Forjando os Reinos – Roubando uma Coroa

por Ed Greenwood
traduzido por Daniel Bartolomei Vieira
disponível em: http://dnd.wizards.com/articles/features/stealing-crown
Imagem de Destaque, “Ranger Attacks”, por Jesper Ejsing


Como, onde e quando os Reinos Esquecidos começaram? Qual é o cerne da criação de Ed Greenwood, e como o Grande Mestre dos Reinos usa seu próprio mundo quando narra aventura de D&D para os jogadores em sua campanha? “Forjando os Reinos” é uma série onde o próprio Ed Greenwood responderá essas perguntas, e mais.


Um monte de gente exausta, amarga, pobre e simplesmente preguiçosa nos Reinos sonham em ser um rei ou uma rainha. Ou um grão lorde ou dama da alta sociedade, imperador ou imperatriz, ou outro “chefe da coisa toda”. Os grandes títulos são muitos e variados, do Ceptanaro ao Tirano Coroado.

Eles sonham acordados em governar um reino ou cidade-estado grande e rica o suficiente para ficarem a maior parte de muitos dias apenas perseguindo interesses ociosos, banqueteando-se com montanhas e montanhas da melhor comida e dedicando a maior parte de sua preocupação a inventar novas maneiras de driblar o tédio.

Pela boa vida e por muitas outras razões, os indivíduos sentados nos tronos querem permanecer lá. Em muitos casos, muitos de seus súditos ou compatriotas querem que eles permaneçam lá, ou podem ser forçados, confiscados ou influenciados a lutar para mantê-los lá (ninguém quer que algum “estranho, sujo e estrangeiro” entre, espete o bom e velho Rei Horlus em seu trono, pegue a coroa e comece a dar ordens estrangeiras, estranhas e sujas a todos). Menos ainda deles receberão alguém de uma terra vizinha que seja visto como um rival. Muitos dos nobres em Cormyr podem resmungar a respeito dos regentes Obarskyrs, mas eles dão as mãos rapidamente se um comerciante sembiano rico e malandro se atrever a fazer uma oferta pela coroa de Cormyr. Um Sembiano no Trono do Dragão? JAMAIS! (isso deve ser imaginado sendo dito acompanhado por espadas sendo sacadas das bainhas e sendo brandidas. Furiosamente).

É corriqueiro que a maioria das tentativas externas de se apoderar de um governo seja enfrentada com forte resistência. Essas tentativas externas são feitas por qualquer pessoa que não seja um membro da família com uma boa reivindicação existente para a coroa, que pode planejar a remoção do governante por meio de uma doença ou de um acidente que não seja obviamente organizado ou “auxiliado” e, portanto, a pessoa que faz isso evita ser suspeita de ter tido algo a ver com o infeliz desconforto.

E a resistência? Está armada. Esta forma de confronto pode empobrecer ou vandalizar fortemente o prêmio que se está buscado. Criar e alimentar exércitos pode esvaziar as despensas, celeiros e tesouros rapidamente, e sitiar e incendiar um castelo faz dele um lugar precário para se descansar depois. Também, cria agitação e dá ideias demasiado perigosas para qualquer um sem muitos escrúpulos (“Bem, se ela apenas entrou e pegou a coroa, por que eu também não posso fazer o mesmo? Eu posso ser tão bom quanto ela nessa dança, principalmente se ela estiver dormindo e minha adaga estiver afiada…“).

Então, por que não roubar uma coroa e evitar todo o aborrecimento e a arriscada corrida com espadas, enquanto flechas voam e catapultas arremessam pedras? Isto é, por que não se colocar no lugar de um governante incumbente sem que ninguém, além dos próprios infelizes governantes, perceba?

Por que não, de fato? Isso já foi feito muitas vezes e por boas razões, envolvendo uma enorme gama de meios e propósitos. Os Reinos possuem criaturas que mudam de forma (como os doppelgangers, sempre presentes) e magia, que podem sempre ajudar na imitação.

A personificação vem com a irritação de ter que agir como o personagem que você está representando, além de herdar os feudos, problemas, críticos e inimigos dele/dela. Ainda assim, as pessoas mudam com o tempo, e você pode migrar lentamente o papel da rainha ou do rei representava, até o modo como você gostaria de se comportar, talvez até mesmo aplacando alguns inimigos e acabando com alguns feudos no processo.

E se você não é um metamorfo, mas tem que trabalhar com um para gerenciar o roubo de poder, esteja ciente de que embora ser um poder por trás do trono possa ser muito mais agradável do que governar de fato (no nosso mundo real, compare os deveres de, digamos, a família real da Inglaterra com os de um duque não-real do mesmo país), você compartilha o segredo do que foi feito com o metamorfo, que provavelmente quererá remover qualquer chance de que esse segredo não seja mantido ao eliminar você.

