Nevenunca, Parte I

por Daniel Bartolomei Vieira
Arte Destacada, “Neverwinter”, por Jedd Chevrier, “Neverwinter Coat of Arms”, por Mike Schley


Ah! Nevenunca é uma amigável cidade de mestres artesãos, que fazem seu comércio exclusivamente através dos grandes mercadores de Águas Profundas; seus relógios d’água e suas lâmpadas multi-coloridas podem ser encontradas em qualquer lugar dos Reinos. Nevenunca recebeu este nome por causa de seus habilidosos jardineiros, que não mediam esforços para manter seus jardins floridos mesmo durante os meses de neve – uma prática que eles continuam a realizar com muito orgulho e esmero.

— Elminster Aumar

Arte do brasão de Mike Schley

Nevenunca, também conhecida como a Cidade das Mãos Hábeis e a Joia do Norte, é uma cidade-estado multi-racial que fica no noroeste da Costa da Espada, em Faerûn. Nevenunca é considerada por Volo como a cidade mais cosmopolita e civilizada de toda Faerûn. Ela também é um membro ativo da Aliança dos Lordes.

A Origem do Nome

Nevenunca. É um nome polêmico, fruto de inúmeras discussões, desde mesas redondas de sábios até bate-bocas nas tavernas mais chinfrins. Não é uma unanimidade e o argumento de um é contestado pelo contra argumento de outro. Ninguém chega a um consenso e ninguém se dá por satisfeito. Pelo bem de todos, tentaremos explicar.

O primeiro nome da cidade era “Eigersstor”, que originalmente era uma palavra iluskana. O nome “Nevenunca” é, acima de tudo, uma tradução chondathana para essa palavra.

Existem várias pretensas lendas que explicam de onde veio o nome da cidade, mas uma contradiz a outra. Alguns acreditam que a cidade foi fundada por um elfo solar chamado Halueth Never (diz-se RA-lu-ef NE-vEr), que liderou os elfos de Iliyanbruen contra uma invasão iluskana no ano de -10 CV. Cercado por seus inimigos, ele escolheu o local onde o rio se encontrava com o mar e ali fez sua última batalha. O local ficou conhecido como o lugar onde ele pereceu e “Never nunca mais foi visto”, levando a crer que ele havia morrido ali. Entretanto, a verdadeira história não é bem essa. Na ocasião, aliados humanos chegaram em seu auxílio exatamente no momento em que ele resistia e, juntos, eles derrotaram os iluskanos. Never fundou a cidade naquele local, de fato, mas a verdade é que ali era o local onde “Never nunca mais foi visto em batalha”, pois nunca mais precisou lutar. Para o povoado, ele adotou o nome Never Nunca, já que todos se referiam ao local assim, mas ao longo dos anos o nome acabou sendo encurtado e juntado para Nevenunca.

Outros, como Volo e Elminster, consideram que o nome veio de seus jardins. E esta também é a fonte da alcunha da cidade, “a Cidade das Mãos Hábeis”, pois os jardineiros de Nevenunca são aclamados por todos os Reinos por sua habilidade de manter os jardins floridos mesmo durante os meses de duro inverno.

Os habitante locais, contudo, acreditam que o nome vem de seu clima incomumente cálido para a região, pois suas docas raramente congelam, exceto nos invernos mais frios. Acredita-se que isso acontece por causa do Rio Nevenunca, que flui através de toda a cidade, já que suas águas são aquecidas pelos elementais do fogo que vivem abaixo do Monte Ignágora, nas Matas de Nevenunca. O calor fornecido pelo rio cria um clima permanentemente quente nas regiões mais próximas de seu curso, livrando a cidade de maior parte da neve. Portanto, nunca há neve, ou, a neve nunca .

Nevenunca; arte por Chris Dien

História da Cidade

O primeiro povoado da Fronteira Selvagem era uma cidade élfica chamada Illefarn, que acabou tornando-se uma nação agitada após os eventos das Guerras da Coroa. Com o tempo, Illefarn acabou dividindo-se em três nações, da qual Iliyanbruem era a que mais se destacava. Ela acabou enfraquecida por inúmeras incursões de orcs, o que acabou levando à fundação de Eigersstor, o primeiro povoado multi-racial na região, posteriormente tornando-se Nevenunca.

Nevenunca acabou se tornando um centro de civilização, paz e cultura, e era amplamente vista como uma maravilha por seus visitantes. Essa tendência durou, aparentemente desde sua fundação até os idos de 1.372 CV, quando uma praga conhecida como Morte Lamuriosa se abateu sobre a maioria de seus habitantes. Mal havia se recuperado da devastação causada pela doença e em 1.385 CV a Praga Mágica chegou.

