| Um 
                    Plano de Discórdia Descrita por Ricardo Costa.Baseada no jogo mestrado por Ivan Lira.
  Personagens principais da aventura: 
 Os 
                    Humanos: Magnus de Helm; Sirius Lusbel; Sigel O'Blound 
                    (Limiekki); Danicus Gaundeford; Klerf Maunader. Os Elfos: 
                    Mikhail Velian; Kariel Elkandor; Arnilan Beldusyr. 
                    O Halfling: Bingo Playamundo. Participação 
                    Especial: Storm Mão Argêntea.
 
 
  
  Um 
                    Plano de Discórdia
 A 
                    Última Casa de Lolth       Os 
                    seis membros da Comitiva da Fé, na aparência 
                    dos drows da casa Millithor, percorreram as ruas arruinadas 
                    da cidade de Maerimydra, em companhia de um estranho, que 
                    lhes revelou detalhes sobre os acontecimentos que levaram 
                    ao caos e a guerra. Aquele drow também era o único 
                    que poderia levá-los aos últimos devotos sobreviventes 
                    de Lolth. Com eles, os aventureiros esperavam informações 
                    que pudessem fazê-los vislumbrar uma oportunidade para 
                    cumprir sua missão naquele lugar infeliz: destruir 
                    o portal entre o Subterrâneo e a superfície, 
                    evitando assim uma invasão maciça dos drows 
                    aos Reinos.
 Caminhavam, 
                    quando Kariel, ou melhor, Karelist, mago da Casa Millithor, 
                    fez uma pergunta ao drow guia.
 
 “Fizemos-lhe várias 
                    questões, mas não sabemos o seu nome.”
 “Chamem-me apenas 
                    de Non!”
 “Sou Karelist. E 
                    estes são a nossa sacerdotisa Narcélia, Torrellan, 
                    Dariel, Zoreg e Glemoran.”
 “Também tenho 
                    uma questão...”, dizia falsa Narcélia, 
                    na verdade, o elfo Mikhail, quando foi interrompido por Non.
 “Ouvi algo! Escondam-se!”.
 
 E assim fizeram todos, 
                    deixando a rua e buscando refúgio entre os escombros 
                    das construções que existiam em suas margens. 
                    De início não escutaram nada, mas depois veio 
                    o som de vários passos e grandes silhuetas ao longe, 
                    umas seis. À medida que se aproximaram, puderam ver 
                    corpanzis de mais de dois metros de altura, segurando grandes 
                    machados. Possuíam chifres na cabeça, o que 
                    fez alguns da Comitiva temerem enfrentar demônios. Porém, 
                    quando a distância permitiu detalhes, viram que eram 
                    seis homens-touros, que estavam a executar uma patrulha. Passaram 
                    pelos drows ocultos, sem os perceberem, e continuaram a marchar 
                    rua abaixo.
 
 “Minotauros!” 
                    Exclamou, Arthos.
 “Eram escravos, 
                    que agora estão sob o domínio dos gigantes Wudo 
                    e Drull. Temos que ser bastante cuidadosos, pois se formos 
                    descobertos podemos sofrer um ataque em massa! Temos que aproveitar 
                    que os inimigos desconhecem que estamos organizados! Continuemos 
                    atentos!”
 
 Os sete retornaram a rua. 
                    Mikhail lembrou-se de sua pergunta, interrompida pela passagem 
                    dos minotauros, e a fez à Non.
 
 “Algum outro estrangeiro 
                    chegou, além de nós, na cidade?”.
 “Não que 
                    eu saiba. Por acaso procuram alguém?”, quis saber 
                    Non.
 “Um traidor de nossa 
                    casa, irmão gêmeo de Torrellan. Fugiu enquanto 
                    o combatíamos.”, disse Mikhail, que desejava 
                    saber se existia alguma pista do verdadeiro Torrellan, que 
                    era na verdade, o único e verdadeiro membro vivo da 
                    casa Millithor, e que podia se configurar em grande ameaça 
                    para os planos da Comitiva da Fé.
 “Não! Não 
                    vi ninguém novo, além de vocês! Mas, se 
                    é um traidor, pode ter se unido aos Aercelt ou aos 
                    Oorthagus. Ou está morto!”
 “Espero que sim!”, 
                    falou Arthos.
 
 Non e a Comitiva deixaram 
                    as ruas e entraram em uma região erma e acidentada 
                    da gigantesca caverna. Após pequenas escaladas, viram 
                    se aproximar uma grande muralha negra. Não havia um 
                    portão, mas uma fenda no muro, para a qual Non os conduziu. 
                    Em seguida, o drow tirou do bolso um pequeno instrumento cilíndrico 
                    e curto de madeira, e o pôs na boca. Soprou, fazendo 
                    soar um trinado fino e agudo. Em seguida, quatro soldados, 
                    pesadamente armados, deixaram a fenda e começaram a 
                    escoltar Non e os outros para dentro da muralha.
 
 Dentro daquele espaço, 
                    primeiramente, havia barricadas, montadas com pedras e voltadas 
                    para a entrada. Soldados circulavam armados e em prontidão. 
                    Ao fundo, um castelo, ao modo particular da arquitetura drow: 
                    construções escuras e fortes, de formas simples, 
                    desprovidas de adereços ou ornamentos, feitas em rocha, 
                    que se harmonizavam e pareciam mesclarem-se com o ambiente 
                    cavernoso do Subterrâneo. Suas torres, ao redor de uma 
                    edificação central, subiam ao alto, terminando 
                    pontiagudas como estalagmites. Aproximaram-se da entrada. 
                    Foram abordados por dois sentinelas e liberados, após 
                    um deles trocar palavras com Non. Dentro da construção 
                    viram que o espaço era amplo, com um grande vão 
                    em aberto no centro, do qual erguia-se uma enorme escada helicoidal, 
                    feita de uma pedra lisa e negra. Pelo que podiam ver, o castelo 
                    deveria possuir quatro andares. Muitos drows, nobres e guerreiros, 
                    circulavam pelo edifício, assim como muitas aranhas, 
                    de pequenas a outras do tamanho de um cão.
 
 Subiram os degraus escuros, 
                    guiados por Non. No terceiro andar, deixaram a escada e pisaram 
                    em uma das plataformas que rodeavam seu patamar. Foram conduzidos 
                    a entrada de um salão guardado fortemente. Non pediu 
                    para que aguardassem. Aproximou-se dos sentinelas e penetrou 
                    as grandes portas, para retornar em seguida, cerca de quinze 
                    minutos depois. Juntos, então, entraram.
 
 A grande sala, de paredes 
                    negras como todo o restante do castelo e iluminada por tochas 
                    púrpuras de fogo mágico, possuía muitos 
                    assentos de madeira e encostos estofados de cor lilás, 
                    com motivos de teias. Eles convergiam para uma plataforma 
                    mais alta, como um palco, onde sentava em um trono uma drow, 
                    de ricas vestes negras e prateadas, e longos cabelos brancos. 
                    Ao seu lado direito, havia alguém que um observador 
                    experiente poderia dizer ser um mago, pelas vestes que usava. 
                    À direita, havia três soldados e um outro, mais 
                    robusto e belamente vestido, que parecia ser uma espécie 
                    de oficial. A fêmea pediu para que se aproximassem e 
                    assim o fizeram.
 
 “Sou Ilivarra, matrona 
                    da Casa D’Vaer. Non disse-me que vocês são 
                    habilidosos e estão perdidos aqui... falou-me que possuíam 
                    acordos com a Casa Chumav...”
 “Sim. Chamo-me Narcélia 
                    Millithor. Viemos ter com os Chumav, mas quando aqui chegamos 
                    encontramos a cidade em ruínas!”, disse-lhe Mikhail, 
                    na pele da sacerdotisa drow.
 “Creio que Non deve 
                    ter-lhes atualizado sobre o que se passou aqui. Porém... 
                    qual é o objetivo de vocês com a Casa Chumav?”
 “Temos um acordo, 
                    um tratado antigo. Nossa matrona aguardava por uma negociação, 
                    mas agora, com o castelo Maerimydra tomado e a Casa Chumav 
                    exterminada, não sabemos quais serão nossas 
                    ordens. Não podemos revelar mais detalhes.”
 “Quem é a 
                    sua matrona? Onde ela está?”
 “Minha senhora chama-se 
                    Ki´Willis. Está em um local seguro.”
 “Bem, minha cara, 
                    como podemos nos ajudar? Se buscam por algum tesouro, magia 
                    ou conhecimento dos Chumav, talvez encontre no castelo Maerimydra, 
                    que está ocupado pelos Aercelt. Vocês não 
                    possuem chances de ir até lá sozinhos. Seriam 
                    exterminados.”
 “Permitam-me!”, 
                    exclamou Kariel, sob o disfarce de Karelist, o mago drow da 
                    casa Millithor.
 “Pois não, 
                    Karelist!”, permitiu Mikhail, agindo como Narcélia.
 “Se quisermos entrar 
                    no castelo teremos que expulsar os Aercelt e isto é 
                    algo que beneficiaria tanto a nós quanto a vocês, 
                    da Casa D’Vaer. Acredito que nossos destinos estão 
                    ligados.”
 “Concordo”, 
                    colocou a matrona D’Vaer. “O nosso objetivo é 
                    retomar a cidade e para isto devemos destruir a Casa Aercelt 
                    e a Casa Oorthagus. Os escravos não nos preocupam. 
                    Infelizmente não temos contigente suficiente para combater 
                    nem mesmo uma destas Casas, portanto, temos um plano em que 
                    vocês poderão colaborar.”
 “Que plano?”, 
                    perguntou desta vez Arthos, que fazia o papel de Torrellan 
                    Millithor
 “Pensamos em causar 
                    um atrito entre duas facções. Um conflito que 
                    provocasse discórdia, revolta, e muitas baixas. Seriam, 
                    desta vez, outros, que não os adoradores de Lolth a 
                    morrerem. Enfraqueceríamos as fileiras inimigas! Gostaríamos 
                    que vocês insuflassem um conflito entre os escravos 
                    comandados pelos gigantes do fogo e os inimigos da Casa Aercelt! 
                    Preparamos algumas vestes e objetos idênticos aos usados 
                    pelos Aercelt. Podem disfarçarem-se assim e atacar 
                    a arena. Os escravos são ignorantes e, se executarem 
                    bem o plano, eles não duvidarão que os Aercelts 
                    querem destruí-los ou os escravizarem novamente. Esta 
                    é minha sugestão!”
 Um dos soldados, próximos 
                    a líder dos D’Vaer, aproximou-se do grupo em 
                    frente ao trono e entregou as vestes características 
                    da Casa Aercelt nas mãos de Limiekki e do professor 
                    Danicus, ou melhor, dos drows Dariel e Glemoran Millithor.
 “Consultaremos nossa 
                    matrona, afinal arriscaremos nossa Casa nesta empreitada!”, 
                    disse Mikhail.
 “Então vão! 
                    E espero que aceitem a demanda e tragam sua matrona aqui posteriormente. 
                    Acredito que esta seja uma oportunidade para nossas duas casas 
                    conseguirem o que desejam!”
 
 Terminada a reunião, 
                    Non então conduziu os visitantes para fora do salão, 
                    do castelo e da muralha que protegia o último refúgio 
                    dos drows seguidores de Lolth e lá, em uma vênia, 
                    despediu-se daqueles drows estrangeiros. A Comitiva da Fé 
                    então tomou o caminho de volta e rumou para a localização 
                    mais próxima da nau voadora, onde estava o restante 
                    do grupo. Conversaram durante o caminho sobre a propriedade 
                    do plano e seus desdobramentos. A princípio, viam lógica 
                    em seguir, pelo menos por enquanto, a estratégia dos 
                    D’Vaer, mas a decisão cairia sobre as mãos 
                    de Storm Mão Argêntea, líder da missão.
 
 Enquanto andavam, pelas 
                    ruas tortuosas da devastada cidade, Kariel sentiu algo oprimir 
                    por alguns instantes a sua mente. Franziu o rosto e tocou 
                    com as mãos a fronte.
 
 “O que houve?”, 
                    perguntou Sirius, ao ver a reação do amigo.
 “Alguém tentou 
                    explorar magicamente a minha mente, mas fracassou! Tenham 
                    cuidado com o que falam!”
 
 Chegaram, após 
                    vinte minutos, no lugar onde haviam deixado pela última 
                    vez a nau. Era um sítio escuro e mais afastado do centro 
                    da cidade. Lá Kariel, em voz baixa, disse as seguintes 
                    palavras:
 
 “Storm. Estamos 
                    embaixo. Precisamos falar-lhe.”
 
 A mensagem, um sussurro 
                    inaudível, foi perfeitamente ouvida pela mente da Barda 
                    do Vale das Sombras. Tanto ela, quanto o jovem elfo Kariel 
                    eram Escolhidos da Deusa da Magia, Mystra, e graças 
                    à esta dádiva podiam ouvir as nove palavras 
                    posteriores a pronúncia de seus nomes ou títulos, 
                    em qualquer lugar onde estivessem.
 
 “Kariel, é 
                    melhor que venha sozinho!”, respondeu a mulher, ecoando 
                    sua voz na mente do elfo.
 
 Kariel pediu para que 
                    os companheiros o aguardassem nas proximidades e se afastou 
                    um tanto deles. Viu então, da escuridão do imenso 
                    teto cavernoso, descer a nau voadora, até uma altura 
                    em que pôde embarcar. Em seguida, o navio mágico 
                    pôs-se a subir novamente. Kariel reviu e cumprimentou 
                    seus amigos, e em seguida foi abordado pela aventureira que 
                    liderava a incursão, com a qual foi ter, em seguida, 
                    uma conversa particular.
 
 “Sim, Kariel. Diga-me, 
                    o que está acontecendo?”
 
