Capítulo 4 – As Cavernas Gotejantes, Parte 2

por Rafael Santos
Arte Destacada,  “Goblins” por Steve Prescott

– Belo trabalho, como sempre amigos! – Ray limpava a lâmina de sua espada após a dura batalha com os ogros. 

– Isso ainda está longe de acabar – Vince disse já imaginando que tipo de problemas ainda teriam que enfrentar na caverna. 

Resolveram investigar por toda caverna a procura dos prisioneiros. Seguiram em direção a Oeste da caverna e encontraram um túnel estreito que os levou a uma rede apertada de cavernas onde os encontram dezenas de famílias goblins. As criaturas pareciam assustadas. Eram homens, mulheres e crianças que se protegiam em suas tocas, choramingando e se abraçando, implorando por misericórdia enquanto mostravam seus recém-nascidos buscando piedade dos aventureiros. 

– Isso é loucura! – disse Ray olhando aquela deplorável ninhada. – São apenas crianças, velhos e mulheres. Não parecem ser combatentes. 

– Eles proliferam-se como ratos – era Calima. – Por mais que pareçam inocentes, ainda são goblins e devemos eliminá-los antes que se tornem uma ameaça maior para a região. 

O grupo entrou em uma calorosa discussão sobre o que era o certo a se fazer naquela situação. Ray, Vince e Lara eram contra matar aquelas criaturas inocentes – por mais que fossem goblins e que pudessem se tornar ameaças futuramente. No momento, não passavam de criaturas patéticas e indefesas. 

– Eles são como aldeões em uma vila de humanos – Vince tentou mostrar seu raciocínio lógico aos outros. – Pensem nos goblins que matamos como os aventureiros para eles. Os goblins combatentes lutam por saberem lutar, esses são apenas goblins comuns. 

O que foi uma surpresa para Ray naquele momento. Até então, ele achava que todos os goblins eram criaturas bélicas, que simplesmente viviam para matar e pilhar. Ele jamais pensou que poderia existir uma “sociedade” entre essas criaturas. O que era um pensamento bem limitado de sua parte, ponderou. 

Turok por outro lado, não tinha uma opinião formada sobre aquilo. Não tinha qualquer prazer em matar um bando de goblins que não podiam se defender ou representar qualquer desafio para ele. Calima por outro lado, defendia o fato de que entre aqueles pequenos recém-nascidos ou crianças, poderia vir a surgir um grande general goblin que poderia assolar aquela região em um futuro próximo. 

No fim, a discussão pendeu para o lado da maioria, e os heróis decidiram não fazer qualquer mal para aquele bando. Mesmo após investigarem as câmaras adjacentes e descobrirem uma em que os goblins descartavam os ossos das criaturas que devoravam. O chão da caverna está repleto de crânios de animais pequenos (principalmente morcegos) e alguns humanoides desafortunados, incluindo alguns aldeões recentemente devorados. 

– Ainda acha que esses monstros merecem viver? – Calima tinha um olhar indignado na face. 

– Não iremos chacinar velhos, mulheres e crianças indefesos – Ray foi firme na decisão. – Mesmo que sejam goblins canibais. 

– Eles nos ajudarão, nos informando a localização dos prisioneiros. 

Retornaram até a câmara principal e chamaram o mais velho do bando para responder suas perguntas debaixo de ameaças duras a todos. O velho goblin, ainda apavorado e pedindo o tempo todo por piedade, disse que os prisioneiros foram levados para um poço mais a nordeste da caverna, onde eles estavam.  

Munidos dessa informação, o grupo deixou o túnel dos goblins e voltou para a câmara inicial onde haviam enfrentado os goblins na saída, foram recebidos por um pequeno batalhão de goblins liderados por Barak, o comandante goblin que montava seu enorme worg. 

– Aventureiros tolos! – Barak rosnou com um grande sorriso maldoso na face. – Sua vinda a esse lugar só lhes trará a morte! 

Havia uma dúzia de arqueiros apontando seus arcos e flecha para o grupo. Os heróis notaram que entre aquele bando, estava Yark e Glang, os dois goblins que eles haviam feito prisioneiros em Pedra Noturna e escaparam. 

– Yark e Glang! – Ray rangia os dentes de raiva. – Eu devia tê-los matado em Pedra Noturna! 

