como deveria, pois os outros deuses eram poderosos demais e isso não passaria assim tão despercebido. Então, em vez disso, ele decidiu pegar o Fragmento por conta própria e levá-lo até a Vastidão Elemental no Caos Elemental. Assim, além de tudo, ele não precisaria dividir nada com ninguém.

Então, no Abismo ele semeou o Fragmento, e os primordiais que haviam lá foram transformados em demônios. Nesse momento, os deuses estavam lutando contra os primordiais que estavam mexendo no Plano Material, e tiveram que deixá-los de lado para lidar com Tharizdun e o problema demoníaco que ele criou.

Tharizdun, ainda assim, fazendo por conta própria, falhou. Os outros deuses conseguiram chegar até ele e o aprisionaram em um universo paralelo conhecido como Vácuo Agonizante. Ainda que tenha sido deixado lá com plenos poderes, ele estava tão enlouquecido que não conseguia tramar sua fuga e lá ficou por muito tempo.

Enquanto as divindades lidavam com o Deus Louco, os primordiais se reorganizaram e passaram a ser liderados por Miska, o Lobo-Aranha, um demônio fugido justamente do Abismo durante o caos criado por Tharizdun. Logo os deuses estavam em pé de guerra com primordiais e demônios, e os conflitos se intensificaram.

Durante esses novos conflitos, aconteceu uma das batalhas mais violentas e marcantes das Guerras do Alvorecer:  a luta entre o deus-dragão Io e o primordial conhecido como Rei do Terror. Ousado, Io decidiu enfrentar o primordial sozinho, que com seu colossal machado de adamantina partiu o deus-dragão ao meio em um golpe só. O golpe dividiu não só o corpo físico de Io, mas também sua essência, e das metades surgiram Bahamut e Tiamat, que se ergueram e, juntos, derrotaram o Rei do Terror. Esta foi a única vez que essas divindades trabalharam juntas, pois sendo uma boa e outra má, tornaram-se eternas inimigas. Este é um dos eventos mais importantes para a história dos dragões.

Enquanto isso, sorrateiramente, o primordial conhecido como Dendar, a Serpente Noturna, se esgueirou despercebido e devorou o sol no qual Abeir-Toril orbitava. Sem tal fonte de calor, o planeta congelou e logo toda a vida que havia acabado de florescer, pereceu.

Em outra frente da batalha, uma obyrinth manipulada antes por Tharizdun e conhecida como Rainha do Caos se aliou a Miska, o Lobo-Aranha, ávida por matar todos os deuses. Isso levou a um evento conhecido como Batalha de Pesh, onde as criaturas conhecidas como Duques do Vento de Aaqa, seres muito antigos e originários do Plano Elemental do Ar, destruíram os exércitos dos Caos liderados pela obyrinth e derrotaram Miska, banindo-o para o Pandemônio. A própria Rainha do Caos mal conseguiu escapar e fugiu para o Abismo, a fim de curar suas feridas e planejar uma vingança.

Logo a batalha começou a ficar favorável aos deuses, e o golpe derradeiro se deu quando Ubtao, um dos primordiais, decidiu trair seus companheiros. Cansado da guerra, ele decidiu ajudar os deuses a aprisionar seus antigos aliados, principalmente Dendar, e fez um acordo com os deuses: ser a sentinela da prisão da Serpente Noturna, e seu algoz caso ela escapasse e tentasse destruir Abeir-Toril.

Como recompensa, os deuses deram a Ubtao o controle de sua própria porção de terra em Abeir-Toril, em uma ilha ao sul do continente de Faerûn, um lugar que ele chamou de Chult. Lá também ficava, e fica até hoje, a prisão de Dendar, dentro de um vulcão. Assim, a ilha de Chult, que agora é uma península, é uma das porções de terra mais antigas do que hoje é Toril, a única a possuir alguns dos seres mais antigos, como dinossauros.

Assim, com a traição de Ubtao, se encerraram as Guerras do Alvorecer e a geografia de Faerûn mudou e a vida voltou a florescer, naquilo que ficou conhecido como os Dias de Trovão, sobre o qual falaremos no próximo artigo. Até lá!


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