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                    Monte da Adaga Descrita por Ricardo Costa.Baseada no jogo mestrado por Ivan Lira.
  Personagens principais da aventura: 
 Os 
                    Humanos: Magnus de Helm; Sirius Lusbel; Sigel O'Blound 
                    (Limiekki). Os Elfos: Mikhail Velian; Kariel Elkandor. 
                    O Halfling: Bingo Playamundo. Participação 
                    Especial:  Storm Mão Argêntea e Randal Morn.
 
 
  
  O Monte da Adaga
 Prólogo       Meses 
                    atrás, foi o grupo de heróis, conhecido por 
                    alguns por a Comitiva da Fé, ao Vale da Adaga, em busca 
                    da solução de misteriosos desaparecimentos, 
                    a pedido do Lorde local, Randal Morn. Entre os desaparecidos, 
                    dois membros dos Harpistas, organização secreta 
                    cujo princípio está em promover a ordem, combatendo 
                    a tirania e vilania em Faerûn. Lutaram contra um exército 
                    invasor, uma bruxa, vampiros. Resgataram alguns seqüestrados, 
                    mas não chegaram a encontrar os Harpistas.
 Logo o destino os colocou 
                    também no centro de outro evento, de maior dimensão 
                    e conseqüências, e juntamente com o auxílio 
                    de alguns dos seres mais poderosos de Faerûn, afastaram 
                    a ameaça milenar dos phaerimns, criaturas monstruosas, 
                    devoradoras de magia e vida, que haviam sido libertadas de 
                    sua prisão mística e poderiam destruir todos 
                    os Reinos. Como se tal proeza não fosse o suficiente, 
                    impediram também os planos de Telamont Tanthul e da 
                    raça dos vultos, descendentes de um enclave perdido 
                    da hoje extinta nação de magos chamada Netheril. 
                    Mas esta fantástica aventura não seria a última 
                    da Comitiva e estas são as próximas páginas 
                    de sua história.
 O Retorno à 
                    Cachoeiras da Adaga  
                          Na floresta, nos arredores 
                    da cidade de Cachoeiras da Adaga, uma cena inusitada para 
                    muitos estava para ocorrer. Repentinamente, um grande círculo 
                    de energia e luz dourada surgiu no ar. Os magos, conhecedores 
                    da obscura arte dos encantamentos, reconheceriam tal efeito: 
                    era um portal que se abria, uma brecha mágica na realidade 
                    que ligaria, por alguns momentos, a densa floresta na Terra 
                    dos Vales com as distantes paragens rochosas próximas 
                    a cidade de Evereska, a Fortaleza Élfica e último 
                    cenário de aventuras dos viajantes conhecidos como 
                    a Comitiva da Fé.
 Do círculo brilhante, 
                    saiu uma perna de mulher e depois viu-se emergir a afamada 
                    aventureira Storm Mão Argêntea, poderosa maga 
                    e guerreira. Em seguida, um por um, saíram os membros 
                    da Comitiva, a saber: o paladino do Deus Helm, Magnus, e seu 
                    amigo Bingo Playamundo, um valente da raça dos pequenos 
                    ou halflings; o guerreiro Sirius Lusbel; o mateiro ranger 
                    Siegel O'Blound (que era mais conhecido sob a alcunha de Limiekki), 
                    o espadachim que fora outrora elfo e hoje é um recém 
                    chegado à raça humana, Arthos Fogo Negro, e 
                    os elfos Mikhail Velian, clérigo da Deusa da Magia 
                    Mystra, que veio com seu corcel falante Burgos, e Kariel Elkandor, 
                    mago e Escolhido pela mesma Deusa como um de seus representantes. 
                    Por último, ainda veio um goblin, raça em geral 
                    desprezada e temida por sua tendência natural à 
                    violência e crueldade. Porém este, chamado Pukto, 
                    era uma exceção. Havia sido trazido para se 
                    abrigar em um refúgio onde pudesse viver em paz, longe 
                    das perseguições e do modo de vida de sua espécie.
 
 Quando todos passaram, 
                    a luz do portal esvaneceu e desapareceu, e a bela mulher começou 
                    a falar.
 
 “Estamos próximos 
                    de Cachoeiras da Adaga, meus amigos. Daqui partiremos para 
                    a cidade e falaremos com Lorde Randal Morn. No castelo, ele 
                    e a meia-elfa amiga de vocês, Elen Laurë, certamente 
                    nos esperam com algumas informações que podem 
                    nos levar aos dois Harpistas desaparecidos.", disse Storm.
 “Se me permite, 
                    Storm...”, interferiu Limiekki, “Levarei primeiro 
                    Pukto para o a Aldeia do Amanhecer. Ela fica a poucas horas 
                    daqui. Depois os encontrarei em Cachoeiras da Adaga.”
 “Boa idéia!”, 
                    comentou Arthos, “Seria mesmo difícil andarmos 
                    com um goblin ao lado, sem que nos fossem feitas milhares 
                    de perguntas...”
 “Vá, Limiekki... 
                    será o tempo de contarmos a Lorde Randal tudo o que 
                    nos aconteceu nos últimos dias e ouvir dele as notícias. 
                    Depois o colocaremos a par sobre o que nos for dito”, 
                    assentiu Storm.
 
 Com rápidos acenos, 
                    Limiekki e Pukto se despediram e se embrenharam na mata até 
                    desaparecerem por entre as folhas e troncos.
 
 Os heróis então 
                    puseram-se a caminhar. O único que ia montado era Mikhail, 
                    que comandava a trote lento Burgos, seu cavalo encantado. 
                    Passaram pela floresta e então por terrenos pedregosos, 
                    até avistarem a cidade murada de Cachoeiras da Adaga. 
                    Lembraram que, a poucos meses, ajudaram o povo do lugar a 
                    expulsar invasores do Mar da Lua, que haviam pela força 
                    assumido o comando da cidade. Em outro feito heróico, 
                    também naquela cidade, descobriram e eliminaram um 
                    vampiro chamado Gryvus Loriath, culpado por desaparecimentos 
                    e mortes. Porém, não foram eles os únicos 
                    a lembrarem. Foram reconhecidos e, logo a pós adentrarem 
                    o portão principal, recebidos com sorrisos, saudados 
                    e aplaudidos. Viram, com satisfação, que as 
                    marcas da destruição causadas pelos inimigos 
                    estavam aos poucos sendo apagadas: haviam casas sendo reformadas, 
                    cercas sendo construídas, e muros marcados pelo negro 
                    das chamas estavam sendo pintados com cal branco. A vida estava 
                    retornando ao normal e os homens daquele Vale sabiam que aqueles 
                    heróis, em conjunto com seus bravos soldados e o seu 
                    Lorde, eram os responsáveis por estarem vivos e livres 
                    naquele final de dia.
 
 Chegaram até os 
                    portões do castelo do Lorde, e um capitão da 
                    guarda os recebeu, orgulhoso. Chamava-se Radovar. Os heróis 
                    não podiam lembrar de todos os soldados daquele Vale 
                    que lutaram junto a eles para expulsar as forças de 
                    Forte Zenthil, mas ele lembrava daquele grupo incomum e sentia-se 
                    honrado em vê-los novamente. Storm foi quem pediu-lhe 
                    audiência com Randal Morn e então o oficial os 
                    levou até a Sala de Guerra, um cômodo decorado 
                    com armas e armaduras, e com uma grande mesa de madeira e 
                    cadeiras ao centro, onde alguns sentaram. Durante a espera, 
                    foi servido uma rápida e frugal refeição, 
                    gentileza mais que bem-vinda para viajantes cansados. Arthos, 
                    que desde o momento em que fora convertido em humano andava 
                    calado e menos brincalhão do que de costume, ficou 
                    de pé, olhando melancólico através de 
                    uma janela. O mago Kariel, que o observava, levantou-se e 
                    foi até o encontro do companheiro.
 
 “Arthos... como 
                    está, amigo?”
 “Bem...”, 
                    respondeu, pouco convincentemente.
 “Sei que não 
                    será fácil se acostumar com esta nova forma 
                    de humano... eu mesmo ainda não me acostumei a vê-lo 
                    assim tão diferente.”
 “Se é difícil 
                    para você, Kariel, imagine então para mim.”
 “Mas terá 
                    também suas vantagens...”, disse o elfo, aproximando-se 
                    da janela e fitando as casas de Cachoeiras da Adaga junto 
                    com o Arthos.
 “Que vantagens podem 
                    haver, Kariel?”
 “Fará amigos 
                    mais rápido... assim como esquecerá dores antigas...”, 
                    falou Kariel, lembrando-se de Ênia, a mulher que, apesar 
                    do fim de seu relacionamento, ainda amava e ainda amaria por 
                    séculos.
 “Talvez tenha razão... 
                    me sinto estranho, inquieto...”
 “É sua alma 
                    de humano, querendo viver a sua vida curta o mais rápido 
                    possível. Tenha cuidado com isto.”
 
 O diálogo entre 
                    Kariel e Arthos se encerrou com o ruído da grande porta 
                    de madeira que dava acesso a sala de guerra sendo novamente 
                    aberta. Entrou por ela Lorde Randal Morn, homem robusto, com 
                    uma barba negra cerrada, senhor do Vale da Adaga.
 
 “Meus amigos...”, 
                    disse o lorde sorrindo. “Que bom revê-los! O que 
                    fizeram desde a última vez que aqui vieram?”
 “Lorde Randal... 
                    a história seria por demais comprida e complicada para 
                    contar-lhe de forma rápida, mas estivemos em uma dura 
                    e importante batalha.”, respondeu Kariel.
 “Sim, Lorde.”, 
                    emendou Storm. “Contaremos-lhe tudo ao seu tempo, mas 
                    nossa prioridade é descobrir informações 
                    sobre o paradeiro dos dois Harpistas desaparecidos. Estamos 
                    muito preocupados a respeito.”
 
 A fisionomia de Randal 
                    mudou, tornando-se séria e grave.
 
 “A amiga de vocês, 
                    Laurë, estará aqui em breve e por certo lhes dará 
                    novas informações. Mas posso adiantar-lhes que 
                    os desaparecimentos continuam a afligir Cachoeiras da Adaga. 
                    Parece que não foram os vampiros Gryvus e Mariel os 
                    únicos responsáveis por eles. Sepultamos os 
                    mortos encontrados na mansão de Gryvus, mas muitos 
                    corpos não foram encontrados e, recentemente, há 
                    duas manhãs atrás, um caçador sumiu no 
                    meio da floresta.”
 “Alguém sabe 
                    onde exatamente ele desapareceu? Podemos promover uma busca.”, 
                    sugeriu Mikhail.
 “Ele costumava caçar 
                    ao Norte.”, disse Randal.
 
 Pela porta aberta, entrou 
                    a meia-elfa Elen Laurë, uma bela figura, porém 
                    de uma fisionomia bastante diferente entre meio-elfos: tinha 
                    a pele escura, porém não como a de um elfo negro, 
                    e os cabelos tingidos de verde.
 
 “Comitiva! Pensei 
                    que não iriam mais retornar! É bom ver que estão 
                    inteiros. Lorde Randal já deve ter-lhes adiantado algo, 
                    não?”
 “Sim. Falou sobre 
                    os desaparecimentos. Isto pode ser coisa de vampiros!”, 
                    especulou Sirius.
 “Mas nós 
                    matamos Gryvus e Mariel! Não podem ser eles! Só 
                    se forem outros”, colocou Arthos.
 “Não descarte 
                    nenhuma hipótese, meu amigo!”, disse Magnus em 
                    um tom tanto sombrio quanto misterioso, “Os seres das 
                    trevas tem recursos que nenhum de nós pode imaginar!”.
 “O que tem a nos 
                    dizer, Laurë? Alguma outra informação que 
                    possa nos ajudar a desvendar este mistério?”, 
                    perguntou Kariel.
 “Na verdade, sim. 
                    Em uma de minhas investigações na floresta, 
                    fui seguida. Consegui ver meus perseguidores de relance. Vestiam 
                    mantos negros e púrpuras e por baixo deles, vi o brilho 
                    prateado de metal, o que indica o uso de armaduras. Tentei 
                    ir atrás deles, mas desapareceram. Posso levá-los 
                    ao local onde os vi.”
 “Poderemos ir amanhã 
                    cedo!”
 “Sim, Mikhail.”, 
                    concordou Storm, “Sugiro que descansem hoje. Amanhã 
                    vão com Laurë até este lugar. Infelizmente 
                    não poderei ir com vocês, pois devo me dirigir 
                    ao Vale das Sombras para estar a par dos assuntos da Harpa. 
                    Devo voltar em poucos dias, mas peço-lhes que se adiantem 
                    na investigação.”
 
 A Comitiva então 
                    confirmou a sua viagem matutina, juntamente com Laurë 
                    e a reunião encerrou-se. Limiekki chegou neste momento. 
                    Já havia deixado Pukto na Aldeia do Amanhecer. Foi 
                    colocado a par da situação e da missão 
                    que aconteceria na manhã seguinte. Todos sabiam da 
                    importância de Limiekki para o êxito da investigação. 
                    O ranger, nome como são chamados os homens que respeitam 
                    a floresta e que fazem dela seu habitat, conhecia profundamente 
                    animais e plantas, trilhas e rastros. Sua ligação 
                    e conhecimento sobre a natureza deu-lhe inclusive algumas 
                    capacidades extraordinárias, dádivas dos deuses 
                    da floresta.
 
 Antes de subirem as escadarias 
                    de pedra que levavam a ala de quartos, Kariel foi ter com 
                    Laurë. Havia feito uma promessa à jovem e agora 
                    cumpriria sua palavra.
 
 “Laurë, quando 
                    parti para Evereska fiquei com algo seu.”, disse o mago 
                    elfo de cabelos azuis, retirando de sua algibeira um medalhão, 
                    que exibia o desenho de uma árvore e letras élficas. 
                    “Disse que ia procurar saber sobre sua Casa e assim 
                    o fiz”
 Laurë sorriu, esperançosa.
 “E então? 
                    Descobriu algo?”
 “Conversei com um 
                    velho sábio evereskano e mostrei-lhe o brasão 
                    do medalhão. Ele garantiu-me que o padrão não 
                    pertence a nenhuma das Casas evereskanas, mas mostrou-me um 
                    desenho de um outro, muito semelhante, em um velho livro sobre 
                    as Casas de Cormanthyr. Então é possível 
                    que seus antepassados élficos tenham vindo deste Reino.”
 “Kariel. Muito obrigado 
                    pelo seu empenho.”, falou com um sorriso, “Por 
                    coincidência, estaria partindo amanhã mesmo para 
                    a floresta de Cormanthor. Fiquei somente para aguardá-los. 
                    Espero e oro para Eilistraee que me ajude a encontrar o legado 
                    de meu pai.”
 “Rogo a Tymora que 
                    em Cormanthyr você encontre o que procura!”
 “Mais uma vez obrigado, 
                    Kariel. Perdoe-me a curiosidade, mas onde está o seu 
                    amigo elfo de cabelos escarlates? Aquele homem parece muito 
                    com ele...”, disse apontando com o olhar Arthos, que 
                    já subia as escadas em direção de seu 
                    quarto.
 “Ele é Arthos, 
                    Laurë.”
 “Como? E o que aconteceu 
                    a ele? Algum tipo de maldição?”
 “Isto depende de 
                    pontos de vista. Acontece que Arthos cometeu um grave crime 
                    em Evereska. Invadiu um lugar sagrado e foi condenado pelos 
                    evereskanos a ser expulso da raça élfica, através 
                    de um ritual muito antigo.”
 “Pela Deusa! Não 
                    sabia que isto era possível!”
 “Nem eu, Laurë. 
                    Foi um punição rígida e cruel.”
 
 Mikhail e Limiekki se 
                    aproximaram de Laurë e Kariel. Queriam mais uma informação 
                    antes de dormir.
 “Desculpe-nos interromper 
                    a conversa, mas queríamos saber algumas coisas. Estas 
                    pessoas que viu na floresta... usam mantos idênticos?”, 
                    perguntou Limiekki.
 “Sim, acho que sim... 
                    porém os vi muito rapidamente para maiores detalhes.”, 
                    respondeu Laurë.
 “Isto pode indicar 
                    que pertencem a um exército ou culto.”, colocou 
                    Mikhail.
 “Bem... acho melhor 
                    descansarmos. Obrigado por satisfazer esta nossa curiosidade, 
                    Laurë.”, disse Limiekki, com olhos já pesados 
                    de sono.
 
 Os heróis então 
                    foram para seus quartos, onde descansaram para a missão 
                    do dia seguinte.
 Intrusos na Floresta       De 
                    manhã, logo cedo, estavam todos reunidos na entrada 
                    do castelo. Estavam prontos e alimentados. Resolveram partir 
                    a pé, visto que a floresta era densa e os cavalos teriam 
                    dificuldades em vencer tal terreno. Storm desejou-lhes sorte 
                    na empreitada e despediu-se, rumo ao Vale das Sombras, porém, 
                    não sem antes beijar a face do paladino Magnus, e desejar 
                    por um rápido momento não ter que se separar 
                    de seu amado.
 Seguiram 
                    para a orla da cidade, atravessaram suas muralhas, e por fim 
                    entraram na floresta. Laurë ia à frente. Andaram 
                    por duas horas. As árvores, no início, esparsas 
                    e pequenas, foram dando lugar a vegetação densa, 
                    espécies altas e um solo com muitas rochas e arbustos, 
                    alguns deles com frutinhas coloridas, que foram colhidas e 
                    comidas rapidamente por Bingo. Limiekki, que conhecia muito 
                    bem aquela floresta, olhava ao redor e percebia o que não 
                    era possível para os demais: haviam menos animais e 
                    frutas do que de costume. Alguém parecia estar utilizando 
                    os recursos da floresta. Pediu licença do restante 
                    do grupo, que aproveitou para sentar em um tronco e descansar 
                    um pouco, e afastou-se. O ranger então voltou-se para 
                    um alto e antigo carvalho. Fez uma prece a sua deusa e recitou 
                    um encanto. O ranger então ouviu em sua mente uma voz 
                    grave e vagarosa.
 
 “O 
                    que deseja Limiekki, habitante de nossa casa!”
 “Grande 
                    Carvalho, percebo que não há tantos moradores 
                    como deveriam haver aqui nesta região. Também 
                    estão desaparecendo pessoas de minha espécie. 
                    Sabe algo a respeito?”
 “Sim... 
                    existem novos moradores.... novos moradores.... chegaram a 
                    algum tempo. Agora eles avançam...querem mais.”
 “Eles 
                    respeitam as leis da floresta? As coisas que crescem e que 
                    vivem?”
 “Eles 
                    nos incomodam... nos incomodam... representam uma escuridão...”
 “Suas 
                    irmãs e irmãos sabem onde eles estão?”
 “São 
                    como formigas... podem surgir de vários lugares... 
                    habitam o centro da terra e vieram conquistar o que já 
                    foi seu um dia.”
 “São 
                    como os orcs?”
 “Não... 
                    não como orcs...”
 “Obrigado, 
                    Grande Carvalho. Longa vida às coisas que crescem!”
 “Obrigado 
                    Limiekki. Espero que volte... volte a viver aqui.”
 “Um 
                    dia retornarei, Grande Carvalho, não os deixarei desamparados... 
                    adeus.”
 
 Limiekki então retornou até o local onde seus 
                    companheiros descansavam.
 
 “O 
                    que foi procurar, Limiekki?”, quis saber Kariel.
 “Conversei 
                    com o Grande Carvalho. Ele me informou que existem novas criaturas 
                    vivendo aqui nesta região. Segundo ele, estes seres 
                    não são orcs, vivem debaixo da terra e vieram 
                    retomar o que já foi seu no passado”.
 “Seres 
                    que vivem embaixo da terra... drows?”, especulou Kariel.
 “Bem 
                    que podem ser estes seus primos... pelo que ouvi dizer, eles 
                    vivem nas cavernas.”, colocou Limiekki.
 Kariel 
                    retrucou, um tanto irritado.
 “Não 
                    são meus primos. Drows não são elfos!”
 “Ei... 
                    ei... ei! Espera um pouco aí!”, interrompeu Bingo. 
                    “De onde mesmo você disse que tirou esta informação? 
                    De uma árvore? E árvore, por acaso, fala?”
 “Fala, 
                    Bingo, mas somente para quem tem ouvidos para ouvi-las!”, 
                    disse sorrindo Limiekki para o pequeno.
 
 Bingo 
                    aproximou-se para uma árvore próxima, encostou 
                    a orelha no tronco, deu uma leve batida na madeira e falou:
 
 “Alô... 
                    alô... está me ouvindo? Pô... essa árvore 
                    não quer falar comigo. E eu tenho ouvidos igualzinhos 
                    aos seus!”, reclamou.
 “Não 
                    Bingo. Eu posso ouvi-las graças a uma dádiva 
                    da Dama da Floresta, a Deusa Mielikki. Ela concede este dom 
                    para aqueles que vivem na floresta e respeitam a natureza.!”
 “Ah... 
                    bom!”, disse o pequeno, afastando sua orelha da árvore.
 “Bem...”, 
                    começou Magnus para voltar ao assunto, “Criaturas 
                    que vivem sob a terra podem ser de vários tipos, kobolds, 
                    vampiros, além de outros seres das trevas, que mesmo 
                    mortos, podem habitar estes locais.”
 “Não 
                    adianta muito tentarmos adivinhar. Vamos até o lugar 
                    onde Laurë viu os suspeitos e podemos tentar encontrar 
                    alguns rastros.”, sugeriu Mikhail.
 
 Concordaram 
                    e andaram por mais vinte minutos, até a meia-elfa chegar 
                    em uma clareira e anunciar o local procurado. Limiekki então 
                    olhou com cuidado o solo, a posição das pedras 
                    e das raízes, folhas partidas e galhos deslocados. 
                    Sua experiência encontrou um rastro e por ele seguiu. 
                    A Comitiva vinha logo atrás, porém dando-lhe 
                    espaço suficiente para que pudesse observar de modo 
                    atento aonde aquelas evidências iriam apontar. Subiram 
                    até um pequeno morro, onde Limiekki parou. Olhou para 
                    frente e viu um monte, a cerca de um quilômetro de distância. 
                    Em seguida, quebrou o silêncio.
 
 “Foram 
                    rastros de dois humanóides. Muito difíceis para 
                    descobrir. Estiveram aqui há dois dias. Parecem ter 
                    ido em direção daquele monte a frente. É 
                    chamado de Monte da Adaga. Acho que vale a pena investigarmos.”
 “Se 
                    estes seres vivem embaixo da terra, podemos procurar cavernas, 
                    passagens ou algo do gênero naquele monte”, Kariel 
                    sugeriu.
 “Antes 
                    de prosseguirem, peço-lhes um momento, Comitiva.”, 
                    interrompeu Laurë. “Os levei para o local combinado, 
                    mas terei que deixá-los nesta parte do caminho. Tenho 
                    outros compromissos e devo partir para a Floresta de Cormanthor. 
                    Gostaria de desejar-lhes sorte e que Eilistraee guie seus 
                    passos!”
 “Obrigado 
                    Laurë! Que Tymora sorria para você em sua busca”, 
                    desejou Kariel, acompanhado de votos semelhantes, feitos por 
                    todos que ali estavam.
 
 Então 
                    a meia-elfa acenou e desapareceu nas árvores, enquanto 
                    a Comitiva andava, o mais silenciosamente possível, 
                    em direção ao monte para onde os rastros pareciam 
                    apontar, sendo guiados por Limiekki. Quando estavam bastante 
                    próximos, o ranger anunciou novas descobertas.
 
 “Os 
                    rastros estão mais recentes e abundantes. Indicam muitos 
                    indivíduos e posso identificar orcs e goblins entre 
                    eles! É melhor termos bastante precaução!”
 
 Prosseguiram 
                    ainda mais silenciosos, corpos ligeiramente curvados e armas 
                    nas mãos. Os rastros os levaram aos arredores de uma 
                    pequena montanha conhecida por Monte da Adaga e em um certo 
                    ponto, Limiekki parou.
 
 “É 
                    estranho. Existem muito rastros, mas todos terminam aqui, 
                    na direção daqueles arbustos rente ao paredão 
                    de rocha.”
 “Pode 
                    haver uma porta secreta, como na toca daquele xamã 
                    orc, Marut.”, lembrou Sirius.
 “Um 
                    momento... deixem-me tentar algo”, pediu Kariel.
 
 O 
                    elfo de cabelos azuis-celestes ergueu sua mão espalmada 
                    em direção do local à frente e fechou 
                    os olhos por alguns segundos. Em seguida, anunciou.
 
