Capítulo 2 – Pedra Noturna – Parte 2

por Rafael Santos
Arte Destacada, “Goblins”  arte da Wizards of the Coast

Os cinco aventureiros seguiram viajem por mais um longo dia, uma chuva torrencial caiu na região, os forçando a usar capas para se proteger. A torrente continuou durante todo o resto do dia. Aquela noite foi fria e difícil de dormir à beira da estrada, mas não houve qualquer imprevisto. Ao amanhecer do terceiro dia após deixarem Águas Profundas, o grupo encontra uma placa de madeira ao lado de uma trilha. Pregadas ao poste há três placas em formas de setas. As duas marcadas “Águas Profundas” e “Vau da Adaga” seguem a Estrada Alta, mas apontam em direções opostas. A terceira, marcada como “Pedra Noturna”, convida-os a seguir a trilha.  

– Parece que finalmente vamos chegar a Pedra Noturna. – Riu Calima enquanto lia a placa. 

– Estou faminto e cansado depois de três dias na Estrada Alta. – Ray já imaginava se hospedar em alguma estalagem e comer um javali assado. – Espero que Pedra Noturna esteja bem abastada com uma boa taverna e uma boa comida. 

O grupo se pôs a caminhar pela trilha em direção a Pedra Noturna. 

– Pedra Noturna é um refúgio popular para os nobres ricos de Águas Profundas que desejam caçar na Floresta Ardeep. – Revelou Calima. –  Aventureiros podem ganhar um bom dinheiro, oferecendo seus serviços como guardas em uma caçada. 

– Você já esteve em Pedra Noturna? – Perguntou Ray. 

– Não, mas me informei com o senhor Durnan antes de vir para cá. – Riu orgulhosa a elfa. – Sou uma barda, meu querido, prezo acima de tudo, pelo conhecimento.  

– Bardos podem mesmo a vir ser muito uteis em um grupo de aventureiros. – Ray sorriu confiante e imaginando as histórias que Calima poderia contar sobre aquele grupo. 

– Os moradores de Pedra Noturna têm um conflito de longa data, e aparentemente inconciliável, com seus vizinhos do Norte, os elfos da Floresta Ardeep. – Completou Calima. –  A Senhora Velrosa Nandar tem procurado mediadores qualificados para ajudar a resolver a disputa. 

– Talvez possamos ajuda-la com esse problema também. – Vince estava animado com a possibilidade de ganhar prestigio entre os nobres de Águas Profundas. 

– Contanto que nos pague bem, podemos dá um jeito. – Completou Turok. 

Depois de seguirem a trilha por mais dezesseis quilômetros, era mais de meio-dia quando os heróis começam a ouvir o badalar de um sino ao longe e o som ficava mais alto conforme Pedra Noturna era avistada.  

Um rio flui ao redor do assentamento, formando um fosso. A aldeia em si fica contida dentro de uma paliçada de madeira, além da qual se via um moinho de vento, uma torre alta e os telhados pontudos de vários outros edifícios. A trilha termina antes de uma ponte levadiça baixa que atravessa o fosso. Além da ponte levadiça, duas torres de vigia feitas de pedras ladeiam uma abertura na paliçada. Quando os heróis cruzaram a ponte e adentraram Pedra Noturna, viram que o lugar foi assolado por uma grande catástrofe. Além do toque do sino, eles não detectam mais nenhuma atividade na aldeia. 

– Eu posso nunca ter vindo nesse lugar, mas tenho certeza que não era para estar tão quieto assim. – Disse Ray olhando ao redor. 

Ao sul da aldeia e cercado pelo fosso do rio há uma colina em forma de cone, de topo achatado, onde se ergue um forte de pedra cercado por uma muralha de madeira. O forte, que tem vista para a aldeia, desabou parcialmente. A ponte de madeira que uma vez conectava a fortaleza com a aldeia também desabou. 

– Pelos deuses! – Exclamou Vince com os olhos esbugalhados. – O que aconteceu aqui? 

– Seja o que tenha ocorrido, – Calima olhava para as casas destruídas. – as pessoas de Pedra Noturna devem ter sofrido uma grande perda aqui. 

O sino continuava a badalar, ecoando por toda a região.  

– Talvez possamos descobriremos algo se formos investigar no templo. – Opinou Ray olhando em direção ao templo. 

O grupo começou a caminhar em direção ao templo de madeira ao lado da entrada da aldeia.  

O templo possui uma torre estreita contendo um grande sino de bronze e vitrais que retratam imagens do nascer do sol, de árvores e unicórnios. Quando se aproximaram da entrada, perceberam que a porta estava entreaberta. 

Quando entraram no recinto, dão de cara com uma enorme câmara abobada alta onde a luz do sol ilumina através de quatro vitrais ajustados nas paredes norte e sul. Havia símbolos de um horizonte com um nascer do sol, e em outros, tinham a cabeça de um unicórnio. Sob as janelas existem simples bancos de madeira. A sala está quase vazia. Contra a parede do fundo do salão há um púlpito de madeira com degraus que levam a ele. O chão do templo está cheio de sujeira. 

– É um templo dedicado a Lathander, o Deus do Amanhecer, e Mielikki, a Deusa da Floresta. – Revelou Calima olhando os vitrais do templo. 

– Isso está uma bagunça! – Lara olhava para o chão. – É um verdadeiro desrespeito para com a deusa da floresta. 

O sino logo acima continuava badalando cada vez mais alto, os heróis ouviram vozes vindo do alto da torre. 

– Vamos lá. – Decretou Ray – Fiquem atentos! 

Ray puxou sua espada das costas, assim como Turok seu machado, Lara armou uma flecha no arco. Começaram a subir as escadas em direção ao andar de cima. O som do sino ficava mais intenso, mais barulhento.  

Ray foi o primeiro a colocar a cabeça para dentro do quarto no andar acima, viu uma cama simples de madeira com o colchão rasgado e sua palha puxada para fora. O chão está coberto com o conteúdo de duas caixas de madeira: vestimentas sacerdotais e objetos pessoais sem valor.  

As criaturas responsáveis pela desordem é um bando de oito goblins. Dois deles estavam alegremente se balançando em uma corda atada que pende do sino no campanário enquanto os outros seis pulavam e cantavam em sua língua quebrada.  

Goblins são criaturas egoístas e de coração negro que vivem em cavernas, minas abandonadas, masmorras despojadas e outros ambientes lúgubres. Individualmente fracos, os goblins andam em grandes – às vezes devastadoras – quantidades. Eles anseiam por poder e regularmente abusam de qualquer autoridade que adquiram. Criaturas odiosas que proliferam como ratos em seus covis, vivem em virtude apenas de caçar, pilhar e devorar. Humanoides de pele de um verde fosco ou amarelo pálido, o rosto deformado cheio de verrugas, cortes profundos ou feridas fedorentas.  

Ray se abaixou novamente, voltando para a escadaria abaixo. 

– Goblins. – Revelou cochichando para os amigos. – São oito deles. 

– O que goblins fazem aqui? – Perguntou Lara curiosa. – Será que eles causaram toda essa destruição na cidade? 

– Só saberemos se perguntarmos. – Vince tinha uma curiosidade no olhar. – Devemos fazer isso com esses goblins. 

– E como pretende fazer isso? – Ray tentava acompanhar o raciocínio do mago. – Não podemos simplesmente chegar lá e pedir para eles nos falarem o que está acontecendo aqui. 

– Não se preocupe. – O mago deu um sorriso triunfante e enigmático. – Acho que podemos lidar com eles sem precisarmos de muito esforço, certo Calima? 

Calima deu um sorriso confiante para o mago que fez um maneio com a cabeça. 

– O plano é o seguinte… 

*** 

Os goblins pulavam, xingavam e dançavam ao redor do sino, enquanto dois deles se balançavam impulsionando o corpo para cima e para baixo, aumentando a cadencia do enorme objeto metálico.  

De repente, como que superando aquele barulho ensurdecedor, um som calmo e melódico começou a ecoar pelo salão. Os goblins param de balançar o sino e olham ao redor, confusos e procurando a origem daquele som terrível – para os ouvidos deles – e já se prepararam para combater seja lá o que fosse. 

– Som horrível! – Rosnou um dos goblins.  

De repente, dois goblins cambalearam, reviraram os olhos e tombaram de cara no chão para a surpresa dos demais. 

– Tapem os ouvidos! – Berrou outro goblin. 

Todos levaram as mãos aos ouvidos e urraram em fúria. Abaixo da sala, na escadaria, Calima dedilhava seu alaúde liberando uma magia musical em ondas sonoras brilhantes. 

– Droga! – Praguejou a elfa. – Eles resistiram à magia. Apenas dois caíram! 

– É o suficiente. – Ray sorriu confiante e apertou firme o cabo da espada – Os outros vão morrer! 

Os goblins se debatiam e urravam com as mãos tapando os ouvidos e nem ao menos perceberam que a música havia parado. Eles não viram quando Ray e Turok subiram os últimos degraus de escada se colocando para dentro da sala. 

– Saudações, goblins! – Ray tinha um sorriso confiante na face. – É hora de morrer! 

Um dos goblins gritou, surpreso, e todos ficaram paralisados ao verem a dupla ali, parados na frente deles.  

Ray avançou primeiro sobre os monstros, sua espada cortou o ar na horizontal e foi se enterrar na traqueia do goblin mais a frente, a lâmina não perdeu força e atravessou os nervos do pescoço da criatura e a cabeça rolou pelo chão de madeira. Turok veio em seguida e desceu seu machado de cima abaixo, a lâmina entrou fácil no crânio do outro goblin, continuou descendo pesada e rasgando a criatura ao meio até ser parada pelo piso de madeira da sala.  

Os quatro goblins ainda de pé deram um urro de pavor com a cena grotesca de seus companheiros mortos. 

– Eles mataram Beedo e Vark! – Berrou horrorizado um dos goblins. 

– E vocês são os próximos! – Riu Turok mostrando as presas. 

– A-Atacar! – Um dos goblins vacilou antes de sacar a cimitarra e ordenar o ataque. 

 As criaturas urraram e avançaram sobre a dupla, mas nesse momento, Lara e Vince surgiram da escada, a meio-elfa apontou, mirou e disparou a flecha que foi se cravar certeira no meio do crânio de um dos goblins. Vince fez alguns gestos arcanos e apontou dois dedos em riste a frente, liberando dois Mísseis Mágicos que serpentearam no ar, desviando de Ray e Turok e indo explodir no peito de um dos monstros, fazendo um enorme furo no meio dele. O goblin tombou com o buraco no peito esfumaçando.  

Os outros dois atacaram Ray e Turok, o primeiro enterrou sua adaga na coxa do meio-orc, mas Turok pareceu não sentir qualquer dor, já Ray bloqueou a estocada do seu adversário.  

– Renda-se, Goblin! – Ray sorriu confiante encarando o adversário. – Nós queremos apenas respostas! 

– Tome aqui sua resposta, humano imundo! – O goblin berrou e avançou novamente. 

Ray bloqueou o ataque do goblin e chutou-lhe a cara, o nariz deformado do monstro explodiu em um jorro de sangue e ele recuou cambaleando para trás. Turok desferiu um golpe de baixo para cima com seu machado, a lâmina entrou na virilha do goblin e o rasgou até sair no ombro esquerdo. O monstro nem mesmo deu um berro de dor e já estava morto. 

Havia se passado um instante, seis goblins estavam mortos, e outros dois desacordados. 

– Rápido e simples! – Ray ria e limpava a lâmina de sua espada. 

– Isso não deu nem para suar. – Turok parecia frustrado com o fim do combate. 

– Você diz isso, mas olha a sua perna. – Lara encarava o seu grande amigo meio-orc com preocupação. 

– Isso aqui não passa de um arranhão para mim, você sabe. 

– Mas você não pode se deixar ferir assim. 

– Talvez eu possa ajudar com isso. – Calima surgiu logo atrás, subindo os últimos degraus da escada. 

– Então você consegue usar magias divinas? – Lara perguntou curiosa. 

– Não exatamente. Minha música tem muitas serventias. Elas podem causar dano, mas também podem curar. 

– Bardos não são mesmo inúteis. – Ray disse. 

– É, não somos. – Calima riu. 

Calima começa a dedilhar seu alaúde, e as notas musicais brilhantes que saem do seu instrumento cercam Turok, a elfa cantarola alguma coisa em élfico, e a ferida do bárbaro começa a se fechar milagrosamente, para a surpresa de todos ali. 

Após a demonstração do poder mágico de Calima, os heróis se voltaram aos goblins desmaiados. 

– Bom, vamos conseguir as respostas com esses dois goblins aqui! – Vince falou olhando a dupla de goblins caída ao chão. 

Lara amarrou as mãos e os pés dos dois goblins e então os colocou de ponta a cabeça pendurados no teto da torre do relógio. Ray os acordou dando tapinhas em suas caras feiosas.  

