Capítulo 2 – Pedra Noturna – Parte 3

por Rafael Santos
Arte Destacada, “Worgs”  artista desconhecido

Quando o grupo deixou o templo e começou sua exploração, se depararam com uma aldeia devastada. Embora ainda houvesse casas em pé, a grande maioria estava destruída por enormes pedregulhos, e não passavam de um amontoado de destroços. Lara e Calima chegaram a ver partes de alguns corpos esmagados debaixo de uma das pedras em uma casa. 

Enquanto se aproximavam da praça principal da cidade, o grupo ouviu rosnados. Lara fez um gesto para que todos fizessem o mínimo de barulho possível e se aproximassem com cautela por entre as casas. Quando olharam de relance por detrás de uma das construções em ruinas, viram os autores daqueles rosnados selvagens. 

Dois enormes lobos bizarros, tão grande quanto pôneis de carga, estavam no meio da praça principal, eles pareciam devorar a carcaça de um animal menor, que Lara logo percebeu ser um cão. As criaturas rosnavam e gruíam uma para a outra de vez em quando, quando um deles tentava arrastar a carcaça do animal para perto de si. 

– Lobos. – disse Ray. 

– Não são simples lobos, Ray. Aqueles são worgs! 

Worgs eram um tipo de lobo demoníaco, muito maiores e muito mais inteligentes que seus primos, e acima de tudo, eram totalmente malignos. Lembravam realmente lobos, mas sua cabeçorra lupina era deformada e cheia de cicatrizes de muitas batalhas selvagens, seus pelos eram duros como espinhos, sujos e uma proporção de moscas faziam seus lares e voavam sobre eles, tinha uma corcunda protuberante que era perfeita para servir de montaria para goblins. 

– Não me surpreendo que estejam aqui. – Calima disse. – Worgs são companheiros de saque dos goblins. 

– Se estão com os goblins, – disse Ray já sacando sua espada – vamos acabar com eles! 

Enquanto cochichavam atrás da casa, os dois worgs parecem os ter ouvido, e logo voltam suas atenções na direção onde o grupo estava e rosnam, já babando em antecipação. 

– Eles nos viram! – Lara alertou, já sacando duas flechas e armando em seu arco. 

Os worgs se viraram e começaram a correr em direção ao grupo. Lara saltou de detrás da cobertura, mirou seu arco e soltou a primeira seta que voou e se cravou no ombro de um dos monstros. O worg deu um grito choroso e parou atordoado, enquanto o segundo correu para cima da patrulheira que recuava de volta para sua proteção.  

Turok saiu correndo e urrando contra a criatura. O monstro saltou no ar, a bocarra cheia de dentes aberta e as garras prontas para rasgar o bárbaro meio-orc. Turok desferiu um golpe diagonal de baixo para cima, atingindo o focinho do monstro antes mesmo desse cair sobre ele. A criatura rolou no chão em uma confusão de patas desconcertadas enquanto tentava se endireitar. 

O outro worg mais atrás uivou alto. Seu grito ecoou pela aldeia inteira. E sem que os heróis entendessem o porquê, a criatura estava chamando reforços. 

Vince saiu de detrás da casa, sua mão esquerda crispada sobre a ponta do seu cajado enquanto formava um feitiço. A ponta do seu cajado brilhou com uma luz azulada, e ele o apontou para a criatura. Um raio de luz gélido voou e atingiu o worg chorão, formando pequenas camadas de gelo sobre seu pelo.  

Ray foi o próximo, correu em direção à criatura, a espada para trás pronta para o ataque. Mesmo atordoado, o worg pateou o chão e avançou contra o guerreiro. A criatura saltou sobre ele, mas Ray se abaixou no último segundo e, então, estocou de baixo para cima, a lâmina entrou no ventre do animal, rasgando a pele macia do estomago e rasgando a carne. O worg foi estripado, e quando bateu contra o chão, suas tripas já se espalhavam no solo. 