 O elfo então fez 
                    um resumo dos eventos na cidade de Maerimydra. Contou-lhes 
                    sobre os combates, a guerra civil, o extermínio da 
                    Casa Chumav e sobre Non, a Casa D’Vaer e a proposta 
                    da matrona. Também disse, por fim, de sua preocupação 
                    sobre a sondagem de sua mente, minutos atrás.
 
 “Não se preocupe 
                    enquanto a isto. Se não conseguiram penetrar em sua 
                    mente, demorará um pouco até que tentem novamente. 
                    Quanto ao acordo... o que ela tem a nos oferecer?”
 “Na verdade, a matrona 
                    Ilivarra não nos prometeu nada, mas acredito que com 
                    a casa Aercelt enfraquecida, seu contingente seja suficiente 
                    para confrontá-la e, possivelmente, em caso de sucesso 
                    dos D’Vaer, poderíamos penetrar no castelo Maerimydra 
                    e verificar a existência do portal.”
 “Bem. Se considerar 
                    que esta missão não represente grande risco, 
                    acredito que devam executá-la.”
 “Na verdade, acredito 
                    que haja risco, mas não vejo alternativa. Dificilmente 
                    penetraremos o castelo dos Aercelt sem algum auxílio 
                    dos D’Vaer.”
 “Isso não é necessariamente uma verdade. 
                    Não sabemos a extensão dos recursos dos Aercelt. 
                    Precisamos ficar de olhos abertos para construir nossas próprias 
                    opções. Esta guerra não nos diz respeito. 
                    Nosso interesse é apenas localizar o portal, destruir 
                    a chave e partirmos para outra cidade. Mas acredito que seja 
                    do nosso interesse prosseguir com este plano.”
 “A matrona dos D’Vaer 
                    também deseja ver nossa matrona, Storm.”
 “Não posso 
                    deixar a nau agora, Kariel. Se houver extrema necessidade, 
                    farei isto depois. Por enquanto, execute o plano dos drows 
                    e me mantenha informado do resultado.”
 “Sim, Storm. Farei 
                    isto!”
 
 A reunião encerrou-se 
                    assim, e a nau deixou o mago elfo novamente no piso rochoso 
                    da caverna. Ele então se aproximou do local onde havia 
                    se separado dos companheiros. Eles o viram e deixaram seus 
                    esconderijos em meio às ruínas.
 
 “E então?! 
                    O que faremos?”, perguntou Sirius.
 “Executaremos o 
                    plano dos D’Vaer!”, informou Kariel.
 “Somente acho que 
                    devemos ter cuidado e não confiar tanto nestes drows!”, 
                    disse Arthos
 “O que a matrona 
                    Ilivarra disse, até agora, é lógico para 
                    mim.”, opinou o mago elfo.       “Acredito 
                    que o que vamos executar nos ajudará.”
 “Lembre-se, Kariel... 
                    é possível fazer conjecturas lógicas 
                    sobre assuntos incorretos!”, advertiu Limiekki.
 “Vamos realizar 
                    o plano e nos manter abertos para outras oportunidades!”, 
                    disse Sirius.
 “Podíamos 
                    expandir esta idéia. Atacaríamos também 
                    a casa Oorthagus para que pensem que foram os Aercelts, ou 
                    os escravos, ou mesmo os D’Vaer!”, colocou Arthos.
 “Não acho 
                    uma boa idéia. Poderíamos provocar algum tipo 
                    de aliança indesejada, ou sermos descobertos.”, 
                    comentou Kariel.
 “Acho que o jovem 
                    tem razão!”, disse Danicus. “Ademais, não 
                    temos muitas informações sobre os Oorthagus 
                    para poder nos infiltrar entre eles!”
 “Então não 
                    vamos perder mais tempo. Vamos atacar esta arena! Vi que entre 
                    as coisas que os D’Vaer nos deram existem um mapa do 
                    centro da cidade, indicando a localização do 
                    território dos Aercelt e o dos escravos.”, disse 
                    Limiekki, que sacou um pergaminho dobrado entre as vestes 
                    que lhe foram entregues e mostrou aos demais.
 
 Mikhail avaliou o mapa, 
                    e comentou.
 
 “Existe uma rua 
                    larga entre a Casa Aercelt e a arena. Sugiro tomarmos este 
                    caminho como se estivéssemos vindo do território 
                    dos Aercelt em direção da arena. Assim os escravos 
                    terão mais forte a idéia de que o ataque partiu 
                    realmente dos Aercelt.”
 “Temos que tomar 
                    esta rua transversal até encontrar esta maior, então.”, 
                    mostrou com o dedo Arthos.
 “Está feito. 
                    Vamos nos trocar e caminhar. Estamos muito próximos 
                    à arena para ficarmos aqui parados!”, advertiu 
                    Limiekki.
 
 Assim os aventureiros 
                    procuraram algum abrigo entre os prédios devastados 
                    e mudaram de roupas. Os drows da casa D’Vaer tiveram 
                    o cuidado de entregar-lhes vestes adequadas para cada um dos 
                    membros da casa Millithor: dois trajes de mago, que correspondiam 
                    às funções de Karelist e Glemoran, três 
                    de guerreiros, para Dariel, Torrellan e Sirius e um vestido 
                    de sacerdotisa para Narcélia. Eram versões diferentes 
                    dos trajes de Lolth, menos negros e mais púrpuras.
 
 Trocaram-se e puseram-se 
                    a caminhar, com muita atenção e cuidado. Encontraram 
                    a rua estreita apontada por Arthos no mapa. Percorreriam-na 
                    até a via principal, entre o castelo Maerimydra e a 
                    grande arena. A rua contava um trecho bastante devastado, 
                    com poucos edifícios intactos. Naquela guerra, este 
                    deveria ter sido um palco de batalhas intensas. O grupo seguiu, 
                    tendo o furtivo Limiekki à frente. Ouviram-se ruídos 
                    de passos distantes adiante. Limiekki, mais avançado 
                    que estava, anunciou:
 
 “Uma patrulha de 
                    bugbears!”
 
 Em vez de confrontarem 
                    os inimigos, a Comitiva da Fé resolveu preservar o 
                    elemento surpresa, e escondeu-se nos escombros. Passaram então 
                    seis dos grandes homens-ursos, de armadura e maças 
                    nas mãos. Os monstros não notaram nada de errado 
                    e seguiram em frente. Quando estes alcançaram grande 
                    distância, os aventureiros saíram dos esconderijos 
                    e continuaram sua jornada.
 
 Passaram-se dez minutos 
                    e outro ruído foi ouvido. Pareciam vozes. Desta vez, 
                    vinham da margem direita do caminho. Os heróis então 
                    saíram novamente da rua e se esgueiraram com cautela 
                    pelos escombros, desta vez para tentar descobrir a origem 
                    daquelas vozes. Escondidos, viram que havia um sentinela, 
                    terreno adentro, que aparentemente havia notado a presença 
                    deles. Limiekki pediu ao grupo para aguardá-lo e resolveu 
                    investigar adiante. Foi até um sítio mais alto, 
                    uma construção semi-destruída, onde pôde 
                    ter uma visão mais privilegiada da área. O sentinela, 
                    avistado sobre uma sacada, na verdade vigiava um acampamento, 
                    onde haviam pelo menos dois bugbears e mais dois minotauros. 
                    O ranger então desceu e resolveu seguir rua à 
                    frente. Encontrou a interseção com a via mais 
                    larga que procuraram, porém no trecho a sua esquerda, 
                    na direção do castelo Maerimydra, existia, ao 
                    longe, um posto de observação dos Aercelt. Podia 
                    ver drows em sentinelas. Após o reconhecimento do terreno, 
                    voltou para os colegas, que já o aguardavam ansiosos.
 
 “E então? 
                    O que descobriu?”, perguntou Arthos.
 “Estamos entre o 
                    fogo e a caldeira. A direita existe um acampamento dos escravos 
                    e mais adiante, na saída para a rua principal, um posto 
                    dos Aercelt.”
 “Podíamos 
                    atacar o acampamento e correr em direção do 
                    posto. Estamos vestidos como os Aercelt. Eles nos darão 
                    passagem e cobertura contra os perseguidores.”, sugeriu 
                    Arthos.
 “Não creio 
                    que seria prudente. Ainda que os Aercelt lutem em nossa defesa, 
                    podem nos deter por iniciar uma batalha não autorizada.”, 
                    colocou Kariel.
 “E acredito que 
                    um ataque a este acampamento não seria ofensa suficiente 
                    para iniciar um conflito generalizado. É preciso algo 
                    mais pessoal!”, disse Danicus.
 “Atacar diretamente 
                    os líderes dos escravos na arena? Os gigantes?”, 
                    questionou Sirius.
 “Sim. Atacar as 
                    lideranças em seu próprio território 
                    seria um ato de ousadia suficiente para insuflar o ódio 
                    entre eles.”, respondeu o professor Harpista.
 “Mas a arena está 
                    ainda distante daqui e o caminho está bastante vigiado, 
                    ao que parece.”, observou Limiekki.
 “Podemos alcançar 
                    a arena através de magia. Eu posso levar três 
                    comigo até lá!”, colocou Kariel.
 “Podemos nos dividir 
                    em dois grupos: um poderá atacar a arena e outro este 
                    acampamento. Fugiríamos através de meios mágicos.”, 
                    falou Danicus, que também possuía habilidades 
                    de arcano.
 “Sim. Posso mascarar 
                    a nossa fuga com uma ilusão que nos mostre retornando 
                    ao território dos Aercelt.”, complementou Kariel.
 “Parece que temos 
                    um plano, então.”, concluiu Mikhail. “Precisamos 
                    saber quais serão os grupos da arena e do acampamento.”
 “A invasão 
                    da arena me parece a missão de maior risco e na qual 
                    precisaremos de força e também de sutileza. 
                    Acho que Torrellan, Narcélia, Dariel e eu poderíamos 
                    ir até lá. Glemoran e Zoreg podem ficar e providenciar 
                    o ataque ao acampamento.”, disse Kariel, se referindo 
                    aos companheiros pelos seus codinomes drows.
 
 Ponderaram e concordaram 
                    com a divisão e o plano estava traçado. Começaram 
                    então a acertar alguns detalhes. Kariel conjurou um 
                    encanto, permitindo que os companheiros, mesmo aqueles que 
                    estivessem à distância, pudessem conversar com 
                    ele. Era através deste sortilégio que daria 
                    o comando para Zoreg e Danicus atacarem o acampamento. Depois 
                    da fuga, que seria realizada através de magia, se reuniriam 
                    no mesmo ponto onde havia encontrado o drow Non. Últimos 
                    detalhes acertados, Kariel fixou o seu olhar para o alto da 
                    arena, o alto prédio circular o qual que se podia ver 
                    ao longe, e executou um sortilégio, gesticulando e 
                    pronunciando palavras arcanas. Assim que terminou, tocou Arthos, 
                    Mikhail e Limiekki e os quatro desapareceram.
 Na Arena dos Gigantes       A 
                    arena de Maerimydra era um gigantesco anfiteatro circular, 
                    feito em rocha negra. Cobrindo a fileira mais alta de suas 
                    arquibancadas, havia uma laje de pedra e foi sobre ela que 
                    apareceram os quatro intrusos. Não estavam, porém, 
                    sozinhos. Surgiram bem próximos a dois bugbears, que, 
                    felizmente para os heróis, estavam de costas. Os dois 
                    vigias não tiveram tempo de reação: Arthos 
                    e Limiekki os atacaram com velocidade e suas lâminas 
                    traspassaram o corpo dos monstros, sem que houvesse a oportunidade 
                    de uma reação, ou de alarde. Os três então 
                    se deitaram ao solo, para não se exporem em demasia. 
                    Observaram que, no mesmo nível onde se encontravam, 
                    haviam mais guardas, porém estes estavam distantes. 
                    Arrastaram-se em direção a borda interna. Ao 
                    colocarem as cabeças, enxergaram o centro da arena. 
                    Havia lá diversos bugbears e minotauros. Porém, 
                    o que mais chamava-lhes a atenção eram os ocupantes 
                    dos lugares de duas enormes mesas que estavam instaladas no 
                    centro do tablado ovalado. Eram dois gigantes do fogo, que 
                    se banqueteavam com um grande pedaço de carne e bebiam 
                    em barris. Deviam ter cerca de três metros e meio de 
                    altura. Os dois ostentavam grandes barbas e cabelos, de fios 
                    grossos e arredios, vermelhos como brasas, e um deles usava 
                    um grande medalhão, com o símbolo contendo três 
                    relâmpagos de Talos, Deus das Tempestades.
 “Wudo 
                    e Drull, suponho.”, disse Limiekki.
 “Vamos 
                    descer para atacá-los!”
 “Não 
                    Arthos! Um golpe de um deles iria arremessá-lo para 
                    longe, fora os dezenas de asseclas que eles controlam. Devemos 
                    executar um ataque rápido e poderoso daqui mesmo, e 
                    fugir antes que nos peguem!”, colocou Kariel.
 “É... 
                    temos que aproveitar a furtividade!”, concordou Limiekki.
 “Bem... 
                    talvez seja tarde demais para isto!”, disse Mikhail 
                    apontando para um dos guardas bugbears, que havia acabado 
                    de avistá-lo e que gesticulava, chamando mais de seus 
                    colegas para confrontar aqueles intrusos. Haveria agora poucos 
                    minutos até todos perceberem a invasão.
 “Danicus, 
                    Sirius! A batalha começou!”, sussurrou Kariel, 
                    sabendo que suas palavras chegariam aos ouvidos dos distantes 
                    amigos, iniciando o ataque simultâneo.
 
 Os 
                    heróis então atacaram os gigantes enquanto podiam. 
                    Limiekki e Arthos sacaram arco e uma besta, em seguida prepararam 
                    as flechas e os virotes, e atiraram. As setas voaram velozes 
                    e uma delas atingiu de raspão o braço de Wudo, 
                    que olhou para o alto, buscando os inimigos. O que viram foi 
                    um raio de eletricidade, que partiu das mãos de Kariel, 
                    atingindo violentamente Drull, que caiu de sua cadeira ao 
                    solo, cabelos e barbas fumegando. Mikhail também atacou, 
                    mas resolveu ter como alvo os bugbears que se aproximavam. 
                    Vinham, correndo pelo anel superior, quatro destes monstros, 
                    dois pela esquerda, dois pela direita. Mikhail gesticulou 
                    e pronunciou uma prece a Deusa da Magia e, assim, um jato 
                    de fogo surgiu, partindo do piso, envolvendo os dois que corriam 
                    à esquerda. Envoltos pela repentina e poderosa chama, 
                    tombaram, vítima do intenso calor.
 
 Na 
                    arena, os gigantes estavam de pé agora, e pareciam 
                    extremamente furiosos. Sacaram suas espadas, também 
                    gigantescas, e deram ordens aos seus comandados, a fim de 
                    eliminarem os intrusos. Wudo, também um sacerdote de 
                    Talos, chamou pelo seu deus, gesticulou e realizou um encanto, 
                    apontando para a localização dos invasores. 
                    Um fogo, semelhante ao invocado por Mikhail momentos atrás, 
                    surgiu entre os aventureiros. Apesar da proteção 
                    de suas armaduras e de alguns itens mágicos que carregavam, 
                    ainda sofreram queimaduras e sentiram dor. Entre os heróis, 
                    Limiekki era que parecia mais seriamente ferido. Em sua pele 
                    escura de drow, podiam-se ver manchas vermelhas de sangue 
                    e bolhas. Mas não havia tempo para lamentar. Os dois 
                    bugbears, que corriam para interceptar aquele grupo da Comitiva 
                    da Fé, haviam finalmente chegado.
 
 Arthos 
                    e Limiekki puseram-se de pé para confrontar os guardas, 
                    enquanto Kariel preparava uma conjuração, sendo 
                    protegido por Mikhail. O tempo era precioso e tinham que fugir, 
                    antes que todo o exército dos escravos estivesse ali. 
                    Arthos, sabre em riste, em velozes golpes, cortou o couro 
                    peludo do adversário. Tentou acerta-lhe o pescoço, 
                    mas encontrou a armadura de couro que o monstro usava para 
                    impedir seu intuito. O adversário revidou. Arthos chegou 
                    a esquivar, porém alguns dos cravos da maça-estrela 
                    usada pelo bugbear chegaram a raspar seu ombro, rasgando-lhe 
                    as vestes. Limiekki tentou um golpe, mas este passou em branco. 
                    O ranger não coordenava bem as suas ações 
                    e talvez por isto tivesse errado. O bugbear que o combatia 
                    não errou. Desferiu um poderoso golpe com a maça 
                    que explodiu no tórax de Limiekki, e este tombou, desacordado 
                    e moribundo.
 
 Arthos 
                    viu a grave situação do amigo e decidiu que 
                    abandonaria o combate para retirá-lo da zona de perigo. 
                    Mas, antes que executasse qualquer ação, o espadachim 
                    sofreu os efeitos de outro do nefasto encanto de Wudo. Um 
                    novo jato de chamas surgiu do piso, envolvendo-o e ao bugbear. 
                    O herói sofreu queimaduras, mas conseguiu desviar-se 
                    a tempo, saindo-se com uma acrobacia, antes de sofrer uma 
                    injúria mais grave. Já o bugbear caiu morto, 
                    vítima das chamas. Ainda conseguiu Arthos, no final 
                    de seu movimento, desferir um golpe no peito do inimigo que 
                    erguia a maça, para esfacelar o crânio do desacordado 
                    Limiekki. Conseguiu Arthos perfurar o coração 
                    do monstruoso homem fera. Nesta hora, aproximou-se Mikhail. 
                    O clérigo de Mystra usaria suas preces curativas fechar 
                    as feridas dos colegas e trazer Limiekki de volta á 
                    consciência.
 
 Um 
                    pouco mais afastado, Kariel conjurou o encanto de ilusão. 
                    Programou o mago uma imagem que mostraria um portal sendo 
                    aberto e dele saindo os seis drows, que correriam até 
                    sumir de vista, em direção ao território 
                    da casa Aercelt. O encanto agiria em poucos instantes, e por 
                    isto, deveriam logo sair daquele lugar. Além de estratégica, 
                    esta seria uma sábia decisão: subindo no anel 
                    superior, já se podiam ver dezenas de bugbears e alguns 
                    minotauros.
 
 Mikhail 
                    espalmou suas mãos sobre o desacordado e ferido Limiekki 
                    e recitou uma prece. Uma luminosidade branca agiu por um segundo, 
                    algumas das feridas se fecharam e os olhos do ranger se abriram. 
                    Rapidamente, juntou-se a ele, Kariel. O mago executou um novo 
                    encanto. Mirou com os olhos, aproveitando-se da altura da 
                    imponente arena, uma rua distante, próxima ao ponto 
                    de encontro, e tocou os companheiros. Assim, desapareceram 
                    todos, bem no momento em que dezenas de inimigos se aproximavam. 
                    Dos invasores, restou apenas sangue e uma mascará púrpura, 
                    símbolo do deus drow Vhaeraun, adorado pela Casa Aercelt.
 Acampamento Atacado       Kariel, 
                    Arthos, Limiekki e Mikahil haviam partido. Agora a missão 
                    cabia ao guerreiro Sirius e ao professor Danicus. Era uma 
                    missão relativamente mais simples. Atacar e correr. 
                    Sirius já possuía larga experiência em 
                    combates, dos mais variados tipos e contra as mais diversas 
                    criaturas, graças a sua presença no grupo de 
                    aventureiros da Comitiva da Fé. Porém, para 
                    o professor Danicus, isto era uma grande e maravilhosa novidade. 
                    Sempre ouviu histórias de batalhas, missões 
                    ousadas e de heróis, mas o caminho que havia escolhido 
                    era o da mente e não do físico. Tinha se tornado 
                    um acadêmico, mas admirava àqueles que se arriscavam 
                    em batalha. Agora era um deles.
 Sirius 
                    e Danicus então procuraram um lugar mais adequado para 
                    visualizar o acampamento e promover o ataque. O alto de um 
                    dos edifícios arruinados foi o ponto sugerido por Sirius. 
                    Fizeram uma escalada pelos escombros e observaram entre uma 
                    janela que se abria para o terreno ocupado pelo inimigo. Viram 
                    sentinelas bugbears espalhados e no centro de uma área, 
                    quase sem edificações, havia uma tenda negra 
                    e uma fogueira, em volta da qual alguns minotauros e outros 
                    bugbears se reuniam.
 
 “E 
                    agora? O que faremos?”, perguntou Sirius.
 “Acredito 
                    que devamos atacar daqui mesmo. Temos que aguardar o sinal 
                    do seu amigo mago.”
 
 Sirius 
                    retirou o arco e a aljava das costas e preparou uma seta. 
                    Fez mira em um dos minotauros, que estava assando algo no 
                    fogo, a cerca de trinta metros de distância. Passaram-se 
                    dois minutos, quando ouviram ecoar na mente:
 
 “Danicus, 
                    Sirius! A batalha começou!”
 
 Era 
                    o sinal de Kariel. Sirius então disparou duas setas, 
                    que cravaram no peito peludo do homem touro. Danicus gesticulou 
                    e de suas mãos partiram cinco projéteis de energia 
                    mística, que explodiram em alguns bugbears, próximos 
                    ao minotauro ferido. Um deles chegou mesmo a cair sobre a 
                    fogueira, desequilibrado pelo inesperado ataque mágico. 
                    Por alguns momentos, os inimigos ergueram-se e olharam apressados 
                    em volta. Porém um deles, um minotauro, havia notado 
                    a direção de onde vieram os projéteis 
                    brilhantes de energia. Apontou para onde estavam Danicus e 
                    Sirius e urrou.
 
 Os 
                    dois então deixaram seu esconderijo e correram, desenfreadamente, 
                    rumo a rua. Ouviam os passos e os gritos ao fundo. Um bugbear, 
                    que estava mais adiantado e servia como guarda do acampamento, 
                    passou a persegui-los. Sirius virou-se e disparou duas setas 
                    certeiras contra sua perna esquerda. Manco, o adversário 
                    ficou para trás, mas em breve haveria outros. Já 
                    estavam bem próximos da conexão com a estrada 
                    maior, que ligava os territórios dos Aercelts e dos 
                    escravos. Podiam ao longe ouvir ruídos de combate ecoarem.
 
 “E agora... precisamos fugir! Os inimigos já 
                    vão entrar na rua e nos ver!”
 “Deixe comigo, jovem!”
 
 Danicus 
                    gesticulou e tocou o colega e após recitar algumas 
                    palavras, desapareceu com ele. Os minotauros e bugbears chegaram 
                    logo em seguida e prosseguiram a procura dos atacantes. Saíram 
                    da pequena rua e entraram na estrada, ao tempo de ver, mais 
                    ao longe, nas proximidades do território dos Aercelt, 
                    um portal se abrir, e seis drows , frutos do feitiço 
                    de ilusão conjurado por Kariel, surgirem para perderem-se 
                    entre as sombras. Para os escravos, parecia não haver 
                    dúvidas: os Aercelts haviam declarado guerra.
  Retorno 
                    à Nau Voadora       O 
                    grupo que havia realizado a investida contra a Arena, chegou 
                    primeiro ao ponto de encontro, um grupo de ruínas, 
                    relativamente distante das posições inimigas. 
                    Danicus e Sirius chegaram poucos minutos depois. Trocaram 
                    informações sobre as missões e resolveram 
                    retornar a nau voadora. Kariel, Arthos e principalmente Limiekki, 
                    estavam feridos e precisavam descansar e serem curados. Havia 
                    também a questão do encanto de disfarce, que 
                    lhes dava a aparência de drows, cuja duração 
                    estava próxima de expirar. Então, trocaram as 
                    vestes dos Aercelt pelas dos Millithor e partiram para o platô 
                    escuro onde a nau se ocultava.
 Levaram 
                    cerca de trinta minutos. Felizmente não haviam encontrado 
                    patrulhas ou qualquer outro tipo de movimentação 
                    pelo caminho. Kariel repetiu então o chamado para Storm 
                    e a barda Escolhida de Mystra, fez descer o barco da escuridão 
                    do teto da enorme caverna. Desta vez, subiram os seis. Cumprimentaram 
                    os amigos, mas deixaram os relatos para depois. A primeira 
                    providência a tomar era curar os feridos. Tal tarefa 
                    ficava a cargo dos poderes divinos de Mikhail. O clérigo 
                    recitou suas preces e, como fizera com Limiekki, minutos atrás, 
                    fechou as feridas dos companheiros, que restauraram sua saúde 
                    e vigor novamente.
 
 Após 
                    Mikhail ministrar as curas, Storm pediu para Kariel fizesse 
                    um resumo dos acontecimentos envolvendo a missão dada 
                    pelos drows de Lolth. O elfo então contou sobre os 
                    ataques executados que, acreditava, terem sido convincentes 
                    para o propósito do plano arquitetado pelos D’Vaer.
 
 “Ao 
                    que parece, tiveram sucesso em sua missão. Vamos nos 
                    preparar para fazer uma visita a esta Ilivarra amanhã! 
                    Eu e Magnus iremos com vocês.”, disse a mulher 
                    de cabelos prateados.
 “Storm. 
                    Além de irmos com este plano, acho que devíamos 
                    jogar como agentes duplos, incitando as casas uma contra as 
                    outras. Podíamos aproveitar a confusão que irá 
                    se formar para invadir o castelo Maerimydra!”, sugeriu 
                    Arthos.
 “Acho 
                    prudente seguir o plano dos D’Vaer. Se eles conseguirem 
                    dominar a Casa Aercelt, teremos acesso ao castelo e poderemos 
                    encontrar o portal com maior tranqüilidade!”
 “Acredito 
                    que Kariel tem razão, por enquanto. Não devemos 
                    levantar suspeitas. Uma atitude precipitada poderá 
                    por tudo a perder. Em primeiro lugar, temos que saber se o 
                    plano dos D’Vaer surtiu efeito e o que a matrona deles 
                    tem a nos oferecer e depois avaliaremos nossas alternativas. 
                    Sugiro que descansem e façam os preparativos que julgarem 
                    necessários para amanhã.”, Storm colocou, 
                    assim, um ponto final na discussão.
 
 A 
                    palavra ‘amanhã’ dita por Storm começava 
                    a perder um pouco o sentido na mente dos aventureiros. No 
                    Subterrâneo não havia luz do sol e logo não 
                    existia uma contagem natural para os dias. Apegavam-se a noções 
                    de tempo e aos seus relógios biológicos para 
                    fazer tais distinções. Sentiam grandemente, 
                    em especial os elfos e Limiekki, a falta do sol, do ar fresco 
                    e do verde das árvores. O efeito do encanto de disfarce 
                    havia se dispersado, pelo final de seu tempo de duração. 
                    Eram de novo quem realmente eram e isto os deixavam felizes, 
                    em especial Mikhail, que estava desconfortável naquele 
                    corpo feminino. Os aventureiros então ficaram na cabine, 
                    para conversar com os amigos que deixaram na embarcação, 
                    ou para realizar atividades mais pessoais, como a de Kariel, 
                    que registrava as aventuras de seus dias em um diário 
                    que sempre carregava. Entre os que conversavam, estava Arthos. 
                    O curioso espadachim lembrou-se de algo e resolveu ir até 
                    o condutor evereskano, Arnilan Beldusyr.
 
 “Salve, 
                    Arnilan... gostaria de saber se poderia me fornecer mais algumas 
                    orientações sobre a pilotagem desta nau.”
 “Porque 
                    eu faria isto?”, respondeu secamente o elfo de cabelos 
                    dourados. Havia um ódio no olhar do piloto, que Arthos 
                    não havia percebido antes.
 “Precisamos 
                    ter outra pessoa com o conhecimento necessário para 
                    navegar este barco, na possibilidade de haver algum problema 
                    que o impeça de fazê-lo.”, justificou o 
                    ruivo humano.
 “Descobri 
                    que se chama Arthos Fogo Negro. Estou certo, não?!”
 “Sim! 
                    Este é meu nome! Porquê?”
 “Tentou 
                    vender os segredos do mythal sagrado de Evereska! Minha família, 
                    minha nação... tudo que zelo e amo estão 
                    naquela cidade e você pôs tudo em risco por causa 
                    de seus desejos egoístas. Somente não tomo uma 
                    atitude mais drástica por conta do respeito que tenho 
                    à senhora Storm, aos seus colegas e por conta de tudo 
                    de que depende o sucesso de nossa missão. Não 
                    me peça para lhe ensinar nada. Saiba que a partir de 
                    agora, eu apenas o tolero!”
 “Fui 
                    julgado pelos seus Anciões e tive minha pena. Espero 
                    que seja menos arrogante quando eu tiver que salvar a sua 
                    vida!”, respondeu Arthos, em tom grave.
 “Se 
                    ocorrer esta situação, por favor, não 
                    o faça! Prefiro morrer a ser salvo por você!”
 
 Neste 
                    momento, ouvindo os ânimos se exaltarem, aproximam-se 
                    Mikhail, Limiekki e Kariel. Foi o último a intervir. 
                    O mago se postou entre os dois e disse:
 
 “Por 
                    favor, parem! Espero que deixem suas diferenças de 
                    lado! Vamos precisar da colaboração dos dois.”
 “Eu 
                    estou prestando minha colaboração, mas não 
                    vou ensiná-lo!”, falou Arnilan, visivelmente 
                    irritado.
 “Então 
                    pode arrumar outra pessoa para ensinar. Estou cansado desta 
                    arrogância dos elfos!”, esbravejou Arthos.
 “Ofender 
                    nossa raça não irá ajudar!”, condoeu-se 
                    Mikhail, elfo dourado.
 “Não 
                    me referia a você ou Kariel. Vocês são 
                    exceções.”, justificou o espadachim.       “Essa 
                    viagem será mais longa do que eu pensei!”, finalizou, 
                    deixando a cabine em direção ao convés, 
                    onde estava o restante dos aventureiros.
 
 Kariel, 
                    Arthos e Limiekki então voltaram para os seus lugares, 
                    onde continuaram uma conversa em voz baixa.
 
 “Mikhail... 
                    em uma coisa Arthos tem razão: precisamos de outro 
                    piloto para a nau. Se algo acontecer a Arnilan ficaremos presos 
                    no Subterrâneo. Você é evereskano e um 
                    elfo. Talvez seja o mais indicado para aprender!”, ponderou 
                    o mago de cabelos azuis.
 “Disto 
                    eu não sei, Kariel, mas posso tentar!”, respondeu 
                    o loiro elfo, sacerdote da deusa Mystra.
 “Tem 
                    outra coisa que Arthos tinha razão...”, acrescentou 
                    Limiekki, “...essa vai ser uma longa viagem. Me sinto 
                    oprimido neste lugar escuro, sem ver uma árvore, um 
                    pássaro! Imagine que vocês sentem o mesmo!”
 “Sim. 
                    Agora imagino o tamanho do castigo dado por Corellon aos drows!”, 
                    falou Kariel, relembrando-se do mito de seu povo que dizia 
                    que Corellon, senhor dos deuses élficos, havia expulsado 
                    a deusa traidora Lolth e seus seguidores para as entranhas 
                    da terra.
 “Pois 
                    é, amigos... será realmente uma longa viagem 
                    para todos nós!”, comentou um tanto melancólico, 
                    Mikhail.
 
 Enquanto 
                    as areias do tempo caiam, os membros da expedição 
                    ocuparam-se de maneiras diversas. Arthos resolveu secar uma 
                    grande garrafa de vinho, Bingo ensinava a Limiekki o segredo 
                    de abrir fechaduras usando pequeninas ferramentas, Sirius 
                    e Danicus falavam a Magnus, Klerf e Storm suas impressões 
                    do Subterrâneo, enquanto Kariel e Mikhail liam, respectivamente, 
                    um grimório e um livro de preces divinas. Já 
                    Arnilan, permanecia sentado na poltrona de controle, muito 
                    mais sério e calado do que de costume. Por fim, um 
                    a um adormeceram, preparando seus corpos para os desafios 
                    do novo dia.
 Um Banquete na 
                    Casa D’Vaer       Doze 
                    horas depois de chegarem à nau, os aventureiros estavam 
                    de pé novamente no convés. A exceção 
                    de Arthos, que sentia uma dor de cabeça persistente 
                    por conta da bebida, todos pareciam bem dispostos. O grupo 
                    iria novamente até o refúgio dos D’Vaer, 
                    com o acréscimo de Storm e Magnus, ou melhor, da matrona 
                    da Casa Millithor Ki’ Wyllis e do mestre das armas Marckarius. 
                    Arnilan, Bingo e Klerf permaneceriam na nau.
 Kariel e Storm executaram 
                    novamente o engenhoso feitiço de disfarce e agora eram 
                    novamente drows. A nau desceu do alto e os aventureiros tocaram 
                    mais uma vez o piso negro da cidade de Maerymidra. Percorreram, 
                    então, o mesmo caminho que Non os havia mostrado. Levaram 
                    cerca de vinte e cinco minutos até a muralha que protegia 
                    aquele feudo. Ao aproximarem-se, foram logo notados por dois 
                    sentinelas, que vieram averiguar a identidade dos recém 
                    chegados. Informações checadas, foram guiados 
                    para o palácio e para a Câmara Real. Logo, estavam 
                    diante da matrona Ilivarra D’Vaer e de Non, com os quais 
                    trocaram respeitosas saudações. Em seguida Limiekki 
                    devolveu as vestes dos Aercelts, usadas no ataque.
 
 “Salve, senhora 
                    Ilivarra, matrona dos D’Vaer! Sou Ki´Willis, matrona 
                    da casa Millithor e este é Marckarius, nosso mestre 
                    de armas.”, disse fazendo as apresentações. 
                          “Os demais, já 
                    deve conhecer. O ataque sugerido foi realizado com sucesso.”
 “Fico contente que 
                    tenha vindo, senhora Ki´Willis!”, respondeu a 
                    drow. “Os drows de sua Casa são fortes e executaram 
                    uma audaciosa missão. Gostaria de oferecer-lhes um 
                    banquete, em homenagem a vocês. Nele poderemos conversar 
                    um pouco mais. Terão acomodações se aceitarem 
                    ser nossos hóspedes.”
 “Será um 
                    prazer, Ilivarra!”, aceitou Storm.
 “Ótimo. Non 
                    irá conduzi-los. Fiquem a vontade para conhecerem o 
                    castelo!”
 
 Fizeram uma vênia 
                    em agradecimento e deixaram o salão. Desceram então 
                    a escada helicoidal de pedra, e percorreram o segundo andar 
                    do edifício. Storm e Magnus observavam com atenção 
                    o ambiente exótico onde estavam. O professor Danicus 
                    já conhecia o castelo, mas sua extrema curiosidade 
                    o fazia verificar minuciosamente com os olhos todos os detalhes 
                    que eram possíveis de perceber. Arthos aproximou-se 
                    de Non, para fazer algumas perguntas.
 
 “Non... poderia 
                    dizer-me algo sobre Casa Oorthagus?”
 “São adoradores 
                    de Gaunadaur! Dizem que foram eles que fundaram a cidade, 
                    há muitos séculos atrás. As histórias 
                    contam que chegaram nesta câmara e, junto com alguns 
                    escravos e monstros, criaram uma comunidade. Depois vieram 
                    outros, vindos de algumas cidades antigas que foram abandonadas 
                    e construíram aqui suas casas. Sempre houve atritos 
                    por conta da diversidade de crenças, mas a religião 
                    de Lolth se impôs, até o momento em que a deusa 
                    parou de atender nossas preces, e a guerra civil começou.”
 “E esta Casa Oorthagus? 
                    Qual é a posição dela no momento?”, 
                    continuou Arthos.
 “È difícil 
                    saber. Eles são meticulosos e difíceis de espionar, 
                    mas existem rumores que podem unirem-se a casa Aercelt. Os 
                    seguidores das duas casas não tem muitos atritos entre 
                    si e ambos odeiam Lolth. O território deles fica ao 
                    Norte.”
 “Existe alguma notícia 
                    sobre os resultados do nosso ataque?”, perguntou Kariel, 
                    desta vez.
 “Ainda não, 
                    mas pode ser que tenhamos novidades em breve sobre isto.”
 
 Continuaram a andar pelo 
                    castelo, onde viram por entre portas abertas e entreabertas, 
                    salas de treinamento, alojamentos e mesmo algo que parecia 
                    ser um cômodo amplo dedicado às crianças. 
                    Foi o único lugar onde as viram. Encontraram pelo caminho 
                    um drow, com vestes de mago, que observava a passagem dos 
                    forasteiros. Olhou atentamente para Kariel e o mago da Comitiva 
                    fez o mesmo. Era o mesmo que acompanhou Ilivarra na primeira 
                    vez em que encontraram a matrona drow. O elfo sentiu em seu 
                    íntimo a estranha convicção de que aquele 
                    arcano era poderoso e que foi ele a tentar verificar sua mente, 
                    dias atrás.
 
 Adentraram, por fim, um 
                    grande salão de jantar, com algumas dezenas drows sentados. 
                    Havia nele algumas mesas pequenas e uma maior, onde estavam 
                    reservadas cadeiras para os Millithor, voltadas para outras 
                    cadeiras, uma delas de alto espaldar. Já sabiam quem 
                    sentaria nela.
 
 A matrona Ilivarra D’Vaer 
                    entrou no salão e todos se levantaram em sinal de respeito. 
                    Em seguida, a drow se acomodou à frente da Comitiva 
                    e próximo a Non. Trazia consigo um forte guerreiro 
                    e o mago, que momentos atrás havia fitado os olhos 
                    de Kariel.
 
 “Senhora Ki´Willis... 
                    estes são Vorn, o nosso Mestre de Armas e Jyslin, o 
                    Mago da Casa. Poderiam nos dizer como foi a operação 
                    contra nossos inimigos?”
 “Fizemos exatamente 
                    como sugeriu. Atacamos os escravos e seus líderes. 
                    Pela maneira como reagiram, acredito que neste momento estejam 
                    planejando uma retaliação contra a Casa Aercelt.”, 
                    respondeu Storm.
 “Neste caso, sugiro 
                    que esperemos os desdobramentos, para saber que vantagens 
                    poderemos obter do conflito.”, colocou Ilivarra.
 “Nós, da 
                    Casa Millithor, podemos ainda colaborar, mas gostaríamos 
                    de saber o que têm a nos oferecer.”
 “Senhora Ki´Willis... 
                    se tudo ocorrer bem, planejamos executar um ataque maciço 
                    à Casa Aercelt. Ele estarão debilitados devido 
                    ao confronto com os escravos e poderemos infiltrar um grupo 
                    para tomar o castelo Maerimydra de assalto. E o que houver 
                    por lá, que por ventura desejem, poderão procurar 
                    e levarem para si, sem oposição, desde que nos 
                    auxiliem. Assim atingiríamos ambos nossos objetivos.”
 “Se nos concederem 
                    acesso ao castelo, cooperaremos.”
 “Então temos 
                    um acordo!”, disse Ilivarra, sorrindo. “Aproveitem 
                    então o jantar!”
 
 Serviçais entraram 
                    com bandejas e pratos. As iguarias servidas não eram 
                    de agrado da Comitiva: fungos, carne de lagartos e outras 
                    criaturas. Porém comeram, sem levantarem suspeitas. 
                    Após a refeição, Non convidou os Millithor 
                    para irem a outra sala. Storm, no entanto, permaneceu sentada 
                    conversando com a matrona drow. No novo ambiente, anexo ao 
                    grande salão, haviam várias almofadas no chão 
                    e, ao centro, um grupo musical tocava, em estranhas harpas 
                    e instrumentos de cordas, uma exótica e melancólica 
                    melodia. Uma hora depois, Storm entrou na sala, sozinha, e 
                    aproximou-se da Comitiva.
 
 “Chegaram notícias 
                    recentes sobre pesados conflitos entre os Aercelt e os escravos. 
                    Em face disto, a matrona Ilivarra irá preparar seus 
                    exércitos para um ataque amanhã. Nos ofereceu 
                    acomodação, mas acredito que devemos voltar 
                    para nossos próprios preparativos!”, comunicou 
                    Storm.
 “Sim, senhora!”, 
                    responderam os aventureiros, emulando a obediência dos 
                    drows às suas líderes.
 
 Deixaram então 
                    a sala de música, retornaram ao salão de jantar 
                    e despediram-se da matrona Ilivarra, do guerreiro Vorn e do 
                    mago Jyslin. Non então os acompanhou novamente para 
                    fora do castelo e das muralhas. Despediu-se então dos 
                    Millithor. Porém, o drow de maneiras sutis, neste momento, 
                    colocou sorrateiramente um papel em um dos bolsos do traje 
                    de Kariel, sem que o mago o percebesse.
 
 Em seguida a Comitiva 
                    partiu, em retorno a nau, carregando sem saber uma misteriosa 
                    mensagem.
 
 
 
 |