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                    Retomada Descrita por Ricardo Costa.Baseada no jogo mestrado por Ivan Lira.
  Personagens principais da aventura: 
 Os 
                    Humanos: Magnus de Helm; Sirius Lusbel; Sigel O'Blound 
                    (Limiekki). Os Elfos: Mikhail Velian; Kariel Elkandor. 
                    O Halfling: Bingo Playamundo.
 
 
  
  A Retomada
 O 
                    Despertar sob a Montanha       Passaram-se 
                    oito horas desde que os aventureiros da Comitiva da Fé 
                    haviam resolvido descansar. Dormiram como puderam. As camas 
                    eram confortáveis, muito mais do que as que estavam 
                    acostumados, nas longas viagens e acampamentos. Aos poucos, 
                    começaram a levantar. O primeiro impulso era de entrevistar 
                    finalmente os homens que foram cativos, saber deles o que 
                    havia ocorrido, se ouviram algo dos drows, se eram realmente 
                    os Harpistas desaparecidos. Mas Mikhail, que conhecia muito 
                    sobre curas e injúrias do corpo, foi taxativo: aqueles 
                    homens demorariam ainda mais dois dias, até estarem 
                    plenamente alimentados e hidratados e assim poderem falar 
                    aqueles assuntos. Sendo assim, os despertos heróis 
                    procuraram outras coisas para fazer.
 Uma 
                    pequena reunião com alguns deles se formou nas proximidades 
                    do portal de pedra desativado. Estavam Kariel, Magnus, Mikhail 
                    e Limiekki. A conversa era sobre o destino daquela passagem 
                    mágica e Magnus segurava a grande e brilhante gema 
                    vermelha que, acreditava-se, seria, quando fixada em uma cavidade 
                    no ponto mais alto da moldura de pedra, a chave que acionaria 
                    a passagem.
 
 “Acho que deveríamos 
                    bloquear este portal!”, sugeriu Mikhail.
 “Bloquear?! Acho 
                    que devemos destrui-lo e junto com ele esta gema! Eu sinto 
                    maldade irradiando desta jóia!”
 “Não sei 
                    se é a melhor idéia, Magnus. Talvez possamos 
                    usar o portal como uma vantagem estratégica. Se um 
                    dia tivermos que fazer uma incursão ao território 
                    drow, podemos usar o portal como uma maneira de chegar até 
                    às suas cidades e confrontá-los em seu próprio 
                    covil!”, disse Kariel, formulando um estratagema.
 “Mas pode existir 
                    a possibilidade dos drows cruzarem o portal no sentido inverso 
                    e nos atacar!”, rebateu o paladino de Helm.
 “Podemos montar 
                    algumas barricadas e acionar o portal. Se saírem alguns 
                    destes drows de lá estaremos preparados!”
 “E se for um exército, 
                    Limiekki? Não teremos como contê-los!”, 
                    observou o mago elfo.
 “Então... 
                    destruímos ou não!?”
 
 Ante a pergunta do já 
                    impaciente Magnus, os demais fizeram um instante de silêncio, 
                    pensando e ponderando, até que Kariel novamente se 
                    pronunciou.
 
 “Acho que devemos 
                    aguardar Storm. Ela deve conhecer o funcionamento deste portal 
                    e poderá nos dar uma orientação mais 
                    adequada.”
 “Enquanto isto, 
                    poderei bloqueá-lo. Lerei uma prece especial e a rocha 
                    preencherá o vão. Acredito que assim não 
                    haverá como os drows passarem.”
 “Pode reverter o 
                    encanto se necessário?”
 “Sim, Magnus.”
 “Então o 
                    execute, Mikhail. Será nossa solução 
                    até a chegada de Storm.”, concluiu Kariel.
 
 Mikhail então gesticulou 
                    e recitou algumas palavras da prece divina. Após a 
                    última sílaba, uma camada de rocha, do mesmo 
                    tipo negro que formava o portal, estendeu-se das extremidades 
                    do arco até fechá-lo completamente. Com aquele 
                    assunto encerrado, pelo menos por enquanto, os heróis 
                    então decidiram por explorar melhor o lugar e partiram 
                    para pontos distintos do complexo cavernoso. Após algumas 
                    horas, se reencontrariam na sala de reunião para comunicar 
                    o resultado de seus esforços.
 
 Kariel andou alguns metros, 
                    até a outra extremidade, onde estava aportada a nau. 
                    Estava o mago curioso com os raios de luz que vinham do alto 
                    naquele ponto. O elfo arcano então lançou sobre 
                    si um sortilégio, através de palavras incompreensíveis 
                    e começou a levitar. Segurou nas paredes, tomou impulso 
                    nas rochas e foi subindo mais e mais. O teto fazia uma pequena 
                    curva e ao alto Kariel pode ver uma grande abertura para o 
                    céu. “Uma saída para nau!”, pensou 
                    em um primeiro momento. “Uma entrada para inimigos!”, 
                    pensou novamente, depois de exercitar sua prudência. 
                    Continuou subindo até os fortes raios de Selûne 
                    o cobrirem com sua iluminação prateada. Saiu 
                    Kariel das entranhas da montanha em direção 
                    as escarpas da rocha, quando teve uma outra surpresa. Do lado 
                    de fora, a cratera não podia ser vista. Simplesmente 
                    não existia. Uma magia, semelhante a usada na entrada 
                    do complexo, cobria a entrada com uma rocha ilusória. 
                    Kariel observou o monte, a floresta ao longe e as estrelas 
                    por alguns minutos e desceu novamente. Agora quis saber o 
                    elfo sobre o abismo que havia abaixo do ancoradouro da nau 
                    voadora. Lançou mão de outro encanto e suavemente 
                    desceu as escarpas da rocha, leve como uma pluma, com a luz 
                    da sua lâmina encantada acesa, emitindo o seu brilho 
                    azulado. Chegou ao fundo, vinte metros de decida depois. Fora 
                    o terreno difícil e extremamente pedregoso, não 
                    havia nada de incomum ou ameaçador. Caminhou mais um 
                    pouco e viu a estreita garganta, um corredor entre a rocha, 
                    por onde Torellan havia fugido. Quando a duração 
                    de seu encanto estava prestes a findar, resolveu subir novamente.
 
 Enquanto isso acontecia, 
                    Limiekki e Bingo procuravam minuciosamente por passagens, 
                    armadilhas ou portas que porventura houvessem ocultas nos 
                    cômodos construídos pelos drows. Examinaram atentamente 
                    cada parede, degrau, porta e piso, observando com o cuidado 
                    e o conhecimento, aperfeiçoados graças às 
                    muitas aventuras anteriores, onde se depararam com mecanismos 
                    escondidos. Após muito olharem por horas, nada encontraram. 
                    Ficaram aliviados. Não haveriam emboscadas ou surpresas 
                    desagradáveis. Enfim, parecia-lhes que o complexo estava 
                    seguro. Resolveram então fazer o levantamento dos pertences 
                    deixados pelos drows, a fim de apresentar mais informações 
                    aos colegas.
 
 Em suas horas de exploração, 
                    Mikhail decidiu checar a sala de reuniões e a biblioteca. 
                    O elfo dourado olhou e reolhou os documentos e mapas dispostos 
                    na mesa, procurando por uma figura, um contorno ou uma indicação 
                    que lhe fosse de alguma forma familiar, mas não obteve 
                    sucesso. Tentou então buscar algum volume na biblioteca 
                    que pudesse lhe ser útil, mas nada. Todos os livros 
                    que puxava da prateleira encontravam-se na difícil 
                    e obscura linguagem drow.
 