Calima havia sacado sua espada, e correu em direção ao worg que Turok havia derrubado. O monstro havia acabado de se levantar, quando a elfa já estava sobre ele, a espada sobre a cabeça, e em uma posição elegante de espadachim, a barda cantou algo em élfico. A lâmina por um momento pareceu estalar com raios, e ela enterrou a espada na traqueia do monstro. O worg estremeceu, como se estivesse recebendo uma descarga elétrica por todo o corpo, enquanto o barulho de um trovão pode ser ouvido.  

O monstro recuou, atordoado e balançando a cabeça, e então saltou sobre Calima para mordê-la. A elfa se jogou para o lado, rolando no chão e evitando ser abocanhada pela fera que sangrava pelo ferimento que ela causou.  

– Mielikki, guie minha flecha! – Ouviu-se a voz de Lara clamando a deusa da natureza. 

Lara liberou a seta que voou toda a distância, cortando o ar. O worg, como se tivesse tido a atenção chamada pela prece da patrulheira, olhou em sua direção, só para ter seu olho atravessado pela flecha certeira. Um jorro de sangue molhou a grama, enquanto o animal se debateu em agonia. 

– Esse é meu! – Berrou Turok que se aproximava com seu machado erguido sobre a cabeça. 

O meio-orc desceu seu machado de cima abaixo, a lâmina entrou fundo no pescoço carnudo da criatura, e com a força e técnica do possante golpe, a carne se rasgou, os nervos se romperam, e o sangue esguichou em uma fonte violenta sobre o bárbaro. O worg tombou aos seus pés. 

– Vitória, companheiros! – Ray comemorava com a espada erguida no ar em triunfo.  

Mas a comemoração não durou muito tempo. Algo passou como um silvo perto de Ray e foi se cravar no chão à sua frente. Era uma flecha negra. 

– Estamos sendo atacados! – Lara alertou. 

Quando se viraram para ver o ataque, viram que não era apenas um, e sim, vários. Goblins começaram a surgir de detrás das casas, alguns armados com espadas curtas, outros com arco e flecha. Rosnavam ou sorriam de forma maligna, enquanto babavam em antecipação. 

– Comida! – Um dos goblins falou enquanto babava. – Carne fresca. 

– Era só o que faltava. – lamentou Ray – Mais goblins. 

Os monstrengos se aproximavam cercando o grupo na praça, Lara contou dez deles. Quatro estavam mais afastados, sobre os telhados das casas, tinham arcos e flechas armados e apontados para eles. 

– Cuidem dos que usam arma corpo a corpo. – disse Vince. – Eu e Lara vamos dar conta dos arqueiros. 

Todos concordaram, e então avançaram sobre as criaturas. Ray, Turok e Calima correram lado a lado sobre os monstros que também não demoraram em avançar sobre eles. 

Os goblins arqueiros começaram a despejar flechas sobre o trio, uma das setas atingiu de raspão o ombro de Turok, mas o bárbaro não pareceu se importar. Seus olhos estavam sobre um goblin de olhar perverso e selvagem que vinha em sua direção. A criatura saltou no ar com as lâminas sobre a cabeça e tentou enterrá-las na carne do meio-orc. Turok desviou com facilidade do ataque, e desferiu um golpe diagonal de baixo para cima. A lâmina do seu machado entrou fundo nas costelas da criatura que foi levantada no ar pelo golpe e arremessada longe, deixando um fio de sangue brilhante em sua trajetória. 

O outro goblin veio pelo lado e desferiu um golpe de sua cimitarra contra a coxa do bárbaro, a lâmina riscou a pele e tirou um filete de sangue do meio-orc, mas Turok não pareceu se importar, e desceu seu machado contra o crânio deformado da criatura. O goblin foi partido ao meio, e seu sangue esguichou na grama da praça. 

Ray e Calima duelavam contra outros dois monstros, enquanto eram cercados por mais dois que se esgueiravam para atacá-los por trás. O guerreiro bloqueou as duas estocadas do seu adversário, notou a tática traiçoeira do outro goblin que vinha por trás e tentou enterrar sua espada nas costelas do rapaz, mas Ray girou o corpo desconcertando o goblin, que cambaleou para frente, quase caindo de cara no chão. Ray deu um pequeno salto a diante, girando a espada sobre a cabeça e desferindo um golpe horizontal, a lâmina atravessou o pescoço do monstro com certa facilidade, e a cabeça dele rolou no chão, para desespero do outro goblin. 

Calima era uma espadachim habilidosa, seu treinamento élfico dava a ela manter-se na vantagem contra seu adversário que tentava encaixar golpes e estocadas, mas a elfa sempre bloqueava ou desviava. Ela percebeu um ataque por trás, e fez uma finta, como um passe de dança. O atacante covarde se surpreendeu e enterrou sua espada no ombro do próprio companheiro, arrancando sangue dele. Os dois goblins rolaram pelo chão. 

– Mas que dois idiotas! – Calima ria da situação. 

Os dois goblins começaram a discutir em sua língua impossível de entender, e logo entraram em uma violenta briga batendo suas cabeças uma contra a outra. 

– Poderia deixá-los se matar, mas preciso acabar com isso rápido.  

A elfa cantou alguma coisa, enquanto crispou sua mão livre à frente do corpo, raios estalaram em seus dedos. Ela apontou a mão para frente, liberando uma onda de raios que atingiu os dois goblins. As criaturas urraram enquanto se eletrocutavam. Ambos tombaram mortos com seus pelos enrijecidos. 

Perto dali, Lara e Vince davam conta dos quatro arqueiros. A patrulheira disparou uma flecha que atingiu o ombro de um dos arqueiros no telhado da casa. A criatura praguejou e tentou devolver o tiro, mas graças ao seu ferimento, sua flecha passou longe de acertar. 

 Vince havia se escondido atrás de uma carroça que estava ali perto e já estava cravejada de flechas que não o atingiram. O mago conjurava uma magia na ponta do seu cajado. Quando o feitiço terminou, ele saiu do seu esconderijo e apontou em direção aos arqueiros. Dois dardos mágicos saíram da ponta do seu cajado, serpenteando e chicoteando no ar até atingiram o peito de dois goblins. As criaturas ficaram atordoadas com a explosão de luz e se desequilibraram, caindo do telhado e indo quebrar o pescoço no beco abaixo.  

Lara rolou no chão, esquivando de duas flechas disparadas pelos arqueiros no teto, se ergueu no mesmo movimento já armando outra flecha em seu arco. Ela mirou e disparou, a seta cortou o ar e foi se cravar no pescoço de um dos arqueiros. O monstro tombou do alto com um escarro seco. Vendo que era o último dos atiradores, o goblin restante jogou o arco fora e sacou suas adagas. Ele pulou para o beco ao lado e rolou no chão, se erguendo e correndo em direção da patrulheira que já tinha outra flecha armada no arco e mirava a criatura. Sem qualquer dificuldade, Lara o eliminou com um disparo certeiro no meio do crânio. O goblin tombou sem vida. 

Lara olhou ao redor e viu apenas corpos de goblins espalhados por todos os lados. 

– Estão todos bem? – Vince perguntou. 

– Acho que sim. – Ray disse. – Só o Turok que parece ter recebido alguns danos a mais.  

– Eu não tenho mais magias que possam ajudar. – Revelou Calima. – Teremos que descansar se quisermos nos recuperar. 

– Vamos continuar investigando a aldeia por mais um tempo. – Decretou o guerreiro. – Depois retornaremos ao templo para descansar e decidir o que faremos a seguir. 

