Forjando os Reinos – O Mapa de Thaelon Morgyr

por Ed Greenwood
traduzido por Alexandre de Silvestre
disponível em: http://dnd.wizards.com/articles/features/thaelon-morgyrs-map
Imagem de Destaque, “Ranger Attacks”, por Jesper Ejsing


Como, onde e quando os Reinos Esquecidos começaram? Qual é o cerne da criação de Ed Greenwood, e como o Grande Mestre dos Reinos usa seu próprio mundo quando narra aventura de D&D para os jogadores em sua campanha? “Forjando os Reinos” é uma série onde o próprio Ed Greenwood responderá essas perguntas, e mais.


Provavelmente, todos que amam fantasia, assim como todo “wargamer” e jogadores de jogos de tabuleiro, tem uma paixão por mapas. Esplendorosos mapas podem influenciar aventuras, inspirar com nomes evocativos, como o distante Monte Presascruéis e apontamentos sobre Aqui Há Dragões, e fornecer brilhantes cidades distantes ou um movimentado golfo portuário. Seu aventureiro comum está acostumado a masmorras que proporcionem caminhos com volta, e mapas de tesouro que guiam o caminho para um perigo recompensador.

Porém, agora, eu gostaria de descrever um pequeno mapa que é muito comum nos Reinos. No entanto, nunca o havia mencionado antes: O mapa dos mercadores.

Um especialista no estudo do movimento no mundo real, intitularia isso como um “mapa de estudos de locomoção”, um ferroviário, talvez, o chamaria de “mapa de comuta” ou “uma sucessão de conhecimentos sobre transporte”. A maioria de nós, talvez, opte pelo termo mais amplo, “fluxograma”.

Um Mapa dos Mercadores

Simplesmente, um mapa dos mercadores é um diagrama detalhando os movimentos e passos para a criação de um item destinado à venda. Uma frigideira de metal, com tampa, é um bom exemplo.

A matéria-prima é minério de metal; ele é extraído de algum lugar, fundido lá mesmo ou em outra localização, então sua forma de metal é adquirida (talvez no vizinho, ou até em outro reino) por meio de uma fundição, de um ferreiro ou qualquer outra oficina onde coisas são feitas. Nesse caso, o ferro é fundido dentro de moldes para criação de  novas panelas e tampas brutas que, então, recebem acabamento em suas superfícies (polimentos, furação para fixação de alças, que normalmente são feitas de madeira tratada. Em casos mais raros, para um objeto cotidiano como uma frigideira, tendo seu uso mais comum em armaduras e armamentos, o uso de sempre brilhante para inibir a ferrugem). Logos após, elas são embaladas contra avarias (normalmente, são embrulhados vasos de barro, raramente frigideiras são empacotadas) ou “encolhimento” (roubos ou perda devido ao quicar e cair, na estrada), sendo transportadas para mercados e vendas (algumas vezes, para vendedores ambulantes que viajam para revender produtos).

Um mapa dos mercadores documenta todos os movimentos de componentes ou ingredientes de um produto e, então, descreve o produto em si. Mercadores nos Reinos os utilizam porque que existe a necessidade de embarcar grandes quantidades de itens, e eles precisam reunir um grande número de carroças, animais de carga, tropeiros, e conectar planos de rotas com o máximo de locais seguros para armazenamentos (armazéns ou, ao menos, piquetes para caravanas) durante o caminho. Investidores e empresários nos Reinos consultam tais mapas visando encurtar ou combinar movimentações para economizar dinheiro. Tanto os mercantes de grandes e pequenas carroças tentam encontrar maneiras de minimizar suas “viagens vazias”; em outras palavras, movimentações onde carroças viajassem vazias ou virtualmente vazias, contrapondo cargas parcialmente cheias de não-perecíveis e não sensíveis ao tempo (conhecidas nos Reinos como “cargas certas”) que ficam estocadas em armazéns ou lojas, esperando as próximas carroças com espaço vago para as transportar.