O século que se seguiu testemunhou a ascensão de Netheril ao poder. Legalistas netherienses se infiltraram na estrutura de poder de uma Nevenunca enfraquecida, mas suas tentativas foram abafadas pela erupção do Monte Ignágora em 1.451 CV, uma erupção tão poderosa que lançou devastação e matou até mesmo a família real.

Em 1.467 CV, o Lorde Dagult Brasanunca, enxergando um possibilidade de somar ao seu império financeiro, contratou trabalhadores para ajudar a reconstruir a cidade e mercenários de Mintarn para protegê-la de monstros e bandidos. Clamando para si a descendência dos primeiros governantes de Nevenunca e o título de “Lorde Protetor” da cidade, ele iniciou o movimento Nova Nevenunca. O Lorde Brasanunca investiu uma boa quantidade de sua fortuna pessoal para reconstruir a infraestrutura da cidade, comprando o interesse de comerciantes de modo a trazer as caravanas uma vez mais até Nevenunca, e até mesmo garantindo que os refugiados tivessem comida o suficiente na barriga e ouro nas mãos. Em 1.491 CV, as tentativas de Brasanunca de reconstruir a cidade se provaram um sucesso, e Nevenunca lentamente começou a se tornar uma referência como centro de civilização no norte da Costa da Espada.

Nevenunca e o Monte Ignágora ao fundo; imagem do jogo Neverwinter Online

Governo

A partir do ano de 1.370 CV, a cidade passou a ser governada de forma imparcial e justa pelo Lorde Nasher Alagondar, um veterano de aventura, já de idade, um devoto adorador de Tyr. Como tal, os nevenunquenses seguiam a fé de Tyr, promovendo a justeza e a igualdade, e a ganância era veementemente refutada. Lorde Nasher tomou garantias para que a cidade fosse bem defendida antes de sua morte, tanto fisicamente quanto magicamente, contra ataques ou invasões oriundas de Luskan, a principal rival bélica de Nevenunca. Nesta época, não era permitido que se fizesse qualquer mapas da cidade como um meio de frustrar os espiões de Luskan.

Embora Lorde Nasher fosse o líder nominal de Nevenunca, o verdadeiro poder da cidade era detido pelo Manto Multi-Estrelado, uma ordem de magos de alinhamento bom que davam todo o suporte ao governo de Lorde Nasher.

O próprio Lorde Nasher rejeitou o posto de Rei de Nevenunca durante boa parte de seu governo, aceitando o título somente quando já estava em idade avançada, através de aclamação pública. Após sua morte, ele foi sucedido por seu filho, Bann Alagondar, que fundou a família real Alagondar. A linhagem real Alagondar, composta de reis e rainhas, governou e protegeu Nevenunca de maneira justa e próspera, até mesmo durante o período sombrio que veio pós Praga Mágica, até que a destruição da cidade após a erupção do Monte Ignágora, quando todos os membros da família real morreram no desastre.

O Movimento Nova Nevenunca

Povo de Nevenunca! Estou aqui não como um conquistador, mas como um protetor. Os soldados que trouxe comigo vieram para reforçar as defesas que vossas senhorias lutaram para manter esse tempo todo, e para impedir que a bandidagem ameace tudo aquilo que conquistados pro vós. Juntos, faremos muito mais que reconstruir. Juntos, faremo uma Nova Nevenunca!

— Dagult Brasanunca, trecho do discurso de autoproclamação como Lorde Protetor de Nevenunca

Como parte de sua tentativa para criar um império mercantil em Nevenunca, Dagult Brasanunca criou em 1.467 CV o título de “Lorde Protetor de Nevenunca”, título este ocupado pelo próprio Brasanunca. Todavia, muito se questionou se Dagult era ou não o governante por direito, pois na ocasião muitas facções disputavam pelo poder de Nevenunca e os cidadãos estavam divididos em suas lealdades. Como ele ainda tinha que cumprir suas obrigações como Lorde Declarado de Águas Profundas, Lorde Brasanunca deixava a administração diária da cidade à cargo da General Sabine e do Burgomestre Soman Galt.

Em 1.489 CV, Lorde Brasanunca foi exilado de Águas Profundas e substituído como Lorde Declarado por Alustriel Mão Argêntea. Após ser deposto de sua posição e colocado para fora da cidade, Brasanunca começou a concentrar todos os seus esforços em seu papel de Lorde Protetor de Nevenunca. Por causa de seu comprometimento e seu passado de realizações na ajuda de Nevenunca e seus cidadãos, os nevenunquenses acabaram aceitando o Lorde Brasanunca como seu líder legítimo. Contudo, amargurado por ter sido exilado de Águas Profundas, Brasanunca acabou se tornando mais déspota do que se imaginava e passou a exigir e cumprir leis com mãos de ferro. Ele passou a impor pesadas taxas de impostos das famílias nobres que viviam em Nevenunca, evitando com isso que eles ganhassem demasiado poder, ao mesmo tempo em que editava duras leis que proibiam a formação de novas guildas e limitava o poder das já existentes.

