| Na Arena de Lolth Descrita 
                        por Ricardo Costa.Baseada no jogo mestrado por Ricardo 
                        Costa.
  Personagens
                            principais da aventura: 
 Os 
                        Humanos: Arthos Fogo Negro;Magnus de Helm; Sigel O'Blound 
                        (Limiekki); Danicus Gaundeford; Klerf Maunader. Os 
                        Elfos: Mikhail Velian; Kariel Elkandor. O Grimlock: 
                        Loft Moft Toft Iskapoft. O Halfling: Bingo 
                        Playamundo.
 
 
  
  Na Arena de Lolth
 Preparativos 
                        para a Missão       A arena estava lotada. Os drows  vibravam ao assistir o desfile de guerreiros e feras, pertencentes a todas as  Casas de T´lindeth. Apenas os aventureiros viam tal demonstração de força com grande  apreensão, sentimento ocultado da melhor maneira possível, para não levantar  suspeitas.
 O  grupo de heróis disfarçados da Comitiva não estava reunido. Na arquibancada, na  companhia do capitão drow da Casa Zaundar, Triss´nolu, agora estavam Magnus, Klerf,  Limiekki e Kariel. Em uma tribuna de honra, sentava-se Mikhail, em seu disfarce  de sacerdotisa drow, ao lado de Telabrina Zaundar e de outras clérigas de Lolth  integrantes das Casas de prestígio da cidade. No subsolo, em uma sala destinada  à preparação dos combatentes, aguardava, ansioso, o espadachim Arthos Fogo  Negro, o momento de entrar na arena. O professor Danicus e o pequeno Bingo  estavam a poucos quilômetros dali, em um quarto da Casa Zaundar.
 
 Enquanto  observavam a cerimônia dos jogos, por vezes, os aventureiros da Comitiva  na  arquibancada olhavam a multidão ao  redor. Seus olhos buscavam a drow do Fogo Lunar chamada Sérnia, ou alguém  enviado em seu nome. Havia uma missão a ser levada adiante e ela teria que  contatá-los. O desfile encerrou-se e um arauto pôs-se no centro da arena.  Anunciou a programação dos jogos. Os espadachins abririam o programa. Arthos  lutaria com alguém chamado Saerloc Maet´tar e havia um menzoberranir chamado Ankros  Barrison Del Armgo que enfrentaria um oponente local de nome Sess Do’ghym em  uma outra chave da competição. Era um torneio curto e os vencedores dos  combates se enfrentariam na grande final.
 
 O drow de Menzoberrazan então foi anunciado  e entrou na arena. Não houve vaias nem aplausos. Em seguida, entrou o  competidor local, saudado efusivamente pelos integrantes de sua Casa. Um juiz  disse-lhes as regras: não podiam receber nenhuma ajuda externa e nem conjurar  magias. Caso isto fosse feito, o infrator seria desclassificado e condenado à  morte. Um corpo de magos estava ao redor da arena para certificar que nenhuma  fraude fosse permitida. Então os dois sacaram os sabres e o combate começou. O  inicio foi equilibrado, com golpes sendo trocados e defendidos igualmente, mas  após poucos minutos, o menzoberranir mostrou sua superioridade. Com habilidade,  encurralava o oponente e, em um golpe rápido, o desarmou, para atingir-lhe o  coração. O drow da Casa Do’ghym caiu morto e o vencedor aplaudido. O corpo do  derrotado, sem cerimônias, foi jogado em um carrinho de madeira e removido da  arena, quando o próximo combate foi anunciado: Torrellan Millithor, também de  Menzoberrazan, e Saerloc Maet´tar, considerado o campeão daquela cidade.
 
 Arthos  ajeitou o chapéu de abas largas, subiu as escadas que o levava do subsolo à  arena e ouviu, impressionado, o ruído que fazia a multidão. Um frio percorreu  seu corpo e suas mãos gelaram por alguns segundos, enquanto caminhava para o centro  da arena. Seu oponente, um drow esguio de cabelos curtos, chegou quase que ao  mesmo tempo. Ouviram as regras e sacaram suas armas. O inimigo disse-lhe,  então.
 
 “Se implorar por sua vida, estrangeiro,  talvez eu a poupe e lhe faça de escravo!”
 “Quando acabar a luta, você verá que não  serei eu a implorar!”, respondeu Arthos, com um sorriso no rosto.
 
 Logo  as lâminas de aço começaram a se cruzar. Arthos começou defendendo-se de golpes  rápidos, desferidos pelo adversário, que pretendia terminar logo a luta. Mas o  aventureiro da Comitiva era ágil e se esquivava com graça surpreendente e, para  ódio do adversário, permanecia sorrindo. Arthos recebeu alguns golpes, sem que  chegassem a penetrar na sua armadura, então começou a devolvê-los. O drow  encurralado então foi castigado, como nunca pensou ser. Em um golpe, quase  fatal, o inimigo caiu de joelhos, deixando sua espada ao solo.
 
 “E então? Irei poupá-lo. Não será  necessário implorar.”, disse Arthos.
 
 O drow então puxou, sabe-se de onde, um  punhal, mas ao invés de atacar Arthos,   atingiu a si próprio. Era orgulhoso demais para conviver com aquela  derrota. Arthos então foi ovacionado e reconduzido, triunfante, ao subsolo.  Teria algum tempo para se recuperar da luta, antes de enfrentar o seu opositor  final.
 
 Na  arquibancada, um serviçal, um homem carregando uma bandeja, passou a frente de  Limiekki e ofereceu-lhe uma bebida. O mateiro tomou a taça de ferro, mas antes  de sorver o líquido avermelhado, viu que nele boiava um pequeno pedaço de  papel. Ele o retirou disfarçadamente da taça, e abriu, quando ninguém olhava.  Na pequena tira estava escrito em letras miúdas:
 
 “Encontrem-me nos portões da arena. S.”
 Limiekki  voltou-se para os companheiros, dizendo.
 “Senhores. Venham comigo. Vamos checar a segurança de nossa Senhora!”
 “Mas aqui é bastante seguro!”, disse Triss´nolu.  “E vão perder a luta de seu colega!”
 “Eu lamento, mas dever é dever!”,  respondeu Magnus. “Fique atento a todos os lances. Talvez possa nos contar!”.
 “Eu compreendo!”, disse o capitão.  “Beberei por vocês e torcerei para Torrellan vencer e para ganhar umas peças com  isto!”
 “Desejo boa sorte para Torrellan e para  você, então!”, disse o mateiro afastando-se.
 
 Os  quatro aventureiros então percorreram as cadeiras e, em seguida, os corredores  movimentados do estádio. Kariel então perguntou à Limiekki.
 
 “O que há? Recebeu alguma mensagem, não?”
 “Sim. Sérnia irá encontrar-nos nos  portões!”, respondeu o homem
 “Espero que Arthos se saia bem. Aquele tal  Ankros Barrison Del Armgo me pareceu muito bom!”, comentou Klerf.
 “E não poderemos fazer nada por ele. Espero  que Tymora o favoreça!”, desejou o elfo Kariel, rogando à Deusa da Sorte e dos  Aventureiros.
 
 Por  fim, chegaram aos grandes portões gradeados. Do lado de fora, Limiekki  reconheceu a drow dona da taverna Aranha Devoradora e integrante do secreto  Fogo Lunar. Ela estava acompanhada por um humano, bastante idoso, de barbas  brancas. O quarteto da Comitiva então deixou a arena e aproximaram-se dela.  Sérnia então perguntou.
 
 “São somente vocês? Esperava que houvesse  mais.”, comentou a drow.
 “Dois de nós estão na Casa Zaundar. Irão  abrir os portões para os humanos e outros dois  ficarão aqui, dando credibilidade aos nossos  disfarces!”, respondeu Limiekki. “Estes são Kariel, Klerf e Magnus.”.
 “Este é Cintal de Hauruaa! Ele pilotará a  nau durante a fuga. Sigam-me. Vamos conversar em um lugar mais reservado!”
 