Thaelon

Então por que “Mapas de Thaelon Morgyr”? Thaelon Morgyr era um homem brilhante, quieto (com uma vida pacata), solene e pensativo, oriundo de Portal de Baldur. Foi somente depois que Athkatla levantou a noticia da sabedoria dele, somente após sua morte. Nesse ponto, ele foi descoberto por ser incrivelmente rico (cerca de dezesseis milhões de peças de ouro, em estimativas conservadoras) e por possuir centenas de mapas de mercadores que desenhou e modificou, ao longo do tempo, enquanto refinava o processo para economizar dinheiro ou encontrava maneiras para que pudesse inserir seus negócios nos processos mercantis e de fabricação dos outros. Apenas para conseguir algumas moedas (poderiamos classificar como “intermediário”). Morgyr não produziu ou vendeu algo para o público em geral, mas conseguiu tantas moedas ao longo do caminho quanto coisas que foram produzidas e depois vendidas. Elminster denominou os atos de Morgyr, e de muitos outros, como “pastador”. Certa vez ele chamou Amn de “um país com pastadores demais”.

Para os mercadores ativos no final de 1.300 CV e nos anos iniciais de 1.400, o termo “fazendo um Thaelon” em algo significava aperfeiçoar um processo para economizar moedas, tempo, trabalho ou todos os três ao mesmo tempo. Uma tática sorrateira ou eficiente de negócios foi brevemente intitulada de “trabalho adequado de Morgyr”. Curiosamente, Thaelon nunca se casou ou teve parentes sobreviventes, por considerar que ter uma família ou a envolver em assuntos mercantis era “ineficiente, por natureza”. Ele colocou seus esforços em cultivar amizades de negócios, com benefícios mútuos, “para construir confiança, não obrigações ou responsabilidades”. Pelo que se sabe, ele era um homem satisfeito, não solitário. Alguns aventureiros de Amn contam que ele não apenas investia neles para serem guardas de suas cargas valiosas, mas para ouvir suas histórias e, indiretamente, viver dessas façanhas.

A Utilidade de Tais Mapas

Para um ladrão, um mapa dos mercadores é um mapa do tesouro. Para um guerreiro procurando um trabalho casual, como um guarda de armazém ou escolta montada para uma caravana, tal mapa pode ser o bilhete de entrada para seu próximo trabalho. Ao longo do tempo, qualquer aventureiro bem-sucedido é mais que alguém que apenas joga-se em situações perigosas a procura de tesouros. Assim como seus tendões e reflexos envelhecem, investimentos e “carreiras secundárias” de semi-aposentadoria assumem cada vez mais importância. Utilizando um dos mapas dos mercadores para si ou para tornar sua propriedade um caminho indispensável, um lugar aluguel de armazenamento ou até mesmo um local com segurança temporária é vital para uma vida próspera.

E para um Mestre improvisando “durante a viagem”, um punhado de mapas mercantis pode ser continuamente uma resposta para a pergunta “O que aquelas carroças tem dentro, por acaso?”

Nem todos tem o tempo necessário para sentar e inventar dezenas de tais mapeamentos, ao decorrer de uma campanha que requer muito mais (mais vitais e, vamos encarar, mais divertidos) transcrições para  a próxima masmorra, por exemplo.

Bem, aí é aonde eu entro Contemple um simples mapa dos mercadores (não as linhas desenhadas que indicam o caminho dos carregamentos de materiais, mas o texto que estaria escrito ao longo delas). Ele pode ser modificado para outros lugares nos Reinos ao fazer a troca de nomes e lugares por outros.

Espadas Longas de Arthane

Essas espadas longas “do dia-a-dia, nada de especiais, robustas” são vendidas aos montes em Águas Profundas, sendo exportadas de lá por todo Costa Norte da Costa da Espada e Terras Centrais. O nome por trás desses negócios é Eldegul Arthane, o humano ferreiro e mercador que, primeiramente, buscou reduzir valores, contrapondo as caras lâminas forjadas pelos anões (que estavam se tornando cada vez mais e mais escassas devido aos séculos de declínio dos anões).