Nos Reinos, os deuses vigiam os mortais, portanto qualquer governante secular que obtenha uma posição por engano, deve ter em mente que enfurecer excessivamente qualquer divindade poderia resultar rapidamente em todo o sacerdócio mortal daquela divindade sendo informado por uma fonte na qual eles acreditam e obedecem fervorosamente sobre todo esse engano. Se governarem bem, isso pode não ser uma preocupação grande e rápida, mas o futuro deles será muito mais sombrio se não forem bem apreciados. Então, alguém que rouba uma coroa deve tratar melhor todos os deuses e seus sacerdócios, de maneira imparcial e até mesmo generosa. Isso pode não representar um problema para alguém imparcial e generoso, mas será um obstáculo certamente para qualquer um que tenha tendências tirânicas.

Além disso, qualquer trono pelo qual vale a pena lutar tende a ter um equilíbrio de poder existente ao redor de si. Famílias nobres dessa facção poderiam estar organizadas contra famílias nobres daquela outra (talvez cada uma controlando herdeiros rivais ou outros pretendentes ao trono, e aguardando qualquer boa chance de colocar o “seu” candidato no trono). Guildas ou uma crescente classe média mercantil, qualquer membro localmente poderoso dos sacerdócios mencionados, e qualquer outra pessoa que detenha o poder na região (um dragão entocado, por exemplo) poderia ter o trono preso entre eles, mantido mais ou menos estável e estacionário pelos empurrões contrários deste interminável cabo de guerra. Isso pode significar duas coisas: o portador da coroa pode não desfrutar daquela vida de ociosidade que o ladrão de coroa estava procurando, e ele ou ela pode ser incapaz de agir com liberdade e falta de cuidado.

Ou como Relguld, um coveiro empobrecido operando do lado de fora das muralhas de Suzail durante um dos períodos da história cormyreana em que cabeças coroadas caíam e rolavam com frequência, disse famosamente (entre surtos de cuspe): “Se parar pra pensar, passar os dias cavando na lama e mudando os ossos dos mortos de lugar parece muito mais desejável, né não? (essa frase entrou no léxico local, e pode ser ouvida como um comentário sobre quase tudo em conversas diárias em Suzail até os dias de hoje).

No entanto, as desvantagens de remover e personificar um governante não impediram que muitos indivíduos e conspirações ambiciosas tentassem. Eu estaria usurpando um dos lados mais divertidos de ser Mestre ao revelar demasiado sobre quem, sentado em um trono nos Reinos agora, é um impostor ou descendente (inconsciente ou não) de um ladrão de coroa, mas vamos apenas dizer que há mais deles do que se poderia pensar.

Certos locais até têm sistemas de decisão quase feitos sob medida para essas imitações. Os Lordes Secretos de Águas Profundas servem como o exemplo mais óbvio, mas as imitações são relativamente comuns em muitos locais por todos dos Reinos durante certos festivais (quando há fantasias que incluem máscaras, por exemplo) ou rituais (a iluminação fraca de uma vigília ao luar, por exemplo). Às vezes, e muitas famílias nobres poderosas descobriram isso tudo que, é necessária uma imitação temporária, de modo que um governante tomará a decisão certa ou proferirá o decreto certo em um momento crucial. Um emissário visitante odiado é tratado com polidez quase afetuosa e um acordo comercial vital é alcançado, por exemplo, porque o verdadeiro rei que odeia o enviado está deitado em algum lugar escondido em um sono dopado. Tendo recebido vinho batizado e mais vinho batizado para mantê-lo assim, o rei permanece insensível ao mundo, o que permite a um impostor se encontrar com tal emissário.

Minha intenção neste artigo não era discutir o que o infame Volo uma vez se referiu como “seu roubo real de uma coroa de verdade”, porque dar dicas e técnicas para roubo raramente é socialmente útil, mas em algumas situações, apenas “emprestar” uma coroa de verdade será suficiente para levar adiante uma imitação. A maioria dos habitantes de Cormyr, em Marsember ou a leste de Wheloon, raramente ou nunca viam o rei Foril Obarskyr em carne e osso, então alguém que parecesse “próximo o suficiente”, agisse regiamente e usasse a coroa adequada, poderia facilmente enganá-los.

Como Storm uma vez perguntou a um jovem Harpista: “A questão é, para o que é este disfarce? É para atravessar uma porta guardada que, de outra forma, seria fechada para você, é para receber deferência de alguém que, de outra forma, o mataria, ou é para ter pessoas arrogantes ajoelhando-se para você? Ou seria para enganar alguém para que esta se case com você, cedendo o controle de uma poderosa fortaleza ou servindo-lhe para o resto dos seus dias? Os primeiros precisam pouco mais do que o sucesso momentâneo e o bom favor dos deuses, mas o último tipo requer um investimento de muito tempo e esforço que pode mudar sua vida“.

Pois bem, aí está o problema. Se você usar a coroa por tempo suficiente, quando a coroa começará a usá-lo?


Sobre o Autor

Ed Greenwood é o homem que lançou o cenário de Forgotten Realms, os Reinos Esquecidos, em um mundo vivo. Ele trabalha em bibliotecas, e ele escreve histórias sobre fantasia, ciência, ficção, terror, mistério e romance (algumas vezes tudo isso em um mesmo livro), mas ele fica feliz quando produz Conhecimento dos Reinos, Conhecimento dos Reinos e mais Conhecimento dos Reinos. Ele ainda possui umas salas em sua casa que têm espaço para guardar mais algumas pilhas de papel.

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