Forjando os Reinos – Frasco de Sonhos

por Ed Greenwood
traduzido por Daniel Bartolomei Vieira
disponível em: http://dnd.wizards.com/articles/features/flask-dreams
Imagem de Destaque, “Ranger Attacks”, por Jesper Ejsing


Como, onde e quandos os Reinos Esquecidos começaram? Qual é o cerne da criação de Ed Greenwood, e como o Grande Mestre dos Reinos usa seu próprio mundo quando narra aventura de D&D para os jogadores em sua campanha? “Forjando os Reinos” é uma série onde o próprio Ed Greenwood responderá essas perguntas, e mais.


Rumores sobre uma maravilha mágica chamada Frasco de Sonhos começaram a circular nas Terras Centrais de Faerun no final dos anos 1.400 CV, carregados pelas línguas soltas dos comerciantes que viajavam pelas rotas comerciais daquela região. Já se falou muitas vezes disso naquela época, em rajadas de avistamentos e em contos selvagens que morrem depois uma década ou mais, caindo em completo esquecimento, apenas para se manifestar novamente graças a novas aparições e experiências.

O Frasco de Sonhos é uma garrafa de cinto, lisa, feita de metal fundido e revestida em couro, do tipo caro e resistente, tradicionalmente feito em Memnon e Darrowmar, e ultimamente copiado razoavelmente bem (ao contrário de cópias anteriores mais rústicas) por fabricantes espalhados por todas as Terras Centrais. Ela não apresenta marcas distintivas, e o conteúdo parece ser água clara e límpida (sem tonalidade ou cheiro incomuns), de gosto levemente amargo (alguns dizem que é “amendoado”), que produz um calor agradável, mas forte, no peito e no ventre de quem bebe.

O conteúdo do Frasco de Sonhos faz com que um ser doente, ferido e envenenado caia em um sono profundo permeado por sonhos vívidos. Quando despertam, eles estão completamente curados (até mesmo de infecções graves, aflições e maldições, como alguns tipos de licantropia ou vampirismo) e restaurados com saúde total (ou seja, todos os pontos de vida).

Além disso, embora os sonhos não sejam “reais” e sejam dominados por um fluxo contínuo e confuso de imagens desconhecidas, ao longo do tempo tal fluxo de imagens incluirá indivíduos, coisas e lugares familiares ao sonhador, e um ser sonhando que exerça a vontade intensamente pode orientar os sonhos para que estes se concentrem em um lugar, pessoa ou item específico. Os sonhos mostram ao sonhador o estado atual daquele foco escolhido, como se ele ou ela estivesse ali presente, mas incapaz de ouvir ou fazer qualquer coisa, ou ser visto ou ouvido (ou como se estivesse vendo um filme mudo do foco desejado). Em outras palavras, o sonhador pode ver onde alguém ou item está, e o que está acontecendo com esse ser ou coisa, ou ele ou ela pode ver um local específico e ver quem está lá e o que está acontecendo.

Um sonhador de vontade forte que tenha ouvido falar desse poder ou que o descubra cedo durante o sono, pode usar a condição para incluir nos sonhos até seis pessoas (afirmam alguns relatos), lugares ou coisas, em qualquer lugar nos Reinos, mesmo se os seres ou itens estejam em um local desconhecido. A maioria daqueles que bebem do frasco sonham com um ou dois focos, no máximo.

Após o frasco ser esvaziado, a eficácia dele acaba, e não importa o que seja usado para reabastecê-lo, incluindo, ao menos dois contos insistem em dizer, poções encantadas que, a partir disso, tornam-se águas claras e nada mais que isso. Ninguém sabe como ou quando esse frasco recupera a potência ou se, ao menos, recupera de fato. O diligente e brilhante jovem sábio Aummur Thakalanthus, de Athkatla, avançou uma teoria de que cada frasco exibe esses poderes apenas uma vez, e que após o consumo, os benefícios mágicos mudam para outro frasco até que este outro seja drenado, e assim por diante; por razões óbvias, ninguém foi capaz de testar essa crença.

Embora o que um indivíduo em particular veja nos sonhos enquanto está sendo curado, muitas vezes seja cativante, um contador de histórias deixado para morrer conseguiu localizar as pessoas que tentaram matá-lo; namorados de infância foram rastreados; e pelo menos uma aventureira descobriu muito sobre um dragão que ela estava caçado há muito tempo, incluindo onde encontrá-lo.

Aqueles que detém a Arte ou tem interesse profissional nela, desde sábios e magos até o clero de Mystra, estão particularmente interessados em quem criou o Frasco de Sonhos e com que propósito. A especulação sobre a criação e o propósito do frasco é, naturalmente, desenfreada, desde divindades que buscam novos Escolhidos até insidiosas criaturas que se alimentam de pensamentos que estimulam um fluxo constante de indivíduos a sonhar, proporcionando-lhes sustento.

Entre os Magos de Guerra de Cormyr, surgiu a crença de que o frasco é, na verdade, uma sucessão de feitiços conjurados em vários frascos, em um esforço organizado arquitetado por arquimagos que estão procurando por alguém bem escondido (que é presumivelmente um usuário da Arte tentando se esconder com sucesso acima de tudo), e estes arquimagos esperam encontrar a presa através das “mentes estimuladas” de outros, como dizem os Magos da Guerra.