Mapa de Nevenunca em 1.479 CV; cartografia por Mike Schley

Defesas da Cidade

Lá pelos idos de 1.372 CV, Nevenunca tinha um exército fixo, os Mantocinzentos, compostos de quatrocentos arqueiros e lanceiros, que serviam tanto como guarda quanto como patrulha da Estrada Alta, desde Porto Llast até Leilon. Se os muros da cidade viessem a ser ameaçados por invasores orcs ou luskanos, as defesas disparavam projéteis explosivos a partir de catapultas direto sobre os atacantes. Estes projéteis, bem como as catapultas especialmente criadas para esse propósito, foram concebidos pelas mais “habilidosas mãos” que dão apelido à cidade. Nas situações mais críticas, Lorde Nasher ainda podia solicitar a ajuda da ordem de magos chamada Manto Multi-Estrelado.

Já a partir de 1.479 CV, o exército da cidade, conhecido agora como Guarda de Nevenunca, passou a ser composto principalmente de mercenários de Mintarn contratados pelo Lorde Brasanunca, e por algumas milícias independentes compostas de cidadãos, que também defendiam a cidade em tempos de maior necessidade. Lorde Brasanunca também contratava grupos de aventureiros para lidar com ameaças das quais a cidade e os mercenários de Mintarn não davam conta.

Com a cidade totalmente reconstruída lá pelo final de 1.480 CV, muitos dos Filhos de Alagondar se voluntariaram para servir na Guarda de Nevenunca, fazendo com que Lorde Brasanunca dependesse cada vez menos dos serviços dos mercenários de Mintarn. Ainda assim o Lorde Brasanunca continuou a contratar aventureiros e mercenários para ajudar a proteger Nevenunca e manteve o treinamento de tropas locais em vez de aceitar a ajuda dos exércitos dos Lordes Secretos de Águas Progundas, que ele considerava que haviam lhe traído.

A Sociedade Nevenunquense

Voltando lá para 1.370 CV, Nevenunca era uma cidade cosmopolita e multi-cultural, e até mesmo os mercadores sulistas de Amn e Calimshan, que tinham várias críticas às cidades do Norte, consideravam Nevenunca um local satisfatoriamente civilizado para o gosto deles. Os nevenunquenses evitam os conflitos e controvérsias o máximo que podiam, e eram considerados um povo quieto, de boas maneiras, letrado, eficiente e trabalhador, que mantinham extremos respeito pelos horários, prazos, bem como pelo patromônio, bem-estar e felicidades de outrem. Acima de tudo, da tolerância sobre as diferenças raciais, opções sexuais e outras variedades e extravagâncias, havia respeito pela paz, pela lei e pela ordem.

Após a fundação da família real Alagondar nos últimos anos do século 14 CV, os nevenunquenses tornaram-se um povo deveras patriótico, orgulhosos de seus líderes e de sua cidade.

Contudo, após a destruição da cidade pela erupção do Monte Ignágora no ano de 1.451 CV, os nevenunquenses passaram a ostentar uma nova faceta: a da teimosia e da determinação. Muitos sobreviventes permaneceram na cidade, e eles sempre demonstraram a intenção de reconstruir Nevenunca ao seu antigo estado de glória e i ímpeto para a defenderem dos muitos perigos que surgiram, desde ameaças mortais quanto extraplanares.

Nevenunca; arte de Jiang Fan

A Religião em Nevenunca

No século 14 CV, as principais fés em Nevenunca eram aquelas dedicadas a Helm, Oghma e Tyr. Os templos conhecidos como Salão da Justiça e Casa do conhecimento atendiam os fiéis de Tyr e Oghma, respectivamente, dentro dos limites da cidade, enquanto os fiéis de Helm congregavam nas proximidades, em um lugar conhecido como Fortaleza de Helm.

Com as mortes de Helm e Tyr nos anos antes da Praga Mágica, suas fés acabaram sendo substituídas pela de Torm e Bahamut, uma divindade subordinada a ele, bem como a fé de Selûne, pois seus seguidores almejavam trazer esperança para p povo de Nevenunca. Em 1.479 CV, a fé de Asmodeus, o deus da indulgência, se tornou bastante popular, e os Ashadmai passaram a ter uma enorme influência na política da cidade. A fé de Kelemvor também aumentou sua presença na cidade, mesmo antes de 1.479 CV, pois seus membros estavam empenhados em livrar o cemitério de Mortenunca da presença dos mortos-vivos e de outras forças do mal.