 Sérnia  e o idoso Cintal partiram pelas ruas, mais desertas, já que a maioria da  população encontrava-se nos jogos, seguidos pelo quarteto de aventureiros. A  drow aproximou-se de uma casa de madeira negra, muito pequena e com aparência  de abandonada. Destrancou a porta e entrou, junto com seus aliados. Acendeu uma  tocha e a colocou em um suporte, em uma das paredes. Começou, então, a reportar:
 
 “Iremos  enfrentar um grupo da Sociedade Aço e Sombra, uma guilda que fornece proteção à  alguns comerciantes daqui. Segundo informações que colhi, são quatro guerreiros  e dois magos! Iremos nos teleportar para lá. A nau que iremos tomar pertence a  um comerciante de Menzoberranzan e está marcada por este símbolo”, disse,  mostrando um pergaminho com uma runa drow.
 “Porque esta nau, especificamente?”, quis  saber Magnus.
 “É uma nau movida por magia, meu jovem!  Cheguei a pilotar algumas destas em minha juventude. É bem mais rápida do que  aquelas erguida por balões e nos dará vantagem na fuga!”, disse Cintal.
 “Iremos tomá-la e em seguida navegaremos  até a Casa Zaundar. Por uma corda, resgataremos os humanos e fugiremos, antes  que dêem conta da fuga!”, completou Sérnia. “Estão prontos?”
 “E não haverá confronto com os sentinelas  da Casa Zaundar?”, perguntou Limiekki.
 “A guarda de todas as Casas está relaxada.  É proibido qualquer ataque enquanto ocorre os combates do torneio em homenagem  a Lolth, sob pena da Casa agressora ser completamente exterminada pela demais.  Acredito que não teremos problemas. É um momento único que temos que aproveitar!
 “Então vamos, Sérnia!”, disse Magnus,  representando o grupo.
 
 Sérnia  então tomou um pergaminho de uma bolsa leve que carregava. Leu as palavras  arcanas e todos desapareceram da cabana rústica, indo surgir em um espaço bem  maior. Era um galpão retangular e escuro, mesmo para os padrões dos drows. O  teto era vazado, para permitir a passagem de naus voadoras. Havia um corredor  principal e, na esquerda e na direita, paredes dividiam espaços para a guarda  dos transportes. Não viram sinal de inimigos.
 
 Sérnia  sussurrou para os aliados.
 
 “Devemos  procurar os inimigos e eles não podem escapar!”
 “Posso ir invisível”, disse Kariel.  “Localizando os guardas, realizo o primeiro ataque e em seguida vocês  avançam!”.
 “É uma boa idéia!”, respondeu a drow.  “Aguardaremos sua ação! Estejam prontos!”, comandou a rebelde.
 
 Kariel  tocou no elmo élfico encantado e desapareceu.  Bem devagar, foi avançando pelo corredor. À medida que andava, verificava as  grandes baias. Viu que algumas guardavam enormes lagartos quadrúpedes e  carruagens. Em outras havia veículos cobertos por grandes mantas de um tipo de  seda branca e resistente. O mago da Comitiva avançou e deteve-se ao ouvir algum  ruído de vozes. Andou um pouco mais e encontrou quadro drows, que distraídos,  conversavam sobre as chances de seus preferidos durante os jogos em homenagem a  Lolth. Era a oportunidade que esperava. O arcano então repetiu em voz baixa  palavras na língua dos encantamentos e gesticulou. Uma bola de fogo  repentinamente surgiu em suas mãos e foi disparada em direção dos soldados, em  uma explosão. Kariel, cuja invisibilidade desvanecera quando executou o ataque,  escondeu-se. Do fundo do corredor, correram seus aliados, para confrontar o  inimigo já debilitado, mas não neutralizado.
 
 Limiekki e Bingo dispararam flechas ainda  de longe, assim que conseguiram ver os inimigos, que apressadamente se  refizeram do ataque mágico e tomaram as armas. Dos projéteis, apenas um  resvalou no ombro do inimigo, rasgando-lhe a proteção de couro negro. Um mago drow  que estivera oculto surgiu, e contra-atacou com um encanto idêntico ao que  Kariel havia conjurado. A explosão atingiu os heróis, deixando uma vítima  fatal: o idoso Cintal de Halruaa. Sérnia revidou o golpe, conjurando um  poderoso raio elétrico, que partiu de suas mãos para atingir o arcano. Momentos  depois, todos já estavam engajados no combate corpo a corpo. Lutavam Magnus,  Limiekki, Bingo e Klerf contra um drow guerreiro cada, e Sérnia combatia o  mago.
 