O atual mapa mercantil para as espadas de Arthane (vendidas sem bainha, mas com todo o “acabamento”. Sendo assim, com a  empunhadura “nua”, o que significa que o metal já estava temperado, porém sem afiação e terminando em uma espiga, cuja extremidade o usuário final ou o vendedor estilizem uma empunhadura) vai assim:

Ao leste de Beliard está a Fornalha de Arthane (uma “forja para fundição de ferro” utilizando minérios locais; árvores de felsul e folhazul são utilizadas como carvão para gerar calor nas forjas e adicionar carbono aos materiais fundidos e óleo de videira local que é comprado de vendedores de Secomber, utilizado para têmpera; por “local”, subentende-se que a família Arthane, há muito tempo, comprou as terras que fornecem tais ingredientes).  Aqui o metal é fundido e lâminas brutas são forjadas, temperadas, embaladas em barris de óleo de videira e expedidas para:

Secomber, onde Laminas Refinadas de Samril “trabalham” as espadas. As lâminas são “montadas” ao serem encaixadas em empunhaduras, afiadas e embaladas (somente as lâminas, as empunhaduras são seladas do óleo com lonas compradas de diversas fontes e gomas feitas pelos Samrils, derivadas da fervura de videiras locais de lalannas e raízes de pau-amargo) com óleo fresco de videira, dentro de achatados baús de madeira selados com piche, prontas para serem expedidas para Águas Profundas.

As substância utilizada para polimento pelos Samrils são: pó de pedra (com granulagem especifica, esmagada e misturada com determinados óleos, uma combinação secreta) providas por Abrasivos de Anastur, de Llorkh. Baelen Anastur é o velho gnomo proprietário desse bem conceituado negócio, que emprega gnomos e humanos garimpeiros que trabalham no vale Delimbiyr atrás de manganês, “pedra-ferrugem” (oxido ferroso) e outros tipos de pedras lascadas.

A afiação é realizada pela família de haflings Samril. Utilizando as próprias misturas de derivados de óleos das matas silvestres e pedras de amolar retiradas de localizações secretas, perto de Mestre-de-Ferro pela Casa de Yarthin (um coletivo de humanos e anões liderado por Alander Yarthin, de Trombetas do Comando), e expedidas para Burlandin Samril.

O cabos são feitos de peças de madeira-do-crepúsculo da Floresta Alta (mais rígida e duradoura) ou folhazul (mais maleável/durável, porém demanda uma frequência maior de troca que a madeira-do-crepúsculo). As árvores são extraídas por madeireiros de Secomber, como os Maraszymo Darluth (ou qualquer um que consiga um preço melhor que os de Darluth; os poucos que conseguem são lenhadores locais). Em seguida, a madeira é cortada e sutilmente secada em estufas pelos Samrils. Pedaços “secos” são, então, moldados e ajustados em torno das lâminas, pelos Samrils. Os cabos resultantes são envoltos em couro de boi ou de rothé, couro de cavalo ou de jumento são quebra-galhos (couro de dragão ou outros couros escamosos são escorregadios, quebradiços e ineficazes), então são presos com fios finos trançados.

Os principais fornecedores de couro são o Cortume de Falthryn e Filhas de Lannort (um novo vilarejo, correnteza abaixo de Água Ruidosa) e Peles Macias de Sorkryn de Scornubel (o astuto, cortês e de barba-pontuda Ananduz Sorkryn é um notório e inescrupuloso “Mestre das Trocas” em Scornubel, detendo couros e feras vivas ao redor de todo leste de Amn e Tethyr).

O fino fio de cobre trançado é comprado da empresa dos anões Metais Refinados de Gleskur, de Secomber. Os fios produzidos em suas oficinas são de cobre comprado de uma fonte secreta dos anões, que “surgiu secretamente” de forma constante (e, presumidamente, obscura e subterrânea).