Os nevenunquenses jamais pararam de reverenciar Tyr mesmo após sua morte, e quando o deus retornou à vida após a Segunda Separação, sua fé rapidamente passou a ser aceita novamente em Nevenunca, e tornou-se tão popular quanto havia sido um dia.

Nos últimos anos do século 15 CV, ao mesmo tempo em que Nevenunca voltava a se tornar uma cidade cosmopolita, templos de diversas divindades passaram a ser bastante comuns e todos os bairros da cidade.

Atividade Comercial

Nevenunca Importa: Artesãos, mercenários

Nevenunca Exporta: Artesanatos (principalmente clepsidras e lâmpadas exóticas), pesca, horticultura, lenha, inovações mágicas

Moeda: peças de cobre são chamadas de tharns; peças de prata são chamadas de bults; peças de eléktro são chamadas de mar-shi; peças de ouro são chamadas de dragões; peças de platina são chamadas de bonsventos

Por volta de 1.370 CV, Nevenunca era responsável por controlar a maior parte do comércio mineiro feito com postos avançados dos anões e gnomos nas proximidades da Umbreterna. Para tanto, eram usadas diversas passagens secretas espalhadas por vários armazéns e depósitos na cidade. Nessa época também havia um forte comércio relacionado à pesca, bem como um intenso comércio de lenha vinda das Matas de Nevenunca, principalmente através da aldeia de Trovoárvore. A maior parte dos negócios eram fechados com a cidade vizinha de Águas Profundas.

Contudo, os principais recursos de Nevenunca eram advindos de sua importância como centro artesanal, de aprendizado e de inovação mágica. Comerciantes e artesãos normalmente exerciam sua profissão em edifícios dedicados a tais tarefas. Vendedores de rua eram raros em Nevenunca.

Infelizmente, com a destruição da cidade em 1.451 CV devido à erupção do Monte Ignágora, o comércio cessou totalmente na região.

Após 1.461 CV, como parte dos esforços de reconstrução, Lorde Brasanunca concentrou a maior parte dos seus recursos para restaurar o comércio, bem como para contratar artesãos que auxiliassem nos reparos da infraestrutura da cidade. Comerciantes do “novo” continente de Laerakond começaram a fazer comércio com as cidades faerunianas da Costa da Espada anos antes de 1.479 CV. Em Nevenunca, um grupo de comerciantes de Tarmalune, um dos principais portos de Laerakond, tentou uma aproximação do Lorde Brasanunca na esperança de estabelecer rotas comerciais permanentes entre os dois continentes.

Por volta de 1.491 CV, Nevenunca é uma cidade repleta de oportunidades. Conforme se espalhavam as notícias que Nevenunca estava sendo restaurada, comerciantes tanto do Norte quanto das terras ao sul passaram a se interessar uma vez mais a fazer negócios com a cidade. Concomitantemente, Lorde Brasanunca começou a trabalhar para forjar uma aliança comercial com a restaurada Gauntlgrym, na esperança de aumentar a prosperidade de ambas as cidades, ao mesmo tempo em que garantia sua vantagem sobre os nobres e mercadores de Águas Profundas e Portal de Baldur.

Sem a presença de guildas para restringir o comércio e a construção civil, aqueles que desejam iniciar um negócio em Nevenunca podem simplesmente fazê-lo, e os comerciantes que ofertam produtos básicos, como alimentos, ficam ricos somente de vender seus bens para a cidade. Da mesma forma, há demanda para muitos serviços, e aqueles que querem oferecer sua mão-de-obra, seja como trabalhadores ou aprendizes, têm uma variedade de opções de carreira a seguir, independentemente da competição.

Mercado de Nevenunca; arte por Chris Dien


Para mais informações sobre Nevenunca, vejam a Parte 2 desta série.


Referências


GREENWOOD, E.; REYNOLDS, S. K.; WILLIAMS, S.; HEINSOO, R. Cenário de Campanha dos Reinos Esquecidos 3ª edição. Devir, 2002.

JAMES, B. R.; GREENWOOD, E. The Grand History of the Realms. Wizards of the Coast, 2007.

MEARLS, M.; REYNOLDS, S. K.; SERNETT, M. et al. Sword Coast Adventurer’s Guide. Wizards of the Coast, 2015.

SERNETT, M.; DE BIE, E. S.; MARMELL, A. Neverwinter Campaign Setting. Wizards of the Coast, 2011.


Agora temos material de D&D em português. Não perca a chance e adquira seus livros do jogo de RPG mais popular do mundo!

Você pode gostar...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

%d blogueiros gostam disto: