Helyx, O Deus Perdido da Tecnologia

Por Ricardo Costa


Notas Sobre os Reinos Esquecidos

Do caderno de anotações do gnomo Gilbert Engrenagem Dourada

A espécie humana tem uma mente inventiva, capaz de criar maravilhas que impressionam e até mesmo de feitos que desafiam os deuses. Porém, apesar de caminharem em Toril por dezenas de milhares de anos e de suas capacidades extraordinárias, aqueles pesquisadores mais atentos podem notar que, em se tratando de ciência e técnica, os homens pouco avançaram após as grandes descobertas de sua aurora, como o fogo, a agricultura e a forja dos metais. Comparando-os com os gnomos, com suas incríveis geringonças, esta diferença ainda é mais profundamente marcada. Mas, será que existe uma explicação sobre o porquê a tecnologia caminha tão devagar para a raça humana do que em seus primórdios?

Um membro de uma famosa comitiva de aventureiros, um guerreiro chamado Yorek, relatou em uma taverna do Vale das Sombras, há mais de cem anos atrás, uma história que pode ser um boato, uma mentira, ou a verdade secreta sobre um deus perdido e esquecido, chamado Helyx. Conta essa passagem que, no princípio de Toril, quando a divindade maior, Ao, povoava o mundo e colocou o ser humano sobre o planeta, observou que eles eram primatas simples e primitivos, em comparação a antiga raça dos elfos ou os hábeis anões. O Deus Maior resolveu tomar um pouco do seu poder infinito e criou com ele um deus para os humanos, o qual chamou Helyx, e deu-lhe o Portfólio da Tecnologia. Helyx então olhou para os seus protegidos e desceu a Toril em forma de avatar.

Inquieto e ávido em ensinar, instruiu seus protegidos a criarem abrigos e deixarem as cavernas. Em poucos séculos, ensinou-lhes como criar e manter o fogo, como produzir armas mais eficientes, a trabalhar os minérios, forjar o ferro e ligas metálicas e a escrita, entre outros conhecimentos. Em pouco tempo, na escala cósmica das coisas, aquelas antes simiescas criaturas já haviam dominado a agricultura, possuíam vilas, praticavam o comércio e às vezes, guerreavam entre si e contra outras espécies. E Helyx não se dava por satisfeito. Havia infinitas coisas a ensinar e assim continuava fazendo como avatar.

Mas tão rápido progresso chamou a atenção de Ao. O Pai dos Deuses percebeu que em breve os humanos, com os poderosos ensinamentos de Helyx, cresceriam infinitamente em poder e, em pouco tempo subjugariam e destruiriam todos os outros seres que povoavam Toril. Então foi até Helyx, explicou-lhe os fatos e ordenou-lhe a retornar para a sua morada natal, o plano conhecido como Mecanus, e que deixasse os humanos aprenderem por si próprios de agora por diante. Helyx recusou-se.

Ao, que possui o poder infinito, poderia destruí-lo em átimo, mas resolveu, em invés disso, aprisioná-lo para que refletisse sobre sua desobediência. Pediu a Moradin, deus dos anões, para criar correntes mágicas e prendeu o imortal avatar de Helyx dentro de um vulcão. Seu portfólio foi perdido e tudo que se sabia sobre ele, esquecido. E a espécie humana seguiu o seu ritmo.

A história terminaria aqui, se o tal grupo de heróis que mencionei não tivesse adentrado o vulcão e lutado nele contra um poderoso demônio. Em meio a grande câmara fumegante e repleta de magma, a batalha  seguia seu curso, quando foi avistado um quebrantado ser de aparência humana que estava acorrentado. Ele ofereceu ajuda, caso fosse libertado das correntes. O paladino de Helm não viu o mal no coração do prisioneiro, ergueu sua espada mágica e sagrada e, por sorte e por destino, partiu os grilhões. Mesmo enfraquecido, o avatar juntou-se aos heróis,  derrotaram o demônio e deixaram o vulcão. 

Do lado de fora da montanha, ao longe, Helyx pode avistar a grandiosa cidade de Nevenunca, suas torres e ruas, e maravilhou-se com o progresso da humanidade em sua ausência. Enfim, entendeu a sabedoria de Ao, agradeceu aos seus salvadores, contou-lhes sua história e pediu perdão ao Pai dos Deuses. Assim que o fez, desapareceu das vistas dos heróis e de Toril para sempre.

Pelo menos, foi o que relatou Yorek, naquele dia frio, na taverna Velho Crânio.


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