Um Aventureiro dos Reinos na Diversão Offline 2019
Por Ricardo Costa
Aconteceu nos dias 27 e 28 de Abril, no Centro de Eventos São Luís, na Consolação, em São Paulo, a Diversão Offline 2019, a maior convenção de jogos de mesa do Brasil. Durante dois dias, aficionados por jogos de tabuleiro, produtores de conteúdo, designers e editoras se encontraram e trocaram ideias sobre este crescente mercado. Estive lá para conferir, em nome dos Aventureiros dos Reinos.
Os jogadores que conseguiram comprar os ingressos (sim…os que conseguiram! Os ingressos esgotaram pela primeira vez antes do dia do evento, mostrando como o interesse sobre os boardgames vem crescendo) tiveram a oportunidade de conhecer jogadores de diversas regiões do país, comprar livros e jogos com descontos (e sem custos de frete), assistir palestras, conhecer os lançamentos do setor, comprar peças e acessórios para o seu jogo favorito e, é claro, jogar e testar os boardgames em mesas disponibilizadas pelas editoras.
Dentre tudo isso, tivemos a “cereja do bolo” para aqueles que, como nós, são fãs de RPG e, particularmente, do Dungeons and Dragons: informações sobre o andamento da tradução e localização dos livros, e sobre o lançamento, enfim, da tão aguardada 5ª edição do RPG mais famoso do mundo.
O Evento
Começando a aventura na DOFF, ao chegar no Salão de Eventos São Luís, logo no momento da abertura (às 10:00 horas), impressionava a fila para entrar. Uma fila grande, porém bem diferente: as pessoas estavam empolgadas e animadas, comentando sobre aquilo que esperavam ver e sobre momentos acontecidos durante partidas com os amigos. Depois do credenciamento, recebemos a pulseira e entramos no evento.
O espaço da DOFF não é pequeno, mas também não é muito grande (talvez o que poderíamos esperar do tamanho de um ginásio de esportes). Neles estavam distribuídos cerca de 30 stands, de diversos tamanhos, e um espaço para palestras. Lá estavam todas as principais editoras do setor, como a Conclave, Redbox, Retropunk e a Galápagos (que levou um espaço bem caprichado, com mesas e cenografia), editoras menores e produtores de conteúdo e produtos independentes.
Lá você podia encontrar, além dos jogos, mesas e monitores, muita coisa curiosa e interessante: um expositor vendia mesas, cheias de compartimentos, específicas para jogar, outro demonstrava uma torre de dados de madeira, controlada por um aplicativo, que também produzia efeitos sonoros e luminosos para a ambientação de jogos, um stand vendia peças fabricadas com impressora 3D para você completar eventuais peças perdidas ou aumentar o acervo de jogos. Também havia uma oficina de pinturas de miniaturas, onde o público podia experimentar este hobby, e testar seus dotes artísticos com toda a orientação técnica.
O salão logo foi enchendo e, apesar de não ter ficado superlotado, já se percebia claramente a necessidade de adequar o crescimento do evento em um lugar um pouco maior, talvez com uma estrutura também para alimentação e um auditório com capacidade para mais pessoas.
As Impressões de Público e Expositores
Para o os jogadores que visitaram a DOFF, além dos jogos, um do principais atrativos da feira eram os próprios jogadores, ou seja, a oportunidade de encontrar pessoas com os mesmos gostos e trocar experiências. Para Marcos Dornellas, visitante do evento, “a coisa mais legal deste tipo de evento é o contato que você consegue ter com o pessoal do meio, quando a gente pode pegar dicas, ver aquelas pessoas que têm conhecimento. Acho a coisa mais massa de eventos como esse!“.
Do lado dos expositores, o aumento do público para boardgames se reflete nos lançamentos das editoras. Na opinião de Rafael Verri, da Croc, “a feira está sensacional. A gente está vendo vários expositores trazendo o que há de melhor em lançamentos do Brasil e mundiais. O Brasil hoje está recebendo a vanguarda dos boardgames. O mercado está crescendo acompanhando o público que está crescendo também.”