A dupla rosnou e xingou em sua língua quebrada. Assim que Barak ordenou que atacassem, o xamã goblin começou a pular e a cantarolar, invocando o poder de seu deus maligno, enquanto os demais monstros irromperam em uma carga selvagem sobre os heróis. 

Os aventureiros precipitaram-se sobre o alvo mais próximo. Ray e Turok correram lado a lado para a batalha, enquanto Calima sacou seu alaúde e começou a dedilhar algumas notas. Lara sacou duas flechas, armou e mirou em Barak, que estava em pé sobre uma plataforma de pedra dando ordens de ataque. Na plataforma ao lado, o xamã pulava e dançava, invocando o poder de sua divindade sobre os demais. Foi então que a patrulheira decidiu eliminar o mais perigoso, mirou e soltou as duas setas que foram se cravar no pescoço e no crânio do goblin xamã. O monstro tombou, e as bênçãos de Magublyet deixaram os goblins. 

Ray golpeou em um arco baixo com precisão letal contra o ventre de um goblin, o golpe foi tão bem colocado que a criatura foi partida ao meio e o sangue jorrou no ar. Turok urrou com uma fúria tão avassaladora que partiu dois goblins ao meio ao mesmo tempo. 

Vince terminou sua conjuração e disparou uma bateria de misseis mágicos que serpentearam no ar, desviando dos obstáculos e de Ray e Turok, e indo explodir nos monstros mais atrás. Calima terminou sua música, e então uma nuvem de adagas feitas de pura magia surgiu acima de sua cabeça, e com um sim agudo mais longo do seu instrumento musical, a elfa arremessou as armas espectrais voando pelo ar, passando por Ray e Turok e indo se chocar contra os goblins. Três foram ao chão e outros três ficaram feridos. 

Ray e Turok haviam se embrenhado no meio da pequena turba de inimigos. A espada do guerreiro e o machado do bárbaro subiam e desciam com uma velocidade cegante, e os goblins caíam ao seu redor. Mais atrás, Lara despejou mais duas flechas que foram derrubar dois inimigos que haviam se desprendido da turba e avançavam em sua direção. 

Barak berrou ordens para que os worgs atacassem, e os animais agiram. As criaturas avançaram sobre Ray que estava mais próximo.  

O primeiro deu um salto no ar, a bocarra aberta e babando, e Ray rolou no chão escapando do ataque, colocando-se de pé em um salto. O segundo pulou no ar sobre o guerreiro e estee golpeou com a espada como um furador de gelo, enterrando a lâmina no fundo da garganta do inimigo, o empalando em pleno ar. Seu braço entrou quase que por completo dentro da bocarra escancarada da fera. O peso da criatura fez o guerreiro cair no chão com o corpo do monstro sobre ele. Ray chutou o animal para o lado e puxou sua espada presa na garganta do mesmo. 

Turok também foi atacado por dois worgs, mas com um golpe de cima para baixo do seu machado, o bárbaro rachou o crânio do primeiro inimigo. Em seguida, investiu contra outro worg que saltou sobre ele para estraçalhá-lo. O bárbaro colocou o braço adiante e deixou que a mandíbula da criatura se fechasse em seu pulso. O sangue jorrou quando as presas se fecharam no braço grosso do bárbaro, e ele urrou de dor e fúria. 

Totalmente entregue ao ódio, Turok desferiu um golpe de cima para baixo, afundando a lâmina do machado no pescoço largo do worg. O animal choramingou de dor e soltou o bárbaro, que aproveitou para agarrar o monstro pela orelha e derrubá-lo no chão, só para em seguida, enterrar sua lâmina no pescoço do animal.  

Uma dupla de goblins vinha berrando na direção do bárbaro brandindo suas adagas, mas o meio-orc agarrou o worg morto e o arremessou sobre a dupla. Ambos receberam o worg morto sobre si e caíram esmagados pelo cadáver. 

Calima pulou e enterrou a espada através do pescoço do worg, e o monstro recuou choramingando enquanto a barda já preparava um feitiço. A sola de sua bota ficou coberta de raios e ela pisou no chão com seu pé direito, liberando uma onda de raios que atingiu não apenas o worg, como dois goblins azarados que estavam próximos.  