 “O 
                    arbusto é uma ilusão. Provavelmente oculta a 
                    entrada de uma caverna.”
 “Humm... 
                    não é muito normal orcs ficarem usando magia.”, 
                    disse Limiekki.
 “Podem 
                    haver outros seres mais poderosos com eles.”, Mikhail 
                    falou preocupado.
 “Eu 
                    posso investigar a entrada, usando o poder de invisibilidade 
                    de meu elmo. Vocês podem se ocultar na vegetação 
                    aqui fora. Voltarei para chamá-los.”
 
 Os 
                    aventureiros concordaram com a estratégia proposta 
                    por Kariel e foram se esconder em outros arbustos próximos. 
                    O mago então tocou seu elmo dourado e desapareceu. 
                    Devagar, passo a passo, Kariel avançou rumo ao mato, 
                    até que a atravessou e pôde ver, com alguma dificuldade 
                    devido a escuridão, que realmente se tratava de uma 
                    entrada para uma caverna. Não haviam ruídos. 
                    Kariel decidiu então retirar sua espada da bainha e 
                    ativar, através do desejo de sua mente, a iluminação 
                    azulada que emanava da lâmina. Pôde ver as paredes 
                    rochosas e o alto teto. Estava em um corredor, com cerca doze 
                    metros de largura, que se estendia a frente. Não havia 
                    nenhum inimigo ou animal a vista. Decidiu retornar para avisar 
                    os amigos e começar a exploração daquele 
                    local.
 
 “Amigos. 
                    Podemos prosseguir. Não há nada de hostil no 
                    início da caverna ”, disse a voz de Kariel, que 
                    ainda estava invisível, dando um pequeno susto em Bingo.
 
 Então 
                    avançaram e passaram pela parede ilusória. Mikhail 
                    comentou com Kariel.
 
 “Um 
                    mago experiente deve ter erguido esta ilusão, não 
                    Kariel?”
 “Sim. 
                    Digo isto por conta de ter tornado o encanto permanente. Posso 
                    estar enganado, mais isto não parece coisa de orcs.”
 
 Enquanto 
                    conversavam, Sirius, curioso com a existência da ilusão 
                    à sua frente quis tatear o sortilégio. Sua mão 
                    atravessou o engodo mágico sempre que ele a tocava.
 
 O 
                    grupo então passou pela ilusão e avistou a entrada 
                    da caverna. Assim caminharam pelo corredor de pedra iluminados 
                    pela luz da espada Goliath de Kariel. Em um dado momento, 
                    Magnus, o paladino do deus Helm, repentinamente parou, imóvel, 
                    com o olhar paralisado e perdido.
 
 O 
                    paladino começou a ter visões de muitos lugares 
                    e criaturas. Primeiro a cena de várias pessoas de muitas 
                    raças acorrentadas sendo levadas como escravos num 
                    lugar ao qual ele reconheceu como o Abismo. Depois observou 
                    hordas de demônios se degladiando com outros seres demoníacos 
                    e sua visão final foi a de uma mão escarlate 
                    enorme se apoiando num imenso trono. Enquanto via estas imagens, 
                    Magnus também ouviu uma voz firme dizer: “Magnus, 
                    Helm Vigilante me enviou, sou Hadryllis a antiga espada forjada 
                    pelos anciões em Rashemen. Minha missão original 
                    de destruir Eltab foi concluída com sua ajuda, portanto 
                    estou novamente em suas mãos para instruí-lo 
                    a um novo objetivo: expulsar todos os demônios do Plano 
                    Material. Enquanto isso estarei a sua disposição 
                    nos seus ideais e dos seus companheiros, mas nunca se esqueça 
                    da missão, caso a abandone eu escolherei outro campeão 
                    que abrace a causa.”, Magnus, sem pestanejar, respondeu 
                    “Hadryllis, eu respeitarei a vontade de Helm até 
                    meu último suspiro. Guie-me no caminho da verdade e 
                    seguirei impávido.”.
 
 Hadryllis 
                    então bombardeou a mente de Magnus com os conhecimentos 
                    necessários para que ele pudesse usufruir dos poderes 
                    da espada de modo a proteger ele próprio e seus amigos. 
                    Após isso o paladino teve uma segunda visão, 
                    ele vislumbrou dois olhos femininos observando-o. Enquanto 
                    isso, seus companheiros se aproximaram e viram Hadrillys brilhar 
                    fortemente uma luz dourada. Em seguida ela disse a todos.
 
 “Saudações 
                    heróis! Sou Hadrillys, a espada Vigilante Sagrada. 
                    Retornei graças a Helm Vigilante, para cumprir a missão 
                    para a qual fui criada: varrer os demônios do Plano 
                    Material. Enquanto for empunhada por Magnus, os ajudarei na 
                    guerra contra as trevas. Sigam o caminho da luz e me terão 
                    como aliado, sigam as trevas e serei sua ruína. Que 
                    Helm vigie seus caminhos!”
 
 A 
                    espada parou de brilhar, a voz desapareceu e Magnus recobrou-se 
                    de seu transe.
 
 “Magnus? 
                    Você está bem?”
 “Sim, 
                    Sirius... Hadrillys falou comigo e me fez ver imagens. Vi 
                    o Abismo e uma guerra entre demônios. Haviam pessoas 
                    escravizadas, raptadas, presas em jaulas. Havia alguém 
                    sentado em um trono e os olhos de uma mulher que observava 
                    a tudo, e que desapareceu sem que pudesse vê-la. Senti 
                    uma grande maldade!”
 “Parece 
                    um presságio. Forças demoníacas podem 
                    estar por trás destes desaparecimentos!”, vaticinou 
                    Arthos.
 “Temos 
                    que ter mais cuidado do que nunca. Que o Seldarine nos proteja 
                    da interferência do Abismo e de seus demônios. 
                    Estive no plano de Grazz´t e perdi meu tio Elder e meu 
                    amigo Feargal naquele lugar!”, relembrou Kariel dos 
                    momentos terríveis pelo qual passou a poucos meses 
                    atrás.
 
 Foram 
                    cautelosamente andando. Kariel ia à frente, ainda invisível, 
                    mas iluminando o caminho com o brilho que vinha de sua lâmina 
                    que, naquelas condições, parecia vir de lugar 
                    nenhum. De súbito, um pequeno estalar é ouvido 
                    e logo após, um imenso alçapão se abre 
                    sob os pés do mago, que começa a despencar em 
                    um fosso escuro. A surpresa fez com que largasse sua espada 
                    e a luz desapareceu da caverna. Em um único ato ainda 
                    possível, Kariel conjurou um encanto, que o fez cair 
                    devagar, como uma pluma, o que o tornou visível novamente. 
                    Nove metros de queda suave depois, chegou ao fundo, um piso 
                    pedregoso onde jaziam alguns esqueletos humanóides, 
                    vítimas, com menos poder e sorte, da armadilha. Kariel 
                    tomou novamente sua espada, acendeu sua luz azulada e olhou 
                    para cima, adiante. Viu na borda à frente vários 
                    arcos sendo retesados.
 
 “Abaixem-se!”, 
                    gritou Sirius, quando viu, além do fosso, com um resíduo 
                    da iluminação que vinha do fundo da armadilha, 
                    uma dezena de goblins e alguns orcs, que estavam prontos para 
                    disparar suas flechas.
 
 Os 
                    heróis abaixaram-se imediatamente, e as flechas felizmente 
                    passaram zunindo sobre suas cabeças. Logo após, 
                    Bingo e Sirius colocaram-se agachados, retiraram seus arcos 
                    e revidaram. O mesmo fez Arthos com sua besta. Somente as 
                    flechas do halfling e o virote da arma do ex-elfo atingiram 
                    inimigos, que gritaram de dor. Mikhail fez uma prece a Mystra 
                    e operou um encanto divino, que criou uma ponte de pedra entre 
                    as duas margens do fosso. Sua intenção era possibilitar 
                    o combate corpo a corpo com o inimigo, reduzindo-lhes a vantagem 
                    dos arcos e da distância. Kariel, ainda embaixo do fosso, 
                    conjurou uma magia. Ergueu-se do nada uma parede feita de 
                    chamas bem no local onde os arqueiros goblinóides se 
                    alinhavam. Como resultado, os inimigos morreram incinerados, 
                    alguns caindo em chamas no fosso, o que exigiu de Kariel destreza 
                    para se desviar dos corpos. Poderiam haver alguns mais atrás 
                    da muralha flamejante, porém os ataques haviam cessado 
                    e não se podia ver além dela.
 
 “Uma 
                    corda! Joguem-me uma corda!”, pediu o mago aos companheiros. 
                    Foi atendido e, com a ajuda de Magnus e Sirius, escalou a 
                    parede da armadilha onde havia caído.
 
 “Podem 
                    haver mais deles após a parede de fogo!”, disse 
                    Arthos.
 “Preparem-se. 
                    Irei cancelar o encanto!”
 “Vamos 
                    em frente”, Mikhail chamou Magnus. “Quando a barreira 
                    for baixada, iremos para cima dos que houverem na escuridão! 
                    Deixem-me antes somente realizar uma prece de Mystra.”.
 
 O 
                    clérigo realizou a oração e tocou a mão 
                    em seu escudo. Outro poder divino se manifestou e o equipamento 
                    passou a emanar uma forte luz branca. Kariel então 
                    cancelou, com palavras recitadas mentalmente, o feitiço 
                    que havia praticado. Sem a necessidade da luz da sua espada, 
                    que também servia como alarme contra goblinóides, 
                    também desativou este efeito. Os heróis então 
                    avançaram, mas não havia nada, além de 
                    corpos queimados exalando mau cheiro e o corredor que se estendia. 
                    Avançaram, tendo o cuidado de observar reentrâncias 
                    ou possíveis gatilhos de armadilhas, a fim de evitar 
                    surpresas.
 
 Depois 
                    de quinze minutos de exploração, viram em uma 
                    câmara maior uma cabana de madeira a frente. A espada 
                    de Kariel brilhou rapidamente.
 
 “Cuidado, 
                    amigos! Goliath avisa a presença de globlinóides 
                    a frente!”
 
 Mal 
                    houve o aviso, e uma flecha zuniu do escuro próximo 
                    a cabeça de Magnus. Uma outra voou e atingiu a armadura 
                    de Mikhail. Protegeram-se como puderam, mas outras flechas 
                    foram atiradas da escuridão. Mikhail e Kariel, que 
                    ativou novamente o poder de invisibilidade de seu elmo mágico, 
                    avançaram, mesmo com perigo iminente. Com a aproximação 
                    de Mikhail, a luz que emanava do escudo chegava próximo 
                    o suficiente para mostrar algumas silhuetas. Agora havia um 
                    goblin a vista e Kariel se encaminhava, furtivo, na direção 
                    do inimigo. Limiekki, retirou seu arco e disparou contra o 
                    pequeno e amarelado oponente. Porém não sabia 
                    o ranger, que o mago invisível estava a sua frente 
                    e a seta que disparou feriu superficialmente o flanco de Kariel. 
                    Com o ataque, o elfo perdeu a vantagem da invisibilidade. 
                    Bingo, porém, acertou o alvo e matou o adversário 
                    com duas setas mortais.
 
 Limiekki 
                    retornou e entrou na cabana de madeira que haviam descoberto. 
                    Estava vazia. Coletou pedaços de madeira, retirou sua 
                    pederneira e acendeu fogo, criando tochas. A escuridão 
                    era uma vantagem para o inimigo, visto que goblins e orcs 
                    vêem tão bem no escuro, quanto os homens em um 
                    dia de céu claro. Acesas duas tochas, Limiekki deixou 
                    a cabana. Andou e entregou uma delas a Kariel, que arremessou 
                    em uma zona escura a frente. A madeira atirada o chão 
                    afastou as trevas e revelou mais algumas cabanas de madeira, 
                    três goblins e dois orcs. A Comitiva agora estabelecia 
                    o equilíbrio e os seus membros sacaram as armas para 
                    revidar. Mikhail usou uma prece, que fez surgir de suas mãos 
                    uma luz tão intensa e radiante que cegou parte dos 
                    adversários. A luta foi rápida e os goblinóides 
                    teriam todos sidos eliminados, se não fosse a interferência 
                    de Kariel, que pediu para poupar a vida do último, 
                    um orc. Tal pedido, porém não foi oriundo de 
                    clemência, mas de estratégia. O mago compreendia 
                    o idioma orc, e queria fazer algumas perguntas. Com uma corda, 
                    o monstro teve seus braços amarrados e assim o Kariel 
                    começou seu interrogatório.
 
 “Quantos 
                    de vocês existem por aqui?”, perguntou o elfo 
                    de cabelos azuis, na língua gutural e primitiva dos 
                    goblinóides.
 “Nenhum 
                    mais!”, respondeu.
 “E 
                    os humanos? Onde estão?”
 “No 
                    corredor a frente.”
 “Onde 
                    exatamente?”, insistiu Kariel.
 
 O 
                    orc não respondeu mais nada. Kariel então tentou 
                    algo diferente. Leu em seu grimório de magia um encanto 
                    de seu repertório e recitou as palavras arcanas. O 
                    orc imediatamente exibiu uma feição estática 
                    e seus olhos estavam vidrados, perdidos no infinito.
 
 “Quem 
                    comanda vocês?”, questionou Kariel.
 “A 
                    matrona! Uma aranha... a mulher aranha.”
 “Matrona... 
                    aranhas ...serão drows? Seres semelhantes aos elfos, 
                    porém com pele negra como a pedra obsidiana e cabelos 
                    brancos. Existem drows aqui?”
 “Sim. 
                    Dois deles. No corredor a frente, a direita, após a 
                    escada que sobe.”
 “E 
                    os homens? Onde estão exatamente?”
 “No 
                    mesmo corredor, na entrada a esquerda.”
 
 Kariel 
                    deu-se por satisfeito e finalizou as perguntas. O orc não 
                    foi molestado, mas permaneceu amarrado na cabana de madeira 
                    vazia. Kariel então traduziu toda a conversa para a 
                    língua comum. Os aventureiros ficaram preocupados. 
                    Alguns sabiam que os drows eram criaturas reconhecidamente 
                    poderosas, tanto nas artes da espada, quanto da magia e possuíam 
                    histórias desagradáveis dos encontros com estes 
                    habitantes do subterrâneo. Toda cautela seria necessária 
                    caso os confrontassem, porém não havia outra 
                    alternativa. Tinham pressa em salvar os desaparecidos e, portanto, 
                    não perderam tempo e seguiram o corredor que havia 
                    ao final da câmara cavernosa. Chegaram até uma 
                    entrada a esquerda e desviaram o caminho, seguindo por ela. 
                    Queriam encontrar e libertar os humanos, antes que drows, 
                    aranhas, orcs ou algum outro tipo de perigo os encontrassem.
 
 Viram 
                    uma cabana de madeira, semelhante as que haviam deixado minutos 
                    atrás. Aproximando-se mais, enxergaram paredes de pedra 
                    que haviam sido erguidas para compor o corredor de celas de 
                    um calabouço. Arthos entrou na cabana. Não havia 
                    nada, a exceção de bancos e um colchão 
                    de palha mofada, mas o espadachim encontrou um molho de chaves 
                    pendurado na parede e o entregou a Magnus. Logo, as fechaduras 
                    das portas de madeira das nove celas de pedra estavam sendo 
                    testadas. A primeira a ser aberta revelou um cadáver 
                    fétido. Era um homem, de vestes comuns, que deveria 
                    estar morto a duas semanas, segundo avaliação 
                    de Limiekki. Abriram as outras, mas somente encontraram mais 
                    dois cadáveres.
 
 “Ainda 
                    deve haver algum vivo. O desaparecimento do caçador 
                    foi a dois dias e estes corpos estão aqui a mais tempo.”, 
                    relembrou Sirius da informação passada pelo 
                    Lorde do Vale da Adaga.
 “Pode 
                    ser que tenham sido levados daqui, talvez para alguma espécie 
                    de ritual de sacrifício!”, colocou Mikhail a 
                    sombria hipótese.
 “Devemos 
                    nos apressar. Talvez ainda possamos salvá-los!”, 
                    disse Kariel, retornando pelo corredor por onde haviam entrado 
                    e tomando novamente a dianteira, com a espada em punho, lâmina 
                    acesa a iluminar.
 
 Retornaram 
                    ao corredor e prosseguiram. Poucos minutos depois, viram a 
                    entrada a direita, a qual o orc havia se referido. Entraram 
                    por ela e saíram em outro grande salão rochoso. 
                    Não ouviram ruídos e a luz não indicava 
                    nada além de rochas, pelo menos até encontrarem, 
                    no final da exploração uma estranha escada de 
                    pedra, que levava a uma passagem superior. Era feita de pedra, 
                    mas não a rocha comum da caverna, mas uma negra e brilhante 
                    como se moldada em pedra vulcânica. Haviam protuberâncias 
                    a semelhança de escamas, que não se podia precisar 
                    se eram naturais ou um bizarro tipo de decoração. 
                    De qualquer forma, a escada não parecia pertencer àquele 
                    ambiente e fez Kariel lembrar das construções 
                    que avistou no Abismo e de que havia por lá um demônio, 
                    cuja descrição era semelhante a dos drows.
 
 “Amigos. 
                    Esta estranha escadaria me fez recordar do Abismo. Lá 
                    existia um tipo de demônio que tinha pele negra, asas 
                    de morcego e cabelos brancos. Espero que o que digo não 
                    tenha fundamento, mas o orc pode ter se confundido na descrição.”
 “Sim. 
                    Era Vicárius, no Vale do Vento Gélido.”, 
                    lembrou Magnus.
 “Err... 
                    demônios, Abismo... Vocês devem estar brincando 
                    com esta história?”, perguntou Limiekki, um tanto 
                    assustado com as experiências sobrenaturais da Comitiva.
 “Nunca 
                    me verá brincar com este assunto, Limiekki! Dos que 
                    estão aqui, apenas Bingo e Magnus estiveram naquele 
                    dia. Este Vicárius, que graças a Tymora está 
                    destruído, era um dos generais do Abismo, servo de 
                    Grazz´t, senhor daquele plano do inferno. Pretendia 
                    abrir uma passagem para o Plano Material e invadir Faerûn. 
                    Nós conseguimos impedir seus planos, mas perdemos meu 
                    tio Elder e nosso amigo Feargal, mortos por Grazz´t.”
 “Vocês 
                    acham que estes demônios tentariam algo assim novamente?”, 
                    questionou Mikhail.
 “Os 
                    demônios tentam invadir o Plano Material desde tempos 
                    imemoriais.”, respondeu Magnus.
 “Vultos, 
                    phaerimns, drows, demônios!”, contou Sirius nos 
                    dedos. “Pelos Deuses! Será que não enfrentamos 
                    nunca um exército comum!? Desde que me uni a vocês 
                    só vejo estranheza!”
 “Ora... 
                    vamos subir os degraus, ou não?”, disse Arthos.
 
