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                    Viagens na Superfície Descrita por Ricardo Costa.Baseada no jogo mestrado por Ivan Lira.
  Personagens principais da aventura: 
 Os 
                    Humanos: Magnus de Helm; Sirius Lusbel; Sigel O'Blound 
                    (Limiekki). Os Elfos: Mikhail Velian; Kariel Elkandor. 
                    O Halfling: Bingo Playamundo. Participação 
                    Especial: Storm Mão Argêntea e os gnomos 
                    da vila Stormpenhauer.
 
 
  
  Últimas Viagens na Superfície
 Gnomos 
                    na Caverna da Comitiva       Era 
                    manhã e o sol mal começara a subir rumo ao zênite, 
                    quando Kariel, que deixava a casa do amigo Kelta e estava 
                    no início da estrada para o Norte, onde encontrou seus 
                    companheiros William Magnus, o paladino de Helm, e o guerreiro 
                    Sirius, que vinham logo atrás, com onze gnomos, de 
                    cerca de um metro de altura, carregados de mochilas e apetrechos 
                    diversos. Foi uma sorte, pois mais agradável é 
                    a viagem que se pode fazer com companhia. A jornada foi mais 
                    lenta, pois não haviam cavalos para todos os pequenos, 
                    mas nem por isto foi mais penosa. Conversaram e se divertiram 
                    com os diminutos e alegres trabalhadores, que, vez em quando, 
                    cantavam músicas engraçadas e contavam piadas.
 Assim, 
                    de maneira tranqüila, venceram as horas e ao final da 
                    tarde, quando a primeira estrela começava a brilhar, 
                    chegaram à entrada secreta do Monte da Adaga.
 
 Enquanto o trio se aproximava, 
                    lá, dentro da caverna, estava Arthos, diante da cabine 
                    de comando da nau voadora. Admirava o estranho e empoeirado 
                    capacete que jazia sobre uma das poltronas de controle. Sentou-se 
                    e, como não tinha muita prudência, experimentou 
                    o equipamento. Da grande janela de vidro, que ficava a frente 
                    e que mostrava a proa da embarcação, Arthos 
                    pode ver tudo, como se fosse em plena luz do dia. A escuridão 
                    foi totalmente afastada. Não conseguia distinguir as 
                    cores, tudo que via era em tons de cinza, mas não deixava 
                    de ser fantástico o efeito que experimentava naquele 
                    momento. Retirou o capacete. Tentou bisbilhotar um pouco mais 
                    para ver se conseguia algum modo de fazer a embarcação 
                    se mover, mas não conseguiu nada. Desistindo, temporariamente, 
                    de seu “brinquedo”, Arthos foi até a cozinha, 
                    onde Bingo preparava uma sopa.
 
 “E então 
                    Bingo? E esta comida? Sai ou não sai?”
 “Podia sair mais 
                    rápido se você me ajudasse. Só aparece 
                    por aqui quando sua barriga começa a reclamar!”
 “Não diga 
                    isso, pequeno. Eu vim aqui para...”
 
 Arthos interrompeu sua 
                    fala ao ouvir um barulho. Pareciam passos e vozes, muitas 
                    vozes. Junto com Bingo deixaram a cozinha e atentos foram 
                    para a grande sala que dava acesso aos quartos. Viram Limiekki, 
                    com uma espada nas mãos, esperando por quem fosse cruzar 
                    o corredor, preparado para o ataque.
 
 Logo viram Kariel, Sirius 
                    e Magnus, e os onze diminutos trabalhadores da vila de Stormpenhauer.
 
 “Sejam bem vindos!”, 
                    saudou Limiekki. “Chegaram bem na hora em que a sopa 
                    de Bingo começou a cheirar!”
 “Amigos! Este são 
                    os nossos habilidosos trabalhadores de Stormpenhauer: Madarn, 
                    que já conhecemos, Smoul, Tharvin, Melvrith, Antenion, 
                    Erbaren, Gwidow, Strompa, Aldo, Boras e Obinus ”, disse 
                    Sirius, apresentando os pequenos.
 
 Os gnomos retiraram suas 
                    mochilas, assim como dezenas de ferramentas e objetos para 
                    construção, e colocaram no chão. Arthos 
                    então aproximou-se de Madarn, com o qual fez amizade 
                    quando estiveram na Floresta das Aranhas.
 
 “E aí, Madarn? 
                    Quando é que podemos beber juntos novamente?”, 
                    disse batendo, apertando a mão do robusto gnomo.
 “Quando quiser!”, 
                    respondeu o pequeno, sem sequer perceber que Arthos havia 
                    se transformado de elfo para homem.
 
 Não demorou muito 
                    e estavam Madarn, Arthos, Sirius e Limiekki, sentados em volta 
                    de uma mesa, com cartas de jogo e um garrafão de vinho. 
                    O gnomo, por sinal, levantava uma caneca maior do que as do 
                    demais, quase do seu próprio tamanho, que havia retirado 
                    de sua mochila.
 
 Enquanto estes despreocupados 
                    jogadores se divertiam, Kariel e Magnus levavam os demais 
                    gnomos pelos cômodos do complexo cavernoso. Tharvin, 
                    que parecia ser o chefe daqueles construtores, pedia por sugestões 
                    aos dois aventureiros da Comitiva da Fé e aqueles que 
                    eram seus dois auxiliares, o jovem e ruivo Aldo, e o bigodudo 
                    Erbaren, anotavam imediatamente cada palavra proferida em 
                    resposta. O mago e o paladino sugeriram a construção 
                    de portões que isolassem a saída em direção 
                    ao Subterrâneo pelo porto e a entrada principal da caverna, 
                    algum tipo de sistema que levasse água do poço 
                    às casas de banho e que fosse feito alguma mudança 
                    que tornasse aquela caverna menos escura, coisa que incomodava 
                    particularmente Kariel, que detestava viver longe da luz do 
                    dia e distante das árvores da floresta.
 
 Uma hora depois, estavam 
                    todos reunidos no salão central, pelo quem se dava 
                    acesso aos quartos e cômodos. Tharvin ainda recolhia 
                    dos outros membros da Comitiva todas idéias que tinham 
                    sobre as modificações a serem realizadas naquele 
                    local. Entre muitas propostas, escreveu a descrição 
                    de Mikhail sobre o templo que dedicaria aos diversos deuses 
                    da Comitiva, enquanto Sirius lhe sugeriu uma escada esculpida 
                    em pedra, que os levasse ao topo da montanha. Foi quando chegou 
                    a janta.
 
 Não haviam cadeiras 
                    para tantas pessoas (e de tamanhos tão variados), e 
                    muitos sentaram nos degraus para experimentar um pouco da 
                    boa comida do pequeno Bingo, que havia preparado um cozido 
                    e sopas diversas. Após comerem, a Comitiva levou Madarn 
                    e Tharvin, que estava com seus dois ajudantes, para a mesa 
                    da sala de reuniões.
 
 “Anotei as sugestões 
                    de vocês e acredito que possamos fazer boas coisas aqui. 
                    Porém temos que realizar alguns cálculos, algumas 
                    análises sobre do que precisamos para realizar a obra. 
                    Amanhã apresentaremos o orçamento.”, disse 
                    Tharvin.
 “Aproveito para 
                    avisá-los que estamos de partida. Em breve teremos 
                    que seguir em uma missão, mas os deixaremos aqui para 
                    prosseguirem na reforma. Proveremos vocês do que precisarem!”, 
                    disse Kariel.
 “Ninguém 
                    ficará aqui?”, perguntou Tharvin.
 “Kariel... não 
                    poderíamos deixar algum antigo membro da Comitiva aqui 
                    para acompanhá-los? Que tal aquele seu amigo Kelta, 
                    de que falam em tantas aventuras?”, sugeriu Limiekki.
 “Kelta?! Coral o 
                    mataria e a mim também se ele aceitasse uma sugestão 
                    destas!”, disse Kariel, sorrindo, afastando a hipótese 
                    de convocar o aventureiro aposentado.
 “Talvez Lorde Randal 
                    possa oferecer alguma segurança.”, colocou Arthos.
 “Sim. Esta é 
                    uma boa idéia! Estamos em terras do Vale da Adaga e 
                    quando estivemos com Randal Morn ele nos ofereceu colaboração. 
                    Acho que podemos contar com uma ajuda nisto.”, comentou 
                    Magnus, apoiando a idéia do ruivo amigo.
 “Então vamos 
                    dormir, meus companheiros! Meu estômago está 
                    pesado e o vinho está fazendo efeito. Amanhã 
                    conversamos mais!”, disse Madarn.
 
 Resolveram terminar esta 
                    reunião com esta frase, e assim foram para os seus 
                    quartos, descansar enquanto a noite passava.
 
 Pela manhã, estavam 
                    todos fazendo seu desjejum matinal. Felizmente, Magnus, Kariel 
                    e Sirius haviam trazido mantimentos de sua viagem, em adição 
                    a comida que os drows haviam deixado na despensa, e Bingo, 
                    que mostrava a habilidade de um bom cozinheiro, pôde 
                    preparar uma refeição saborosa. Comeram um tipo 
                    de bolinho halfling, beberam chá e suco de framboesa, 
                    e comeram batatas cozidas com manteiga. Naquele dia, os elfos 
                    (e também Arthos) relembraram o sabor dos mágicos 
                    pães élficos, e desejaram comer novamente daquela 
                    especial iguaria. Tharvin, que comia sentado em um dos degraus 
                    do salão, bem próximo a onde a Comitiva estava 
                    sentada, fez uma pequena pausa e olhando para as anotações, 
                    disse:
 
 “Senhores... analisando 
                    o tamanho do ambiente, a estrutura dos cômodos, as superfícies, 
                    as modificações sugeridas, o material adequado... 
                    enfim... fiz uma estimativa dos custos. Para aumentar a iluminação 
                    desta caverna, revestiremos o piso e as paredes uma pedra 
                    de cor clara e resistente. Sugiro granito branco. Precisaremos 
                    de no mínimo mil metros quadrados. Isto sairia no mínimo 
                    por 12.000 peças de ouro e...”
 “Doze mil?”, 
                    espantou-se Arthos.
 “...continuando”, 
                    cerca de 1.300 peças de ouro em madeira, 6.200 peças 
                    de ouro em argamassa e umas 3.000 em ferro.”
 
 Alguns da Comitiva, especialmente 
                    Sirius, Bingo e Limiekki, nunca haviam visto tanto dinheiro 
                    e uma quantia daquelas soava como completamente absurda. Deixaram 
                    até o apetite de lado, somente para imaginar tal soma. 
                    A Comitiva então parou e fez as contas. Graças 
                    ao espólio dos drows, tinham recursos suficientes e 
                    poderiam pagar pela reforma. Apesar do aparentemente grande 
                    valor, Magnus, que entendia um pouco de construções 
                    por ter iniciado a edificação de uma catedral 
                    dedicada ao seu deus, Helm, no Vale das Sombras, considerou 
                    o preço justo, dado a grandiosidade da tarefa dos gnomos.
 
 “E o pagamento pelo 
                    serviço de vocês?”, quis saber Mikhail.
 “Bom... isto eu 
                    não calculei ainda.”, respondeu Tharvin, antes 
                    de morder uma batata, “mas...”
 
 O gnomo fez então 
                    uma misteriosa pausa:
 
 “Err... mas o quê?”, 
                    perguntou Sirius.
 “Vocês são 
                    aventureiros e viajam por muitos lugares. Se, por acaso, me 
                    conseguirem o Manual Definitivo da Construção, 
                    posso fazer tudo sem cobrar por nossa mão de obra!”
 “E onde encontramos 
                    tal manual?”, falou Limiekki, apressado.
 “Sei que ele existe 
                    nas terras de Lantan, bem ao sul de Faerûn! Sempre quis 
                    viajar para lá, mas nunca tive chance.”
 “Pelas barbas de 
                    Elminster! Conheço um gnomo de Lantan. Chama-se Gilbert. 
                    Ele é escritor e andou comigo em uma aventura que tivemos 
                    em Cormyr. Hoje ele é um dos guardiões do jovem 
                    Azoun V. Talvez ele tenha tal livro!”, lembrou-se Arthos 
                    do amigo.
 “Para transportar 
                    este material todo com rapidez e conseguir este livro, acho 
                    que só mesmo com a nau voadora.”
 “Sim, Mikhail!”, 
                    bradou Sirius mais alto, “Mas, pelos deuses, lembre-se 
                    que ninguém sabe pilotar aquela coisa!”
 “Um instante...”, 
                    interrompeu Tharvin. “Que negócio é este 
                    de que estão falando? Nau voadora?”
 “Sim. É uma 
                    embarcação especial, que voa movida por magia, 
                    que temos no porto que serve a este complexo. Infelizmente 
                    não temos o conhecimento necessário para utilizá-la.”, 
                    explicou Kariel.
 
 Os olhos de Tharvin e 
                    de seus inseparáveis ajudantes arregalaram-se.
 
 “Uma nau voadora! 
                    Podemos vê-la?”
 “Claro que sim! 
                    Vamos até lá!”, respondeu Arthos.
 
 E assim foram Tharvin, 
                    Aldo e Erbaren, juntamente com os demais membros da Comitiva, 
                    exceto Bingo, que continuou comendo. Assim que chegaram no 
                    porto, ficaram boquiabertos e soltaram coletivamente uma interjeição 
                    de espanto. Assim, maravilhados como estavam, somente Arthos 
                    havia ficado.
 