Vince olhou para o Sul de onde estavam e viu o enorme Forte Nandar existindo na paisagem. 

– O que acham de irmos para lá. – Disse o mago apontando em direção ao forte. – Talvez encontremos alguma coisa lá. 

Todos concordaram em seguir para o forte. Caminharam pela rua que dava para a enorme construção, vendo as casas destruídas, uma pequena horta ainda estava intacta, um porco estava morto e em estado de decomposição, o moinho de vento também estava intacto, existia sobre uma elevação ao longe. 

 Eles chegaram diante de uma ponte inclinada com 20 metros de comprimento e 3 metros de largura que conectava a aldeia murada à fortaleza. No entanto, uma pedra caiu e atingiu o meio da ponte destruindo boa parte de sua extensão, separando a Fortaleza Nandar do restante da aldeia. O grupo chegou à beira do buraco feito na ponte, olharam para baixo onde o rio corria feroz. 

– É uma bela queda. – disse Ray olhando para baixo. 

– Vale mesmo a pena nos arriscarmos para investigar aquele lugar? 

– Talvez haja pessoas vivas no forte. – Disse Vince. – Precisamos saber o que aconteceu com a senhora Velrosa Nadar. 

E assim, um a um, os heróis saltaram através do buraco na ponte. Turok fez isso de modo fácil, enquanto os demais tiveram que voltar alguns metros e correr para pegar impulso e saltar. Ray e Lara se saíram muito bem, saltando com habilidade e pousando em pé do outro lado. Calima quase não conseguiu, mas foi amparada por Ray. Vince quase caiu, tendo que se segurar na borda e ser puxado para cima por Turok. 

Após tudo isso, o grupo se pôs a subir o restante do caminho íngreme da ponte em direção à portaria mais acima. Dispostas na muralha da fortaleza existem duas portarias de pedras sem janelas, com telhados inclinados de telhas e madeira. Entre eles havia um par de portas de carvalho com dobradiças de ferro. Os heróis empurraram e abriram as portas revelando o interior do Forte Nandar e sua muralha, e viram toda a destruição que se espalhava por lá. O pátio interno estava repleto de rochas que foram arremessadas pelos gigantes das nuvens.  

O grupo percebeu rampas que levavam ao parapeito de pedra que circundava o pátio. Não havia sinal de nenhum guarda ou ser vivo no lugar.  

– Parece que viemos aqui à toa. – disse Ray frustrado. 

– Ainda não. – disse Vince – Vamos investigar dentro do Forte. 

Sem que percebessem, os heróis estavam sendo observados de uma das janelas da torre. A figura misteriosa se afastou e adentrou o forte. 

Os aventureiros adentraram o Forte Nandar pela porta da frente que estava aberta. Caminharam pelo largo corredor cujo teto era alto e belo. O Forte Nandar era uma construção magnifica, mesmo em estado deplorável. Havia quatros com obras de arte pelas paredes, uma das quais era uma pintura da senhora Velrosa Nandar sentada em uma cadeira, e seu marido Drezlin Nandar em pé logo atrás dela. 

Enquanto caminhavam e se aproximavam do grande salão principal, os heróis perceberam uma movimentação logo a frente. Lara alertou para que todos ficassem atentos, e sacaram suas armas, esperando encontrar mais goblins no grande salão.  

Quando chegaram no grande salão, o viram enterrado sob escombros. O ataque dos gigantes deixou o salão em um caos. Parecia vazio, se não fosse um corpo sobre os restos despedaçados de uma mesa de jantar feita de carvalho que tinha no meio da sala. O quinteto se aproximou da mesa, vendo que o corpo se tratava de uma mulher que aparentemente, morreu esmagada pelos destroços que caíram. 

– Que terrível! – disse Lara. 

– Quem é essa mulher? – Questionou Ray olhando para o corpo. 

A resposta não veio, pois, os heróis ouviram o barulho de cascalho caindo do lado. Quando o grupo se preparou para receber o que fosse que estivesse por perto, viram quando quatro pessoas saltaram de detrás dos destroços, empunhando espadas e escudos. Eram dois homens e duas mulheres, que encaravam o quinteto com fúria, mas ao mesmo tempo, tremiam de nervosismo. 

– P-parados ai! – Disse nervosamente um dos guardas – Quem são vocês e o que querem aqui? 

Os heróis trocaram olhares curiosos. Os guardas estavam visivelmente despreparados para enfrenta-los, além de parecerem cansados e fracos dos dias presos ali. 

– Não se preocupem, meus amigos. – Vince falou com as mãos erguidas e rendido. – Somos aventureiros, viemos a Pedra Noturna atender o pedido da Senhora Velrosa Nandar para lidar com os goblins da região.  

Os guardas trocaram olhares e ficaram aliviados ao ouvir aquilo. 

– Graças aos deuses! – falou uma das mulheres. – Que bom que vieram ao nosso auxilio. 

– Onde está a senhora Velrosa Nandar? 

Os guardas apontaram para o corpo sobre a mesa. Os heróis ficaram surpresos com a revelação. 

– Por Mystra! – Vince lamentou. 

*** 

Os heróis conheceram os quatro guardas que ali estavam. Sydiri Haunlar, era um homem alto e de pele morena, ombros largos e peito de aço, vestia uma armadura completa e empunhava uma lança. Torem Breck era um homem de cabelos negro e na altura da nuca, era bem constituído, e estava ferido na testa, possivelmente por ter sido atingido por algum destroço. Alara Winterspell era uma bela mulher de aparência feroz e algumas cicatrizes, pele branca e cabelo negro e curto, era mais alta do que os outros três e parecia ser o mais próximo de líder daquele bando. Kaelen Zam era a mais baixa e franzina dos quatro, não seria surpresa se ela fosse confundida com uma aldeã comum. 

Enquanto Calima usava sua música de bardo para ajudar os companheiros e os guardas a se recuperarem, o quarteto conta que a Alta Comissária Senhora Velrosa Nandar, foi enterrada sob os escombros e morreu devido seus ferimentos antes que os guardas do castelo pudessem alcançá-la. Os poucos guardas que permanecem estão desmoralizados, em estado de choque e contando apenas uns com os outros. 

– A nossa situação é crítica. – dizia Kaelen Zam cabisbaixa.  

– Vocês foram os únicos que ficaram vivos aqui no forte? – Ray perguntou. 

– Sim. – Alara Winterspell revelou. – Todos os outros guardas que estavam nas muralhas e no pátio foram esmagados, e os que estavam na aldeia devem ter fugido. 

– Encontramos uma dupla de goblins que disseram que os aldeões fugiram da cidade. 

Os guardas trocaram olhares preocupados. 

– No caso de um ataque, os moradores deveriam recuar para o forte. – disse Sydiri. – Mas com a ponte quebrada, isso já não era mais uma opção. Achávamos que todos estavam mortos. 

– Eles nos falaram que a aldeia foi atacada por gigantes. – disse Vince. 

– Sim. Era um castelo voador. – falou Torem. – Depois do ataque, vimos um grupo deles descer e roubar o megalito de obsidiana que existia no meio da aldeia. 

Os heróis trocaram olhares. 

– É como os goblins falaram. – disse Ray. 

– Quando foi esse ataque? – Perguntou Calima. 

– Há três dias atrás. – Revelou Alara. 

– No mesmo dia em que o emissário de Pedra Noturna chegou a Águas Profundas com o pedido de ajuda. – Calculou Vince. 

– O que eu acho bem estranho. – continuou Lara. – Se esse ataque ocorreu há três dias, não era para o povo de Pedra Noturna já ter retornado? 

– Sim, muito bem observado, Lara. – Calima disse. – O que significa que esses dois goblins estão nos escondendo alguma coisa. O que não me surpreende. 