Esse ponto de vista foi levantado pela primeira vez por um Mago de Guerra menor chamado Dathlar Sarsund, que acredita que poderosos arquimagos dos dias mais antigos (Ioulaum e os comparsas dele) ainda estão vivos e ativos nos Reinos, optando apenas por não mostrar as verdadeiras naturezas e identidades à maioria dos mortais. Ele admitiu que não tinha idéia de quem criou o frasco ou quem eles estão tentando encontrar, mas acredita que a magia do frasco é “apenas uma manifestação de uma grande e contínua luta pelo poder que fervilha sob a atenção da maioria de nós, uma disputa muito mais sutil do que as guerras de exércitos e castelos e até mesmo bolas de fogo conjuradas. Eu vejo esses esforços como uma tentativa de conduzir a vida nos Reinos civilizados em direções específicas, com resultados que parecem inevitáveis, mas têm origem nas últimas décadas e até em séculos atrás. Somos todos fantoches, mesmo que achemos que não”.

Não é de surpreender que tais pontos de vista não sejam aplaudidos por alguns clérigos, que acreditam firmemente que qualquer direção é “providência dos deuses e deles somente!” (como disse o sacerdote Undrathras Imdoamrel, Alto Orador Sagrado de Oghma) e que os mortais são simplesmente incapazes de qualquer coisa além do que Sarsund denomina como métodos de “força bruta” usados em guerras, bloqueios, leis e na execução destas, e “a marcha contínua de realizações” (que é o termo faeruniano para o que nós no mundo real poderíamos chamar de avanços tecnológicos). Além disso, muitos sacerdotes acreditam que os sucessos nesses métodos de força bruta são impossíveis sem o favor dos deuses.

Esta é, naturalmente, uma questão de debate filosófico interminável e às vezes ferrenho, pois muitos sábios afirmam que se os mortais não conseguem nada sem a ajuda divina, por que alguém deveria se esforçar para fazer qualquer coisa? O destino (isto é, a vontade dos deuses, ou do misterioso Ao, o Deus Supremo) seguirá o caminho independentemente dos deuses.

Como Elminster disse: “Tal pensamento pode durar muito tempo ou ter o tempo de uma vigília solitária diante uma fogueira, mas insistir em tais coisas por muito tempo é loucura e perda de tempo“.

Quanto às crenças de Sarsund, no entanto, Elminster diria apenas: “Ele está chegando a algo” (ele se recusou a dizer mais alguma coisa sobre esse assunto, mesmo quando questionado repetida e insistentemente).

A sábia Naranthrae Ilnwood, de Elturel, acredita que não apenas Sarsund está correto, mas que um ou mais desses “poderosos mortais” escondidos está por trás da longa passagem de anos entre grandes e devastadoras hordas de orcs que descem do Norte (portanto a ascensão das hordas não se devem apenas à existência dos Muitas-Flechas). Ela tem tentado descobrir se isso está sendo feito para evitar a devastação no chamado Norte civilizado, ou para aumentar a força das tribos de orcs e forçar alguns avanços nos estilos de vida deles (por terem que “conviver” juntos década após década), ou ambos.

As nobres famílias águaprofundenses de Maernos e Melshimber, ambas conhecidas pela erudição, acreditam que não há mortais poderosos envolvidos nas lutas de poder nos bastidores, mas sim deuses que não acreditam em violência aberta para alcançar os objetivos pretendidos, especificamente Siamorphe e Chauntea. Outros, obviamente, discordam, incluindo, curiosamente, alguns dos clérigos de Siamorphe e Chauntea.

O sábio Aummur Thakalanthus não tem certeza se o Frasco dos Sonhos está ou deveria estar, em debate acadêmico, ligado às crenças de Sarsund sobre uma luta pelos bastidores do poder, mas ele acredita que essa luta de poder exista, que tem mantido ocupados os mais poderosos dragões, observadores e illithid durante séculos, e que deveria, por conveniência, ser conhecido como o Jogo Brando.

Curiosamente, Thakalanthus encontrou referências a “um jogo brando” em escritos de dois notórios (e supostos mortos) arquimagos: Halaster e Khelben “Cajado Negro” Arunsun.

Quando perguntado sobre isso, Elminster do Vale das Sombras respondeu: “Algumas pessoas não conseguem resistir a fuçar demais para o próprio bem, não é mesmo?“.


Sobre o Autor

Ed Greenwood é o homem que lançou o cenário de Forgotten Realms, os Reinos Esquecidos, em um mundo vivo. Ele trabalha em bibliotecas, e ele escreve histórias sobre fantasia, ciência, ficção, terror, mistério e romance (algumas vezes tudo isso em um mesmo livro), mas ele fica feliz quando produz Conhecimento dos Reinos, Conhecimento dos Reinos e mais Conhecimento dos Reinos. Ele ainda possui umas salas em sua casa que têm espaço para guardar mais algumas pilhas de papel.

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