Lara caiu de pé, esquivando-se habilmente dos golpes duplos das espadas de um goblin. O monstro girou sobre os calcanhares e atacou. Mas a patrulheira foi rápida e bloqueou com o arco. Em seguida, ela chutou o inimigo para longe, sacou uma de suas espadas curtas e enterrou no meio do crânio do inimigo. O goblin tombou aos seus pés. 

A meio-elfa olhou para Barak. O comandante goblin rosnava e xingava de sobre a plataforma de pedra, montado em seu worg. Lara sacou uma flecha, mirou e soltou a seta que voou no ar. Barak tinha um reflexo invejável, e teve tempo de mover o corpo e evitar ser atingido mortalmente. A flecha se cravou em seu ombro direito, arrancando um filete de sangue e um urro de dor do goblin que agarrou o projetil e o arrancou com um puxão. 

– Maldita elfa! – rosnou o comandante goblin. – Vou estripa-la primeiro! 

Barak impeliu sua montaria monstruosa que saltou da elevação e pousou no chão. Ele avançou cavalgando veloz contra Lara que já sacava mais uma flecha e armava em seu arco. 

Vince criou um arco de energia, e então puxou a corda, formando uma flecha de ácido e mirou em direção ao worg e seu cavaleiro. O mago soltou a seta corrosiva que passou por entre Yark e Glang e foi se chocar na montaria do comandante goblin. O monstro urrou enquanto sua carne queimava e chiava com o ácido, o monstro tombou, capotando no chão e arremessando Barak pelos ares. O comandante orc se chocou contra o solo, rolando e batendo a cabeça, costelas, braços e pernas nas pedras, até ir se chocar contra uma estalagmite e quebrar a coluna com o impacto. 

Lara sorriu para Vince que fez uma mesura. Então, a meio-elfa mudou seu alvo para Yark e Glang. Os dois goblins covardes estavam cercando Ray que lutava contra um outro goblin. Lara soltou a seta que voou e foi atingir a cabeça de Yark. A ponta da flecha surgiu na testa do goblin que tombou de olhos esbugalhados, para o terror de Glang. 

– Você é o próximo, Glang! – Lara ameaçou enquanto já sacava outra flecha. 

Glang berrou apavorado e tentou fugir, mas Calima saltou na frente dele, a espada em punho e um sorriso maldoso nos lábios. 

– Eu queria fazer isso desde quando os amarramos naquele templo! – declarou a barda. 

Sem escapatória, Glang urrou e saltou sobre a barda de forma selvagem. Calima bloqueou a estocada do goblin, e em seguida chutou a cara dele, quebrando o nariz da infeliz criatura. Com um movimento quase de dança, a elfa enterrou a espada no pescoço do goblin, com um movimento. A cabeça do monstrengo rolou no chão. Ray e Turok eliminaram os dois últimos goblins. 

A batalha havia acabado. 

Havia sido um combate duro, os heróis tinham derrubado mais de vinte inimigos naquela batalha e estavam cansados e com alguns hematomas. Após o combate, Calima usou sua cura musical no grupo, fechando algumas feridas e, de modo surpreendente, Lara também demonstrou ter aprendido magias de cura, admirando a todos. 

– Desde quando você usa magia de cura, baixinha? – Turok questionou a meio-elfa. 

– A Deusa me abençoou com essa dádiva – Lara respondeu com um sorriso bobo. – Pedi a ela que me desse esse dom, já que preciso salvar sua pele esverdeada todas as vezes. 

Turok deu um leve sorriso, o que se poderia dizer que era quase uma gentileza do bárbaro.  

Após as curas administradas, os heróis seguiram em direção à câmara onde os goblins disseram que os prisioneiros estavam. Um túnel curto levava a uma caverna baixa que ecoava com o som de asas batendo.  

– Fiquem atentos – disse Ray já com a espada em punhos novamente. – Pode ser que tenham goblins vigiando o poço. 

O grupo chegou ao local de onde o som emanava. Um enorme poço formado naturalmente no assoalho da caverna, que era coberto por pequenos montículos de guano de morcegos e vermes satisfeitos. Bordas a 3m de altura cercavam o poço e formavam alcovas elevadas ao norte, ao leste e ao sul. O cheiro nauseante se intensificou até a beirar do insuportável. 

– Bosta de morcego – sentenciou Ray. 

Com a aproximação dos heróis com a luz mágica de Calima, revelou-se, acima no teto, dezenas de corpinhos pendurados, encolhidos sob suas asas, dormindo. A luz os fez se agitar, e em breve tudo virou uma tempestade de corpos negros e guinchos agudos. Todos cobriram os rostos, mas ainda receberam algumas mordidas e arranhões por parte das criaturinhas. 

Os guerreiros tentaram afastar as criaturas. Ray e Turok desferiam golpes de sua espada e machado dilacerando uma dezena delas. Sangue de morcego choveu no chão e sobre seus corpos. Calima sussurrou algumas palavras mágicas e estendeu a mão para cima, liberando uma onda de raios que se espalhou no ar, eletrocutando vários animais ao mesmo tempo e os afastando para longe. Vince disparava raios azulados e gélidos da palma de suas mãos, sempre atingindo alguma criaturinha que desabava com o corpo transformando em pedra de gelo. 

Lara se agachou no meio dos companheiros, fez uma prece e, então, começou a guinchar como um morcego. Por mais estranho que a cena parecesse, as criaturinhas começaram a se acalmar, voejaram ao redor e então partiram dali, voando pelo corredor logo atrás. 

– Isso foi estranho. – Ray estava curioso e confuso.  

– Mais uma benção da Deusa – riu Lara da expressão boba do companheiro. – Falar com animais. Fale a língua deles para que possa entende-los. 

– Bom trabalho, Lara! – Vince disse com um sorriso orgulhoso. 

De repente, os heróis ouviram alguns gemidos vindo de dentro do poço. Ao se aproximarem da borda, Calima fez com que um dos seus globos de luz se movesse para o centro do buraco, o que revelou trinta aldeões de Pedra Noturna. Eram pessoas de várias raças e etnias, membros sobreviventes de famílias locais. Adultos, jovens e crianças, e nenhum deles era combatente. 

– Saudações, habitantes de Pedra Noturna! – disse Vince do alto do buraco. – Viemos salvá-los do seu cativeiro. 

– Graças a Moradin! – Morak quase chorou de alegria. 

*** 

Com a ajuda de algumas cordas, os heróis iniciaram um demorado trabalho de retirar um a um os habitantes de Pedra Noturna do fosso. O anão Morak Ur’gray fez questão de ser o último a ser erguido para a saída. Os aldeões estavam visivelmente assustados, balbuciavam o tempo todo sobre os ogros retornarem e levarem um deles para servir de comida para os goblins. 

– Não se preocupem com os monstros – Ray tentou acalmar os aldeões. – Nós já os matamos. 

Quando Morak foi subido para a borda por Turok e Ray, o anão tinha os olhos cheios de alivio e satisfação em ver aventureiros. 

– Louvado seja o Pai da Forja! – Berrou Morak em honra a Moradin, o Deus dos Anões. – Eu sabia que a Senhora Velrosa Nandar iria enviar ajuda. 

Os heróis trocaram olhares incertos, então revelaram a todos qual tinha sido o resultado do ataque dos gigantes das nuvens em Pedra Noturna, e que Velrosa Nandar estava morta naquele momento.  

Morak e os moradores ficaram visivelmente abalados, alguns choraram a morte da governante da aldeia e os heróis perceberam que Velrosa Nandar era amada pelo seu povo, e lamentaram junto com todos por sua morte. 

– Vamos embora desse lugar, pelo amor de Lathander! – Choramingou Hiral Mystrum, o clérigo do Senhor do Amanhecer. – Não há mais motivo algum para continuarmos nessas cavernas terríveis e fedorentas. 

– Ainda não – decretou Ray. – Ainda resta darmos um fim ao líder dos goblins nessa caverna. 

– Está louco, meu rapaz! – o clérigo quase implorou de horror. – Se não há mais monstros que possam nos impedir de fugir, não devemos mais ficar aqui. 

– Calado, Hiral! – rosnou Morak. – Se você não fosse tão covarde, quem sabe lady Malana ainda estivesse viva, que Mielikki a tenha. 

O clérigo se encolheu subjugado pela autoridade do anão. Hiral Mystrum era um homem magro como uma vassoura, o rosto esquelético e seus olhos fundos o faziam parecer mais com um clérigo de Shar do que de Lathander. Sua feiura só dava a ele uma má fama, além do mais, era um covarde. Quando foram capturados há três dias atrás e lançados no poço, Hiral passou o tempo todo amaldiçoando a própria sorte, enquanto sua companheira de templo, lady Malana de Mielikki, sempre esteve intercedendo à Deusa para que enviasse ajuda. 

Já no final do primeiro dia, quando os ogros vieram pegar os primeiros prisioneiros para servirem de jantar para os goblins, Hiral seria um dos escolhidos, mas com uma ação covarde, ele empurrou lady Malana sobre os ogros e eles a pegaram e a levaram. O clérigo ficou aliviado por ainda sobreviver mais um dia, mas Morak e os moradores de Pedra Noturna que até então os viam como um homem santo, passaram a vê-lo como um traidor covarde. Os próprios moradores iriam matá-lo ali mesmo ou entregá-lo aos ogros na próxima vez que os vissem, mas Morak os acalmou, deixando para que Lathander decidisse o destino do maldito infeliz. 

Quando ouviu essa história vinda de um dos habitantes de Pedra Noturna, Lara quase sacou uma flecha e enterrou no meio da testa do clérigo. 

– Você não merece ver o nascer do sol mais uma vez! – A patrulheira disse com os dentes rilhados. 

Hiral se encolheu em um canto, recluso, enquanto Vince acalmava a companheira. Os heróis decidiram conduzir o grupo para o lado de fora das Cavernas Gotejantes e deixá-los em um acampamento seguro até que retornassem. Quando saíram do lado de fora da caverna, já era noite e o céu estava estrelado e brilhante com uma lua alta e prateada. 

– Retornaremos logo – disse Vince a Morak. – Contamos com você para protege-los. 

– Os malditos levaram nossas armas – disse o anão. – Mas não se preocupem, eu os protegerei com o que puder. 

Os heróis adentraram a caverna novamente, seguiram até a câmara dos goblins inofensivos e questionaram mais uma vez o ancião, mas dessa vez sobre a localização de Hark, o chefe goblin.  

– Longe não, perto – disse o velho goblin. – Subindo caverna. 

– Nos conduza até lá – decretou Ray. – E não tente nenhuma gracinha, senão vamos retornar aqui e matar todos vocês. 

O velho goblin que se chamava Glong, os conduziu até a entrada do túnel que dava para a câmara do chefe goblin. Os heróis seguiram pelos tuneis estreitos e quando chegaram em uma curva, percebem que havia uma luz de fogo mais ao fundo. Decidiram investigar, e enquanto caminhavam pelo túnel, perceberam uma movimentação lá dentro e uma voz estridente. 

– Humilhação! Humilhação! – A voz aguda e dolorosa berrava. – Maldito chefe Hark! Maldito! 

Quando chegaram na câmara, perceberam que se tratava de uma chaminé natural que havia se formado no teto de 2,1m de altura desta pequena caverna lateral. A chaminé possuía 1,5m de largura e tinha bases de apoios em abundancias para mãos e pés.  

Viram de onde a voz estridente estava vindo. Uma goblin feiosa e descabelada pulava e rolava no chão, dando socos e rosnava, xingando e alternando entre a linguagem comum e goblin. Todos os seus xingamentos eram direcionados ao chefe Hark. 

– Todos mortos! Maldito chefe Hark! – A goblin continuava com sua indignação. – Se eu fosse o chefe… sim, se eu fosse o chefe… 

Os heróis adentraram a câmara e a goblin percebeu, dando um pulo para trás assustada. Ao ver que se tratava dos aventureiros, a goblin se jogou no chão em desespero. 

– Misericórdia! Eu me render! Eu me render! 

Os heróis trocam olhares incertos. 

– Quem é você, goblin? – Ray questionou. 

– Mim… mim ser Snigbat! – A goblin choramingou. – Mim render! Mim render! Mim ajudar aventureiros. 

– Como vai nos ajudar? 

– Mim levar aventureiros para chefe Hark. Matar chefe Hark! Snigbat ser novo chefe! 

Snigbat era uma goblin ambiciosa demais e o chefe Hark sabia disso, por isso mesmo o líder goblin a enviou para cuidar da chaminé e deixá-la longe de qualquer confusão. Snigbat acreditava que aquele trabalho era um castigo e isso só a deixava ainda mais furiosa com Hark. 

– Humanos matar Hark – continuou a goblin. – Snigbat dá todo o tesouro de Hark para humanos e deixar eles ir embora. 

– Parece um bom trato para mim – disse Turok com um sorriso esnobe na face. – Não que a gente não fosse sair daqui de qualquer jeito, mas pelo menos vamos sair com os bolsos cheios. 

– Nos leve até Hark – decretou Vince. – Se tentar alguma gracinha, vai ser a primeira a morrer, e não terá liderança alguma dessa tribo. 

Snigbat conduziu os heróis pelos túneis escuros, e então chegaram na grande câmara principal onde o chefe Hark estava. O chefe goblin estava sentado sobre várias almofadas com as pernas cruzadas em posição de lótus. Ao seu lado, duas goblins armadas com arco e flecha, e seis worgs que rosnavam para o grupo. Os heróis perceberam que no canto, havia os restos mortais de corpos de humanos – possivelmente dos habitantes de Pedra Noturna. 

– É ele! Chefe Hark! – Snigbat berrava, pulava e apontava para o chefe goblin. – Ratcha e Zukluk! 

Ratcha e Zukluk eram as duas goblins que estavam com Hark. O chefe goblin encarava os heróis com certo interesse. 

– Vocês ser aventureiros de Pedra Noturna – disse o chefe goblin. – Vieram matar Hark? 

– É mais esperto que a maioria dos goblins – debochou Ray já sacando sua espada. – Nós viemos estripa-lo, goblin. 

– Hark está disposto a negociar. Mim deixar vocês irem, vocês deixaram moedas de ouro e cadeados para Hark. 

– Não viemos aqui para negociar, goblin – rosnou Turok empunhando seu machado. – Viemos aqui para matá-lo! 

O chefe goblin rosnou de fúria e ordenou que os worgs atacassem. Ratcha e Zukluk correram e montaram em duas das criaturas e então as impeliram em uma carga de cavalaria contra os aventureiros. As criaturas avançaram uivando para cima dos heróis. 

– Para o combate, companheiros! – Ray gritou enquanto avançava com a espada em riste. 

A batalha final nas Cavernas Gotejantes começara. Ray e Turok avançaram sobre os worgs que vinham em sua direção. Antes de se chocaram, duas flechas disparadas por Lara passaram sobre suas cabeças e foram se cravar no peito de Ratcha. A goblin escarrou sangue e tombou de sua montaria. Vince terminou sua magia, e então disparou dois dardos de luz que serpentearam no ar e foram explodir em Zukluk a derrubando das costas do outro worg. 

Ray e Turok receberam os monstros no meio da câmara. O primeiro worg saltou sobre Turok que usou o braço para bloquear os poderosos caninos. As presas da criatura riscaram e se fecharam na carne do bárbaro arrancando-lhe sangue, mas Turok aguentou firme o peso do monstro, sendo empurrado para trás. Em fúria, o bárbaro desferiu um golpe e o machado fez um arco de baixo para cima se enterrando no estômago do animal. O worg choramingou e uivou de dor enquanto recuava. Turok investiu novamente e enterrou seu machado no crânio do animal, o lobo demoníaco estremeceu e tombou morto no chão. 

Ray deu um pequeno pulo com a espada erguida acima da cabeça e golpeou de cima para baixo e a lâmina cortou fundo o rosto do worg. O animal investiu com a bocarra aberta para morder, mas o guerreiro se jogou de costas no chão, ficando por baixo do monstro. Ray golpeou de baixo para cima, atravessando o ventre macio do worg e empurrando a lâmina da espada até o limite do cabo. O worg choramingou, estremeceu e tombou de lado. 

Calima dedilhava seu alaúde, criou uma nuvem de adagas espectrais acima de sua cabeça, e com um gesto de mãos, arremessou as armas de energia contra os inimigos. Atingiu dois worgs ao mesmo tempo, causando cortes em suas peles. Os animais choramingaram e se debateram, mas embora tivessem ficado feridos, não morreram. 