 “Que linda! Podemos 
                    entrar? Queremos examiná-la!”, pediu Tharvin.
 “Por favor!”, 
                    respondeu Arthos, mostrando com um curvar de braços 
                    a rampa de entrada da embarcação.
 
 Os gnomos embarcaram e 
                    então olhavam atentos. Bateram na madeira para descobrir 
                    sua densidade, tocaram no tecido das velas para perceber a 
                    textura, procuraram por algum mecanismo e até pularam 
                    no convés, testando o balanço e equilíbrio 
                    do barco.
 
 “É realmente 
                    maravilhosa!”, disse Tharvin, voltando-se para os aventureiros 
                    que assistiam a euforia dos gnomos, de pé, no convés. 
                    “É tão bem construída! Deve ter 
                    sido obra de um gnomo! Como conseguiram isto?”
 “Pertencia aos nossos 
                    inimigos, os drows.”, respondeu Kariel.
 “Estes drows são 
                    bem ardilosos mesmo! Bem... se pudéssemos usar este 
                    barco, poderíamos buscar tudo que precisamos e até 
                    ir a Lantan!”
 “Aguardamos alguém, 
                    uma heroína chamada Storm Mão Argêntea. 
                    Ela virá com um condutor para o barco. Se tivermos 
                    algum tempo, poderemos usar a nau para esta finalidade.”
 “Espero que sim! 
                    Quem sabe assim poderia dar um passeio nesta beleza!”
 
 Depois de admirarem por 
                    mais um tempo (e colocarem o capacete de comando, que permitia 
                    ver na escuridão, a pedido de Arthos), os três 
                    gnomos voltaram ao salão, acompanhados da Comitiva. 
                    Lá ficaram fazendo mais cálculos e desenhos 
                    sobre as obras, enquanto os demais arrumavam as coisas e exploravam 
                    os cômodos da caverna. E assim passou o dia, até 
                    que, do lado de fora da caverna, o céu ficou escuro 
                    e estrelado.
 A Nau se Move       O 
                    manto negro da noite trouxe consigo um ruído de passos. 
                    A Comitiva preparou-se novamente para o pior. Felizmente, 
                    novo alarme falso. Conheciam bem a invasora, Storm Mão 
                    Argêntea. Vinha a barda do Vale das Sombras com o professor 
                    Danicus e seu auxiliar Klerf, e um desconhecido elfo de trajes 
                    nas cores negra e dourada, cabelos louros e compridos, à 
                    altura do ombro. Tinha um semblante altivo e sério.
 “Saudações, 
                    Comitiva! Vim o mais rápido que pude.”, Storm 
                    virou-se para o elfo, de feições sérias, 
                    “Senhores, este é Arnilan Beldusyr, um dos melhores 
                    pilotos de Evereska!”
 A 
                    Comitiva saudou o novo companheiro e deu-lhes as boas vindas.
 “Gostaria 
                    de agradecer-lhes pelo que fizeram em minha cidade. Vim como 
                    voluntário e darei minha vida se necessário!”
 “Agradecemos 
                    sua dedicação!”, respondeu Kariel.
 “E 
                    então, Arnilan?”, disse Arthos, “Sabe pilotar 
                    naus voadoras?”
 “Sim. 
                    Já pilotei vários modelos.”
 “E 
                    um modelo drow? Já andou em um deles também?”, 
                    continuou o ex-elfo.
 “Não, 
                    na verdade não. Mas acredito que posso tentar. Peço 
                    que levem-me até a embarcação.”
 “Depois, 
                    retornem, por favor!”, pediu Storm. “Temos que 
                    assuntos a discutir.”
 
 E 
                    se foi novamente a Comitiva em direção ao porto, 
                    a fim de mostrar a nau para o esperado condutor, a exceção 
                    de Bingo, que permanecia comendo, de Magnus, que acompanhou 
                    Storm e de Limiekki, que preferia ficar com os pés 
                    no chão. Apesar de já terem feito o mesmo percurso 
                    na manhã com os gnomos, desta vez havia muito mais 
                    curiosidade e satisfação no ar. Esperavam finalmente 
                    ver aquele veículo flutuante se mover. Ao chegar no 
                    ancoradouro iluminado por tochas, Arthos , que estava a frente, 
                    levou Arnilan para o convés. Diferente dos gnomos, 
                    o elfo não esboçou nenhuma sensação 
                    de espanto ou euforia. Apenas ajoelhou-se, observou as emendas 
                    das tábuas e tocou a madeira empoeirada. Ergueu-se 
                    e olhou as velas barbatanas e parou um instante.
 
 “E 
                    então? Esta nau drow é muito diferente das que 
                    você está acostumado?”, quis saber Arthos.
 “Esta 
                    não é uma embarcação drow. Provavelmente 
                    é trabalho de mãos humanas. Ouvi dizer que os 
                    humanos de Halruaa ainda fazem estas naus. Pode ser também 
                    um antigo modelo netherese. Dizem que neste extinto reino 
                    humano também se fabricavam tais embarcações.”
 “Poderia 
                    satisfazer minha curiosidade... como se faz para mover esta 
                    nau?”, perguntou Mikhail ao seu conterrâneo e 
                    também um elfo dourado.
 “Através 
                    de controle mental. O piloto deve aprender a se vincular com 
                    a magia que existe neste navio. Lhes mostrarei.”, disse 
                    Arnilan, dirigindo-se para uma das duas grandes poltronas 
                    que ficavam na cabine de comando, seguido pela Comitiva. Sentou-se 
                    e colocou o capacete. “Este dispositivo é netherese, 
                    sem dúvida.”, avaliou.
 
 Em 
                    seguida, procurando com as mãos sob o acento da poltrona, 
                    encontrou uma pequena alavanca. Puxou-a. Na proa da nau, no 
                    alto do seu casco, abriu-se um compartimento, revelando uma 
                    gema que emitia uma forte luz amarela, que iluminou o espaço 
                    em frente por dezenas de metros, como um farol. A Comitiva 
                    estava impressionada.
 
 “Sabem 
                    como os drows conseguiram esta nau?”, perguntou Arnilan.
 “Não. 
                    Estava aqui quando chegamos. Havia também outra, bem 
                    menor e diferente, em forma de aranha, na qual fugiu um de 
                    nossos inimigos.”, informou Kariel.
 “Se 
                    os drows têm esta tecnologia, é provável 
                    que tenham, no passado, encontrado as naus nethereses e descoberto 
                    como construí-las.”
 
 Arnilan 
                    encontrou um compartimento no recosto do braço da poltrona 
                    em que estava e o abriu. Dentro dele, uma pequenina alavanca. 
                    Acionou-a e parte do piso, a frente da poltrona vazia ao seu 
                    lado, abriu-se. De baixo veio subindo um timão, que 
                    parou bem no lugar adequado para o manuseio de um segundo 
                    condutor.
 
 “Este 
                    é o direcionamento do leme da embarcação. 
                    Precisarei de um co-piloto.”, falou Arnilan.
 “Eu... 
                    eu!”, disse Arthos, logo sentando na poltrona e segurando 
                    nos manches do timão.
 “Está 
                    certo. Você dará a direção. Aguarde!”
 
 O 
                    elfo de Evereska olhou para um ponto fixo e concentrou sua 
                    mente. A embarcação começou a se mover 
                    para o alto. Arnilan, após subir, manobrou a nau um 
                    pouco para trás, até estar sob a cratera que 
                    existia acima da caverna. Os passageiros olharam as estrelas 
                    e forma se aproximando, até que estavam completamente 
                    no céu e acima do Monte da Adaga. O piloto fez a nave 
                    acelerar e esta desenvolvia boa velocidade. Pediu para que 
                    Arthos colocasse o timão para a direita e, assim, aos 
                    poucos, foram contornando a montanha, até chegarem 
                    ao mesmo ponto onde partiram.
 
 “Acho 
                    prudente descermos agora. Deixemos os testes para depois. 
                    Temos uma reunião com Storm.”, lembrou Kariel.
 “Mas... 
                    por Corellon! Onde está a entrada por onde passamos? 
                    Ela desapareceu completamente!”, espantou-se Arnilan.
 “Entre 
                    aquelas rochas!”, apontou Kariel. “A passagem 
                    está lá, oculta por uma ilusão!”
 
 Arnilan 
                    e Arthos então colocaram a nau onde Kariel havia indicado 
                    e começaram a descer. Os menos acostumados com encantos 
                    ficaram temerosos quando a embarcação se aproximava 
                    perigosamente da rocha, mas aliviaram seus temores quando 
                    passaram através da ilusão, e puderam ver o 
                    porto iluminado por tochas abaixo de si. Manobras feitas, 
                    estavam novamente do ponto de partida.
 
 “Quanto 
                    tempo se leva para aprender a pilotar?”, perguntou Sirius 
                    a Arnilan, ao desembarcar.
 “Alguns 
                    meses!”, respondeu o elfo.
 “Você 
                    poderia nos ensinar a pilotar!”, pediu Mikhail.
 “Seria 
                    uma honra, depois do que a Comitiva da Fé fez por Evereska.”
 
 Deixaram 
                    então o porto e subiram as escadas para a parte superior 
                    do complexo, e rumo à sala de reuniões. Lá 
                    estavam Limiekki, Magnus, Bingo, Storm, Danicus e Klerf e 
                    a eles se juntaram o restante da Comitiva e o piloto evereskano. 
                    Sentaram em volta da mesa redonda e negra de pedra. Após 
                    todos estarem acomodados, Storm começou a dizer:
 
 “Estivemos 
                    em Berdusk, em uma reunião. Os Harpistas ouviram nossos 
                    argumentos e deram autorização para realizar 
                    esta missão. Irei pessoalmente com vocês, juntamente 
                    com o professor Danicus e Klerf. Nosso plano será o 
                    seguinte...”, disse Storm, apontando para um grande 
                    mapa do Subterrâneo, posto na parede daquela sala.       “...faremos 
                    o caminho oposto dos Millithor e tentaremos descobrir os contatos 
                    que eles possuíam, conseguir alguma informação 
                    e tentar impedir que estes portais sejam usados. Pelo tempo, 
                    eles já deviam estar prontos. Me intriga saber porquê 
                    que não foram ainda acionados.”, disse Storm, 
                    pensativa.
 “Provavelmente 
                    os drows estão preparando a parte militar da operação.”, 
                    supôs Kariel.
 “Ou 
                    alguma das chaves ainda não foi entregue em seu destino. 
                    Seja como for, teremos que agir. Os Harpistas irão 
                    advertir outras células espalhadas por Faerûn 
                    nos Reinos sobre a possibilidade de uma invasão, mas 
                    a informação será sigilosa, para evitar 
                    pânico ou especulações.”. Storm 
                    fez uma pausa e olhou nos olhos daqueles aventureiros que 
                    passou a admirar pela coragem e fez-lhes uma pergunta, cuja 
                    resposta, em seu íntimo, já conhecia: “Gostaria 
                    de saber se alguém entre vocês não deseja 
                    partir conosco. Não tenham medo de se manifestar. A 
                    missão será muito arriscada e não posso 
                    garantir que voltemos a salvo.”
 
 Houve 
                    o silêncio por alguns segundos. Todos da Comitiva estavam 
                    com o semblante sério, determinados em executar aquele 
                    plano, pelo bem dos povos da superfície, de seus Reinos, 
                    de suas famílias.
 
 “Ótimo. 
                    Não esperava diferente de vocês, amigos! Antes 
                    de partirmos, teremos alguns preparativos. Primeiro, Kariel 
                    deve aprender comigo o encanto de disfarce, que mudará 
                    nossa aparência quando nos aproximarmos das cidades 
                    do Subterrâneo e nos tornará capazes de compreender 
                    o idioma drow. Além disso, o professor Danicus irá 
                    instruí-los sobre aspectos da cultura e dos modos da 
                    civilização dos elfos negros, para que melhor 
                    representem o papel. Acredito que quatro dias serão 
                    suficientes para isto.”
 “Quatro 
                    dias! Podíamos usar este período para resolver 
                    a questão dos gnomos...”, lembrou Sirius.
 “Que 
                    questão dos gnomos?”, perguntou Storm.
 “Estamos 
                    projetando uma reforma nesta caverna.”, explicou Mikhail. 
                    “Poderíamos usar este tempo para conseguirmos 
                    o material que os gnomos precisam para realizá-la!”
 “Acho 
                    que o meio mais rápido para isto seria usar a nau, 
                    agora que temos um piloto!”, sugeriu Arthos.
 “Mas 
                    se algum de nós deixar o complexo, perderá a 
                    oportunidade de aprender mais com o professor Danicus.”, 
                    colocou Magnus.
 “Não 
                    precisam deixar de empreender essa tarefa por isto, meu jovem.”, 
                    disse o Harpista veterano. “Podem ir. Passarei a vocês 
                    o que puder quando retornarem e durante a viagem. Enquanto 
                    isto, estudarei mais sobre o assunto.”
 “Bem, 
                    estamos de acordo. Estaremos aqui antes dos quatro dias se 
                    passarem. Quem irá conosco?”, perguntou Arthos.
 
 Kariel 
                    não ergueu a mão. Teria que ficar para aprender 
                    o útil encanto. Magnus também decidiu permanecer 
                    para ajudar a guarnecer o local e Bingo queria auxiliar os 
                    recém-chegados gnomos no que precisassem. Além 
                    de Arthos, Mikhail, Sirius, e Limiekki (o ranger ainda não 
                    gostava de voar, mas sentia que seu conhecimento da natureza 
                    poderia ser útil) decidiram viajar em busca dos materiais 
                    solicitados por Tharvin.
 
 “Boa 
                    viagem para vocês então. Tenham cuidado e não 
                    se atrasem. Partiremos em quatro dias. Que Mystra nos ilumine.”, 
                    disse Storm, finalizando a reunião.
 A Primeira Viagem 
                    da Nau       Assim 
                    que a reunião acabou, os voluntários da Comitiva 
                    para a busca pelos materiais de construção se 
                    encontraram novamente, desta vez para definir os rumos daquela 
                    pequena jornada. Chamaram representantes dos gnomos, que poderiam 
                    melhor verificar as qualidades dos materiais a serem conseguidos. 
                    Tharvin e Madarn foram os escolhidos pelos seus pares. Também 
                    estava presente o condutor Arnilan Beldusyr, que trouxe consigo 
                    alguns mapas.
 O 
                    trabalho seria pesado. Afinal teriam que extrair e transportar 
                    grande quantidade de materiais. Isto exigiria, além 
                    da conhecida perícia técnica dos gnomos, muita 
                    força física. Limiekki deu a idéia de 
                    convocar alguns ogros, que viviam na Aldeia do Amanhecer, 
                    refúgio que conhecia muito bem e onde possuía 
                    boas relações, antes de voarem até as 
                    jazidas de pedra e madeira, conhecidas por Limiekki. A sugestão 
                    foi acatada e o mateiro subiu, junto com os demais na nau 
                    voadora. Sentou-se, como os outros companheiros, em alguns 
                    bancos colocados na cabine, mas amarrou, por algum tipo precaução, 
                    uma corda atrelando-se ao recosto de seu assento. Arthos e 
                    Arnilan sentaram em suas poltronas de controle e a nau ultrapassou 
                    a caverna, ganhando novamente o céu estrelado.
 
 A 
                    viagem foi rápida, de alguns minutos, pois a Aldeia 
                    do Amanhecer ficava a poucos quilômetros ao norte do 
                    Monte da Adaga. Desceram em uma clareira e foram a pé 
                    para o conjunto de casa simples, onde viviam muitos e diferentes 
                    seres, de homens a orcs, de goblins a gnolls, todos em uma 
                    harmonia única nos Reinos. Aqui viviam longe das perseguições 
                    e da violência. Conheciam a Comitiva e receberam bem 
                    os aventureiros. Os únicos que estavam realmente desconfortáveis 
                    eram os gnomos. Tharvin e Madarn normalmente viam os orcs, 
                    goblins, kobolds e outros destes seres freqüentemente 
                    como inimigos. Nunca haviam visto seres destas raças 
                    que fossem amistosos. Ficaram desconfiados e atentos. Limiekki 
                    procurou pelos dois ogros que conhecia e os encontrou em torno 
                    de uma fogueira. Os cumprimentou e perguntou se podiam ajudar 
                    com sua força a carregar materiais para a Comitiva, 
                    nos próximos quatro dias, se necessário. Os 
                    ogros pensaram um pouco e aceitaram o convite, em retribuição 
                    à amizade dispensada pelos heróis àquela 
                    aldeia. Visitaram também Pukto, o goblin que haviam 
                    recentemente integrado àquela comunidade. O pequeno 
                    estava ensinando alguns orcs e humanos a ler e escrever o 
                    idioma comum. Não demoraram muito na cabana de Pukto 
                    e retornaram em direção da nau.
 
 Os 
                    ogros, que tinham cada um dois metros e meio de altura, se 
                    chamavam Sertis e Grub e, ao verem a embarcação 
                    no solo, estranharam.
 
 “Limiekki... 
                    como nós vai entrar neste barco, se num tem rio, nem 
                    mar? Tá fazendo brincadeira com nós?”, 
                    perguntou o enorme Sertis, que não falava lá 
                    muito corretamente.
 “Não 
                    há rio, nem mar, mas este barco navega o ar. Entrem 
                    e confiem em nós!”
 
 Entraram 
                    e a nau ganhou os céus novamente. Os grandes corações 
                    dos ogros batiam a grande velocidade: tinham medo das alturas. 
                    Por isto, seguraram firme nos cordames e no mastro que havia 
                    no convés, próximo da popa. O destino agora 
                    eram umas jazidas de granito branco localizadas no arredores 
                    das Montanhas da Boca do Deserto, conhecidas por Limiekki. 
                    A nau rumou a oeste, quando o gnomo avistou pela vidraça 
                    da cabine de comando a montanha de onde a pedra seria extraída. 
                    Arnilan e Arthos manobraram e a nau desceu mais uma vez, no 
                    sopé do monte.
 
 Tharvin 
                    e Madarn então foram para uma encosta da montanha, 
                    onde a rocha branca estava exposta. Analisaram e depois buscaram 
                    ferramentas especiais. Tharvin tirou de seus bolsos um pequeno 
                    bastão, com ele o gnomo se concentrou focando-se nos 
                    paredões de rocha. Depois de alguns momentos surgiram 
                    rachaduras naturais. Elas eram de forma regular, assim blocos 
                    imensos de pedra começaram a ser destacados da parede 
                    e posteriormente foram empilhados. Mikhail logo notou que 
                    o instrumento de Tharvin era um incrível bastão 
                    mágico que afetava a natureza das rochas. Então 
                    foi a vez dos ogros usarem sua força para carregá-los. 
                    Mikhail, como auxílio, proferiu uma de suas preces 
                    e, logo após, os músculos dos ogros tornaram-se 
                    ainda mais rijos e potentes. Os gigantescos carregadores levaram 
                    as pedras até as proximidades da nau e com a ajuda 
                    do guindaste que havia no alto do mastro da popa do navio, 
                    içaram as cargas, que entraram por um alçapão 
                    aberto no convés que levava até o compartimento 
                    de cargas, na parte inferior da embarcação. 
                    Fizeram isto com oito blocos de granito branco e tudo demorou 
                    duas horas, uma operação relativamente rápida 
                    para a dificuldade da tarefa.
 
 Retornaram 
                    ao Monte da Adaga e descarregaram no porto as pedras.
 
 “E 
                    agora? Para onde vamos? Falta a madeira!”, lembrou Sirius.
 “Se 
                    for possível, no sul de Faerûn, em Thindol, próximo 
                    às terras de Lantan. Sei que lá existem florestas 
                    de zalantar. Podíamos trazê-las!”, sugeriu 
                    Tharvin.
 “Zalantar?”, 
                    estranhou Limiekki, que conhecia muito de florestas e de árvores, 
                    mas nunca tinha ouvido falar naquela espécie.
 “Talvez 
                    vocês a conheçam mais como madeira negra. É 
                    uma arvore robusta que possui vários troncos que brotam 
                    de sua raiz. Sua madeira, depois de cortada e tratada, é 
                    bem mais resistente que a madeira comum!”, respondeu 
                    o engenheiro gnomo.
 “E 
                    quanto tempo levaríamos para chegar até lá?”, 
                    perguntou Arthos.
 “Bem... 
                    estamos muito longe de lá. Realmente, na velocidade 
                    com que podemos ir nesta nau, levaríamos de certo algumas 
                    semanas!”, disse Tharvin.
 “Mas 
                    partiremos em quatro dias!”, lembrou Sirius.
 “Existe 
                    uma maneira de irmos mais rápido.”, interferiu 
                    Arnilan. “Posso pilotar a nau através do vácuo 
                    e chegaremos em algumas horas!”
 “Através 
                    do vácuo? O que é vácuo?”, perguntou 
                    Arthos.
 “É 
                    o que existe além do céu!”, disse o piloto.
 “Como 
                    assim ‘além do céu’?”, Limiekki 
                    questionou intrigado.
 “Além 
                    do céu e do ar, existe um espaço onde é 
                    sempre noite. Lá podemos ver que Toril, nosso mundo, 
                    é uma esfera. E existem outras delas espalhadas pelo 
                    vácuo.”
 
 Sirius, 
                    Limiekki e Arthos sorriram.
 
 “Esfera? 
                    O mundo é plano! Senão escorregaríamos 
                    e cairíamos! Ahahahah! Quer brincar com a gente, elfo!?”, 
                    falou Sirius gargalhando.
 “Quando 
                    estivermos lá, você mudará de idéia.”, 
                    respondeu Arnilan, com um pequeno e misterioso sorriso.
 “Bem... 
                    e neste tal vácuo... poderemos chegar a tempo?”, 
                    questionou Mikhail.
 “Sim. 
                    Fora da influência do ar, alcançaremos grandes 
                    velocidades. Conheço sobre mapas. Chegaremos ao Sul 
                    em menos de um dia.”, explicou o piloto.
 “Podemos 
                    aproveitar e ver se conseguimos um exemplar do Manual 
                    Definitivo da Construção em Lantan!”, 
                    lembrou Tharvin, bastante esperançoso.
 “É 
                    mesmo. Podemos tentar!”, falou animadamente Limiekki, 
                    que se recordou também que, se conseguisse tal livro, 
                    economizariam uma boa quantidade de dinheiro.
 
 Decidido 
                    o próximo passo, os aventureiros foram falar com Storm, 
                    para avisá-la de mais esta viagem. A barda não 
                    se opôs, mas pediu que fossem rápidos e não 
                    desperdiçassem tempo desnecessariamente. Voltaram então 
                    à nau, e novamente embarcaram. Arnilan e Arthos manobraram 
                    e assim deixaram mais uma vez o Monte da Adaga.
 
 Lá 
                    fora, o céu já estava azul e a noite já 
                    havia ido embora. Não haviam dormido, mas estavam agitados 
                    demais para isto. O barco flutuante foi subindo cada vez mais 
                    e, das janelas da cabine, puderam vê-lo superar a altura 
                    das nuvens. Demorou algumas horas, mas o céu, aos poucos, 
                    de azul passou à violeta, de violeta à negro. 
                    E as estrelas voltaram a aparecer. Enquanto subiam, sentiram 
                    seus corpos ficarem mais leves e ficaram com receio de estarem 
                    sob o efeito de algum tipo de magia. Porém logo depois, 
                    os seus corpos retornaram ao estado normal.
 
 “O 
                    que está aconteceu? Algum encanto?”, perguntou 
                    Limiekki.
 “Os 
                    corpos ficam mais leves à medida que nos aproximamos 
                    do vácuo, mas a magia da nave nos protege deste e de 
                    outros de seus efeitos. Sugiro que vão ao convés 
                    por alguns minutos, antes que eu retorne aos céus de 
                    Toril.”
 
 Então 
                    saíram e foram para a borda do convés. Olharam 
                    para cima e observaram o mais estrelado e belo céu 
                    de suas vidas. Selûne estava enorme, como nunca haviam 
                    visto antes. E abaixo, viram uma imensa esfera azulada e branca. 
                    Era o planeta Toril.
 
 “Por 
                    Mystra!”, exclamou Mikhail.
 “Não 
                    é que o nosso mundo é redondo mesmo!”, 
                    exclamou Limiekki.
 “Puxa... 
                    todos estes anos sempre pensei que Toril fosse uma plataforma!”
 “Caramba! 
                    Ei, Limiekki! Sabe o que lembrei? Finalmente sabemos muito 
                    mais sobre alguma coisa do que Kariel.”, falou Arthos.
 “Hehehe.”, 
                    sorriu o mateiro. “Quero ver a cara dele quando contarmos 
                    isto tudo!”
 
 Em 
                    relação aos outros passageiros, pode-se contar 
                    que os gnomos estavam também completamente maravilhados. 
                    Tharvin viu a possibilidade de novos estudos e Madarn queria 
                    saber onde era a Floresta das Aranhas naquele globo, mas não 
                    conseguiu descobrir. Já os ogros... os grandalhões 
                    se abraçavam e diziam que queriam voltar para casa! 
                    Depois de mais alguns minutos, Arnilan pediu que voltassem 
                    à cabine. Iriam retornar a Toril.
 
 A 
                    descida foi um pouco mais veloz, mas ainda assim poucas horas 
                    se passaram. Tempo em que a maioria aproveitou para dormir. 
                    Mesmo Arthos foi liberado por Arnilan para descansar um pouco. 
                    Tharvin e o piloto de Evereska localizaram no mapa de Toril 
                    o local procurado e logo estavam sobrevoando imensas florestas 
                    das terras do sudoeste de Faerûn, perto da região 
                    exótica de Chult. O destino deles era Thindol, um lugar 
                    de clima tropical e povoado por humanos de cor muito bronzeada. 
                    Chegaram, então, às florestas de madeiras negras 
                    e avistaram uma serraria, que ficava às margens de 
                    um rio. Pousaram a nau na água, alguns metros depois, 
                    e através de uma rampa desceram na margem, a exceção 
                    de Arnilan, que preferiu ficar na embarcação 
                    e os dois ogros, que sem dúvida, assustariam os vendedores.
 
 Caminharam 
                    e chegaram à serraria, formada de dois grandes galpões 
                    de madeira. Em um, os troncos, que eram cortados rio acima 
                    e trazidos pelas águas, eram armazenados e no outro 
                    as toras eram cortadas e feitas em tábuas grossas, 
                    pelos fortes braços dos homens que ali trabalhavam. 
                    Quando foram avistados, um senhor robusto de pele escura, 
                    com barbas castanhas e calvo se aproximou. Estava suado, com 
                    as mangas arregaçadas, e portava um machado.
 
 “Salve! 
                    Vieram pela madeira, certo?. Sou Targinal e temos as melhores 
                    madeiras de Toril.”
 “Sim. 
                    Precisamos de algumas delas. Nosso barco está parado 
                    alguns metros rio abaixo.”, disse Arthos. “Nosso 
                    mestre construtor, Tharvin, irá dar-lhe as informações 
                    sobre o que precisamos.”
 
 O 
                    gnomo então passou a conversar com o homem, mostrar 
                    as suas anotações e a analisar os troncos do 
                    depósito. Em seguida, os dois se aproximaram dos demais.
 
 “Temos 
                    toda a madeira necessária.”, falou Targinal. 
                    “O preço será de 2.500 peças de 
                    ouro!”
 “Duas 
                    mil e quinhentas! Mas isto é muito caro! Não 
                    poderia nos dar algum desconto?”, pechinchou o ruivo 
                    Arthos.
 “É 
                    a melhor madeira do mundo e vocês estão no lugar 
                    mais barato para comprá-la. Se estivessem em Portal 
                    de Baldur, pagariam quatro ou cinco vezes mais! Considere 
                    este preço como um valor com desconto.”, respondeu 
                    Targinal, um tanto mal-humorado.
 
 No 
                    final das contas, o dinheiro foi entregue e as tábuas, 
                    colocadas em carroças, foram levadas até a nau. 
                    Depois de duas horas e algumas viagens, o carregamento estava 
                    completamente embarcado. Tão logo os homens se afastaram, 
                    ergueram o veículo mágico do rio e rumaram até 
                    a ilha de Lantan. Pousaram mais uma vez nas águas e 
                    se aproximaram do porto. Naquele lugar, habitado predominantemente 
                    pelos gnomos, estrangeiros, principalmente de outras raças 
                    não eram bem vindos, pelo menos, não sem uma 
                    autorização oficial e a Comitiva não 
                    possuía nenhuma. Havia mesmo alguns gnomos, de lanças 
                    nas mãos, e outros com estranhas e desconhecidas armas, 
                    fruto da engenhosidade lendária de seus inventores, 
                    que guardavam o porto e olhavam desconfiadamente para barco 
                    de incomum aparência. Tharvin então recomendou 
                    aos demais que permanecessem no barco, enquanto iria até 
                    as lojas da cidade, em busca do Manual da Construção 
                    Definitiva. A Comitiva, por intermédio de Mikhail, 
                    deu-lhe o dinheiro necessário.
 
 Duas 
                    horas se passaram, e a idéia de sair para procurar 
                    o diminuto engenheiro já inquietava Arthos, quando 
                    o vêem, correndo e arfando, vindo até a não 
                    com um grosso e largo volume nas mãos.
 
 “Porque 
                    demorou tanto?”, perguntou o ruivo espadachim da Comitiva.
 “Tive 
                    muito trabalho para encontrá-lo. Mas veja que maravilha!”
 
 Tharvin, 
                    ansioso como uma criança que ganha seu primeiro brinquedo, 
                    abriu as folhas de pergaminho branco e exibiu os textos, desenhos 
                    e gráficos, bastante detalhados, de materiais, etapas 
                    de construções e estilos arquitetônicos 
                    existentes nos Reinos.
 
 “Esse 
                    livro nos ajudará na reforma?”, perguntou, prático, 
                    Sirius.
 “Sim! 
                    Vamos poder economizar materiais e tempo!”, respondeu, 
                    feliz.
 “Excelente. 
                    Mas, agora acho melhor irmos, ou chegaremos depois do prazo 
                    dado por Storm!”, lembrou Mikhail.
 
 Assim, 
                    afastaram-se do porto e puseram-se novamente a flutuar, agora 
                    em direção ao espaço. Neste tempo, finalmente 
                    descansaram da jornada e dormiram um pouco. Horas depois, 
                    despertos, estavam na região estrelada, acima da circunferência 
                    do mundo.
 
 “Ainda 
                    temos algum tempo. Acho que gostariam de dar um passeio por 
                    Selûne.”, sugeriu Arnilan.
 “É 
                    claro!”, respondeu Arthos.
 
 E 
                    assim a nau desenvolveu uma velocidade incrivelmente maior 
                    e aos poucos aproximou-se do satélite prateado. A medida 
                    que aquele astro branco se aproximava, puderam ver Toril ainda 
                    mais distante e azul. Sobrevoando a lua, viram inacreditáveis 
                    construções sobre sua superfície.
 
 “O 
                    que é aquilo? Uma cidade?”, perguntou Arthos.
 “Sim, 
                    mas não podemos nos aproximar. Dizem que este lugar 
                    era protegido por uma deusa chamada Leira, mas ela se foi 
                    e com ela a ilusão que ocultava o lugar. Existem relatos 
                    que habitantes hostis ainda vivem por lá!”, explicou 
                    Arnilan.
 “Qual 
                    é o nome dela? Quem vive por lá.”, indagou 
                    Mikhail.
 “Aquele 
                    lugar é chamado Centro Comercial e dizem que humanos 
                    o habitam!”
 “Incrível!”, 
                    admirou-se Tharvin.
 “Maravilhoso!”, 
                    fez coro Mikhail.
 “Podemos 
                    ir embora!”, murmurou Limiekki, do lado dos ogros que 
                    se abraçavam.
 “Arnilan... 
                    você disse que nossos corpos ficam mais leves no vácuo, 
                    mas que a magia da nau nos protege deste efeito. Pode nos 
                    mostrar como seria?”, quis experimentar Arthos.
 
 O 
                    elfo evereskano concordou e anulou o efeito que mantinha a 
                    gravidade em torno do navio e os passageiros começaram 
                    a flutuar. Divertiam-se com a novidade, mas a brincadeira 
                    terminou quando Sirius sentiu-se enjoado e vomitou, para desgosto 
                    dos outros.
 
 Rápido, 
                    voltaram ao peso normal e a nau contornou o satélite 
                    e retornaram à Toril. Arnilan e Arthos manobraram a 
                    nave e desceram novamente ao céu e, orientado pelos 
                    mapas e por uma bússola, chegaram aos Vales. Levaram 
                    os ogros, que juraram nunca mais subir numa ‘coisa’ 
                    como aquela, de volta à Aldeia do Amanhecer e finalmente 
                    retornaram até o porto do Monte da Adaga, nas últimas 
                    horas da tarde do segundo dia desde que haviam partido. Foram 
                    recebidos pelos gnomos e por Kariel. Os pequenos ficaram eufóricos 
                    quando souberam que Tharvin possuía nas mãos 
                    um exemplar do Manual Definitivo da Construção 
                    e cantaram uma música em homenagem ao feito do mestre 
                    engenheiro. Kariel foi saudar os amigos.
 
 “Ainda 
                    bem que voltaram. Começava a me preocupar!”, 
                    disse o elfo.
 Arthos deu um sorrisinho e bateu no ombro do amigo
 “Kariel... 
                    deixe-me iluminar um pouco o seu saber. Você sabe o 
                    que é vácuo?”
 “Como!?”, 
                    estranhou o elfo.
 “Você 
                    sabia que Toril é redondo?”, completou Limiekki, 
                    entrando na brincadeira de Arthos.
 “Bem... 
                    Kelta me falou algo a respeito, mas..”
 “Você 
                    sabia que existe uma cidade em Selûne?”, interrompeu 
                    Sirius.
 “Cidade 
                    em Selûne... vocês querem brincar comigo?”
 “E 
                    que as pessoas flutuam no vácuo?”, continuou 
                    Limiekki.
 “Arnilan!”, 
                    chamou o mago o piloto. “Eles beberam durante o vôo?”
 “Não 
                    que eu saiba”, disse o evereskano.
 “Pelo 
                    que estão falando, com certeza o fizeram. Volto quando 
                    estiverem sóbrios novamente!”, disse Kariel, 
                    saindo do porto, com muitas dúvidas na cabeça.
 “Espere, 
                    Kariel... tem muito mais!”, ainda gritou o gozador Arthos.
 
 Depois 
                    das risadas foram dormir. Estavam exaustos da viagem e do 
                    esforço e somente acordaram na manhã seguinte, 
                    quando havia uma reunião, convocada por Storm, logo 
                    após o desejum. Duas horas depois de abrirem os olhos, 
                    já estavam em volta da mesa negra novamente e ouviam 
                    a barda do Vale das Sombras fazer a sua preleção.
 
 “Embarcaremos 
                    em breve rumo ao Subterrâneo. Ao encontrarmos as cidades, 
                    eu e Kariel estaremos aptos a lançarem um encanto que 
                    nos permitirá ficar com a aparência similar aos 
                    membros da casa Millithor, e que também nos permitirá 
                    a comunicação em língua drow. Quando 
                    estivermos sob este disfarce, defini que cada um assumirá 
                    a identidade de um membro do clã que possua habilidades 
                    semelhantes as de seu intérprete. Eu, que sou capaz 
                    de conjurar alguns encantos, assumirei a aparência da 
                    sacerdotisa Ki´Willis, Magnus, a do guerreiro Marckarius, 
                    Kariel, a do mago Karelist, Limiekki a do furtivo Dariel, 
                    Arthos será o espadachim Torrellan e Mikhail...espero 
                    que não se ofenda, mas deverá assumir a aparência 
                    da sacerdotisa Narcélia.”
 
 Sirius, 
                    Limiekki e Arthos imediatamente caíram em uma gargalhada 
                    descontrolada. Mesmo Kariel, Storm e Danicus acabaram sorrindo. 
                    Mikhail, desconfortável, respondeu.
 
 “Isto 
                    é um tanto estranho e desconfortável, mas pela 
                    necessidade e para o bem da missão, aceito a demanda. 
                    Mas espero não ser alvo de piadinhas durante a viagem 
                    toda!”
 “Advirto 
                    que tal comportamento pode levar tudo a perder.”, colocou 
                    Storm, agora séria mais uma vez. “Aqueles que 
                    não personificarem o núcleo principal do clã 
                    Millithor assumirão a aparência de drows comuns, 
                    que serão tidos como soldados. Arranjaremos para estes 
                    nomes adequados.”
 “Storm... 
                    se os drows puderem detectar em nós a bondade da alma, 
                    como, por exemplo, Magnus pode fazer quanto a maldade? Sabemos 
                    que os drows são em sua maioria violentos e cruéis. 
                    Se nos descobrirem com este tipo de artifício estaremos 
                    em apuros.”, observou Mikhail.
 “Para 
                    isto trouxe-lhes algo!”, Storm retira um saco de veludo 
                    e despeja sobre a mesa pequenos broches, com o símbolo 
                    da casa Millithor, um círculo menor rodeado por relâmpagos 
                    dentro de outro círculo maior. “Estes broches 
                    são chamados pelos drows de insígnias, são 
                    objetos que identificam os integrantes das casas drow. Nós 
                    reaproveitaremos estas insígnias com o diferencial 
                    de que nelas estão pequenos cristais usados por nós 
                    harpistas para missões muito arriscadas de infiltração. 
                    Os cristais são mágicos, eles ocultarão 
                    nossa verdadeira natureza e quem tentar descobrir a índole 
                    de vocês enquanto usarem isto terá um resultado 
                    semelhante a índole média dos drows. Além 
                    também de nos conceder a habilidade de enxergar no 
                    escuro até uma determinada distância.”
 
 Os 
                    aventureiros coletaram os broches e guardaram cada um consigo, 
                    para o momento em que fossem transformados pela magia de Storm 
                    e de Kariel.
 
 “Agora 
                    e até a noite, terão aulas com o professor Danicus, 
                    sobre o comportamento e sociedade dos drows, em um resumo 
                    sobre tudo que ele recolheu nos livros. Amanhã cedo 
                    partiremos.”
 
 A 
                    reunião propriamente terminou ali e começou 
                    o pequeno curso sobre cultura drow do professor Danicus, que 
                    durou até a noite, parando somente para as refeições. 
                    O acadêmico falou sobre algumas leis, sobre a hierarquia 
                    entre os membros dos clãs, da liderança e o 
                    respeito dedicados às sacerdotisas. Treinaram maneiras 
                    também e foram informados sobre a sociedade militar 
                    e fria daqueles habitantes do Subterrâneo. Depois, tarde 
                    da noite, foram para suas camas. Alguns sonharam com a nova 
                    aventura, outros com o que ficaria para trás.
 
 Quando 
                    a noite deu lugar ao dia, e depois de fazerem a última 
                    refeição na caverna, despediram-se dos gnomos. 
                    Kariel deixou com Tharvin uma carta, endereçada ao 
                    Lorde Randal Morn, para que fosse providenciada uma escolta 
                    ou guarda, caso precisassem. Na nau voadora, todos os materiais 
                    de construção já haviam sido retirado 
                    e estavam empilhados bem perto ao porto. No porão havia 
                    agora comida, água, roupas, equipamentos e armas. Embarcaram 
                    e foram até a cabina, onde os gnomos haviam montado 
                    confortáveis cadeiras para todos. Os pequenos também 
                    haviam instalados camas e mesas nos pisos inferiores. O passageiros 
                    daquela arriscada missão, Storm, Kariel, Arthos, Mikhail, 
                    Magnus, Bingo, Sirius, Limiekki, Danicus, Klerf, e Arnilan 
                    tomaram seus lugares. Este último sentou-se na poltrona 
                    chamada também de leme da nau voadora e, com Arthos, 
                    fez com que aos poucos a embarcação começasse 
                    a mover-se mais uma vez, desta vez em direção 
                    da garganta entre as rochas, que levava a um corredor cavernoso, 
                    escuro e silencioso rumo a escuridão.
 
 Kariel, 
                    que estava desde o amanhecer calado e pensativo, quebrou o 
                    silêncio e perguntou algo que incomodou sua mente durante 
                    um dia inteiro.
 
 “Arthos..., 
                    por Tymora, o que é este tal de vácuo?!”
 
 
 
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