 Magnus e Sirius decidiram 
                    retornar para o portal que lhes intrigava. O paladino tinha 
                    dentro de si o forte desejo de destruir aquele artefato mágico, 
                    junto com a gema que o ativava. Somente ele podia sentir a 
                    energia maligna que emanava daquela pedra, que o incomodava 
                    bastante. “Se é maligno deveria ser destruído!”, 
                    era o que pensava o rapaz, que não entendia a preocupação 
                    dos outros em manter aquele objeto intacto. Não tomaria 
                    uma atitude isolada, mas queria se certificar que o arco de 
                    pedra poderia ser destruído caso fosse necessário. 
                    Coletou com o companheiro algumas ferramentas dos drows e 
                    examinou a dureza da rocha. Concluiu que juntos poderiam quebrá-la 
                    e derrubar abaixo o engenho mágico.
 
 Oito horas se passaram. 
                    Lá fora, o céu estava azul novamente e o sol 
                    ainda subia. Finalmente todos estava na sala de reuniões, 
                    discutindo seus achados. Kariel, o mago elfo, foi o primeiro 
                    a descrever o que havia descoberto. Falou sobre a cratera 
                    no topo da montanha, oculta por uma ilusão, do fundo 
                    do abismo que percorreu e da estreita passagem, por onde fugiu 
                    o drow Torrellan.
 
 Após isto, foi 
                    a vez do pequeno Bingo e de Limiekki, o mateiro, fazerem suas 
                    observações. O ranger disse-lhes que havia procurado 
                    junto com o halfling por armadilhas e portas secretas, mas 
                    que nada haviam descoberto. Porém, as revelações 
                    mais impressionantes vieram quando começaram a descrever 
                    o que haviam encontrado nos aposentos daquele lugar. Haviam 
                    jóias, moedas, estatuas de ouro e marfim, braceletes, 
                    mochilas, cordas, roupas, livros, mapas, armaduras, escudos, 
                    espadas, adagas... muitas coisas úteis e valiosas. 
                    Limiekki depositou sobre a mesa de reuniões alguns 
                    destes objetos. Eram armas, belíssimas capas e vestidos 
                    das sacerdotisas mortas.
 
 “Estes itens emanam 
                    magia.”, avaliou Kariel, após espalmar a mão 
                    sobre os pertences negros.
 “E eu sinto o mal 
                    que irradia deles”, completou Magnus paladino, usando 
                    um dos seus dons divinos.
 
 Após tais verificações, 
                    decidiram que aqueles pertences deveriam ser destruídos, 
                    afim de evitar alguma influência nefasta. Bingo também 
                    colocou na mesa outros objetos. Era um pequeno saco de couro 
                    e duas mochilas encontradas nas masmorras, de confecção 
                    humana. Os heróis, a princípio relutaram, mas 
                    as abriram e verificaram os conteúdos. Havia cantis, 
                    penas e tinta, um diário e um grimório. O saquinho 
                    foi aberto e revelou uma surpresa: haviam dentro dois pingentes 
                    de Harpista e alguns anéis, um deles mágico, 
                    avaliou o mago novamente.
 
 “Parece que encontramos 
                    enfim os Harpistas desaparecidos!”, disse Mikhail
 
 Arthos sorrateiramente, 
                    recolheu o diário, escondido dos amigos, pois sabia 
                    que seria imediatamente repreendido, e leu alguns trechos. 
                    Não haviam grandes revelações, mas foi 
                    possível entender que os dois homens vieram por conta 
                    própria até Cachoeiras da Adaga, perseguindo 
                    rumores de estranhas movimentações na floresta. 
                    Guardaram novamente os bens dos Harpistas nas mochilas e as 
                    jóias mágicas no pequeno saco de couro e a reunião 
                    prosseguiu com a voz altiva e firme do jovem paladino Magnus.
 
 “Nós verificamos 
                    o portal e ele é de pedra comum e pode ser destruído. 
                    O problema é esta gema mágica.”, disse 
                    Magnus, mostrando a peça vermelha e facetada.
 
 Kariel ergueu a mão 
                    espalmada na direção da pedra e ficou assim 
                    por cinco segundos. O elfo então comunicou aos amigos 
                    que a magia que emanava da pedra era do mesmo tipo da que 
                    os magos se valiam para realizar encantos de teleportes e 
                    portais. O mago então sugeriu novamente que aguardassem 
                    a vinda de Storm Mão Argêntea, também 
                    arcana e sábia das coisas místicas, para uma 
                    melhor avaliação, antes que se tomasse qualquer 
                    atitude mais drástica sobre o destino da jóia 
                    mágica. A idéia foi acatada, ainda que houvesse 
                    um receio de que o portal de pedra, mesmo sem a sua gema e 
                    bloqueado pelo efeito da prece de Mikhail, pudesse ainda servir 
                    como rota de invasão dos drows.
 
 Terminados os relatórios 
                    de inspeção, parecia ser aquela caverna o lugar 
                    perfeito para que a Comitiva da Fé fizesse sua base. 
                    Havia de tudo: acomodações suficientes, armas, 
                    transporte, mesmo laboratório, santuário e biblioteca.
 
 “Enfim, parece que 
                    encontramos um local ideal para nós. Só precisaríamos 
                    de pequenas reformas.”, colocou Arthos.
 “Podíamos 
                    contratar alguém para fazer este serviço.”, 
                    sugeriu Limiekki
 “Mas, quem? Anões 
                    são muito bons em trabalhar com pedras...”
 “Mikhail... não 
                    conheço muitos anões para contratarmos. Vivi 
                    por anos aqui em Cachoeiras da Adaga e vi poucos anões. 
                    Eu mesmo só conheço um.”, disse Limiekki.
 “Bem... deixemos 
                    os anões de lado.”, disse Kariel, que achava 
                    os anões um tanto impulsivos e rudes. Coisa de elfo. 
                    Em seguida fez uma proposta. “Levarei os Harpistas daqui 
                    para o Vale das Sombras. De lá irei àquela pequena 
                    vila de gnomos, Stormpenhauer. Aqueles pequenos são 
                    inventivos e hábeis e certamente poderiam fazer um 
                    bom trabalho adaptando esta caverna para nosso uso.”
 “Excelente idéia”, 
                    disse Arthos.
 “Irei com você, 
                    Kariel.”, ofereceu-se Sirius.
 “Enquanto isto, 
                    vou a Cachoeiras da Adaga. Informarei a Lorde Randal sobre 
                    o acontecido aqui e aguardarei o retorno de Storm, para guiá-la 
                    até aqui. Tenho que também levar o orc que prendemos, 
                    para que ele pague perante a justiça pelo seus atos. 
                    Partirei ainda hoje”, falou o decidido Magnus.
 “Bem... Enquanto 
                    os Harpistas se recuperam, acho por bem organizarmos um pouco 
                    este lugar. Temos algumas tarefas para fazer e corpos para 
                    sepultar!”, lembrou Limiekki
 
 A reunião então 
                    acabou e os participantes mais uma vez se dispersaram e nada 
                    de grande importância aconteceu nos próximos 
                    dois dias, em que os combalidos homens se fortaleciam e recuperavam-se 
                    dos maus tratos dos drows. Os corpos dos inimigos mortos foram 
                    levados por Magnus e Sirius para a floresta e enterrados em 
                    uma vala, embaixo de um freixo frondoso. Em seguida, o paladino 
                    partiu, rumo a Cachoeiras da Adaga. A comida da despensa e 
                    a água foram vistoriadas por Limiekki e Bingo, e todos 
                    fizeram boas refeições com elas (principalmente 
                    o pequeno, deve-se dizer). O mago Kariel estudou os livros 
                    de magia que encontrou e anotou algumas delas em seu próprio 
                    grimório. Mikhail limpou e preparou o santuário, 
                    que pretendia dedicar a sua divindade e as dos demais amigos. 
                    Já Arthos, barbeou-se pela primeira vez na vida. Tarefa 
                    banal para os homens, era muito estranha para ele, que ainda 
                    se acostumava em não ser mais um elfo. Experimentou 
                    também as belas roupas e sabre que pertenciam a Torellan 
                    e examinou a nau voadora, veículo que sempre havia 
                    sido objeto de seus desejos. E assim caíram as areias 
                    do tempo naqueles dias.
 
 A certa hora da manhã, 
                    Mikhail, o clérigo de Mystra, ouviu ruídos no 
                    quarto onde convalescia um dos Harpistas e abriu a porta. 
                    O mais jovem deles que lá estava deitado, um ruivo, 
                    perguntou as óbvias questões dos desorientados:
 
 “Quem é você? 
                    Onde estamos?”, disse agitadamente, sobressaltado.
 “Acalme-se. Chamo-me 
                    Mikhail Velian. Vocês estão sobre o Monte da 
                    Adaga”.
 “Os drows?! Onde 
                    estão os drows?”
 “Eles não 
                    são mais ameaça. Nós os derrotamos. Você 
                    está seguro.”
 “Minha cabeça 
                    ainda gira...”, colocou os dedos da mão direita 
                    sobre a fronte. “Onde está Danicus? E você? 
                    O que faz aqui?”
 “Seu colega está 
                    se recuperando em um quarto próximo. Enquanto a mim, 
                    faço parte de um grupo chamado Comitiva da Fé. 
                    Viemos aqui para investigar alguns desaparecimentos e acabamos 
                    por encontrar os orcs e drows. Felizmente os encontramos com 
                    vida.”
 
 O jovem cerrou levemente 
                    os olhos e fez uma estranha pergunta
 
 “O senhor toca a 
                    Harpa!?”
 “Sei de que Harpa 
                    fala. Não. Não a toco, mas entre nós 
                    há um que a toca.”
 “Ótimo. Desculpe 
                    minha rudeza. Fiz tantas perguntas mas não agradeci. 
                    Sou Klerf Maunader. Obrigado por ter nos salvado.”, 
                    disse enquanto levantava da cama, em passos inseguros. “Pode 
                    me levar até Danicus?”
 “Sim. É claro.”, 
                    respondeu Mikhail amparando o homem.
 
 Mikhail levou Klerf até 
                    o quarto de Danicus, que dormia.
 
 “Danicus?!”, 
                    chamou o Harpista o colega, um senhor de meia idade e barba 
                    levemente grisalhas, que abriu os olhos. Naquele momento, 
                    chegou também Arthos.
 “Klerf?!”, 
                    disse olhando em volta do quarto. “Quem são vocês? 
                    Um grupo de apoio?. Por quanto tempo ficamos aqui?”.
 “Viemos procurar 
                    por vocês e por outros desaparecidos. Estão sob 
                    nossos cuidados há três dias!”
 “Precisamos nos 
                    apressar!”, disse o homem, nervoso. “Faerûn 
                    corre perigo! Escutei coisas... um plano maligno dos drows!”
 
 Outro membro da Comitiva 
                    chegou naquele instante. Era Kariel, que passava por perto 
                    e fora atraído pelo som das vozes, que conseguia captar 
                    com sua audição apurada de elfo. Bingo também 
                    o encontrou e o seguiu. Disse logo o mago, após adentrar 
                    a porta e ver os dois Harpistas e os colegas Mikhail e Arthos:
 
 “Boa Tymora! Bom 
                    vê-los bem novamente!”, disse com um leve sorriso. 
                    Em seguida, pôs a mão na bolsa que levava presa 
                    na cintura e dela retirou um saco de couro e entregou ao homem 
                    deitado. “Acho que isto pertence a vocês, colegas!”
 
 Danicus despejou o conteúdo 
                    sobre a palma da mão: um anel e dois pingentes em forma 
                    de harpa, em uma corrente dourada. Penduraram sobre o pescoço 
                    e perceberam que aquele elfo de cabelos azuis também 
                    usava um do mesmo tipo.
 
 “É bom ver 
                    que temos um de nós entre vocês. Quem os enviou? 
                    O comando de Berdusk?”, questionou Danicus.
 “Não. Recebemos 
                    a missão de Storm Mão Argêntea.”, 
                    comunicou Kariel.
 “Storm Mão 
                    Argêntea? Ela os enviou? Perdoem-me, mas quem são 
                    vocês para conhecerem a senhora Storm?”
 “Nos conhecem por 
                    Comitiva da Fé. Há mais três de nós 
                    em nosso grupo que não estão nesta sala.”, 
                    respondeu Arthos.
 “A Comitiva da Fé? 
                    Do Vale das Sombras? Os pupilos de Elminster, o Sábio? 
                    Os que combateram até mesmo a Bane em pessoa, o Deus 
                    do Conflito e da Tirania? Não posso acreditar!”
 
 Os aventureiros sorriram. 
                    Não estavam acostumados a serem reconhecidos pelos 
                    seus feitos, ainda mais de maneira tão eloqüente. 
                    A resposta, simples, foi dita por Arthos.
 
 “Err... Sim. Somos 
                    nós!”
 “Então Tymora 
                    nos deu uma grande sorte, pois acho que os Reinos precisam 
                    muito de vocês. Precisamos evitar o que está 
                    para acontecer!”
 “O que há 
                    de tão grave?”, perguntou Kariel.
 “Meu jovem elfo, 
                    deixe contar-lhe do início. Chegaram aos nossos ouvidos, 
                    em Berdusk, rumores que batedores drows haviam sido vistos 
                    por esta região. Não é comum vermos drows 
                    na superfície e por isto fiquei intrigado. Infelizmente, 
                    os Harpistas não possuíam condições 
                    no momento de realizar uma investigação, então 
                    eu mesmo me propus a fazê-la, junto com meu colega Klerf. 
                    Eu estava também cansado de lecionar e, decidi empreender 
                    esta viagem para obter mais do conhecimento vivo que está 
                    fora dos livros.”
 
 Klerf complementou o relato 
                    do seu acadêmico amigo, enquanto este fez uma pausa 
                    para ajeitar-se melhor na cama.
 
 “Chegamos aqui há 
                    alguns meses, creio. Não estou bem certo pois perdemos 
                    a noção do tempo. Investigávamos na floresta, 
                    onde montamos um posto avançado, na verdade, uma pequena 
                    cabana. Um certo dia, enquanto caminhávamos próximos 
                    a esta montanha, fomos surpreendidos por encantos e acordamos 
                    na prisão em que nos encontraram.”
 “O que os nossos 
                    captores não sabiam, porém, é que conheço 
                    um encantamento que me permite entender a língua drow.”, 
                    retomou Danicus. “Ouvi muitas coisas... Existe um plano 
                    em curso, ao qual chamam A Retomada. Consiste na construção 
                    de diversos portais entre o Subterrâneo e os Reinos. 
                    Os drows querem iniciar uma invasão à superfície 
                    e retomar os lugares, que em tempos ancestrais, os pertenciam.”
 “Li algo a respeito 
                    em mapas e planos deixados na biblioteca deste complexo.”, 
                    comentou Kariel, que também conhecia o encanto usado 
                    por Danicus.
 
 Bingo, que havia saído 
                    por alguns minutos durante a conversa, voltou com uma bandeja 
                    e duas xícaras de chá, que ofereceu aos hóspedes 
                    da Comitiva.
 
 “Precisamos descobrir 
                    mais sobre isto o quanto antes. Precisamos saber se esta invasão 
                    já está acontecendo. Devemos avisar os Harpistas...”, 
                    disse Danicus, enquanto tentava se levantar. Porém, 
                    não era jovem como seu companheiro Klerf e as pernas, 
                    sem a energia necessária, fraquejaram e o devolveram 
                    à cama.
 “Calma, senhor”, 
                    Mikhail se aproximou. “Ficou muito tempo desacordado 
                    e ainda não se recuperou. Aguarde um pouco mais.”
 “Sim. Storm deverá 
                    estar aqui em breve. Poderemos decifrar juntos tais planos.”, 
                    falou Kariel
 “E em relação 
                    aos outros desaparecidos? Os do Vale da Adaga? Têm alguma 
                    notícia deles?”, quis saber Arthos.
 “Não sei 
                    ao certo, mas temo que estejam mortos.”, disse Klerf.
 
