| Reduto 
                    Bestial Descrita por Ricardo Costa.Baseada no jogo mestrado por Ivan Lira.
  Personagens principais da aventura: 
 Os 
                    Humanos: Magnus de Helm; Sirius Lusbel; Sigel O'Blound 
                    (Limiekki); Danicus Gaundeford; Klerf Maunader. Os Elfos: 
                    Mikhail Velian; Kariel Elkandor; Arnilan Beldusyr. 
                    O Halfling: Bingo Playamundo. Participação 
                    Especial: Storm Mão Argêntea.
 
 
  
  Reduto 
                    Bestial
 Um 
                    Caminho para o Perigo       Os 
                    aventureiros da Comitiva da Fé estavam na nau quando 
                    o efeito do encanto de disfarce mais uma vez expirou. Ficariam 
                    mais um dia embarcados até se reencontrarem no feudo 
                    dos D´Vaer para o ataque decisivo contra a Casa Aercelt. 
                    Como havia algum tempo, os errantes heróis da Comitiva 
                    da Fé esperavam as horas passarem naquelas paragens 
                    sombrias e rochosas. Em uma destas ocupações, 
                    Kariel, o elfo mago da Comitiva, resolveu escrever mais palavras 
                    no diário que sempre carregava consigo. Porém, 
                    ao buscar pela pena, encontrou algo diferente em seu bolso, 
                    algo que não lhe pertencia. Era um pedaço de 
                    papel dobrado, que o arcano abriu com curiosidade. Estava 
                    escrito em idioma drow e o término do encanto que lhe 
                    dava a aparência de um elfo das sombras tirou-lhe também 
                    a capacidade de ler as palavras escritas naquela difícil 
                    língua. Porém possuía um outro sortilégio 
                    para tal necessidade. Conjurou o feitiço e as palavras 
                    tornaram-se claras, como se escritas em élfico. Então 
                    leu: “Há 
                    um traidor na Casa D´Vaer. Preciso de ajuda para descobri-lo. 
                    Minha senhora oferece uma recompensa. Leve seu grupo ao local 
                    onde nos encontramos pela primeira vez daqui a doze horas. N.”        Kariel 
                    levantou-se do assento que ocupava e procurou logo Storm. 
                    Mostrou-lhe o bilhete e repetiu-lhe a mensagem.       “Acha 
                    que foi Non que escreveu isto?”, perguntou a Barda do 
                    Vale das Sombras.“Certamente. Foi 
                    o primeiro drow que encontramos e a inicial confirma a suspeita.”, 
                    respondeu Kariel.
 “Se existe um traidor 
                    e ele está transmitindo informações para 
                    as demais Casas, nossos inimigos podem estar muitos passos 
                    a nossa frente. O plano em conjunto poderá ser arruinado. 
                    Fale com os demais, selecione um pequeno grupo e encontrem 
                    Non.”
       O 
                    mago não perdeu tempo: foi imediatamente até 
                    os outros e pediu-lhes a atenção. Leu novamente 
                    a mensagem e transmitiu a ordem de Storm. Kariel chamou Limiekki, 
                    Arthos e Mikhail para participarem do encontro e da missão 
                    que se revelara.       “Tenho 
                    receio que seja uma armadilha!”, disse Limiekki.“Não temos 
                    como saber... só nos resta ficarmos preparados!”, 
                    falou Arthos.
 “Então devemos 
                    usar estas doze horas para isto! Vou preparar meus feitiços!”, 
                    informou o mago, calmamente, retirando-se para um lugar isolado 
                    onde pudesse se concentrar.
       As 
                    doze horas então se passaram. Os aventureiros haviam 
                    se preparado e descansado e agora estavam novamente de pé, 
                    mais uma vez sob o encanto de disfarce, conjurado por Storm, 
                    e prestes a deixarem a nau voadora. Antes que partissem, a 
                    Mestre Harpista deu a Mikhail uma varinha. Disse que nela 
                    estavam contidos alguns encantamentos de cura, que poderiam 
                    ser úteis em caso de emergências. Após 
                    isto, o barco desceu novamente das alturas sombrias para depositar 
                    quatro de seus passageiros no solo negro de pedra da caverna 
                    imensa.       Kariel, 
                    Limiekki, Arthos e Mikhail seguiram então para o ponto 
                    de encontro. Temiam uma emboscada, mas não haviam detectado 
                    sinal de inimigos. Chegaram no conjunto de ruínas, 
                    em que haviam encontrado Non pela primeira vez, mas não 
                    viram o drow. A cada instante que passava, crescia a apreensão. 
                    Será que o encontro era verdadeiro ou um engodo, uma 
                    emboscada? Teria sido Non interceptado? Ou seria mesmo ele 
                    o traidor? Limiekki e Arthos resolveram vasculhar as proximidades 
                    para assegurar que não estavam cercados. Foi quando 
                    Kariel e Mikhail, que haviam permanecido no local marcado, 
                    ouviram uma voz familiar.       “Podem 
                    chamar os seus amigos de volta!”       Non 
                    então deixou as sombras onde se ocultava e se aproximou 
                    dos dois. Arthos e Limiekki vieram logo depois.       “Leram 
                    meu bilhete?”, perguntou o drow da Casa D´Vaer.“Sim. Lemos!”, 
                    respondeu Kariel.
 “Têm alguma 
                    suspeita?”, questionou Non.
 “Não conhecemos 
                    sua Casa o suficiente para tecermos suspeitas.”, disse 
                    Arthos.
 “Tem razão. 
                    Mas o fato é que alguns de nossa Casa têm sido 
                    atacados de maneira muito estranha, o que nos leva a crer 
                    que alguém pode estar repassando informações. 
                    Participei de um grupo, em uma missão avançada 
                    para descobrir informações sobre a Casa Oorthagos, 
                    e fomos emboscados. Somente eu escapei.”
 “Se há este 
                    traidor, porque que a Casa que está sendo beneficiada 
                    com estas informações não promove um 
                    ataque contra os D´Vaer?”, quis saber Arthos.
 “Não tenho 
                    certeza. Talvez estejam esperando pelo momento correto, quem 
                    sabe?”
 “Poderíamos 
                    preparar uma armadilha para este sujeito.”, sugeriu 
                    Limiekki.
 “Este espião 
                    é bastante astuto. Se nos enganou até agora, 
                    dificilmente conseguiríamos pegá-lo desta forma. 
                    A matrona pensou em um outro plano. Se este traidor tem uma 
                    relação com a Casa Oorthagos, como acreditamos, 
                    pensamos em penetrar secretamente no território deles 
                    e descobrir informações a respeito do infiltrado. 
                    A matrona e eu gostaríamos de solicitar a colaboração 
                    de vocês porque sabemos que são indivíduos 
                    poderosos e capazes, e que realmente vieram de outra cidade, 
                    não estando envolvidos com as demais Casas. Se nos 
                    ajudarem nisto, minha senhora saberá recompensá-los.”
 “Iremos colaborar, 
                    caso contrário o ataque que planejamos poderá 
                    ser sabotado.”, colocou Mikhail a posição 
                    do grupo.
 “E como iremos adentrar 
                    o território inimigo?”, inquiriu Kariel.
 “As defesas dos 
                    Oorthagos são muito bem organizadas. Suas linhas são 
                    praticamente inexpugnáveis. Porém, antes da 
                    guerra, um amigo, de uma das casas de Lolth que foi destruída, 
                    me indicou um local onde há uma passagem, uma galeria 
                    subterrânea que nos levará por baixo das defesas 
                    dos Oorthagos até o seu território. Porém 
                    nunca explorei o lugar. Existem rumores de estranhos monstros 
                    vivendo nos túneis.”
 “É claro... 
                    tem que haver algo... conheço bem esta história...”, 
                    sorriu Arthos.
 “Os Oorthagos são 
                    adoradores de Ghaunadaur, um deus que preza as aberrações 
                    e feras. Pode ser que os próprios devotos de Ghaunadaur 
                    tenham escavado estes túneis no passado.”, informou 
                    Non.
 “Pode nos levar 
                    até a passagem?”, perguntou Limiekki, que já 
                    estava apreensivo pelo tempo em que ficavam parados, sujeitos 
                    a um ataque ou à observação inimiga.
 “Sim. Sigam-me. 
                    Tenham o cuidado de se moverem usando as ruínas como 
                    cobertura!”, advertiu o drow da Casa D´Vaer.
       Seguiram 
                    os cinco então, guiados por Non, caminhando por uma 
                    rua estreita e depois por outra maior, uma grande via que 
                    levava ao Castelo Maerimydra. Depois de percorrem alguns metros 
                    se ocultando entre os edifícios às margens da 
                    avenida, entraram por um caminho sinuoso e chegaram ao terreno 
                    de uma casa, que um dia fora imponente, mas que naquele momento 
                    se encontrava arruinada. Non mostrou-lhes uma fenda, cujo 
                    fundo escuro escondia escombros e corpos e da qual exalava 
                    o odor desagradável da morte.”       “É 
                    aqui. Aos olhos de todos, isto era penas um poço abandonado. 
                    Vou primeiro. Vocês entrarão em uma passagem 
                    na parede deste poço.”       O 
                    drow então amarrou uma corda de seda branca em uma 
                    dos antigos pilares de sustentação da velha 
                    construção vizinha e desceu poço adentro. 
                    O seguiram Arthos, Mikhail, Limiekki e Kariel. Todos encontraram 
                    e passaram, com alguma dificuldade, por um buraco arredondado 
                    na rocha do poço. Estavam agora em um corredor rochoso 
                    bastante estreito, onde somente uma pessoa poderia passar 
                    por vez. O caminho, depois de o percorrerem por alguns minutos, 
                    alargou-se e os exploradores puderam andar mais confortavelmente.       “Dariel...”, 
                    chamou Arthos o ranger, pelo seu nome de disfarce. “Poderia 
                    nos dizer se este caminho têm sido usado com freqüência?”O mateiro ajoelhou-se e olhou o chão a sua volta. Reparou 
                    nas pedras, na poeira, na terra.
 “Não. Não 
                    vejo vestígios de rastros. Acredito que ninguém 
                    passou por aqui, ou se passou faz muito tempo!”
       Continuaram 
                    e durante os minutos de caminhada, Arthos aproveitou para 
                    conversar um pouco mais com o drow que liderava a exploração.       “Non...vocês 
                    têm contato com outras cidades drows? O que acontece 
                    com os seguidores de Lolth aqui pode estar acontecendo em 
                    outros lugares!”“Não conheço 
                    outras cidades.”, disse-lhe simplesmente.
 “E a superfície? 
                    Possuem algum contato na superfície?”
 “Superfície? 
                    Você acredita que exista algo acima de nós? Lugares 
                    abertos e extremamente claros, onde andam estranhas e diversas 
                    criaturas. Isto é somente uma lenda!”
 “Lenda? Já 
                    estive lá! Existem outros de nós que conhecem 
                    a superfície!”
 “São apenas 
                    contos... e, caro Torrellan, se não se importa, seria 
                    melhor permanecermos em silêncio. Temos que estar alertas 
                    para o que há aqui!”, disse o drow, afastando 
                    a conversa que considerava tola.
       O 
                    caminho novamente estreitou-se e andaram pela galeria por 
                    mais alguns minutos até que ela novamente alargasse. 
                    A nova câmara possuía um ar pesado, quente e 
                    úmido, e as rochas no chão eram cobertas por 
                    um limo bastante escorregadio. Dentro do salão cavernoso, 
                    havia uma cratera, preenchida aparentemente com água. 
                    Arthos, o mais curioso e imprudente dentre os membros da Comitiva, 
                    começou a se aproximar da poça, quando o amigo 
                    Limiekki pôs-lhe a mão no ombro, advertindo-o:       “Arthos, 
                    Arthos... não faça isto!”       Os 
                    membros da Comitiva, ao ouvir a frase do mateiro, prenderam 
                    a respiração. Havia o guerreiro pronunciado 
                    o verdadeiro nome do herói da Comitiva, ao invés 
                    de seu codinome drow . Uma desconfiança que fosse despertada 
                    em Non poderia por seus disfarces a perder e comprometer a 
                    missão maior do grupo.        “O 
                    que disse, Dariel?”, perguntou Arthos, desejando que 
                    o amigo encontrasse uma saída e se redimisse da falha.“Artes... não 
                    faça artes aqui!”, emendou com sucesso, aliviando 
                    os colegas.
       Kariel 
                    segurava-se para não sorrir da cena, quando algo caiu 
                    do teto sobre ele. Era uma grande massa amarelada, gelatinosa 
                    e ácida, que quase o derrubou ao solo. Sentiu o ardor 
                    de um líquido viscoso e corrosivo na pele e agitou-se, 
                    conseguindo fazer com que a estranha criatura caísse 
                    ao chão. O monstro ainda tentou envolvê-lo em 
                    extensões que se projetavam de seu corpo, mas Kariel 
                    esquivou-se delas com sucesso.       Os 
                    seus companheiros preparavam-se para seguir em seu auxílio, 
                    quando mais seis daquelas criaturas caíram do teto 
                    para atacá-los. Duas delas cercaram Mikhail e mais 
                    duas Non. Limiekki e Arthos se deparavam com uma cada e assim 
                    o combate se generalizou.       Arthos 
                    sacou o sabre e desferiu um golpe contra o adversário, 
                    talhando seu corpo aquoso. No revide, o monstro tentou atingir 
                    o espadachim com os seus ‘braços’ feitos 
                    do mesmo material ácido que constituía seu corpo 
                    viscoso, mas Arthos desviou-se deles. A mesma sorte não 
                    tiveram Non e Mikhail. Os dois foram imobilizados, envolvidos 
                    pela criatura. Apesar de sua matéria aparentemente 
                    frágil, os monstros eram capazes de enrijecer a membrana 
                    que lhes servia de pele, apertando os corpos dos dois. Limiekki 
                    deu ataques rápidos com seu machado e sua adaga, cortando 
                    também seu oponente. Kariel também, com sua 
                    lâmina encantada, feriu o monstro contra o qual batalhava. 
                         Alguns 
                    poucos minutos depois, o primeiro dos seres gelatinosos tombou: 
                    com uma investida poderosa de Limiekki, o monstro pereceu, 
                    esparramando-se ao solo. Non forçou contra os braços 
                    da criatura, conseguiu afastá-los e escapou. O mesmo 
                    não aconteceu com Mikhail, ainda preso e sofrendo as 
                    injúrias do ácido sobre a pele e a pressão 
                    do ‘abraço’ do inimigo. Arthos havia conseguido 
                    alguns sucessos, mas também havia sofrido alguns dos 
                    ataques. Kariel lançou um encanto, que fez surgir de 
                    suas mãos um leque de fogo, que feriu seu adversário 
                    e alguns outros, que estavam na área de efeito do feitiço, 
                    mas tal recurso não foi suficiente para matá-los.       Arthos 
                    conseguiu por fim derrotar o inimigo contra o qual duelava 
                    e correu em auxílio de Mikhail. Este último 
                    havia conseguido libertar-se e, bastante ferido, lutava sozinho 
                    contra dois monstros. Limiekki também se moveu para 
                    auxiliar Non, na mesma situação do clérigo 
                    de Mystra. Enquanto isso, Kariel eliminou, com investidas 
                    de sua espada, o seu adversário e, em seguida, gritou 
                    para os companheiros:       “Afastem-se 
                    dos monstros!”       Os 
                    colegas entenderam que o arcano planejava a conjuração 
                    de uma magia destrutiva e se distanciaram do combate. Kariel 
                    então executou o ritual. Gesticulou e proferiu algumas 
                    palavras no estranho idioma em que os magos recitavam seus 
                    comandos místicos. De suas mãos surgiu uma esfera 
                    flamejante, que voou de encontro ao solo, onde as criaturas 
                    se concentravam, e explodiu em fogo. Os monstros foram atingidos 
                    e um deles morreu. Depois foi a vez de Mikhail, que aproveitou 
                    a oportunidade e lançou em seguida um encanto divino 
                    de seu repertório. Uma coluna de chamas surgiu entre 
                    os inimigos e dois deles também sucumbiram. Restava 
                    um, que foi abatido logo após, pela força conjunta 
                    dos guerreiros.       Pararam 
                    um instante para respirar. Mikhail bem que desejava curar 
                    seus ferimentos e de seus companheiros, mas não podia 
                    usar abertamente seus poderes na pele da sacerdotisa da deusa 
                    Lolth, pois a deusa se calou e não mais cedia as magias 
                    divinas aos seus crentes. Decidiram continuar. Andaram um 
                    pouco mais pelos corredores rochosos e sinuosos e outra grande 
                    câmara se revelou. À medida que avançavam 
                    e que seus olhos de drow capazes de ver na escuridão 
                    percebiam os detalhes, puderam ver um local sujo, com pedras, 
                    poeiras, ossos e restos de animais. Não percebiam somente 
                    com os olhos, mas com o olfato. O odor era quase insuportável. 
                    Limiekki resolveu se aproximar, apesar de tudo. Analisou os 
                    restos e retornou aos companheiros.       “Estas 
                    criaturas foram mortas com mordidas e dissolvidas em algum 
                    tipo de ácido! É melhor saímos daqui!”       A 
                    recomendação do mateiro foi acatada e os cinco 
                    passaram a caminhar em marcha rápida atravessando o 
                    salão cavernoso. Porém, a advertência 
                    de Limiekki e os passos acelerados não foram suficientes 
                    para evitar o que estava para ocorrer. À frente, de 
                    uma depressão no piso da caverna, os exploradores viram 
                    erguer-se um monstro tão horrendo que parecia ser fruto 
                    de pesadelos. Possuía um corpo esférico, de 
                    cinco metros de diâmetro, onde havia vários olhos 
                    e partiam quatro tentáculos de dez metros de extensão, 
                    que o sustentavam como se fossem patas. Existiam mais outros 
                    três tentáculos, estes dotados de cabeças, 
                    semelhantes à de um pequeno dragão, que se agitavam 
                    como serpentes e emitiam um grito assustador. A visão 
                    paralisou por alguns poucos segundos os cinco exploradores, 
                    mas logo estes se recobraram para enfrentar o inimigo que, 
                    não sabiam eles, era conhecido por alguns como flagelo 
                    das profundezas.       Arthos 
                    foi o primeiro a reagir. O espadachim correu em direção 
                    a criatura e fez uma acrobacia. Dando várias piruetas, 
                    projetou-se no ar e caiu no alto do corpo do enorme oponente. 
                    Uma dos tentáculos serpentes tentou mordê-lo, 
                    e feriu-lhe o braço. Ao mesmo tempo, Kariel saiu-se 
                    com um encanto: das suas mãos partiu um relâmpago 
                    que atingiu o flanco esquerdo da criatura, fazendo as suas 
                    cabeças gritarem. Limiekki e Non recuaram e retiraram 
                    suas armas de ataque a distância das costas. O primeiro, 
                    um arco, o segundo, uma besta. Ambos prepararam e dispararam 
                    seus projéteis, atingindo o adversário monstruoso. 
                    Mikhail, que estava ainda bastante ferido do combate anterior, 
                    decidiu evitar a luta franca, com receio de tombar.        A 
                    criatura reagiu aos ataques e, com um rápido movimento 
                    de um de seus tentáculos, envolveu o corpo de Kariel, 
                    fazendo contra ele grande pressão. Assim que foi imobilizado, 
                    duas cabeças do flagelo das profundezas atacaram rapidamente 
                    suas pernas e o ombro do mago. As mordidas de suas mandíbulas 
                    não foram profundas, mas suficientes para causar dor 
                    e fazer escorrer filetes de sangue pelo seu corpo. A terceira 
                    cabeça atacou Arthos, que ainda se mantinha equilibrado 
                    sobre o corpo da criatura, causando-lhe um ferimento de raspão 
                    na perna. O espadachim ainda recuperou-se para investir com 
                    o sabre contra o tentáculo que imobilizava Kariel. 
                    Acertou golpes, mas isto não foi o bastante para libertar 
                    o amigo. Mais distantes, Limiekki e Non descarregaram mais 
                    uma bateria de flechas e virotes.        Mesmo 
                    imobilizado, Kariel pôde invocar um encanto: outro relâmpago 
                    deixou o seu corpo e atingiu o monstro. Arthos também 
                    feriu a couraça do flagelo das profundezas com sua 
                    lâmina e novos projéteis foram encravados na 
                    criatura hedionda por Limiekki e Non. Mikhail resolveu interferir 
                    e, escondido da vista de Non, conjurou um encanto divino que 
                    forneceu aos seus companheiros grande força física, 
                    e conseqüentemente, maior potência em seus golpes. 
                    O ser horrendo estava bastante ferido naquele momento, quando 
                    algo lhe ocorreu. Uma tênue luminosidade azulada percorreu 
                    seu corpo e parte de suas feridas se fecharam instantaneamente, 
                    para a surpresa e decepção dos aventureiros. 
                    Após renovar suas forças, apertou ainda mais 
                    Kariel, fazendo-o gemer de dor e suas articulações 
                    estalarem. Arthos continuava investindo contra o tentáculo 
                    que esmagava o amigo e Limiekki, abandonou sua posição 
                    de tiro e sacou o machado para ajudá-lo. Em um dos 
                    golpes do mateiro, o grosso tentáculo rompeu-se, fazendo 
                    livre o arcano da Comitiva da Fé que, combalido, decidiu 
                    recuar. Non continuou atirando.       O 
                    combate se desenrolou por mais alguns minutos naquela formação. 
                    Arthos foi atacado por uma das cabeças, mas conseguiu 
                    esquivar e, felizmente, encaixar um ataque com o sabre, decapitando-a. 
                    Ainda atacou e cortou um dos tentáculos que serviam 
                    de apoio. Limiekki também obteve sucesso: com seu machado 
                    decepou as duas cabeças restantes. O monstro estava 
                    finalmente morrendo. Aos poucos, moribundo, foi se encolhendo 
                    na depressão de onde havia saído. Em sua retirada, 
                    ainda tentou enroscar o pé de Arthos para levá-lo 
                    junto consigo. O espadachim escapou. A criatura teria que 
                    encontrar o seu destino final nas mãos da Comitiva 
                    da Fé e a Limiekki coube o último golpe do combate, 
                    que a levaria para o mundo dos mortos. Pulou no monstro e 
                    deu-lhe uma machadada no corpo esférico e cheio de 
                    olhos, que finalmente se fecharam para sempre. O mateiro caiu 
                    junto com a criatura morta em seu covil, um buraco de cinco 
                    metros de profundidade, cheio de ossos e podridão, 
                    de onde foi resgatado pela corda de seda branca providencialmente 
                    estendida por Non.       “Espero 
                    que não haja mais destes!”, desejou Arthos.“Devemos prosseguir 
                    agora. Acredito que estejamos perto da saída da galeria!”, 
                    informou Non.
 “Espero que sim, 
                    senão não vamos chegar vivos ao final!”, 
                    colocou Limiekki.
       Estavam 
                    feridos, mas continuaram. Mikhail torturava-se em sua mente 
                    por possuir poderes curativos, dádivas da sua divindade, 
                    a Deusa da Magia, Mystra, que podiam aliviar o sofrimento 
                    de seus companheiros, e por não poder utilizá-los. 
                    Não na frente de Non. Limiekki, porém o auxiliou: 
                    levou o drow da Casa D´Vaer para a dianteira do caminho, 
                    afastando-o de Mikhail e possibilitando ao clérigo 
                    lançar seus encantos e usar do poder da varinha dada 
                    por Storm, curando parte de suas próprias feridas, 
                    as de Kariel e de Arthos.       Caminharam 
                    por mais alguns minutos. A sala onde jazia o flagelo das profundezas 
                    ficou para trás, dando lugar a um corredor estreito 
                    e em seguida a outra grande sala. Nesta, não havia 
                    perigo aparente e nem outros caminhos para prosseguir. Parecia 
                    ser finalmente o final da galeria. Foi Non quem olhou para 
                    o alto e viu em uma das paredes rochosas uma pequena passagem 
                    retangular, protegida por uma espécie de grade de metal.       “Ali!”, 
                    apontou o drow. “Deve ser a passagem!”“Vou verificar!”, 
                    voluntariou-se Arthos.
       O 
                    espadachim escalou a parede com desenvoltura. A subida não 
                    era tão íngreme ou sacrificante, portanto não 
                    fez o aventureiro grande esforço. Alcançou a 
                    grade e observou pelas suas frestas. Viu duas grandes torres 
                    de pedra à frente e um pequeno e rústico anexo, 
                    talvez um depósito. Dois soldados drows faziam sua 
                    patrulha. Arthos testou a firmeza da grade e ela parecia bem 
                    incrustada na rocha. Desceu então o espadachim e relatou 
                    tudo que havia visto para os seus companheiros.       “Podemos 
                    tentar retirar a grade com o meu martelo!”, sugeriu 
                    Mikhail.“Os sentinelas poderiam 
                    ouvir!”, disse Arthos.
 “Também teremos 
                    que encontrar uma maneira deles não nos verem!”, 
                    disse Arthos.
 “É perigoso 
                    irmos todos!”, advertiu Non. “Precisamos apenas 
                    de uma informação. Quanto menos pessoas entrarem 
                    naquela torre, maior serão as chances de passarmos 
                    despercebidos! Me ofereço para ir, mas seria desejável 
                    a ajuda de mais alguém.”
 “Posso nos transportar 
                    por meios mágicos, sem que seja necessário remover 
                    a grade!”, colocou Kariel . “Irei com você, 
                    Non!”
 “Então aguardem 
                    aqui. Não corram riscos desnecessários!”, 
                    falou o drow da Casa D´Vaer.
       Ele 
                    e Kariel então subiram e se colocaram próximos 
                    à passagem.       “Non, 
                    toque a minha capa! Conjurarei o feitiço e apareceremos 
                    naquela construção ao lado da torre! Em seguida, 
                    estarei invisível, mas não me distanciarei!” 
                    “Sim, Karelist. 
                    Estou pronto!”
       Então 
                    Kariel conjurou o feitiço. Após um rápido 
                    brilho, desapareceram os dois dos olhos dos colegas, em direção 
                    ao feudo dos Oorthagos, para começar a arriscada missão 
                    de espionagem. A Infiltração       Kariel 
                    e Non reapareceram à frente da pequena construção 
                    de pedra, na verdade um posto de sentinelas que estava vazio. 
                    Os soldados caminhavam pelo território murado onde 
                    ficavam as duas torres dos Oorthagos, que se erguiam e se 
                    comunicavam através de um tipo de passarela, que ligava 
                    as duas paredes bem ao alto. Estavam bem próximos de 
                    uma das torres. Kariel tocou o elmo que usava e desapareceu. 
                    Non aproveitou a ausência dos guardas e espreitou até 
                    a entrada, seguido do companheiro o qual não podia 
                    enxergar.       Havia 
                    um portão levadiço de ferro negro, mas este 
                    estava erguido, facilitando a passagem dos espiões. 
                    Também não havia inimigos naquele momento. Descobriram 
                    uma pequena ante-sala, de formato bastante irregular, logo 
                    após o portão. Era vazia de tudo: não 
                    existam móveis nem pessoas, mas ela dava acesso a uma 
                    outra. Sem resistência, continuaram, sorrateiros, Kariel 
                    na frente.       Na 
                    próxima sala, havia algum movimento. Kariel pôde 
                    observar que no cômodo, de formato retangular, havia 
                    uma mesa de madeira ao centro, onde alguns drows, de mantos 
                    púrpuras e armaduras, bebiam e comiam. Outras portas 
                    deixavam aquele aposento, mas, para explorá-las, precisariam 
                    passar pelo local de refeição. O mago retornou 
                    e foi sussurrar aos ouvidos de Non.       “Non. 
                    Aguarde e oculte-se como puder. Existem soldados em frente. 
                    Tentarei explorar o local aproveitando minha invisibilidade.”       O 
                    drow entendeu e ocultou-se, encolhido, em uma das reentrâncias 
                    da ante-sala. Já o mago avançou, vagarosamente 
                    e em silêncio, margeando as paredes.        O 
                    mago ouvia conversas corriqueiras. Nada que o ajudasse a descobrir 
                    aquilo pelo que arriscavam suas vidas agora: a identidade 
                    do traidor dos D´Vaer. Alcançou então 
                    uma primeira porta, que estava entreaberta. Viu Kariel o que 
                    parecia ser um dormitório, onde havia alguns drows 
                    deitados em beliches de pedra e outros que se trocavam e conversavam. 
                    A intenção de Kariel era furtar um traje dos 
                    Oorthagos e entregá-lo a Non, para que este, disfarçado, 
                    pudesse circular com maior segurança. Em uma das paredes 
                    havia ganchos onde algumas das vestes estavam penduradas. 
                    Então passou o mago a aguardar pelo melhor momento, 
                    quando os drows se distraíssem, para subtrair uma daquelas 
                    roupas.        O 
                    tempo passou e como a oportunidade não surgia, o elfo 
                    foi explorar outros cômodos. Encontrou uma espécie 
                    de cozinha, de onde vinha um bom cheiro. Como não estava 
                    interessado em nada naquele lugar, retornou a sala de jantar 
                    e foi até outra porta que dela partia. Encontrou outro 
                    dormitório, semelhante ao primeiro. Kariel, invisível, 
                    ao entrar, quase esbarrou em um drow que deixava o lugar, 
                    mas por sorte conseguiu desvencilhar-se. O lugar estava menos 
                    movimentado do que o outro cômodo e, então, Kariel 
                    resolveu tentar novamente retirar um dos trajes pendurados 
                    em uma das paredes. Não teve sorte. Quando ia retirá-lo, 
                    o deixou cair no chão, atraindo alguns olhares. Resolveu 
                    desistir e retornou a sala de jantar. Somente havia um lugar 
                    a investigar agora, um grande nicho circular de onde subia 
                    uma escada em espiral. Kariel então se encaminhou para 
                    ela. Iria explorar os andares superiores. Ao começar 
                    a subir as escadas viu Non. O drow estava atento e subia devagar 
                    e agachado os degraus negros. Então o elfo em pele 
                    de drow disse para o companheiro.       “Sou 
                    eu. Irei à frente.”       E 
                    assim subiu o mago, seguido do drow da Casa D´Vaer. 
                    O primeiro patamar da escada levava a uma sala, semelhante 
                    à térrea, duas portas nas paredes e uma incomum 
                    mesa de rocha negra, de formato irregular. Havia sobre ela 
                    estranhas peças de pedra e alguns desenhos.“O que devem representar 
                    estas coisas?”, questionou Non.
 “Presumo que seja 
                    uma espécie de planejamento tático para batalhas.”, 
                    disse Kariel que, em um passado já distante, havia 
                    sido líder de um destacamento do exército de 
                    Forte Zhentil.
       Repentinamente 
                    ouviu-se o ruído de aço se chocando. Non escondeu-se 
                    atrás da mesa e Kariel ficou ao seu lado.       “E 
                    isto agora? Parece uma espécie de combate.”, 
                    disse o drow, em voz baixa.“Espere um pouco... 
                    vou verificar!”, colocou o mago invisível, indo 
                    até uma porta entreaberta de onde parecia partir os 
                    ruídos.
       Encontrou 
                    um amplo salão, decorado com armas nas paredes, onde 
                    alguns drows eram instruídos e treinados nas artes 
                    dos combates. Retornou então ao salão principal 
                    e tentou a última porta que dele saía que, para 
                    sua frustração, estava trancada. Foi ao local 
                    onde Non estava escondido. Contou-lhe sobre a sala de treino 
                    e disse-lhe que continuaria a exploração, subindo 
                    mais um nível na escadaria.       Non 
                    e Kariel então, pés ante pés, galgaram 
                    os degraus da escada. À medida que subiram, notavam 
                    que o ambiente estava cada vez mais úmido, o piso escorregadio 
                    e coberto com um limo viscoso. Kariel, que foi à frente, 
                    olhou as paredes, também sujas com aquele muco nojento. 
                    Algo mais repugnante provocou asco no elfo de Kand... uma 
                    criatura, que parecia ser composta do mesmo material que se 
                    espalhava pela escada acima, movia-se lentamente pela parede.       “Non...”, 
                    falou Kariel, quase sussurrando. “Existe uma criatura 
                    na parede à frente.”“Deixe-me me ver...”, 
                    disse o drow, subindo um degrau.
 “Tente não 
                    fazer barulho.”, advertiu o mago.
       Non 
                    subiu somente o suficiente para enxergar o monstro e desceu 
                    novamente.       “Estes 
                    seres vivem nas paredes das cavernas... os seguidores de Guanadaur 
                    os adoram. Não se aproxime deles. São altamente 
                    venenosos... dizem que alguns deles são vulneráveis 
                    a fogo ou frio, infelizmente não posso confirmar!”“Vou tentar algum 
                    recurso com magia. Aguarde-me aqui!”
       Kariel 
                    não enxergava seu próprio corpo, mas mesmo assim 
                    executou com perfeição os gestos necessários 
                    e pronunciou as palavras arcanas corretas. A invisibilidade 
                    que o ocultava foi substituída pelo novo encanto. Agora 
                    estava visível, mas era como um fantasma. Seu corpo 
                    estava translúcido e espectral. O mago subiu então 
                    as escadas. Boa foi a sua providência, pois a criatura 
                    que se movia na parede, assim que o mago passou no degrau 
                    abaixo do lugar onde estava, se encolheu e em seguida expeliu 
                    uma nuvem de esporos venenosos, que passaram inofensivamente 
                    pelo corpo gasoso de Kariel.        O 
                    mago então chegou, finalmente ao terceiro piso da torre. 