Quando a dupla abriu os olhos, viu o mundo de cabeça para baixo, e os cinco aventureiros os encarando.  

– Humanos! – Berrou um dos goblins apavorados e se debatendo. 

A ponta da espada de Ray estava na garganta de um dos goblins. 

– Somos heróis aventureiros, e vocês vão nos responder umas perguntas, meu camarada. E se for um bom goblin, quem sabe possamos deixa-lo ir embora. 

– E-Ei, qual é a tua, cara? – O goblin engoliu seco. 

– Não daremos resposta alguma, humano imundo! – Rosnou o outro goblin. 

– Olhem ao seu redor, todos os seus amigos estão mortos! – Lara falou apontando para os cadáveres.  

Os dois goblins olharam apavorados, viram os corpos sem vida dos companheiros. Os dois trocaram olhares apavorados e começaram a se debater e a urrar de fúria. 

– Fiquem quietos, seus malditos! – Urrou Turok. – Se não partirei seus crânios com meu machado! 

Os dois goblins encararam o enorme meio-orc que tinha o machado empunhado nas mãos e os encarava. Ambos engoliram seco, apavorados.  

– O que fazem aqui em Pedra Noturna? – Perguntou Vince. 

– Estamos saqueando, não ver seu humano burro? Depois dizem que nós goblins é que somos idiotas! 

Os dois goblins explodiram em uma gargalhada de som doloroso, mas Ray desferiu um chute na cara do engraçadinho, arrancando-lhe dois dentes. 

– Sem gracinhas, goblin. – o guerreiro tinha um olhar sério. – Respondam e talvez viverão! 

– A cidade foi atacada! – Berrou o outro goblin apavorado.  

– Sabemos disso. – Calima olhou o goblin com desdém. – Queremos saber se foram vocês que fizeram isso! 

– Não! Foi uma cidade voadora! Gente grande jogou pedra na cidade! 

Os heróis trocam olhares preocupados. 

– Gente grande? – Perguntou Ray. – Eles falam de outros humanos? 

– Não, Ray. – Calima tinha os dedos envoltos no queixo pensativa. – Está mais para gigantes. 

– Sim, sim! Gigantes! – Confirmou um dos goblins. 

 – Contem tudo o que sabem!  

Ambos, à maneira goblin de contar histórias, falaram o que sabiam e o que tinham visto. Os heróis passaram um bom tempo juntando as informações dadas pela dupla.  

Chegaram à conclusão de que: Um castelo gigante surgiu sobre as nuvens e passou sobre Pedra Noturna deixando cair grandes rochas sobre o assentamento e seu forte. Incapaz de defenderem-se contra o bombardeio, os moradores que não foram mortos no ataque baixaram a ponte levadiça e fugiram para as colinas próximas, refugiando-se em algumas cavernas. Uma vez que a vila foi abandonada, quatro gigantes das nuvens desceram dos céus e desenraizaram a pedra de obsidiana e levaram-na de volta para seu castelo. O castelo das nuvens, em seguida, se afastou com seu prêmio.  

– Então foi isso… – Concluiu Calima para os companheiros. – Gigantes atacaram a aldeia com rochas gigantes. 

– Isso é loucura demais. – Ray estava confuso com tudo aquilo. – Por que gigantes iriam atacar essa cidade só para roubar uma pedra gigante? 

– Creio que isso devemos descobrir investigando a cidade. – Declarou Vince. 

– Existem outros goblins aqui? – Perguntou Lara. 

– Acho que sim. – revelou o goblin. – A gente veio, saqueou tudo e levou pro Chefe nas colinas. Eu e meus amigos ficamos nos divertindo na aldeia! 

– Chefe Hark mandou a gente saquear a aldeia, humanos não precisar mais dela. – Continuou o outro. 

– Errado! – Ray cortou o raciocínio idiota do goblin. – As pessoas da aldeia ainda vão retornar. 

– O que vamos fazer agora? – Questionou Lara. 

– Vamos fazer o que o Vince disse. Investigaremos a aldeia em busca de sobreviventes. 

– E quanto a esses dois? 

– Deixe-os aí, retornaremos depois que descobrirmos o que está acontecendo aqui. Ainda temos perguntas para fazer a eles. 


Continua no Capítulo 2 – Pedra Noturna – Parte 3

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