 Lembraram então 
                    do altar de Lolth e do sangue que encontraram. Os infelizes 
                    cativos deveriam certamente ter encontrado a morte para honrar 
                    a Deusa Aranha.
 
 “Você falou 
                    a respeito de uma biblioteca com mapas e livros. Poderíamos 
                    vê-la? Talvez nos dê algumas informações.”
 
 Kariel concordou, mas 
                    Mikhail sugeriu que fossem mais tarde, após a refeição 
                    do meio-dia, afinal Danicus precisava ainda recuperar mais 
                    de suas energias. E assim, poucas horas depois, estavam todos 
                    na sala, em torno da grande mesa de pedra escura. Danicus 
                    havia lançado sobre si o encantamento que lhe permitia 
                    ler a escrita drow e estava debruçado sobre o imenso 
                    mapa. Apontou uma marca esverdeada e falou:
 
 “Pelo que entendi, 
                    é um mapa do Subterrâneo. Estamos aqui”, 
                    disse mostrando. “Está escrito ‘Casa dos 
                    Millithor’! Existem também indicações 
                    sobre algo que não conheço, lugares chamados 
                    ‘faerzress’. Estão marcados também 
                    outros pontos onde existem portais. O lugar mais próximo, 
                    a alguns dias daqui, chama-se Maerimydra. Um outro chamado 
                    Undrek’Toz é o seguinte. São ao todo oito 
                    portais e o percurso termina em um local do qual já 
                    ouvi falar: uma cidade drow chamada Menzoberranzan, onde fica 
                    o último deles.”
 “Talvez deste portal 
                    possa se partir para os demais. Pode ser que esta Menzoberranzan 
                    seja o ponto central.”, supôs Mikhail.
 “Temos que desativar 
                    estes portais e impedir esta invasão. Porém 
                    não sei como poderemos nos mover nestes corredores 
                    do Subterrâneo.”, colocou Klerf.
 “Em um nível 
                    mais abaixo neste complexo, temos um porto e nele uma nau 
                    voadora que os drows que viviam aqui usavam. Não sabemos 
                    como controlá-la, mas através dela poderíamos 
                    percorrer uma passagem que encontramos e que segue por dentro 
                    destas cavernas.”
 “Uma nau voadora?! 
                    Que interessante. Como a magia drow pode ser versátil! 
                    Nunca poderia imaginar que usariam uma nau voadora para percorrer 
                    o Subterrâneo! Este é um lugar misterioso que 
                    eu sempre quis conhecer, acho que chegou a hora. Gostaria 
                    de ver o portal. Podem-me levar até ele?”, pediu 
                    Danicus.
 
 A Comitiva prontamente 
                    atendeu e em poucos minutos estavam diante do portal. Danicus 
                    conjurou um encanto e leu as runas. Em seguida examinou a 
                    pedra mística. Gastou um quarto de hora, até 
                    que finalmente disse:
 
 “Este é um 
                    portal de mão dupla e a gema colocada no orifício 
                    o faz funcionar. Está desativado, mas nada impede que 
                    esta ou outra pedra seja inserida novamente e o ative.”
 “Mesmo com o encanto 
                    que coloquei sobre ele?”, perguntou Mikhail, sobre a 
                    parede de rocha que fez surgir no vão do arco de pedra.
 “O encanto que habilmente 
                    executou, infelizmente pode ser sobrepujado por algum outro.”, 
                    respondeu Danicus.
 “Então a 
                    destruição do portal é a nossa única 
                    segurança, correto?”
 “Sim, jovem elfo.”, 
                    respondeu o professor Harpista, desta vez à Kariel.
 “Ah... então 
                    deixe-me fazer uma coisa!”, disse Sirius, em um ímpeto.
 
 Pegou um martelo, ferramenta 
                    deixada pelos drows, e a jóia. Rapidamente, antes que 
                    os colegas pudessem reagir, desferiu um poderoso golpe. A 
                    pedra explodiu em fragmentos e a energia liberada por ela 
                    fez cair longe o guerreiro.
 
 “Sirius, inconseqüente!”, 
                    Kariel admoestou o amigo. “Não se destrói 
                    um artefato mágico desta forma!”
 “Poderia ter se 
                    matado e a nós!”, completou Mikhail, o clérigo 
                    da Deusa da Magia.
 “Ufff!”, Sirius 
                    só pode responder isto, levantando-se do chão.
 “Vamos nos concentrar 
                    em destruir o portal! Ele é de pedra. E pedra pode 
                    ser partida!”, Colocou Limiekki, pegando uma marreta.
 
 Ficaram então Limiekki, 
                    Sirius e Klerf batendo e despedaçando a rocha negra 
                    que compunha aos arcos do portal. Arthos então pediu 
                    ao sábio Danicus para que fosse examinar a nau voadora 
                    e assim foram, acompanhados dos membros restantes da Comitiva. 
                    O homem se maravilhou com a bela embarcação 
                    e nela entrou. Percebeu magia em uma poltrona e em um capacete 
                    que encontrou na cabina. Mas sua sabedoria, infelizmente, 
                    não abrangia os conhecimentos que Arthos tanto gostaria 
                    de aprender.
 
 “Companheiros. Infelizmente 
                    não sei como pilotar esta nau. Talvez a senhora Storm, 
                    que já viveu em Evereska, um reino élfico que 
                    existe ao oeste e em que se usa tais transportes, possa dar 
                    alguma contribuição!”
 “Sou evereskano...”, 
                    disse Mikhail, elfo de cabelos dourados, “... mas não 
                    entendo como manejar esta nau. Espero que Storm tenha melhor 
                    sorte.”
 “Evereskano! Incrível. 
                    Sempre quis visitar tal lugar. Será que me conseguiria 
                    uma autorização?”, pediu Danicus.
 “Não posso 
                    garantir. Meu povo não é muito tolerante com 
                    outras raças.”, respondeu Mikhail.
 “É... eu 
                    é que não vou mais naquele lugar!”, bradou 
                    Arthos.
 Sorriram Kariel e Mikhail
 “Não se preocupe, 
                    amigo. Você não chegaria nem a cem metros dos 
                    portões de Evereska!”, disse Mikhail.
 “Não entendi!”, 
                    exclamou Danicus. “Porquê?”
 “Não queira 
                    saber. É uma longa história!”, falou Kariel. 
                    “Só nos resta aguardar Storm de qualquer forma.”
 “Sugiro retornarmos 
                    às nossas atividades e investigações 
                    na biblioteca! Assim ganharemos conhecimento enquanto aguardamos.”, 
                    colocou Danicus.
 
 E assim foram os membros 
                    da Comitiva e o professor, enquanto os outros destruíam 
                    o portal. Kariel e Danicus ficaram mais tempo lendo, por possuírem 
                    a dádiva de poderem conjurar o sortilégio decifrador 
                    de línguas. O professor encontrou um livro e descobriu 
                    o que eram os ‘faerzress’. Segundo a pesquisa, 
                    o faerzress é um ponto natural, uma fonte que irradia 
                    uma forte magia, que faz que os encantos conjurados em sua 
                    área sejam mais poderosos ou adquiram comportamentos 
                    imprevisíveis. Ficaram por mais uma hora, quando receberam 
                    uma esperada visita. Vinha com ela o paladino Magnus, Bingo 
                    e Limiekki.
 
 “Professor Danicus! 
                    Graças a Mystra está vivo! Sempre tive muitas 
                    esperanças de revê-lo.”, disse Storm Mão 
                    Argêntea.
 “Também fico 
                    feliz em vê-la!”, Danicus retrucou em uma vênia 
                    com a cabeça.
 “Kariel... pode 
                    me informar melhor o que aconteceu?”
 “Estamos em um complexo 
                    drow, provavelmente um posto, que era ocupado pelo clã 
                    Millithor, o responsável pelos desaparecimentos. Encontramos 
                    alguns planos de uma operação chamada de ‘A 
                    Retomada’. Ao que parece, é uma grande investida 
                    drow contra a superfície.”, respondeu o elfo.
 “Minha senhora, 
                    deixe-me alertá-la para a gravidade do que está 
                    acontecendo. Existe um plano dos drows para um deslocamento 
                    em massa para superfície, através de portais. 
                    Estou tentando coletar dados o mais rápido que posso. 
                    Sugiro que façamos uma reunião com os Harpistas 
                    e estabeleçamos uma estratégia!”
 “Concordo, Danicus, 
                    mas para convencer os Harpistas da necessidade de uma grande 
                    operação, teremos que ter mais conhecimento. 
                    Sugiro que estudemos mais. Irei ajudá-lo, mas antes 
                    gostaria de saber da Comitiva se existe mais alguma coisa 
                    que precisa ser informada.”
 
 Os aventureiros então 
                    comentaram sobre seu desejo de tornar aquela caverna em uma 
                    base de operações da Comitiva da Fé e, 
                    eventualmente, dos próprios Harpistas, após 
                    algumas alterações. A Mestre Harpista também 
                    foi informada do estranho cessar dos poderes da sacerdotisa 
                    drow e de seu suicídio, coisa que Storm considerou 
                    estranha. Depois disto, voltaram Kariel, Danicus e Storm aos 
                    estudos e os outros aos seus treinamentos e afazeres dentro 
                    da caverna.. Assim, mais duas luas e dois sóis passaram 
                    por sobre a Montanha da Adaga.
 
 Durante este período, 
                    muito se aprendeu sobre a cultura drow e sobre os seus planos 
                    de dominação. Os drows, segundo estudaram, viviam 
                    em uma sociedade matriarcal, violenta e militarista, dividida 
                    por clãs, onde a supremacia de uma Casa sobre a outra 
                    se constituía no principal motor social. Sobre os esquemas 
                    dos elfos da escuridão, leram o diário da sacerdotisa 
                    Ki’Willis. Encontraram uma menção sobre 
                    uma reunião entre as mais poderosas Casas drows, adoradoras 
                    da deusa Lolth. A Casa Millithor estava entre elas, porém 
                    em uma posição de pouco prestígio. Havia 
                    uma ordem de poder entre os clãs e o da sacerdotisa 
                    Ki’Willis estava na vigésima segunda posição, 
                    ameaçado de ser ultrapassado, destruído ou absorvido 
                    por outras Casas, segundo o costume drow. Um plano audacioso 
                    foi apresentado naquele dia, nas cavernas escuras de Menzoberanzan: 
                    exércitos partiriam através de portais, das 
                    principais cidades do Subterrâneo, para a superfície 
                    e iniciaram assim a Retomada. Para tanto, acordos teriam que 
                    ser feitos entre as cidades, os portais teriam que ser construídos 
                    e as chaves, gemas imbuídas de poder mágico, 
                    deveriam ser entregues em cada um destes lugares. A Casa Milithor 
                    ofereceu-se para a última missão e para construir 
                    um posto avançado nos Vales. Porém isto obrigaria 
                    os principais membros do clã a deixarem o Subterrâneo 
                    e perderem o status de Casa e, consequentemente, seu exército 
                    e grande parte de sua riqueza, que seriam apoderados por outros 
                    clãs. Era uma decisão difícil e arriscada, 
                    mas a matrona dos Millithor pensava em adquirir mais prestígio 
                    e que, com o sucesso do esquema, pudesse ascender novamente, 
                    dominar a região dos Vales e mesmo estabelecer um reino. 
                    Tal sacrifício, indesejado pelas demais casas, fez 
                    com que os Millithor conseguissem a aprovação 
                    de seu pedido.
 
 E assim partiram, com 
                    as jóias místicas e instruções 
                    para construção dos portais, que segundo recomendações 
                    dos magos dos clãs, deveriam ser construídos 
                    próximos aos faerzress, com vistas a maximizar o seu 
                    poder. De Menzoberranzan foram à cidade de Ch’Chitl, 
                    esta á única cidade do acordo habitada não 
                    por drows, mas por outros seres conhecidos como ilítides, 
                    dos quais Storm e Danicus apenas conheciam rumores. Seguiram 
                    com sua missão por Ched Nasad, depois por Sshamath, 
                    a maior das cidades drow, e de lá para T’Lindhet, 
                    um pequeno povoamento, quase que uma fortaleza, e por fim 
                    para Undrek’Toz e Maerimydra, ponto mais próximo 
                    do Monte da Adaga. Segundo contaram as palavras escritas em 
                    tinta negra, a missão teve sucesso, a cerca de cem 
                    anos passados.
 
 A apreensão tomou 
                    conta dos que sentavam nas cadeiras da sala de reuniões 
                    do complexo. Se o plano de invasão havia começado 
                    a tanto tempo, poderiam estes portais estarem sendo terminados 
                    ou mesmo estar concluídos. Poderiam os drows estar 
                    somente esperando o momento certo para levar a morte e a guerra 
                    pela superfície. Storm chamou os outros membros da 
                    Comitiva, contou-lhes sobre a pesquisa e disse-lhes:
 
 “A situação 
                    é bastante séria, pelo que lemos. Deveremos 
                    avisar sobre esta ameaça e tentar evitá-la. 
                    Enquanto li, esbocei um plano. Temos o transporte e os mapas. 
                    Poderemos seguir o caminho dos Milithor, disfarçados 
                    como eles, e ir a cada uma destas cidades, tentar provocar 
                    a destruição ou a inutilização 
                    dos portais.”
 “Mas quanto ao tal 
                    Torrellan? Ele fugiu e pode nos denunciar!”, preocupou-se 
                    Mikhail.
 “E tem quase uma 
                    semana de vantagem sobre nós!”, acrescentou Limiekki.
 “Segundo vocês 
                    me relataram, ele fugiu em uma pequena nau. Não acredito 
                    que tenha autonomia suficiente para chegar até a cidade 
                    drow mais próxima, ou mesmo que este fugitivo consiga 
                    chegar ao seu destino em segurança, devido aos perigos 
                    do percurso. Porém não temos muitas escolhas. 
                    Gostariam que todos vissem o mapa.”, disse a mulher, 
                    de cabelos prateados, desenrolando o mapa drow já decifrado.
 
 Apontou o local onde estavam, 
                    perto de um dos chamados faerzress. A cidade de Maerimydra 
                    era a mais próxima. Mostrou as demais cidades, corredores, 
                    lagos, os símbolos indicando os portais, além 
                    de regiões de anões e outros seres, como por 
                    exemplo, os hostis duegares, e monstros desconhecidos.
 
 “Parece que vai 
                    ser uma viagem e tanto!”, exclamou Arthos.
 “Senhora Storm. 
                    Não sou eu um aventureiro como estes da famosa Comitiva 
                    da Fé, mas, como professor desejoso de conhecimento, 
                    peço para ir com vocês nesta empreitada.”, 
                    pediu Danicus.
 “Danicus... meu 
                    voto é seu, mas temos que consultar outros.”, 
                    respondeu Storm.       “Comitiva, 
                    partiremos eu, o professor Danicus e Klerf imediatamente para 
                    Berdusk, onde falaremos com as autoridades Harpistas. Peço-lhes 
                    que fiquem aqui e tentem aprender o que for possível 
                    dos costumes drows e se habituar com estas cavernas, pois 
                    serão nosso habitat durante muito tempo. Se desejarem 
                    entrar em contato com os gnomos, como me disseram, sugiro 
                    que o façam agora, aproveitando nossa partida, pois 
                    quando voltarmos não haverá mais tempo.”
 “Enquanto a nau? 
                    Como iremos pilotá-la?”, perguntou Mikhail, oportuno.
 “Depois de Berdusk, 
                    iremos à Evereska. Lá encontraremos um condutor 
                    para ir conosco.”
 “Acredito que devemos 
                    avisar ao Lorde Randal sobre o que está acontecendo, 
                    já que estamos em suas terras!”, opinou Magnus, 
                    paladino de Helm.
 “Podemos ir juntos, 
                    eu você e Sirius, até Cachoeiras da Adaga e de 
                    lá rumamos para Stormpenhauer”, sugeriu Kariel.
 “Certo! Vamos partir 
                    logo, então. Existem alguns cavalos nos estábulos 
                    próximos à entrada da caverna!”, disse 
                    Sirius.
 “Nos encontramos 
                    aqui. Que Mystra nos guie!”, desejou Storm.
 