Vince criou uma flecha feita de puro ácido e apontou para um dos monstros, e então soltou a seta mágica que foi explodir no meio da cara de um dos worgs. A criatura uivou de dor enquanto sua face era corroída pelo ácido. Por fim, o monstro tombou e morreu em agonia. Os respingos atingiram outro worg que estava perto e esse choramingou e se debateu para longe. 

– Mielikki, guie minhas flechas! – Lara tinha uma flecha armada no arco. 

A patrulheira soltou a seta que voou por toda a câmara e atingiu um dos worgs no olho. A flecha entrou até o cabo atingindo os miolos do animal e o matando de imediato. 

Ainda havia dois worgs vivos, porém feridos. Ray e Turok se focaram nas duas criaturas e se lançaram em um combate contra a dupla de worgs.  

Um dos worgs saltou sobre Turok, e o bárbaro investiu como um touro furioso, cabeça baixa e ombros poderosos em um escorão de aríete. Com sua força sobre-humana, o bárbaro atingiu o worg por baixo e o arremessou no ar por cima do seu próprio corpo. O monstro caiu pesado de costas no chão e patas para cima, tentando voltar a se equilibrar. Turok correu e desceu seu machado contra o pescoço da criatura, decapitando a cabeçorra do monstro. 

Ray rolou no chão, escapando da mordida do worg. Nesse momento, Calima que veio correndo para ajudar o companheiro, desceu a espada que brilhava com faíscas, enterrando a lâmina na carne do monstro e o eletrocutando de dentro para fora. O worg uivou enquanto seus olhos estouraram, vazando eletricidade por todos os orifícios do seu corpo. A criatura tombou morta. 

– Ataque o goblin! – ordenou a elfa para o guerreiro. 

Ray correu em direção a Hark. O líder goblin se colocou de pé e sacou sua cimitarra. Urrou e se jogou contra o guerreiro com uma fúria selvagem. O goblin começou a desferir golpes velozes e com intensões assassinas. Ray bloqueou os ataques e com uma finta que deixou o goblin desconcertado, o guerreiro se moveu para as costas do monstro e enterrou a espada, atravessando-lhe de trás para frente. Hark escarrou um rio de sangue enquanto via sua vida se esvair. 

Ray puxou a espada e o goblin caiu de joelhos no chão. Com os olhos esbugalhados, olhava para a câmara vendo seus súditos mortos por todos os lados. 

– Por favor, não matem meu povo! – Foi a última coisa que o goblin falou antes de tombar sem vida para frente. 

A batalha havia acabado. Os heróis haviam vencido mais uma batalha e tinham dado fim ao chefe Hark e seus goblins. Snigbat havia se escondido atrás de uma pedra, e quando viu que a batalha havia acabado, saiu do seu esconderijo ainda assustada e incrédula do que tinha acontecido. 

– O chefe Hark está morto! Snigbat ser chefe agora! 

A goblin começou a pular de alegria pelo fim de Hark, comemorando sua ascensão a chefe. 

*** 

Como prometido, Snigbat entregou aos heróis todo o tesouro que Hark havia reunido em saques anteriores e na aldeia de Pedra Noturna. Havia desde moedas de ouro, prata e bronze, até joias e alguns apetrechos valiosos e um anel de armadura que Ray decidiu manter para si. 

– Estaremos de olho na região – advertiu Ray para a goblin. – Se voltar a ocorrer ataques goblins perto de Pedra Noturna, vamos voltar e matar todos vocês. Viu do que somos capazes. 

– Mim não atacar humanos! – confirmou assustada a goblin. – Snigbat ser bom chefe! 

Após tudo isso, o grupo retornou para o local onde os habitantes de Pedra Noturna estavam aguardando do lado de fora da caverna. Decidiram no caminho não contar sobre o restante da tribo goblin que viveria nas cavernas a partir daquele ponto. Sabiam que ao contrário deles, muitos dos habitantes não entenderiam, e seria apenas uma questão de tempo até que um outro grupo de aventureiros fosse contratado para chacinar Snigbat e sua tribo. 

Quando chegaram até os moradores de Pedra Noturna, os heróis foram recebidos com alegria, e então, escoltaram Morak e os outros de volta para a aldeia.  

O pesadelo de Pedra Noturna estava prestes a acabar, mas ainda havia muito a se fazer. 


Continua no Capítulo 5 – Campos Dourados – Parte 1

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