– Então nós vamos ter um papo com aqueles dois goblins que deixamos no templo. – disse Ray. – Eles vão nos falar onde os habitantes de Pedra Noturna estão. 

– O que vocês pretendem fazer? – Vince perguntou para os quatro guardas. 

– Temos de enterrar a senhora Velrosa Nandar. – revelou Sydril. – Estamos tentando encontrar um jeito de leva-la até o cemitério da família Nandar que existe ao lado do templo. 

– Podemos ajuda-los com isso, se quiserem. 

– Agradeceríamos grandemente, meu amigo. 

E assim, os heróis ajudaram os guardas a transportar o corpo de Velrosa Nandar para o cemitério. Usando cordas, madeira e partes de destroços da mesa, eles criaram uma maca improvisada e levaram o cadáver para fora do Forte. Turok e Ray saltaram o buraco na ponte para o outro lado, e então, os outros guardas foram em seguida. Amarraram bem o cadáver na maca e lançaram a corda para o outro lado, onde os guerreiros puxaram e evitaram a queda do corpo. 

Retornaram todo o caminho até o cemitério ao lado do templo. Àquela altura, o dia já estava terminando, e a noite logo cairia. Uma cerimônia fúnebre improvisada foi feita para que a alma da senhora fosse levada ao reino dos deuses. Quando a cerimonia terminou, já era noite, e uma massa de nuvens cobriu os céus acima de Pedra Noturna, fazendo os quatro guardas ficarem apreensivos. 

– São apenas nuvens de chuva. – Lara tentou acalmá-los. – É comum nessa época do ano. 

Embora aparentassem ter ficado mais calmos, os quatro guardas não deixaram de olhar vez ou outra para o céu. 

Quando a chuva caiu em Pedra Noturna, era água e não pedra. E os heróis foram para dentro do templo para se proteger e descansar aquela noite. Eles subiram novamente para a torre do sino, onde encontraram os dois goblins ainda de cabeça para baixo e amarrados ao teto. Se debatiam e rosnavam, xingando e amaldiçoando em sua língua quebrada. 

– Voltamos, feiosos! – Ray falou com um sorriso malicioso no olhar. – Ainda tem algumas perguntas que devem nos responder. 

– Nós não ter mais nada! – rosnou um dos goblins. – Não saber mais nada! 

– Os habitantes de Pedra Noturna. – Vince disse – Onde eles estão? 

Os dois goblins engoliram seco e trocaram olhares nervosos. Ray encostou a lâmina da espada na garganta de um deles, fazendo escorrer um filete de sangue. 

– Conte tudo, goblin maldito!  

– Certo! Certo! – O goblin tentava se afastar da lâmina recuando a cabeça para longe da ponta afiada. – Os moradores da cidade foram pegos como prisioneiros e levados para a nossa caverna! 

– Aonde fica a caverna? 

– Nas colinas!– Revelou o goblin. – A Caverna Gotejante! 

Os heróis olharam para os guardas mais atrás e eles deram de ombro indicando que não sabiam onde tal caverna ficava.  

– Ao norte de Pedra Noturna, a cerca de um quilômetro e meio de distância, existem algumas cavernas de morcegos. – disse Alara. – Mas nunca fomos lá, ou sabemos quem as habita. 

– Vocês dois irão nos guiar até sua caverna. – Ray ameaçou encostando sua espada ainda mais perto do pescoço do goblin. – E se vocês dois se negarem, os farei sangrar como porcos, agora! 

Os dois goblins trocam olhares e confirmam com um aceno. 

– Nós levar! – Disse os dois em conjunto. 

– Certo! – Ray sorriu triunfante por sua intimidação ter dado certo. – Iremos descansar essa noite, e amanhã, vocês nos mostrarão o caminho. 


Continua no Capítulo 3 – O Ataque dos Caça Orelhas

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