 Não 
                    precisaram responder. Magnus foi a frente, seguido de Mikhail, 
                    Kariel, Limiekki, Arthos, Sirius e Bingo. No final da escada 
                    estavam em uma câmara, paredes e chão do mesmo 
                    material escuro e estranho da escada. Ouviram um ruído, 
                    um chiado, acima de suas cabeças. Olharam e perceberam 
                    uma enorme aranha, com cerca de dois metros de altura, que 
                    saltou a frente. Outras seis menores, porém cada uma 
                    do tamanho de um cão, desciam a parede em torno da 
                    pequena sala na direção dos aventureiros, que 
                    sacaram suas armas e escolheram seus adversários. Kariel 
                    foi o primeiro a atacar: pronunciou algumas palavras e colocou 
                    as mãos abertas com os polegares unidos em direção 
                    de uma das aranhas mais próximas. Delas saiu um cone 
                    de fogo que atingiu a fera, que pulou tentando alcançar 
                    seu atacante e inocular o terrível veneno de suas presas. 
                    Errou Kariel, mas caiu próximo a Bingo. O pequeno, 
                    muito ágil, deu três rápidos golpes com 
                    sua espada curta e sua adaga fazendo o aracnídeo tombar. 
                    Mikhail protegeu-se e recitou uma prece. Ao fazê-lo, 
                    todos que estavam no combate sentiram seus músculos 
                    se desenvolverem. Seus golpes agora teriam mais força, 
                    pelo menos por dez minutos, tempo em que a graça da 
                    Deusa estaria ativa. Arthos eliminou a sua oponente, com uma 
                    estocada certeira com o seu sabre em no abdômen da fera. 
                    Outra aranha saltou sobre Limiekki, que esquivou-se, desviando 
                    do ataque. Em seguida o ranger voltou-se para ela e, aproveitando-se 
                    do desequilíbrio de sua queda, cortou-lhe a cabeça. 
                    Restavam mais três, deste tipo, que foram eliminadas 
                    pelas espadas de Sirius e Kariel. Mas ainda havia a maior. 
                    Magnus avançou em um salto, e com um potente golpe, 
                    fez com que a poderosa Hadrillys cravasse sua lâmina 
                    entre os olhos da grande aranha, que ainda guinchou, se contorceu 
                    e sacudiu, mas rendeu-se à dor e entregou-se à 
                    morte.
 
 Toda 
                    a Comitiva parou por um momento e respirou profundamente. 
                    Graças aos Deuses eram heróis experimentados, 
                    capazes de revidar e derrotar rapidamente as aranhas, pois 
                    se uma delas encontrasse a oportunidade para atacar e injetar 
                    o veneno mortal, certamente haveriam baixas. Felizmente, os 
                    heróis apenas se reagruparam, deixando para trás 
                    os corpos dos monstros horrendos e seguindo em frente.
 
 O 
                    caminho, um corredor ainda feito na pedra negra, era agora 
                    iluminado por candelabros escuros presos às paredes, 
                    que emanavam uma estranha chama púrpura, que nunca 
                    tremulava. Alguns sabiam, mesmo sem necessitar de algum tipo 
                    de conhecimento nas artes místicas, que se tratava 
                    de iluminação mágica. Já haviam 
                    visto aquilo antes, em outras ocasiões, durante as 
                    investigações de alguns locais sombrios onde 
                    estiveram na longa odisséia de suas vidas. Foram vinte 
                    metros de passos curtos e cautelosos, naquele cenário 
                    tenebroso, que faziam parecer que haviam andado por uma eternidade. 
                    O corredor então foi lentamente se alongando e encerrou-se 
                    em uma passagem para uma câmara circular, que dificilmente 
                    teria sido criada pela natureza. Havia na face oposta a entrada, 
                    uma sacada esculpida em pedra, e duas escadas laterais, também 
                    feitas do mesmo material, mas com corrimões em um metal 
                    negro e retorcido que davam acesso a ela. Ouviram-se passos 
                    e das trevas, na sacada, surgiram quatro figuras sombrias, 
                    duas femininas e duas masculinas. Eram drows.
 
 “A 
                    persistência de vocês poderia ser irritante para 
                    alguns, mas confesso que ela me diverte.”, disse um 
                    deles, de roupas escuras, um chapéu, uma capa, de cota 
                    de malha cinzenta, um escudo broquel preso ao braço 
                    e um sabre embainhado na cintura. “Espere um momento. 
                    Eu conheço este homem!”, disse o outro drow, 
                    apontando para Magnus. “Você devia estar morto!”
 
 O 
                    Paladino então reconheceu aqueles dois de um episódio 
                    do passado, quando ele e alguns outros que fizeram parte da 
                    Comitiva da Fé foram instruídos por Elminster 
                    a investigar o subterrâneo da Torre Torcida no Vale 
                    das Sombras. Lá eles descobriram que uma família 
                    drow possuía mantinha uma fortaleza subterrânea 
                    e pretendia retomar a cidade da superfície que, em 
                    tempos passados, pertencia aos drows. Seus planos falharam 
                    quando o grupo os derrotou matando o mago da casa Khurastan. 
                    O resto deles fugiu e o esconderijo foi todo tomado pelas 
                    águas do rio Ashaba destruindo tudo. Além de 
                    Magnus, Arthos e Sirius são os que estavam presentes 
                    naquela época.
 
 “Não 
                    tombo facilmente! Quero minha revanche!”, bradou Magnus 
                    corajosamente, referindo ao musculoso drow que o derrotara 
                    antes.
 “Sim... 
                    conheço uns dois ou três...”, o drow de 
                    capa colocou a mão no queixo e levantou uma sobrancelha.
 “Não 
                    sei porque vieram aqui, mas não escaparão com 
                    vida!”, exclamou uma das drows, cujos trajes longos 
                    e negros, com figuras de aranhas, indicavam que ela poderia 
                    ser um tipo de sacerdotisa, provavelmente da maligna deusa 
                    Lolth.
 
 Começou 
                    a gesticular e a pronunciar palavras místicas. Um poderoso 
                    encanto estava prestes a se abater sobre a Comitiva. A arena 
                    estava armada e um novo combate, mais mortífero e equilibrado, 
                    estava por começar.
 
 
 
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