 Storm, Danicus e Klerf 
                    pegaram seus pertences e a mulher conjurou um encanto e assim 
                    suas figuras esmaeceram e desapareceram da sala. Kariel, Sirius 
                    e Magnus também apressaram-se a ir recolher suas coisas 
                    e equipar os cavalos disponíveis para a curta viagem 
                    que fariam. Pediram aos demais que seguissem as orientações 
                    de Storm e que já preparassem a nau, enchendo seus 
                    porões com os suprimentos que fossem necessários 
                    e disponíveis.
 Uma Pequena Viagem       Era 
                    o início do dia quando os três cavalos partiram. 
                    Chegaram no castelo do Lorde Randal Morn duas horas depois. 
                    Explicaram tudo que sabiam sobre o plano dos drows, em tempo 
                    que também solicitaram sigilo. Estas informações, 
                    em ouvidos errados, poderiam se transformar em perigo ou mesmo 
                    pânico. Os três também deram a triste notícia 
                    de que não nutriam mais esperanças de encontrar 
                    os desaparecidos. Randal lamentou, mas agradeceu à 
                    Comitiva pelo empenho. Desejou também boa sorte e colocou-se 
                    e o seu Vale à disposição da Comitiva, 
                    caso algo fosse necessário para sua perigosa missão. 
                    Os três então partiram, encerrando a curta estada. 
                    Não queriam desperdiçar tempo e nem permanecer 
                    à noite no meio da Floresta das Aranhas, local cujo 
                    nome não é de bom agouro.
 Passaram 
                    próximo ao Vale das Sombras e desejaram ficar um pouco 
                    mais, conversar com velhos amigos e ver lugares conhecidos, 
                    mas talvez tivessem tempo no retorno, pois era lá onde 
                    planejavam dormir antes de voltar. Então foram em frente, 
                    descendo estrada ao sul. Entraram na floresta, procurando 
                    lembrar do caminho. Foram apreensivos por conta dos perigos, 
                    mas por sorte de Tymora, não somente evitaram qualquer 
                    criatura hostil, como encontraram a pequena, bela e ao mesmo 
                    tempo curiosa vila de Stormpenhauer. Foram recebidos pelos 
                    pequenos gnomos, de lanças na mão. Porém, 
                    o chefe daqueles sentinelas era conhecido da Comitiva. Chamava-se 
                    Madarn. Recebeu os três com abraços (o que custou 
                    um pouco aos seus narizes, já que Madarn não 
                    era o que se poderia chamar de um adepto religioso dos banhos) 
                    e logo as lanças e a cautela foram substituídas 
                    por uma gritaria de pequenos gnomos crianças, do tamanho 
                    da canela de um homem, que brincavam e se empurravam, querendo 
                    ver os “grandões” que chegavam. Os viajantes 
                    pediram para ir até a cabana de Telimas Tecedor de 
                    Sonhos, líder daquele povoado.
 
 “Amigos 
                    da Comitiva! Sejam bem-vindos de novo!”, disse o gnomo 
                    gordinho, narigudo e barbudo, que fumava em um cachimbo bem 
                    comprido uma erva de cheiro doce e agradável. “O 
                    que os trazem até aqui?”
 
 Madarn, 
                    note-se, ia enquanto isto na despensa da casa do chefe, pelo 
                    qual tinha grande amizade e afeição, mas nenhum 
                    espírito de hierarquia, e pegou por sua conta chá, 
                    vinho e biscoitos e serviu aos recém chegados.
 
 “Precisamos 
                    de suas habilidades, amigos gnomos. Encontramos mais ao norte, 
                    nas terras do Vale da Adaga, uma caverna dentro de um monte. 
                    Era uma base de operações de inimigos que tomamos 
                    para nós. Gostaríamos que vocês a tornassem, 
                    com sua engenhosidade e criatividade, em um lugar mais confortável 
                    e útil.”
 Telimas sorriu e tragou um pouco de seu cachimbo.
 “Nós 
                    gostamos muito de construir coisas. Acho que será muito 
                    bom e divertido reformar este lugar. Mas nosso povo precisa 
                    de alimentos e dinheiro. E precisaremos comprar madeira, fazer 
                    cordas, martelos, pranchetas, polias, correias, esquadros, 
                    cunhas...”
 “Não 
                    se preocupe!”, falou Kariel, interrompendo a interminável 
                    seqüência de itens.       “Vocês 
                    serão muito bem recompensados e terão o necessário 
                    para fazer o que acharem por bem.”
 “Viu, 
                    Telimas! Eles têm dinheiro, não se preocupe. 
                    Err...vocês têm, não têm?”, 
                    perguntou Madarn.
 “Temos. 
                    Moedas de ouro, prata e cobre, estátuas e gemas.”, 
                    respondeu Sirius.
 “Mas 
                    existe um problema!”, colocou Telimas. “Se deslocarmos 
                    uma boa quantidade de gnomos para trabalhar fora daqui, nossa 
                    vila ficará indefesa. Sabem que nós moramos 
                    em uma floresta infestada de aranhas e temos que ficar de 
                    prontidão para repelir qualquer destas criaturas.”
 “Só 
                    sei que eu vou!”, bradou Madarn.
 “Mas 
                    Madarn... você é o líder dos guardas aqui. 
                    Se for, como vamos fazer no caso de aparecer alguma aranha?”
 “Pô, 
                    Telimas... já ensinei todo que sei... esses trouxas 
                    sabem o que fazer!”, respondeu contrariado o gnomo, 
                    que estava ávido por uma aventura.
 “Não 
                    sei... ainda acho muito perigoso. Vocês têm alguma 
                    idéia?”
 “Tenho 
                    uma.”, colocou Magnus. “Podemos contratar mercenários. 
                    Existem alguns anões que ficam de vez quando perambulando 
                    na taverna O Velho Crânio, no Vale das Sombras, em busca 
                    de serviço. Poderíamos pagá-los para 
                    ficarem aqui, protegendo a vila, enquanto os gnomos trabalham.”
 “Então 
                    podemos ir ao Vale das Sombras, retornamos com estes mercenários 
                    e iremos com os gnomos até o Monte da Adaga.”, 
                    sintetizou Kariel os próximos movimentos.
 “O 
                    que acha, senhor Telimas?”, perguntou o paladino.
 “Concordo. 
                    Se garantirem proteção e pagamento justo, garanto 
                    os trabalhadores.”, falou o líder dos gnomos 
                    de Stormpenhauer, selando assim o acordo.
 
 Os 
                    três aventureiros então retornaram, em direção 
                    do Vale das Sombras. Após cavalgarem por cinco horas, 
                    chegaram, próximo ao crepúsculo, ao Vale que 
                    chamavam de lar. Encontraram aquela familiar cidade de casas 
                    de argamassa e madeira, nas cores branca e negra. A construção 
                    da muralha que deveria cercar a cidade estava ainda no princípio, 
                    e talvez durasse ainda muitos meses ou mesmo anos. Tomaram 
                    a via em que levava ao Velho Crânio, a mais conhecida 
                    taverna deste Vale, que ficava no sopé de uma rocha 
                    de mesmo nome. Entraram no movimentado ambiente, onde bebiam 
                    camponeses, trabalhadores do comércio, soldados, aventureiros, 
                    viajantes e, é claro, mercenários. Mas não 
                    era um lugar sujo e barulhento, com brigas e arruaças, 
                    como muitas pelos Reinos. A Velho Crânio conseguia manter-se 
                    respeitável e tranqüila, graças ao esforço 
                    do proprietário, dos homens de bem e dos soldados do 
                    Vale das Sombras, que costumavam impedir os excessos e afastar 
                    eventuais malfeitores. O trio dirigiu-se ao balcão 
                    onde estava o taverneiro, Cowel Lorier, um homem gordo, careca 
                    e barbudo, conhecedor de muitas histórias sobre a região 
                    dos Vales. Já o conheciam, pois quando permaneciam 
                    mais tempo na cidade, vez ou outra apareciam por lá, 
                    seja para conversar e provar da cerveja escura e encorpada, 
                    como para saber de notícias e rumores.
 
 “Elfo, 
                    está sumido do Vale das Sombras!”, falou à 
                    Kariel.
 “Salve 
                    Cowel. Sim, é verdade. E temo que ficarei mais tempo 
                    distante resolvendo uns assuntos.”
 “Uma 
                    missão, certo. Com a Comitiva, não é?”
 “Sim. 
                    Isto mesmo!”
 “Magnus 
                    e Sirius... é um prazer revê-los também. 
                    Por favor, sentem-se.”, disse, saindo do balcão 
                    e oferecendo uma mesa. Os aventureiros não chegaram 
                    a sentar, pois pretendiam abreviar a conversa. Cowel então 
                    perguntou: “O que posso fazer por vocês?”
 “Precisamos 
                    de alguns braços armados, Cowel.”, respondeu 
                    Sirius.
 “Vão 
                    atrás do dragão?”
 “Dragão?! 
                    Que dragão!?”, perguntou, curioso, Magnus.
 “Parece 
                    que existe um dragão incomodando na floresta. Querem 
                    reunir um exército para acabar com ele! É por 
                    isto que estão aqui, não?”
 “Não, 
                    Cowel. Precisamos de homens para defender uma aldeia de gnomos, 
                    ao sul daqui, na Floresta das Aranhas.”, colocou Kariel. 
                    “Não sabemos desta história sobre um dragão, 
                    e infelizmente nada poderemos fazer a respeito.”
 “Humm... 
                    você fala da vila de Stropi... Strospem... Stomperraun...”
 “Stormpenhauer!”, 
                    completou o elfo de cabelos azuis. “Precisamos deslocar 
                    alguns gnomos para prestar-nos um serviço e para não 
                    deixar a sua vila desguarnecida, precisamos contratar alguns 
                    mercenários para proteger o lugar.”
 “Pensei 
                    em alguns anões, que geralmente possuem bons relacionamentos 
                    com os gnomos e são confiáveis. Por acaso conhecem 
                    alguns que possam nos ajudar?”, questionou Magnus.
 “Conheço 
                    muitos mercenários, mas os melhores e mais confiáveis 
                    são aqueles que querem entrar para a guarda da cidade. 
                    Eles ganhariam de duas à seis peças de prata 
                    por dia, dependendo da experiência e habilidade o valor 
                    pode aumentar! Se puderem pagar bem, acredito que irão 
                    com vocês!”
 
 Os 
                    três conversaram e negociaram com Cowel. Como tinham 
                    dinheiro, decidiram contratar os melhores e ter os melhores 
                    não custava barato: teriam dez contratados; nove guerreiros, 
                    cinco deles anões e quatro homens, e um clérigo 
                    de Tempus, também humano, o que lhes custariam ao todo 
                    doze peças de ouro e uma de prata por dia de trabalho. 
                    Deram também, a título de gratificação 
                    pela intermediação, cinco peças de outro 
                    a Cowel, que enviou por um garoto de recados o pedido para 
                    que os mercenários comparecessem, prontos, à 
                    taverna. Demoraram cerca de quarenta minutos e lá estavam 
                    todos, trajados e armados, na porta da Velho Crânio. 
                    O líder do grupo era um anão chamado Clarinak 
                    Barba de Fogo.
 
 “Pronto. 
                    Compraremos alguns mantimentos e podemos retornar à 
                    Stormpenhauer.”
 “Magnus, 
                    se importaria de ir à frente? Gostaria de rever meu 
                    filho antes de partir.”, pediu Kariel.
 
 Magnus 
                    entendeu a preocupação do amigo. Afinal, a Comitiva 
                    viajava por meses e cada missão poderia ser a derradeira. 
                    Nestas horas, ficava aliviado de não ter uma esposa 
                    que pudesse ser sua viúva ou um filho que pudesse vir 
                    a ser seu órfão. O paladino pôs a mão 
                    coberta pela luva de ferro polido no ombro do amigo e disse-lhe.
 
 “Veja 
                    seu filho, Kariel. Nos encontraremos no Monte da Adaga!”
 
 Cumprimentaram-se 
                    e desejaram-se votos de boa sorte. E assim, o pequeno destacamento 
                    partiu para o sul, ao encontro dos gnomos, enquanto Selûne, 
                    cheia e radiante, revelava-se no céu já escuro.
 Um Reencontro       Kariel 
                    então rumou para a igreja de Mystra, pequeno templo 
                    erguido pelo seu grande amigo e ex-companheiro de aventuras, 
                    o mago Kelta Westingale, de quem sentia falta. Era tarde, 
                    mas talvez ainda o encontrasse, quem sabe ensinando um pouco 
                    dos ofícios místicos aos jovens do Vale ou ajudando 
                    a curar algum doente com seu conhecimento sobre ervas. Kelta 
                    era também o tutor do seu filho, e por isto encontrá-lo 
                    era também uma dupla alegria. Chegou a igreja de pedra, 
                    de janelas altas e mosaicos de vidro. Uma folha de seu portão 
                    duplo estava aberta e as velas e tochas iluminavam a nave 
                    da igreja. Kariel viu novamente os bancos de madeira e a bela 
                    e grande figura de Mystra, esculpida em rocha, cuja imagem, 
                    jurava Kelta, era a perfeita semelhança da deusa, que 
                    conhecera em uma de suas maiores aventuras. Entrou e foi até 
                    uma sala, anexa ao local do culto e de lá subiu uma 
                    escada. No andar superior, encontrou Wondyr, um clérigo 
                    da Deusa, e quatro adolescentes, sentados em uma mesa de madeira, 
                    com livros abertos.
 “Com 
                    licença!”
 O sacerdote levantou-se. Mirou a face do recém-chegado 
                    e lembrou do elfo que conhecera meses atrás.
 “Salve, 
                    Kariel.”, respondeu cordialmente o homem. “Alunos... 
                    este é Kariel, poderoso mago da Comitiva da Fé. 
                    Ele foi escolhido por nossa própria Deusa para ser 
                    um de seus discípulos!”
 
 Os 
                    jovens olharam com espanto e admiração e saudaram 
                    o elfo, que estava um tanto desconcertado com a apresentação.
 
 “Wondyr... 
                    procuro meu amigo Kelta.”
 “Kelta 
                    já deixou a igreja. Deve estar em casa a esta hora!”
 “Muito 
                    obrigado e desculpe-me a interrupção. Adeus 
                    e que Mystra os guie em seus estudos.”, disse o mago 
                    elfo de cabelos azuis, despedindo-se.
 
 Quase 
                    uma hora a cavalo Kariel chegara numa floresta ao qual era 
                    protegida pelos deuses da natureza. Sua natureza mágica 
                    impedia a entrada de seres com má índole. Era 
                    conhecida por Bosque dos Druidas, lugar este habitado por 
                    um círculo de sacerdotes da natureza, alguns camponeses 
                    e criaturas silvestres. Tomou um caminho e ao longe conseguia 
                    ver seu objetivo.
 
 A 
                    casa de Kelta, que possuía dois andares e era feita 
                    de pedra e rodeada por uma varanda. O próprio Kariel 
                    tinha lá uma pequena torre, a algumas dezenas de metros 
                    da casa do amigo, que se encontrava trancada devido a sua 
                    ausência.
 
 O 
                    elfo bateu na porta de madeira e um menino de cabelos negros, 
                    pele muito clara, olhos intensamente azuis e orelhas levemente 
                    pontudas, abriu a porta. Era Zender, seu filho e da druida 
                    Ênia. O belo menino aparentava sete anos de idade, apesar 
                    de ter doze, conseqüência de sua herança 
                    élfica, que o faria viver bem mais do que todos os 
                    seus amigos humanos.
 
 “Como 
                    está, filho? Tem se comportado?”
 “Estou 
                    bem, pai! Sou comportado. Pode perguntar a meu tio! Estava 
                    com saudades!”
 
 Zender 
                    abriu um sorriso, abraçou Kariel, que o ergueu por 
                    alguns eternos minutos, enquanto também sorria. Depois 
                    o pôs no chão e o garoto saiu correndo para dentro 
                    da casa.
 
 “Tio 
                    Kelta! Tio Kelta! Venha ver quem está aqui!”
 
 Kelta, 
                    um homem maduro, alto e de compridos cabelos negros, chegou 
                    a porta e viu o velho amigo.
 
 “Kariel! 
                    Seja bem vindo!”, disse, dando-lhe um cordial abraço. 
                    “Por favor, entre!”
 
 Kariel 
                    foi conduzido até a sala e sentou com o companheiro 
                    de muitas viagens ao redor de uma mesa.
 
 “É 
                    muito bom revê-los.”
 “Como 
                    vai você, Kariel? Faz muito tempo não o vejo! 
                    E os outros... onde estão?”
 “Estou 
                    bem e os demais também. Estão fazendo alguns 
                    preparativos para nossa próxima missão. Temo 
                    que ficará sem nos ver por mais um bom tempo. Tive 
                    sorte de poder vir aqui e reencontrá-los.”
 “No 
                    que estão envolvidos? Conte-me!”, quis saber, 
                    curioso, o homem.
 
 Neste 
                    instante chegou a sala Coral, esposa de Kelta. Cumprimentou 
                    Kariel e ficou de longe observando a conversa dos dois. Tinha 
                    receio de que o marido pudesse, de repente, largar sua aposentadoria 
                    dos tempos de aventuras e meter-se novamente em perigos.
 
 “Descobrimos 
                    um esquema dos drows para invadir a superfície. Iremos 
                    percorrer um local chamado Subterrâneo, uma rede imensa 
                    de cavernas e túneis, para tentar frustar estes planos.”
 “Vocês 
                    vão para o Subterrâneo!?”
 “Sim... 
                    conhece algo a respeito?”
 “Elminster 
                    uma vez me falou que o Subterrâneo é um mundo 
                    que existe debaixo do nosso mundo e que também é 
                    conhecido como o Submundo das Trevas. É onde ficam 
                    as cidades drow. Devo avisá-lo de que isto é 
                    muito perigoso. Não gostaria de ir lá novamente.”
 
 Kelta 
                    e Kariel não perceberam, mas Coral suspirou e um pequeno 
                    sorriso repuxou seus lábios ao ouvir as últimas 
                    palavras do marido.
 
 “Eu 
                    sei, amigo, mas a Comitiva não tem muitas escolhas. 
                    Tymora nos coloca o destino e nós temos que seguí-lo. 
                    Storm irá conosco.”
 “Isto 
                    me tranqüiliza um pouco. Storm é uma poderosa 
                    aliada.”
 “Diga-me... 
                    como é este Subterrâneo? Devemos percorrê-lo 
                    usando uma nau voadora que encontramos! Aliás, sabe 
                    como pilotar uma delas, Kelta?”
 “Não. 
                    Quem possuía este conhecimento não está 
                    mais entre nós. Era o nosso falecido amigo Feargal. 
                    Você não vai acreditar como ele aprendeu. Foi 
                    numa viagem que fizemos em uma destas embarcações. 
                    Fomos além de Toril, pelas estrelas, conduzidos por 
                    um ser chamado Blotamus, encontramos outros seres e outros 
                    mundos. Você sabia que os mundos, quando vistos pelas 
                    estrelas, são esféricos como Selûne que 
                    brilha na noite de hoje?”
 “Sempre 
                    pensei que os mundos fossem planos!”, admirou-se o elfo. 
                    “Amigo... você retornou no tempo, conheceu Deuses, 
                    viajou pelo espaço! Gostaria de ter estado nestas aventuras!”
 “Bem... 
                    agora será a sua vez de continuá-las! Ah... 
                    lembrei-me de que encontrei uma criatura conhecida como devoradores 
                    de mentes neste período. Elas existem no Subterrâneo.”
 “São 
                    chamados, por acaso, dueagares ou ilítides? Storm leu 
                    o nome destas criaturas nos planos que encontramos.”
 “São 
                    os ilítides. Não se aproxime deles. Eles têm 
                    uma força incomum e podem segurar suas vítimas 
                    com quatro tentáculos que possuem na altura da boca 
                    e depois absorver seu cérebro. Já os dueagares 
                    são um tipo monstruoso de anões. São 
                    para os anões o que os drows são para os elfos 
                    . Tenha muito cuidado com os dois.”
 “Criaturas 
                    com quatro tentáculos na altura da boca...”, 
                    enquanto repetia, a mente de Kariel fazia conexões 
                    com uma descoberta que haviam feito meses atrás.       “Encontramos 
                    ruínas muito antigas, e nelas haviam inscrições 
                    contando que seres de quatro línguas, que vieram das 
                    estrelas e trouxeram o segredo do uso da magia para Toril. 
                    Será que se referiam aos tais ilítides?”
 “É 
                    provável. Se vocês encontraram a indicação 
                    da origem do conhecimento sobre magia em nosso mundo nestas 
                    ruínas, talvez esta seja uma das maiores descobertas 
                    arqueológicas de todos os tempos! Contou isto para 
                    alguém?”
 “O 
                    Coronal Eltargrim, dos elfos de Cormanthor e Khelben sabem. 
                    A propósito, ele disse que não vai cobrar sobre 
                    a destruição que fez na torre dele.”, 
                    disse sorrindo, lembrando que, há muitos anos, o amigo 
                    havia posto fogo na torre do Arquimago de Águas Profundas.
 “Pelo 
                    menos isto mostra que ele esqueceu aquilo!”, comentou 
                    Kelta, também achando graça.
 “Existe 
                    algo mais que deve saber para que não se surpreenda: 
                    nosso amigo Arthos, em uma de nossas andanças, cometeu 
                    um grave crime em Evereska...”
 “Ele 
                    está morto?! Não me diga isto!”
 “Não, 
                    mas ele foi transformado em um humano como castigo!”
 
 Kelta 
                    imediatamente gargalhou.
 
 “Não 
                    ria, Kelta. Isto é sério!”, protestou 
                    Kariel, sem, contudo, se aborrecer.
 “Me 
                    perdoe, Kariel!”, disse Kelta se refazendo. “Mas 
                    isto é uma grande ironia... Arthos nunca foi um modelo 
                    de elfo e foi condenado a ser aquilo que sempre foi por dentro.” 
                    Kelta lembrou-se de algo e suas feições tornaram-se 
                    mais sérias. “Enquanto a Diana? Ele já 
                    superou o que aconteceu em Águas Profundas?”
 “Certamente 
                    não, mas atualmente parece melhor. Acho que as transformações 
                    de ser um humano devem estar ocupando sua mente. Devo ir agora...”, 
                    disse Kariel levantando-se.
 “Fique. 
                    Não pode viajar agora a noite. Deixe para ir pela manhã.”
 
 Kariel 
                    ponderou e resolveu ficar. Magnus também só 
                    chegaria no Monte da Adaga no dia seguinte. Permaneceu então 
                    na casa de Kelta naquela noite, onde os dois amigos conversaram 
                    sobre suas vidas e aventuras. Ainda contou uma história, 
                    uma antiga fábula élfica ao seu filho, antes 
                    dele fechar os olhos. De manhã cedo, ao raiar do dia 
                    brumoso e frio do Vale, Kariel partiu para o Monte, para reencontrar 
                    seus companheiros, no início daquela nova e difícil 
                    aventura.
 
 
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