Os pomos das espadas longas de Arthane são, geralmente, arredondadas (raramente elas são substituídas por placas de metal moldado ou guardas de metal curvadas, como são as espadas costumeiras para alfanges) e presas no final da lâmina. Tradicionalmente, essas esferas são de marfim ou de ossos mais baratos (o ideal é que sejam de ossos mais resistentes e duráveis são os de peryton, urso-coruja, lobo atroz ou lagarto-do-fogo), também podendo ser de uma variedade de metais moldáveis (latão e outros tipos de metais resistentes a ferrugem são preferíveis ao ferro e outros materiais, que enferrujam facilmente ao entrar em contato com suor ou sangue humano). Esferas de latão e metais de liga leve são moldados pelos Samrils. São utilizadas grandes quantidades de lingotes, comprados de vendedores ambulantes operando fora de Scornubel e Águas Profundas e de várias outras fontes. O marfim vem de caravanas de “vendedores longínquos” de locais aleatórios, caso a mercadoria deles seja boa o bastante. Embarcações aguaprofundenses são designadas a trazer esse material, caso os vendedores longínquos não possuírem material suficiente ou não tenham aparecido por um longo período.  Os ossos são fornecidos pelo Ossário de Galdegut, de Lannort, uma fábrica de cola e loja de suprimentos químicos que é comandada pelo aventureiro aposentado, tagarela, perneta e caolho Morluth Galdegut, aquele que usa o tapa-olho “olho encantado que tudo vê”, juntamente com muitos outros associados e investidores obscuros . Pomos de marfim e ossos são entalhados pelos jovens Samrils, sob a supervisão de anciões já meio senis.

Ao chegar em Águas Profundas, as lâminas de Arthane são limpas, colocadas na bainha, recebendo um toque final na afiação pelos funcionários do arsenal, utilizando pedras e o elegante “óleo de fogo” da Casa dos Yarthin (uma mistura secreta de óleos que não são nada relacionadas com fogo, sendo comprado da Óleos Refinados de Famryn, de Portal de Baldur, uma empresa de gnomos, porém comandada por humanos). Elas são colocadas à venda em O Arsenal Arthane, na fronte oeste da Estrada Alta, perto da Travessa da Besta, Distrito do Castelo. O arsenal afia novamente e repara lâminas de todos tipos, mediante taxas (incluindo troca de cabos e alterações na aparência da arma).

As bainhas vêm dos produtores de bainha de longa data, Whelanxdryn de Elturel. Um grande empreendimento que possui o próprio curtume e ferreiros  “forjadores” que customizam “peças” para fortalecer bainhas, forrando as coberturas com anéis de metal e as bases com pontos de metal. Os metais necessários e o couro, de uma inconstante tipagem, são providos por vendedores de passagem para manter os custos baixos. Atualmente encabeçado por Maerilro Whelanxdryn, esse negócio está expandindo. O negócio tornou o dono um importante senhorio e investidor em Portal de Baldur e em Iriaebor, assim como em Elturel.

Alguns mapas dos mercadores (como aqueles para frascos de vidro, lanternas, velas ou, até mesmo, machados) são muito mais simples que esse, porém os mapas de joalheria de alta qualidade podem ser muito mais extensos e complexos. Esses são detalhes que qualquer Mestre pode ignorar, caso não tenha utilidade para enriquecer a campanha.

Quando questionado sobre isso, Elminster do Vale das Sombras respondeu: “Algumas pessoas não conseguem resistir a bisbilhotar demais para seu próprio bem, conseguem?”


Sobre o Autor

Ed Greenwood é o homem que lançou o cenário de Forgotten Realms, os Reinos Esquecidos, em um mundo vivo. Ele trabalha em bibliotecas, e ele escreve histórias sobre fantasia, ciência, ficção, terror, mistério e romance (algumas vezes tudo isso em um mesmo livro), mas ele fica feliz quando produz Conhecimento dos Reinos, Conhecimento dos Reinos e mais Conhecimento dos Reinos. Ele ainda possui umas salas em sua casa que têm espaço para guardar mais algumas pilhas de papel.

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