                    Era estranho. Amplo, mas rústico e sem móveis, 
                    parecia o ambiente cavernoso que existia do lado de fora. 
                    Todo o chão e teto parecia preenchido com a substância 
                    gosmenta e viscosa, que se anunciava nos últimos degraus, 
                    e havia várias criaturas, como aquela encontrada na 
                    parede da escada, a se moverem por todos os cantos. Havia 
                    um caminho bifurcado ao longe.        Duas 
                    criaturas se precipitaram do alto sobre o mago para atacá-lo, 
                    mas, graças a sua forma intangível, passaram 
                    através do seu corpo, como quem tenta golpear a neblina 
                    da madrugada. Os monstros ainda tentaram mais uma vez ferir 
                    Kariel, usando pseudopódes que brotaram de seus corpos, 
                    mas não conseguiram o seu intento. A magia que protegia 
                    o arcano, também lhe fornecia outra faculdade: permitia 
                    que pudesse flutuar e mover-se, tal qual um fantasma pelo 
                    ar e assim ele fez, indo em direção do caminho 
                    bifurcado que enxergava ao longe, passando pelos obstáculos 
                    e contemplando um dos ambientes mais estranhos que já 
                    havia visto, onde tudo parecia pulsar e mover-se.        Escolheu 
                    Kariel o caminho da direita. Ao penetrar alguns metros, viu 
                    uma câmara, onde havia um imenso cubo gelatinoso. Dentro 
                    do seu corpo transparente, haviam ossos e restos de objetos. 
                    Supôs acertadamente o elfo que deveria se tratar de 
                    mais uma das estranhas criaturas que habitavam o lugar. Voou 
                    um pouco mais e pôde enxergar um outro flagelo das profundezas, 
                    como aquele que, juntamente com seus companheiros, havia eliminado. 
                    Não querendo desperdiçar o tempo de duração 
                    de sua magia, voltou e decidiu percorrer o outro caminho, 
                    desejando ter melhor sorte e encontrar algo que valesse a 
                    pena.       Percorreu 
                    um corredor estreito. Aos poucos, a superfície pegajosa 
                    ia sendo substituída pela visão de um caminho 
                    mais limpo e regular. Parecia que estava saindo daquele criatório 
                    de estranhas criaturas. Ao chegar mais perto viu um corredor, 
                    iluminado por algumas tochas de fogo púrpura, que retomava 
                    a aparência civilizada dos andares inferiores. Havia 
                    uma esquina no corredor e logo nela uma porta. Outras portas 
                    existiam nas paredes, porém estavam mais distantes. 
                    Kariel, verificando que não havia inimigos por perto, 
                    dobrou a esquina e dirigiu-se então a porta próxima 
                    e usou sua forma gasosa para passar por uma fresta entre a 
                    madeira e o chão, recompondo seu corpo dentro de um 
                    espaçoso, luxuoso e vazio dormitório, onde havia 
                    estantes com livros e cristais de cores exóticas e 
                    alguns pequenos limos, versões menores dos monstros 
                    que havia visto momentos atrás, que passeavam pela 
                    parede. Havia uma outra porta do aposento e Kariel passou 
                    por baixo dela novamente, como se fosse fumaça.       Kariel 
                    então viu que havia saído bem no meio do corredor 
                    onde estava, próximo à entrada de outro aposento, 
                    de onde saíam brumas azuladas. O mago foi aproximando-se, 
                    flutuando, quase encostado no teto. Quando chegou a entrada 
                    sem portas, desceu do ar e colocou a cabeça para dentro. 
                    A primeira vista, viu que havia muita fumaça, mas era 
                    possível ver vultos... havia drows no lugar.       Quando 
                    a fumaça diminuiu, Kariel viu uma cena que o chocou. 
                    Cerca de quinze drows, machos e fêmeas, participavam 
                    de uma orgia sexual. O mago olhou com espanto, curiosidade 
                    e ao mesmo tempo repulsa. Em sua sociedade, o sexo estava 
                    intimamente ligado ao amor e o que viu aqui foi meramente 
                    animal. Observou o elfo também em um dos cantos do 
                    grande salão, cujo piso ostentava um desenho de círculo 
                    púrpura com um olho solitário aberto, uma face 
                    familiar: ladeado de duas drows de belos corpos, estava Jyslin, 
                    o mago da Casa D´Vaer. O traidor estava revelado afinal. 
                    Kariel deu um leve sorriso e voltava-se para retornar, mas 
                    alguém estava à frente da porta. Era um drow 
                    com um robe ricamente adornado em púrpura e negro, 
                    com um símbolo, como o que existia no chão da 
                    sala, bordado na altura do peito. A gola do robe se elevava 
                    até o nariz cobrindo assim metade de sua face. Possuía 
                    o cabelo curto e pontudo, segurava nas mãos um mangual 
                    e olhava fixamente para ele.       “Adorador 
                    de Lolth... porque não se junta a nós, como 
                    seu colega Jyslin?” Problemas na Caverna       Kariel 
                    e Non haviam partido e os três membros da Comitiva estavam 
                    próximos à grade que dava acesso ao território 
                    dos Oorthagos. O objetivo do trio era remover o gradil da 
                    pedra, com o mínimo de ruído possível. 
                    Pensavam que deveriam liberar o espaço, vislumbrando 
                    uma rota de fuga para os colegas de missão que partiram 
                    avançados. Limiekki estava com um pino para escala 
                    nas mãos e um pequeno martelo. Batia nas bordas da 
                    grade, tentando desprender o ferro da pedra, ao mesmo tempo 
                    em que prestava atenção nas rondas dos sentinelas.       “Não 
                    adianta... os soldados, se estiverem próximos o bastante, 
                    poderão ouvir as batidas!”, disse o mateiro, 
                    parando o serviço.“Tenho um encanto 
                    para nos ajudar. Tente ser rápido depois que eu completá-lo!”, 
                    disse Mikhail.
       O 
                    clérigo então recitou uma prece a deusa Mystra 
                    e em seguida gesticulou para Limiekki para que este continuasse 
                    a tentativa de desprender o gradil. O mateiro quis perguntar 
                    se o encanto estava ativo, mas não ouviu o som de sua 
                    própria voz. Somente havia o silêncio absoluto. 
                    Então percebeu o efeito da prece, e começou 
                    a bater novamente com o martelo sobre o pino de aço, 
                    nos limites onde o ferro encontrava a pedra, sem que nenhum 
                    ruído fosse ouvido. Alguns minutos depois, conseguiu 
                    finalmente retirar a armação da rocha.       “Ufff! 
                    Finalmente!”, suspirou o ranger após mover a 
                    grade, logo depois do encanto expirar.“Com esta passagem, 
                    poderemos entrar em caso de problemas com os dois!”, 
                    comentou Mikhail.
 “Íamos chamar 
                    muita atenção! Deixem que Kariel é ardiloso, 
                    como todo mago... em breve deverá estar de volta!”, 
                    respondeu Limiekki.
 “Humpft! Em todos 
                    os momentos meus na Comitiva nunca vi uma infiltração 
                    que não fosse descoberta. Não duvido que dentro 
                    em breve ouçamos o ruído de magias explodindo!”, 
                    disse Arthos, achando que as coisas nunca são fáceis.
 “Kariel será 
                    prudente! Espero em Mystra que nada lhe aconteça!”, 
                    Mikhail desejou.
       A 
                    conversa do trio foi breve, mas, infelizmente, suficiente 
                    para levar ruídos para os ouvidos de um dos drows que 
                    faziam a ronda nas proximidades das torres dos Oorthagos. 
                    Limiekki percebeu a aproximação e então 
                    recolocou a grade, calçando-a na pedra com o pino de 
                    ferro. Em seguida, os três afastaram-se da passagem.       O 
                    drow do lado de fora se aproximou da grade e forçou 
                    suas barras, testando sua a firmeza. O pino segurou a armação, 
                    mas o sentinela percebeu que a proteção estava 
                    um tanto solta. Talvez não fosse nada demais, pensou, 
                    ou... talvez não. Então chamou seu companheiro 
                    de ronda.       “Rivelyn! 
                    Venha até aqui!”“Sim?”, respondeu 
                    o soldado, aproximando-se do gradil.
 “Este gradil está 
                    quase solto... veja... está amparado somente por um 
                    pino metálico.”, disse, mostrando.
 “Vou pegar algumas 
                    ferramentas... é melhor verificar!”, falou Rivelyn, 
                    deixando o colega no local.
       Demorou 
                    alguns minutos e o drow retornou. Trouxe um martelo e uma 
                    haste de ferro. Aproximou-se da grade e golpeou a base do 
                    pino colocado por Limiekki. A grade soltou facilmente. Colocou 
                    a cabeça para dentro da galeria, mas não enxergou 
                    nada. Os heróis já estavam escondidos na câmara 
                    anterior, onde haviam lutado contra o flagelo das profundezas.       “Vamos 
                    descer para averiguar, Kasmodan... estou achando isto estranho!”“É mesmo 
                    necessário? Temos nossa fera lá embaixo! Não 
                    poderíamos ver daqui mesmo!”, disse o drow relutante, 
                    lembrando do monstro que lá vivia.
 “Lembre-se que estamos 
                    em guerra! Todo cuidado é pouco!”, respondeu 
                    o soldado, já entrando passagem adentro.
       Os 
                    dois caminharam com cuidado e não encontraram nenhum 
                    vestígio de intrusos, mas o drow Rivelyn quis prosseguir 
                    até a câmara seguinte. Quando se aproximaram 
                    da entrada, por um segundo perceberam que não ouviam 
                    mais nenhum som, nem mesmo o de seus passos. Tentaram falar, 
                    mas nenhuma sílaba deixava suas bocas! Mikhail havia 
                    conjurado um encanto que impedia a propagação 
                    do som, como já havia feito antes! Foi a senha para 
                    a Comitiva atacar!       Arthos 
                    se precipitou primeiro. Das sombras, surgiu rápido 
                    e com o seu sabre desferiu um golpe preciso na garganta do 
                    surpreso Rivelyn, que pôs as mãos no pescoço 
                    e caiu em seguida, entregando sua alma ao seu deus sombrio. 
                    Kasmodan ainda sacou sua espada e aparou, em um reflexo, um 
                    dos golpes do machado de Limiekki, mas o mateiro era mais 
                    experiente: conseguiu dar um golpe tão poderoso na 
                    arma do adversário que a fez cair no chão e 
                    em seguida finalizou o combate, levando embora o espírito 
                    do drow.       Mal 
                    terminara o embate e outras vozes vindas da câmara anterior 
                    eram ouvidas. Gritavam o nome de Rivelyn e Kasmodan. Por certo 
                    eram seus companheiros que os procuravam. Não tardaria, 
                    sabiam os espiões da Comitiva, para uma patrulha seguir 
                    o caminho dos dois desafortunados drows que acabaram de sucumbir. 
                    Arquitetaram rapidamente um plano. Arthos despojaria um dos 
                    inimigos mortos e vestiria seus trajes, fazendo como se estivesse 
                    ferido, atraindo então a atenção da patrulha, 
                    enquanto seus companheiros, escondidos, tentariam um ataque 
                    surpresa. Então, assim fizeram.       Eram 
                    quatro drows. Enxergaram Arthos e vieram acudi-lo. Eis que 
                    Mikhail entrou em ação. Orou à sua deusa 
                    e o efeito do encanto divino se processou: colunas de chamas 
                    partiram do solo, envolvendo os inimigos, que morreram instantaneamente. 
                    O perigo passara... pelo menos por enquanto. Uma Batalha Perdida       Kariel 
                    não havia percebido que num canto obscuro da sala estava 
                    um trono, e nele repousava o senhor da casa, Orgoloth Oorthagos. 
                    Ele se levantou e bloqueou a saída ao qual Kariel pretendia 
                    passar. Orgoloth fez uma proposta e encarou Kariel. Seus olhos 
                    exigiam uma resposta do convite que havia feito. Kariel foi 
                    pego de surpresa. Era metódico e planejador. Não 
                    era muito afeito a improvisos, mas teria que responder.       “O 
                    que ganho eu em ser um traidor?”“Prazer e liberdade. 
                    Não servirá mais a sua matrona e deusa estúpida! 
                    Aqui libertará o animal que existe em você! Não 
                    será mais subordinado. Fará o que quiser na 
                    hora que quiser!”
 “Está bem. 
                    Ficarei aqui e abandonarei a minha casa!”, disse Kariel, 
                    que na verdade queria apenas ganhar tempo para fugir. Contudo 
                    Orgoloth não era nem um pouco ingênuo, percebeu 
                    ele rapidamente que o elfo disfarçado de drow tentou 
                    enganá-lo, pois sabia ele que ninguém abandonaria 
                    um deus tão rápido. Porém queria ele 
                    intimidar mais um pouco o intruso.
 “Então cancele 
                    o encanto!”, pediu Orgoloth, se referindo ao feitiço 
                    que tornava Kariel intangível.
       Kariel 
                    então cancelou o encanto, mesmo receoso do que isto 
                    poderia acarretar.       “Ótimo! 
                    Agora abra sua mente para mim. Meu relacionamento com os demais 
                    é baseado na verdade, por isso terei que sondar você! 
                    Não lhe farei mal.”       Orgoloth 
                    começou, suavemente, a gesticular e proferir estranhas 
                    palavras. Kariel então temeu pela verdade revelada. 
                    Não somente o fato de ser um espião, mas também 
                    de não ser um drow, ou pior, do inimigo descobrir o 
                    verdadeiro motivo pelo qual ele e seus companheiros resolveram 
                    arriscar suas vidas no sinistro mundo do Subterrâneo. 
                    Então, resolveu fugir. O sacerdote de Ghaunadaur virou-se, 
                    enquanto o mago se afastava.       “Não 
                    devia ter feito isto!”, disse enquanto apontou o dedo 
                    para o mago fugitivo.        De 
                    suas mãos partiu um raio púrpura que atingiu 
                    Kariel, mas que não lhe causou nenhuma injúria. 
                    O mago da Comitiva sabia, graças aos seus estudos das 
                    artes mágicas, que aquele encanto lançado sobre 
                    ele não permitiria que deixasse aquele lugar através 
                    de meios místicos. O ataque do clérigo iniciou 
                    então uma fantástica batalha de magia, disputada 
                    lance a lance, como se fosse um jogo de xadrez.       Kariel 
                    revidou em um feitiço, que fez sair das suas mãos 
                    uma descarga elétrica que atingiu o adversário 
                    e que, em seguida, ricocheteou até encontrar o corpo 
                    de alguns drows que estavam no salão, que caíram 
                    desacordados. O clérigo sentiu o choque elétrico, 
                    mas este não lhe causou nenhum dano grave. Foi a vez 
                    do revide: lançou um encanto no intuito de imobilizar 
                    o mago, mas Kariel resistiu e nada aconteceu. A resposta do 
                    elfo foi a conjuração de um relâmpago, 
                    que atingiu o seguidor de Ghaunadaur, desta vez causando alguns 
                    ferimentos. E em seguida, Kariel acionou o seu elmo da invisibilidade, 
                    desaparecendo e deslocando-se rumo ao corredor que antecedia 
                    a sala.       Rápido, 
                    Orgoloth lançou outro encanto e colunas de chamas, 
                    semelhantes as que eram invocadas por Mikhail, rodearam a 
                    área onde Kariel estava, pouco antes de desaparecer. 
                    O mago feriu-se, mas prosseguiu. Kariel criou com um feitiço 
                    uma muralha de fogo para isolar-se do adversário, o 
                    que o fez ficar novamente visível, e seu oponente criou 
                    outra, de pedra, que bloqueou a passagem para a sala onde 
                    habitavam as feras gelatinosas. Havia no caminho uma porta, 
                    para o aposento que havia vistoriado pouco antes. Kariel deu 
                    um forte chute na altura da fechadura, arrombou-a e entrou 
                    no quarto. O clérigo o seguiu.       Assim 
                    que o inimigo apontou no aposento, um projétil de fogo 
                    criado pela magia do arcano da Comitiva partiu para explodir 
                    em chamas sobre o seu oponente, que sentiu dores e ferimentos, 
                    mas continuava de pé. Devolveu, conjurando uma nuvem 
                    de gafanhotos que comandou em direção a Kariel. 
                    Este gerou imediatamente um círculo de fogo em volta 
                    de si, incinerando os insetos invocados. O rosto do drow da 
                    Casa Oorthagos mostrou descontentamento por ver seus ataques 
                    respondidos pelo intruso. Assim como Kariel, o sacerdote estava 
                    ferido, mas possuía um trunfo que o mago da Comitiva 
                    da fé não dispunha. Executou um encanto e a 
                    maioria dos seus ferimentos se fechou, depois de ser percorrida 
                    por uma tênue luz azulada. Kariel percebia sua clara 
                    desvantagem, Já havia utilizado grande parte de seu 
                    arsenal de encantos e os ferimentos começavam a drenar 
                    suas forças. Tudo que queria agora era ganhar tempo 
                    até que o pernicioso encanto que o prendia àquele 
                    lugar expirasse. Assim poderia teletransportar-se dali com 
                    a preciosa informação. Então tentou e 
                    conseguiu por abaixo outra porta que havia no cômodo 
                    e assim que o deixou, rumo ao corredor, tocou novamente seu 
                    elmo da invisibilidade, desaparecendo mais uma vez. Kariel 
                    então ficou imóvel, tentando não fazer 
                    nenhum tipo de ruído, escondendo-se do seu perseguidor.       Orgoloth 
                    deixou o quarto, que por sinal era o seu próprio dormitório, 
                    olhou para os lados e não viu o mago drow que procurava. 
                    Andou vagarosamente, girando seu mangual. Viu alguns outros 
                    drows, que haviam deixado a sala enfumaçada e observavam 
                    no corredor a luta que acontecia.       “Ajudem-me. 
                    O intruso está invisível!”       Os 
                    outros começaram a vasculhar. Não levaria muito 
                    tempo até que o mago fosse encontrado. Então 
                    Kariel sacou sua espada Goliath e partiu para atacar o inimigo, 
                    em um combate corpo a corpo. Era o que lhe restava.        O 
                    primeiro golpe projetado para decapitar o oponente feriu-lhe 
                    apenas na altura do ombro. Talvez fosse fatal, se o astuto 
                    drow não houvesse percebido o ruído do deslocamento 
                    repentino de Kariel. Então trocaram ataques. Espada 
                    versus mangual. O sacerdote de Ghaunadaur fez valer sua superioridade, 
                    e fez cair a espada do enfraquecido mago da Comitiva da Fé.       “Você 
                    foi superior!”, disse Kariel, admitindo sua derrota.“Seu idiota. Ofereci 
                    minha sinceridade e você a negou. Agora irá sofrer!”
       Orgoloth 
                    girou os cravos de seu mangual e aplicou um poderoso golpe 
                    na cabeça de Kariel. Os cravos penetraram em sua pele 
                    e a força do golpe o fez perder vários dentes. 
                    O mago caiu inerte no chão ensangüentado, só 
                    não morto por milagre de sua deusa, talvez. Os drows 
                    que auxiliavam o clérigo vencedor arrastaram o corpo 
                    do inconsciente arcano para um local ignorado. Fuga Inglória       Arthos, 
                    Limiekki e Mikhail já aguardavam por quarenta longos 
                    minutos, receosos. Limiekki quebrou o silêncio.       “Já 
                    faz muito tempo que se foram. Será que foram capturados 
                    ou mortos? Neste caso, temos que sair... não temos 
                    como resgatá-los.”“Não podemos 
                    deixar Kariel aqui!”, disse Arthos.
 “Estou preocupado 
                    com ele também, mas temos que admitir que Limiekki 
                    tem razão. Kariel possui meios de deixar este lugar 
                    e se mais tropas chegarem não teremos como vencê-las!”, 
                    ponderou Mikhail.
 “Vamos aguardar 
                    um pouco mais!”, pediu Arthos e seus amigos concordaram.
       Passou-se 
                    mais uma hora e a situação começou a 
                    ficar insustentável. Não havia nenhum sinal 
                    de Kariel ou Non, e parecia que uma movimentação 
                    militar mais intensa acontecia na saída daquele subterrâneo.       “Não 
                    podemos mais aguardar. Morreremos se tivermos que enfrentar 
                    todo o exército da Casa Oorthagos!”, colocou 
                    Limiekki.“E há a possibilidade 
                    de nos cercarem no ponto de entrada deste complexo. Temos 
                    que sair, ou pereceremos em vão!”, completou 
                    Mikhail.
 “Está certo! 
                    Vamos retornar e depois planejaremos um resgate!”, teve 
                    Arthos que concordar com o óbvio.
       Os 
                    três então começaram a retornar, de volta 
                    para o poço de onde tinham entrado naquela galeria 
                    de cavernas. A decisão foi tomada na hora exata: ainda 
                    puderam ver oito drows entrando pela passagem quando deixavam 
                    a câmara.       “E 
                    agora? Parece que vamos ter que lutar novamente!”, falou 
                    Limiekki, já no salão anterior.“Tenho um encanto! 
                    Escondam-se e não olhem para mim!”
       Limiekki 
                    e Arthos não questionaram o amigo, que ficou parado, 
                    incompreensivelmente, no centro da sala. O primeiro dos soldados 
                    da Casa Oorthagos avistou Mikhail e chamou seus pares. Os 
                    oito correram então na direção do imóvel 
                    clérigo de Mystra com suas espadas e maças nas 
                    mãos. Mikhail apontou-lhes o seu martelo, o lendário 
                    Destruidor de Tempestades da cultura anã, e concentrou-se. 
                    Um raio de luz tão intenso que iluminou toda a galeria 
                    cavernosa onde estavam seguiu na direção dos 
                    soldados. A luz intensa feriu os olhos sensíveis dos 
                    drows, que gritaram. Dos oitos, seis ficaram cegos e desmaiaram. 
                    Dois conseguiram proteger-se a tempo. Os últimos partiram 
                    para o ataque, investindo com velocidade na direção 
                    de Mikhail. Mal sabiam, porém, que o clérigo 
                    não estava sozinho: Arthos e Limiekki saíram 
                    das sombras e os atacaram com a vantagem da surpresa. Não 
                    houve troca de golpes desta vez. Os dois caíram mortos. 
                    Os heróis da Comitiva então executaram os drows 
                    cegos e partiram o mais rápido que puderam para o poço 
                    por onde haviam entrado.       Depois 
                    de alguns minutos, chegaram em fim nas proximidades da passagem 
                    aberta na parede do antigo poço. Porém, o receio 
                    de Mikhail se tornou realidade.Uma corda balançava 
                    e ouviam-se o ruído de vozes. Havia drows preparando-se 
                    para descer e investigar os desaparecimentos. Os companheiros 
                    da Comitiva decidiram enfrentar os inimigos do lado de fora 
                    e assim Arthos pulou para corda e subiu. Nas ruínas, 
                    acima do poço, viu, pela graça de Tymora, que 
                    havia apenas dois soldados da Casa Oorthagos.       “Ei!? 
                    Quem é você!?”, questionou um dos drows, 
                    olhando desconfiado para Arthos.       O 
                    espadachim não disse nada. Apenas atacou com seu sabre. 
                    Executou um golpe perfeito e matou o drow que ainda preparava-se 
                    para sacar a espada da bainha. O outro trocou golpes com Arthos, 
                    enquanto Limiekki e Mikhail subiam também para se juntar 
                    ao companheiro. Com o auxílio do mateiro, o inimigo 
                    foi eliminado. Puseram-se a correr, na direção 
                    onde se encontrava oculta a nau voadora. Ansiavam agora para 
                    falar com Storm sobre o insucesso daquela missão e 
                    do desaparecimento de Kariel.       Chegaram 
                    próximo ao local e olharam para o alto. Não 
                    era possível ver a embarcação. Como fariam 
                    para chamar a nau? Nas demais vezes, o elo mental de Kariel 
                    com Storm havia solucionado a questão, mas o mago não 
                    estava mais presente. Limiekki resolveu acender uma tocha 
                    e sinalizar. Por sorte, o pequeno Bingo olhava para baixo 
                    naquele momento e comunicou a Storm. Momentos depois, a nau 
                    desceu do negro e alto teto da caverna e os três embarcaram. 
                    Storm os recebeu, demonstrando grande preocupação.       “Onde 
                    está Kariel?”, perguntou a Barda do Vale das 
                    Sombras.“Ele penetrou junto 
                    com Non em uma torre dos Oorthagos e não retornou mais. 
                    Ficamos aguardando, mas a situação se complicou 
                    e tivemos que retornar!”, relatou Limiekki.
 “Lutamos contra 
                    vários drows. Se ficássemos, morreríamos!”, 
                    completou Arthos.
 “Mas ele não 
                    deu nenhuma notícia, nenhum sinal? O disfarce mágico 
                    terminará em oito horas!”, quis saber novamente 
                    a mulher de cabelos prateados.
 “Não. Lamento 
                    dizer isto, mas é possível que ele esteja morto!”, 
                    falou o Limiekki.
       Tais 
                    palavras provocaram um silêncio de tristeza naqueles 
                    que tinham o elfo como um bom e leal amigo, além de 
                    companheiro de aventuras. Silêncio quebrado pelo brado 
                    do pequeno Bingo.       “Não 
                    diga bobagens! Ele está vivo em algum lugar por lá!”“Sim! E vamos resgatá-lo, 
                    de qualquer forma!”, falou Arthos.
 “Vamos eu, Arthos, 
                    Mikhail e Bingo... poderíamos usar a nau para passar 
                    pelas defesas!”, disse Mikhail.
 “Esperem... talvez 
                    haja uma maneira! Aguardem aqui por favor!”, pediu Storm, 
                    que chamou Danicus e fechou-se na cabine do barco voador.
 O Despertar       Kariel 
                    novamente via a grande árvore edhelborn, de flores 
                    e frutos dourados, plantada no centro do pequeno reino do 
                    qual era príncipe. Estava lá seu pai, sua irmã, 
                    seu filho e amigos. Finalmente sentia o vento, o canto dos 
                    pássaros e estava em paz. Porém, de repente, 
                    sentiu na face o frio de um líquido arremessado em 
                    seu corpo e abriu os olhos, despertando do sonho.       Vivia, 
                    por pequena margem, e sentia muitas dores. Estava preso a 
                    parede de uma pequena e escura sala pelos braços e 
                    pelas mãos. Em sua frente, três drows: um desconhecido, 
                    que havia lhe atirado água e ainda estava com um balde 
                    nas mãos, Jyslin, o mago traidor dos D´Vaer, 
                    e Orgoloth. Então este último falou:       “Estranho, 
                    você não está morto porque deve explicar 
                    algo sobre os seus pertences. Alguns deles emanam uma energia 
                    poderosa e desconfortável. Quero que explique a origem 
                    deles e que aura é esta que eles possuem. É 
                    um seguidor de Eilistraee?”, disse exibindo os objetos 
                    de Kariel, postos em uma mesa.       Kariel 
                    queria falar, não para responder ao clérigo, 
                    mas para comunicar à Storm, através de sua ligação 
                    telepática de Escolhido, o nome do traidor e completar 
                    a missão, mas não conseguiu falar nada, só 
                    conseguia tossir. Jyslin ambicionou a espada de Kariel e segurou 
                    sua empunhadura. Um grande erro: a espada provocou uma exaustão 
                    imediata no arcano drow, como se tivesse roubado um pouco 
                    de sua energia vital. O mago, ofegante, então deixou 
                    a espada na mesa e não mais se atreveu a tocá-la.       Dois 
                    soldados entraram e trouxeram Non, desacordado e bastante 
                    ferido. O acorrentaram ao lado de Kariel e partiram em seguida.       O 
                    drow que havia molhado Kariel agora segurava algumas estranhas 
                    e pontiagudas ferramentas. Segurou firme em uma das mãos 
                    do Escolhido de Mystra e introduziu uma fina lâmina 
                    sob a pele de seus dedos, fazendo-lhe gritar.       “Diga, 
                    intruso! Que itens são estes? Quem é você 
                    realmente?”       Naquele 
                    instante, algo aconteceu. Um repentino e silencioso brilho 
                    dourado surgiu dentro da sala e, quando se foi, deixou cinco 
                    drows, na verdade, Storm, Magnus, Mikhail, Arthos e Limiekki. 
                    Assim que apareceu, Storm conjurou um sortilégio sobre 
                    Orgoloth e ele sentiu imediatamente que magia nenhuma o protegia 
                    mais. Magnus partiu para atacar Jyslin. O poderoso paladino 
                    atingiu o mago com duríssimos golpes, antes que este 
                    pudesse invocar qualquer feitiço, e destroçou 
                    seu corpo fazendo-o em pedaços. Arthos fez o mesmo 
                    com o torturador e o aniquilou, perfurando seu coração 
                    com a Lâmina das Rosas. Já Limiekki e Mikhail, 
                    trocaram golpes com Orgoloth. O adversário, que já 
                    havia gastado seu repertório de encantos na recente 
                    luta contra Kariel e conservava alguns ferimentos, ofereceu 
                    pouca alguma resistência com seu mangual, mas foi o 
                    machado de Limiekki que selou o seu destino, o decapitando.       Retiraram 
                    então Kariel e Non das correntes. Mikhail ministrou 
                    sua cura divina, recuperando uma parte da vitalidade do amigo, 
                    fazendo-o recobrar-se.       “Vocês 
                    vieram!? Mas como!?, perguntou Kariel, que conseguiu de volta 
                    a capacidade de falar.“Isto não 
                    importa agora! Temos que sair daqui imediatamente!”, 
                    respondeu Storm.       “Criarei 
                    um teleporte para retornar à nau. Kariel, faça 
                    o mesmo para sair deste lugar e levem o drow desacordado com 
                    vocês!”, orientou a barda.
       Em 
                    seguida, Storm gesticulou e pronunciou as palavras mágicas 
                    do feitiço e, assim como chegaram, partiram ela e Magnus. 
                    Kariel pegou seus pertences e vestiu seu traje de mago. Recitou 
                    o mesmo sortilégio e desapareceu junto com Mikhail, 
                    Arthos, Limiekki e Non.       Os 
                    quatro últimos foram para o ponto onde haviam encontrado 
                    o drow da Casa D´Vaer, algumas horas atrás. Non 
                    recebeu um pouco da cura divina de Mikhail e, após 
                    algum tempo, despertou.       “O 
                    que aconteceu? Onde estamos!”, perguntou, ainda desorientado.“Estamos no ponto 
                    de encontro. Resgatamos você e Karelist do feudo dos 
                    Oorthagos!”, respondeu Limiekki.
 “E o traidor!?”, 
                    quis saber.
 “Jyslin está 
                    morto!”, disse Kariel.
 “Aquele maldito!”, 
                    praguejou o drow enquanto levantava-se. “Tenho que avisar 
                    minha senhora. Orgoloth poderá preparar um ataque em 
                    represália!”
 “Se Orgoloth for 
                    o clérigo com ares de chefe, ele também está 
                    morto!”, acrescentou Arthos.
 “Como?! Mataram 
                    Orgoloth, o líder dos Oorthagos? Vocês três?”, 
                    falou, incrédulo, Non.
 “Sim. Vocês 
                    demoraram de sair e então invadimos o lugar!”, 
                    mentiu Limiekki, intimamente divertindo-se.
 “Por Lolth! Subestimei 
                    o poder de vocês! São incríveis assassinos! 
                    De qualquer forma, agradeço. Tenho que ir. Devo contar 
                    à matrona o que aconteceu e deixar a Casa preparada 
                    para uma eventual represália. Nos veremos novamente!”, 
                    disse o drow, acenando com a mão direita e desaparecendo 
                    nas sombras das ruas escuras.
       Algumas 
                    horas mais tarde, os heróis da Comitiva da Fé 
                    estavam reunidos na nau voadora, a maioria deitada em suas 
                    camas, descansando. Estavam em suas aparências normais 
                    e mais uma vez eram elfos e humanos. Curas haviam sido administradas 
                    e os ossos e dentes partidos de Kariel, por conta dos poderes 
                    concedidos a ele pela deusa Mystra, voltavam aos poucos a 
                    se regenerar. Porém sua maior ferida não estava 
                    no corpo, mas na alma. A derrota fez-lhe menos confiante em 
                    suas capacidades e o entristeceu profundamente. O elfo, ainda 
                    que não se sentisse bem consigo mesmo, deslocou-se 
                    até Storm Mão Argêntea, que estava pensativa 
                    em uma poltrona. Queria perguntar-lhe algo.       “Como 
                    me encontrou?”Storm apontou para uma bacia cheia d´agua e sorriu.
 “Não compreendo?!”
 Então a barda explicou-lhe. 
                    Momentos após receber a notícia do desaparecimento 
                    de Kariel, ela e o professor Danicus trancaram-se na cabine 
                    da nau. O acadêmico, que também tinha dons místicos, 
                    encheu uma tina e sobre ela conjurou um feitiço. O 
                    espelho d´água mostrou a imagem do elfo acorrentado 
                    e da sala onde estava. Storm observou atentamente, chamou 
                    alguns companheiros e realizou um teletransporte, enquanto 
                    mentalizava as imagens vistas, orando a Mystra para tivessem 
                    a graça de chegarem realmente ao lugar certo. Tiveram 
                    muita sorte, afinal. Os deuses lhes foram bondosos, pelo menos, 
                    por hoje.
       Então 
                    todos deitaram e dormiram. Havia um ataque planejado para 
                    o dia seguinte, desta vez, a Casa Aercelt seria o alvo.
 
 |