 Eram  cinco os inimigos engajados e Kariel sabia que faltava um mago, provavelmente  escondido como ele, esperando o melhor momento de agir. O elfo tocou novamente  o seu elmo de invisibilidade e pôs-se a procurar, baia por baia. Até que viu  uma bola de fogo partir do fundo do corredor para atingir seus amigos que  combatiam. A magia fez também revelar o atacante invisível. Neste momento, o  elfo Escolhido de Mystra libertou uma energia poderosa, uma dádiva da Deusa da  Magia conhecida como o Fogo Prateado de Mystra. O raio luminoso atingiu em  cheio o mago, provocando-lhe diversos ferimentos. Espada em punho, Kariel confrontou  o adversário.
 
 A  batalha durou longos minutos e a vitória da Comitiva se desenhou, porém com  alguma dificuldade. Magnus foi o primeiro a derrubar o seu adversário, indo  auxiliar Bingo. Em seguida, Limiekki, que juntou-se a Klerf. Sérnia e Kariel  mataram os magos que confrontavam com suas espadas e, por fim, o combate se  encerrou com os dois últimos guerreiros indo de encontro ao Poço das Teias  Demoníacas, lar do além vida para drows crentes em Lolth.
 
 Após  o combate, Sérnia correu imediatamente ao corpo inconsciente de Cintal,  ajoelhou-se e verificou os seus sinais vitais. Seu semblante imediatamente  tornou-se carregado de decepção e tristeza.
 
 “Ele está morto! Nossos esforços foram  perdidos! A missão fracassou!”, disse.
 “Por que diz isto?”, perguntou Klerf.
 “Ele era o único piloto que tinha, capaz de  conduzir uma nau voadora deste tipo. Não tenho idéia de mais ninguém com este  conhecimento para nos auxiliar! Mesmo assim, agradeço terem se arriscado por  nosso resgate!”, disse erguendo o corpo do idoso.
 “Nem tudo está perdido!”, falou Klerf.  “Aprendi a pilotar uma nau voadora. Sou um principiante, mas se o equipamento  for semelhante àquele que treinei, talvez possa conduzi-lo e retirar os  prisioneiros daqui!”
 “Pela Dama Dançarina! Se for possível, será  uma grande sorte!”, disse Sérnia, animando-se. “Precisamos então encontrar a  nau o quanto antes. Dividam-se e procurem a manta marcada com o símbolo. A nau  que precisamos está sob ela!”
 
 Os  heróis dividiram-se e foram para baias diferentes. Compararam o símbolo  mostrado por Sérnia com aqueles grafados nas lonas brancas. Kariel, porém, foi  quem encontrou. O arcano ergueu a manta de seda e sua surpresa foi muito maior  do que a esperada. A nau que era aos poucos descoberta era idêntica a utilizada  por Torrellan em sua fuga, há alguns dias atrás. O elfo, com o coração batendo  rápido, entrou na embarcação, procurando algo que confirmasse suas suspeitas,  quando viu, pousado na poltrona de comando, o chapéu de abas largas e pena,  característico do espadachim do Millithor. Neste meio tempo, os demais colegas  se aproximam da nau investigada por Kariel, que surgiu no convés.
 
 “Esta  nau é a que Torrellan usava!”, disse o mago. “Ele deve estar por aqui!”.
 “Sérnia, tem algum registro sobre a quem  pertence este barco?”, quis saber Magnus.
 “O contato que me passou as informações  sobre a nau disse-me que estava registrada como sendo de um mercador  menzoberranir!”, disse a drow, retirando de sua bolsa um pergaminho. “Alguém  chamado Ankros Barrison Del Armgo!”.
 “Maldição! É o adversário de Arthos no  torneio!”, exclamou Klerf.
 “Ele é Torrellan! Devemos ir à arena agora!”,  alertou Limiekki.
 “Eu irei!”, disse Kariel. “Devo avisar a  Mikhail”.
 “Deixaremos você nas proximidades da casa  Zaundar! Não é muito distante da arena!”, disse Sérnia.
 “Klerf! Vamos sair daqui rápido!”, disse  Limiekki, subindo no convés, para o jovem Harpista.
 
 O  jovem de cabelos ruivos se dirigiu a cabine de comando. A nau de Torrellan era  menor do que a que a Comitiva usava, porém os comandos eram bastante similares,  indicando que ambas embarcações eram da mesma origem, perdida no tempo dos  enclaves voadores de Netheril. Klerf sentou-se, com o coração batendo forte e  com as mãos e pés um tanto gelados, e colocou o capacete de comando. Relembrou  as lições do piloto evereskano Arnylan e, após acionar uma alavanca e  concentrar-se na direção, a embarcação começou a flutuar, deixando o porto e  ganhando as alturas. O Harpista guiou a embarcação entre as torres da cidade  drow. Não havia outras no ar, e nem muitas pessoas no solo. Todas as atenções  estavam concentradas nos jogos. Chegaram próximo aos muros da Casa Zaundar e uma  corda foi lançada. Kariel despediu-se e desceu pelas ruas escuras, correndo em  direção da arena. O barco, disfarçado com um encanto providenciado por Sérnia,  rumou para dentro da muralha da Casa Zaundar, onde esperava para o resgate dos  escravos!”
 A Libertação       O  professor Harpista Danicus olhava pela janela o relógio de fogo que marcava o  tempo na cidade de T´lindeth.
 “Bingo.  Está na hora! Temos que libertar os escravos!”
 “Professor. Deixe que eu vou! Sozinho será  melhor pra ficar fora de vista! Sei abrir cadeados! Deixe comigo!”, disse o halfling.
 “Sabe onde ficam os presos humanos?”,  perguntou o aventureiro veterano.
 “Sei! Klerf me disse! Não se preocupe! Não  vou libertar nenhum orc!”, disse sorrindo o pequeno.,
 “Está bem! Mas cuide-se! Se falhar, os escravos  e a nossa missão estarão perdidos! Boa sorte!”
 
 O  pequeno deixou o quarto e saiu pelos corredores escuros da fortaleza dos  Zaundar. Fez o caminho inverso, em direção a área externa do feudo da Casa  drow. Notou Bingo que haviam poucos guardas. Andando pelo pátio, sempre no  abrigo das sombras e dos objetos, o hobbit de Luiren chegou próximo a prisão e  esperou. De onde se escondia, viu sentinelas, três drows, que circulavam pela  propriedade. Bingo esperou que passassem e logo após deu uma rápida disparada  rumo a porta de ferro. Havia um grande cadeado e rapidamente o aventureiro  retirou uma pequena pasta de couro com ferramentas de sua bolsa. “Vamos! Por  Yondalla! Abre logo!”, desejava, invocando sua deusa. Por ato mais mundano que  divino, o cadeado abriu com um “clique”. Bingo entrou e procurou em meio aos  humanos, Kayla, a escrava que Klerf havia ajudado.
 
 “Kayla!?”,  perguntou Bingo para uma moça ruiva.
 “Sim. Você é aquele que veio nos libertar?”
 “Sou eu mesmo! Olha... diga para o seu povo  sair sem correria e sem fazer barulho. Assim que eu sinalizar, eles devem me  seguir!”
 “Está bem!”
 
 Bingo  saiu novamente. Procurou os sentinelas, mas eles ainda não haviam completado o  percurso. Procurou pelo alto, próximo dos muros e encontrou uma corda, que  acabava de ser atirada em sua direção. Era o resgate.
 
 O  halfling voltou e chamou Kayla. Os homens a seguiram e subiram pela corda, até  que não restasse mais nenhum escravo no solo. Bingo retornou a prisão,  recolocou o cadeado e retornou rumo ao quarto, pouco antes da ronda novamente  passar pelo lugar.
 
 No  convés, Klerf conduzia a nau, na companhia Limiekki, Magnus e a drow Sérnia.
 
 “Onde  vai deixar esse povo, Klerf?”.
 “Limiekki... não há outro lugar senão a  Superfície. Sérnia disse-me conhecer uma passagem para fora do Subterrâneo.  Acho que minha aventura com a Comitiva da Fé acaba aqui!”
 “Foi uma honra contar com seu auxílio! Foi  e está sendo muito corajoso! Os Harpistas se orgulharão deste seu resgate!”.
 “Obrigado, Magnus! Vocês devem sair agora!  Vão ao encontro de Kariel! Desejo boa sorte no restante da missão. Se tudo  correr bem, esperarei por vocês no Monte da Adaga. Diga ao professor que sinto  muito em deixá-lo, mas que agradeço todas as valiosas lições que me deu!”
 “Pode deixar! Diremos a ele!”, falou  Limiekki, enquanto estendia a mão em um cumprimento derradeiro.
 
 Após  as despedidas, Limiekki e Magnus desceram corda abaixo. Limiekki foi para o  feudo dos Zaundar, comunicar a Danicus e a Bingo a descoberta de Torrellan e  Magnus tomou o mesmo destino de Kariel: a arena!
 O Nêmesis       Mikhail  observava, em seu disfarce como sacerdotisa drow, a arena lotada. Todos estavam  á espera do combate final, que seria travado pelo seu amigo Arthos. Temia pela  vida do espadachim audacioso, mas nada poderia fazer para salvá-lo. O elfo de  Evereska, que estava cercado pelos nobres e sacerdotisas das Casas de T´lindeth,  em um determinado momento, percebeu uma repentina agitação. Os membros da Casa  Zaundar levantaram-se e voltaram sua atenção para uma sacerdotisa drow que  acabara de chegar à tribuna de honra. Seu porte altivo e seus ricos trajes,  assim como a deferência do tratamento não deixaram dúvidas: era a matrona Vassana  Zaundar que havia chegado de sua missão.
 A  drow conversou com sua filha por alguns minutos e depois se dirigiu a uma  cabine reservada. A sarcedotisa filha, em seguida, foi até Mikhail.
 
 “Sacerdotisa  Narcélia! Minha mãe, a Matrona Vassana Zaundar, acaba de chegar. Comentei sobre  a sua presença e ela deseja vê-la em particular! Por favor, acompanhe-me”.
 
 Mikhail  seguiu Telabrina, que o deixou na porta do camarote dedicado à matrona. Ao  entrar, o elfo viu no pequeno, mas luxuoso cômodo, a drow de ar imponente, que  o aguardava.
 
 “Sacerdotisa,  sei que um de seus colegas de Casa será o próximo a combater em nome de Lolth e  não desejo privá-la desta diversão, portanto não me alongarei. Minha filha  disse-me que veio com os demais de sua Casa por conta de um problema nos nossos  planos. Ela falou de uma falha na gema mística de teleporte. Que falha é  esta?”.
 “Passamos por várias cidades, antes de  T’lindeth. Revoltas e roubos destruíram algumas gemas. Viemos nos certificar  que o mesmo não ocorra aqui. Queremos ver a pedra, e saber se ela está integra  e não foi substituída por uma cópia”.
 “Sacerdotisa... a sua preocupação é válida,  visto os acontecimentos que diz ter presenciado, porém asseguro que a gema está  segura. Permitirei que a examinem, em minha presença, mas somente no início do  próximo ciclo. Vocês são nossos convidados. Espero que todos os seus membros  estejam presentes em minha Casa. Porém, gostaria de saber o motivo da a  ausência de sua Matrona. Onde está Ky’Willys?”.
 “Por motivos de segurança, ela preferiu  estar resguardada em um outro local, mas delegou-me a missão.”
 “Compreendo, sacerdotisa Narcélia. O  período que passamos é preocupante para nós. No momento, é o suficiente. Pode  se retirar. O combate está para começar. Torcerei para que seu representante  vença o menzoberranyr!”
 “Também espero muito que isto aconteça!”,  disse Mikhail, deixando o aposento e retornando ao seu assento, para ver a  multidão agitar-se com a entrada do mestre de cerimônias, que tomou o centro da  arena. Falou, então, sob um encanto que amplificava a voz.
 “Cidadãos de T’lindeth e servos de Lolth!  Preparem-se para o grande duelo final de espadachins. Ambos de Menzoberranzan,  do meu lado esquerdo... Torrellan Millithor!”
 
 Arthos  veio então para o centro, próximo ao apresentador. Era ovacionado e aquela  multidão gritando fazia surgir um calafrio em sua barriga. O drow então  anunciou o adversário:
 
 “Do  meu lado esquerdo... Ankros Barrisson Del Armgo!”
 
 Entrou  um drow de cabelos compridos, amarrados em um rabo-de-cavalo, usando uma  pequena máscara que cobria-lhe os olhos e o nariz. Os dois se cumprimentaram e,  após o mestre de cerimônias deixar o local, sacaram seus sabres.
 
 “Então  você é da Casa Del’Amgo?”, perguntou Arthos.
 “Não. Não sou. E você também não é Torrellan  Millithor!”, respondeu.
 “Do que está falando!?”, perguntou,  surpreso, Arthos.
 “Eu jamais usaria este tipo de chapéu. É  parecido com os meus, mas não tem classe. Você e seus amigos mataram todos os  meus companheiros de Casa. Eles eram a minha família. Hoje terei a minha  vingança em grande estilo!”.
 “Maldito! Torrellan!”
 “Sim... sou eu. Ao chegar nesta cidade,  imagine a minha surpresa ao ver o meu próprio nome inscrito no torneio de  espadachins. E então tive a boa idéia de competir. Após a sua morte,  desmascararei seus amigos na frente desta platéia. Eles serão torturados e  mortos e eu serei glorificado por todos nesta cidade. Não consigo imaginar  vitória mais triunfante!”
 “Mas não conte com isso! Irá ser derrotado,  como da outra vez!”.
 “Eu trenei e me preparei para este  momento! Você verá!”
 
 Torrellan  tomou a iniciativa do ataque, Arthos desviou dos golpes. O herói tentou  revidar, em três golpes rápidos com seu sabre, mas percebeu que não seria  fácil: Torrellan saltou para trás, esquivando-se. Estudaram-se por uns  instantes, e iniciaram novos ataques. Desta vez, Arthos alcançou a fina cota de  malha negra, mas obteve, imediatamente o retorno. E assim os golpes se sucediam  e longos minutos se passavam. O combate era extremamente equilibrado e cada  golpe era estudado. Porém faltava pouco para que o aço começasse a derramar o  sangue dos combatentes ao chão.
 
 Kariel correu e entrou na arena,  dirigindo-se à ala dedicada às matronas. De relance, olhou para o centro do  anfiteatro e viu seu amigo trocando alguns golpes com seu inimigo. Por fim, o  mago encontrou o portão de ferro que separava as cadeiras dos nobres das demais  e oito guardas drows. Um deles o interpelou.
 
 “Este  é um local privativo para as Matronas e nobres das Casas. Não reconhecemos o  seu símbolo.”, disse, apontando o colar dos Millithor. “Deixe este local agora,  mago!”.
 “Sou Karelist Millithor, Mago da Casa  Millithor. Preciso falar com a sacerdotisa Narcélia Millithor, de  Menzoberranzan. Ela é convidada da Casa Zaundar!’
 
 Um  dos drows então foi portão adentro e, após dois minutos, que pareceram dois  séculos, retornou com a permissão. Kariel entrou e viu, em uma das cadeiras, o  elfo Mikhail, em seu disfarce. Aproximou-se, fingindo calma. Em sussurro, falou  com o clérigo de Mystra.
 
 “Mikhail. Este que combate Arthos é o  verdadeiro Torrellan Millithor!”
 “O quê? Como sabe disto, Kariel?”
 “Encontramos a  nau dele. Klerf a utilizou para levar escravos  para a Superfície. A identidade do dono da nau nos registros da cidade bate com  o nome do oponente de Arthos!”
 “Por Mystra! Se Arthos for derrotado,  Torrellan nos denunciará e estaremos acabados!”
 “Posso nos teleportar daqui, mas não posso  garantir a segurança dos demais, principalmente a de Arthos!”, disse o mago.  “Como está o combate?”
 “Muito equilibrado! Não há vantagem alguma  para um ou outro! Devemos orar para Mystra por nosso amigo!”
 
 E  assim Kariel e Mikhail, com a posterior companhia de Magnus, observaram  apreensivos o desenrolar do combate. Na arena, os trajes de Arthos e de  Torrellan já estavam manchados de vermelho. O inimigo havia ingerido uma poção  revitalizante, que lhe conferiu um fôlego extra para lutar. Em seguida, pegou  do seu cinto uma pequena ampola de vidro, preenchida com um líquido  avermelhado. Partiu o pequeno frasco com a mão enluvada e espalhou o conteúdo  na lâmina.
 
 “Veneno!”,  exclamou Arthos.
 “É! As regras não diziam nada contra  venenos!”, sorriu Torrellan.
 
 O  combate prosseguiu dramático. Por sorte de Arthos, o veneno de Torrellan não o  atingiu suficientemente para provocar danos, mas sua lâmina fazia o estrago.  Agora já estavam ambos cambaleantes e próximos do fim. O drow reuniu suas  forças em um golpe final, defendido, mais por acaso do que por perícia, pelo  aventureiro da Comitiva, que revidou em seguida. A Lamina das Rosas, por fim,  atingiu um ponto vital do oponente.
 
 Torrellan  sentiu a dor aguda e o fôlego desaparecer. Já sabia que tudo estava perdido.  Deu dois passos para trás e largou a arma ao chão. Em um derradeiro esforço,  voltou-se para a platéia e começou a bradar:
 
 “Eu  perdi, mas devem saber que este que me derrotou é na verdade um...”
 
 Antes  que terminasse a frase, Arthos o varou mais uma vez, e o Millithor caiu morto,  pesadamente, no solo arenoso. O herói, também caiu de joelhos, exausto e  ferido, enquanto a multidão delirava. Nas cadeiras da ala nobre, Mikhail,  Kariel e Magnus estavam aliviados.
 
 “O campeão é... Torrellan Millithor!”, anunciou o mestre de cerimônias, enquanto  uma sacerdotisa aproximou-se de Arthos e, tocou-lhe com um cajado encantado por  três vezes. A magia armazenada fechou-lhe todas as feridas e restaurou-lhe a  saúde plena. Do alto do seu púlpito, surgiu a matrona Akoryna Barriervs, líder  da primeira Casa de T´lindeth e sacerdotisa suprema de Lolth.
 “Parabéns as vitoriosos! Por hoje, declaro encerrados os jogos. Que os drows  voltem ás suas funções até o reinício da competição, no segundo ciclo de  amanhã!”, disse para a multidão, que aos poucos começou a se levantar de seus  assentos em direção à saída. Nas cadeiras, a matrona da Casa Zaundar cumprimentou  Mikhail.
 “Parabéns! Seu guerreiro lutou muito bem.  Foi um grande combate! Estamos nos retirando agora. Não se esqueçam de estarem  todos reunidos no primeiro ciclo amanhã na Casa Zaundar”.
 “Estaremos lá!”, respondeu Mikhail.
 
 Os  drows da Casa Zaundar então se retiraram. Após alguns minutos, Arthos, pegou o  acesso às arquibancadas e de lá até as cadeiras das Matronas. Liberado pelos  guardas, que o saudaram, reencontrou Mikhail, Kariel e Magnus. Conversaram em  voz baixa.
 
 “Arthos! Eu vi que foi por pouco!  Parabéns”, congratulou Magnus, paladino de Helm.
 “Sabe quem era, na verdade, o seu  oponente?”, perguntou Kariel.
 “Sim. Era o maldito Torrellan! Vocês sabia  disso, Kariel?”
 “Durante a missão para libertar os  escravos, descobrimos que a nau que fomos roubar era a dele!”
 “Será que ele revelou nossa presença aqui  para alguém?”, conjecturou Mikhail.
 “Ele queria fazer isso ao final do torneio.  Torrellan gostava de chamar a atenção e isso nos ajudou! Como foi a outra  missão?”.
 “Foi bem sucedida, mas Klerf teve que nos  deixar. Ele está conduzindo a nau com os escravos para a Superfície!”, informou  Magnus.
 
 Enquanto  conversavam, surgiu nas proximidades Triss´nolu, Mestre de Armas da Casa  Zaundar. Estava estampada em sua face uma felicidade extrema. Vinha com um saco  nas mãos e falando alto.
 
 “Parabéns, Torrellan! Ganhamos as nossas  apostas! Você conseguiu 12.000 peças de ouro! Vamos comemorar!”.
 “Doze mil! Vamos fechar uma taverna! Bebida  para todos por minha conta!”, animou-se Arthos.
 “Você merece comemorar, Torrellan!”, disse  Mikhail, em seu disfarce. “Mas temos um compromisso com a Matrona Zaundar no  início do ciclo. Não beba demais e não se atrase, ou isto poderá ser  considerado uma descortesia. Os demais voltarão comigo”.
 “Não se preocupe, senhora! Estarei lá!”
 
 Mikhail,  Magnus e Kariel então deixaram a arena, enquanto Arthos foi até uma taverna  chamada Veneno na Caneca, onde bebeu, jogou e dançou.  O obelisco imenso que marcava com fogo o  tempo indicava que o dia estava terminando. Outro agora começaria na cidade  drow de T´lindeth e mais desafios estavam destinados à Comitiva da Fé no início  do ciclo, no feudo da Casa Zaundar, em sua saga pelo Subterrâneo.
 
 
 
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