Dungeons and Dragons
Este é um blog sobre RPG, então, vamos ao RPG mais famoso do mundo. A Galápagos Jogos (que tinha o maior e mais bonito stand do evento) dedicou uma parte de seu espaço para o D&D: uma pequena sala decorada, dominada por uma mesa e sobre ela, um belo cenário de arena, onde eram dispostas miniaturas e aconteciam as partidas. Jogos foram conduzidos durante todo o evento neste lugar.
Ainda que não houvesse nada físico a mostrar (os livros ainda estão em processo de tradução, o que falaremos mais adiante), a marca Dungeons and Dragons presente relembrava aos fãs o que estava por vir, e despertava a curiosidade.
Parte desta curiosidade pôde ser dissipada na palestra “Processo de Tradução e a Chegada do D&D 5ª Edição no Brasil pela Galápagos Jogos”, acontecida às 15:00h do sábado, o primeiro dia da DOFF e conduzida por Pérsio Sposito, gestor do projeto de localização do Dungeons & Dragons 5ª Edição da Galápagos Jogos. Pérsio iniciou mostrando ao público a gama de envolvidos no processo de tradução. São mais de 15 pessoas, 4 empresas, 5 núcleos de equipes, em três países. Essa diversidade (os envolvidos são oriundos de diversas regiões, além contarem não somente de representantes dos editores, bem como membros da comunidade de RPG) foi abordada como uma força do processo, capaz de promover maior respeito à diversidade e às diferenças regionais.
Algumas diretrizes foram apresentadas por Pérsio, mostrando que as decisões de tradução estão sujeitas a determinações globais, emanadas pela marca Dungeons and Dragons no mundo inteiro, o que esclareceu algumas opções, que a princípio causariam estranheza ao público. Um destes exemplos é a não tradução dos títulos dos corebooks. O Player´s Handbook, Monster Manual, Dungeon Master´s Guide, Starter Set e o Dungeon Master´s Screen aparecerão com seus nomes em inglês, por conta desta determinação, ganhando um subtítulo em português. O mesmo acontecerá para o termo “DM”, ou “Dungeon Master”, que não será vertido para Mestre, e para os nomes e marcas de cenário, como, por exemplo, Forgotten Realms, diferentemente ao que acontecia em edições anteriores.
Foi esclarecido ao público que nomes de cidades e personagens serão alterados do original quando houver uma tradução clara, quando for possível uma transliteração (adaptação do nome para a língua) ou quando se puder alterar sua escrita para preservar a correta pronúncia original, vertendo para português. Houve a preocupação em se criar um uso de palavras para termos raciais, seguindo uma lógica “cultural” das raças que compõem o mundo fantástico do D&D. Nomes de cidades e personagens élficos, por exemplo, tendem a ser mais rebuscados e elegantes, enquanto nomes anões mais diretos e simples, e gnomos, mais complexos e divertidos.
Foram apresentados algumas das traduções que serão utilizadas para termos originais: tiferino, para tiefling, pequenino, para halfling, ínfero para fiend, teste de atributo para ability check, jogada de ataque para attack roll e salvaguarda para saving throw. Este último, que estreou sua tradução em português no SRD traduzido por nós, dos Aventureiros dos Reinos, foi plenamente discutido na palestra, mostrando inclusive correspondência nas traduções dos livros realizadas em línguas latinas como o espanhol, italiano e o francês e sua funcionalidade em reduzir ambiguidades no jogo. Ponto para os Aventureiros!
Os lançamentos também foram abordados: além dos três livros básicos, o Starter Set – Kit Introdutório e o Dungeon Master Screen – Escudo do Mestre, virão, neste primeiro momento, seguidos de A Maldição de Strahd e O Guia do Aventureiro para A Costa da Espada. Dos últimos produtos, foi permitido ao público presente ao evento escolher qual seria lançado primeiro: venceu A Maldição de Strahd. Os livros básicos tiveram sua previsão de lançamento ajustada para o final do ano, o que, em nome de Mystra, deverá encerrar, enfim, o jejum do RPGista brasileiro pela franquia de RPG mais famosa do mundo. Estamos contando os minutos!
Confiram algumas fotos do evento: