|  
 Paz em Silvanum,ou O Maior Medo de Kelta,
 ou ainda As Proezas de Iorek
 
 Descrita por Marcelo Piropo e Ricardo Iglesias  
 Personagens 
              da aventura:
 Os 
              humanos: Ajax filho de Felonte, Herói de Arabel; Kantras de 
              Shadowdale; Adom de Mystra; A Bruxa Coral; Diana de Tymora; Frogsong; 
              Kelta Westgale; Adsartha; Iorek de Moradin, Defensor de Aglarond; 
              Magnus de Helm. Os elfos:Arthos Darkfire; Fergal Rall; Kariel 
              Elkendor; Elder Villayette "Moonblade" Elkendor; Halaur de Evereska; 
              Parliin de Evereska; Siali de Evereska; Torcond de Evereska. O 
              Anão:Feldim Braço Forte. Os Vilões: 
              Cyric, O Príncipe das Mentiras; Bane; Fzoul
 
 Paz em Silvanum,ou O Maior Medo de Kelta,
 ou ainda As Proezas de Iorek
 
 
  Os anões partem
       Lentamente 
              a Comitiva desce do estranho vulcão.  Questões varrem a mente 
              destes bravos mortais que tomaram para si a missão de proteger os 
              Reinos.  Mas, não estaria este grupo ambulante, em suas andadas, 
              superestimando as capacidades da Orbe divinizadora? Se o Pater Ao, 
              Ajuntador de Nuvens, permitiu que a Orbe fosse construída, e se 
              demandou que dela sairia o patrono dos humanos, não seria lícito 
              permitir que Bane, Senhor da Destruição, a possuísse? Afinal, não 
              fosse para Bane possuí-la, Ao Pater teria dito: "Todos podem, menos 
              Bane e nem adianta espernear." Mas disse? Não disse. Por outro lado, 
              afigurava-se a todos que, talvez, a intenção do Grande Pai fosse 
              esta mesmo, permitir a vários partidos a disputa pelo cobiçado poder. 
                     A comitiva, 
              indo para baixo, carecia de respostas; contudo aprendera uma matéria, 
              e isto lhes bastava por enquanto: não entregariam a Orbe para Bane 
              ou para qualquer das Divindades Escuras, também não entregariam 
              para quaisquer outras divindades pretendentes, fossem quem fossem; 
              imagine-se se Magnus entrega o objeto a Helm, quê não dirá Ájax?, 
              fosse escolher, Ájax elegeria sua Diva Mãe, Tymora; Villa quereria 
              ofertar Corellon, Pater Elfum... "Ei, Villa, Corellon já é pai dos 
              elfos..." "E daí, quem disse que ele não pode..." Haveria uma guerra 
              no seio do grupo, mortes, discórdias infindas, cada membro lutando 
              para que seu Deus recebesse a grande oferenda. Melhor, para não 
              haver sérias pelejas internas, deixariam a Orbe aos pés da Escada 
              Celestial, em Águas Profundas, se calhar ainda veriam Helm, Deus 
              Guardião.  Compreendiam que se agissem deste modo, o artefato 
              divinizador seria conduzido ao Pai do Éter, Ajuntador de Tempestades, 
              Criador do Universo, Ao; e a Ele, tino-mor da existência, caberia 
              a escolha, que a qualquer outro pareceria profana. Haveria um novo 
              Deus, ou um Deus menor tornar-se-ia superior.        Nas 
              mãos de um humano; um de nome Adon, sujeito assaz inclinado às tentações 
              mundanas, feito Patriarca por exclusão, leva às costas a esfera 
              mágica, destino dos homens.  Parou ao lado do cavalo, olhou 
              para trás.  Sentiu medo, sentiu o peso do fardo esférico.       Os anões 
              juntaram-se por último a grande tropa que é esta Comitiva.  O 
              sol sumiu dentro das nuvens, um vento forte soprou do sul.  Forthum 
              Barba Grande, Rei entre os anões, aproximou-se de cabeça baixa. 
               Era um dos seus gestos carregados de drama, pensaram.  Na 
              verdade, segurava as lágrimas. Disse:"Amigos, não é por falta de 
              amor, não, que por vocês tenho muito no meu peito.  É por escrúpulo, 
              reservas de anão, e esta não espero que compreendam.  Vou-me. 
              Irei e comigo levarei os anões. Aqui termina a nossa jornada."
 
 Os anões despedem-se de todos. 
               Kelta tenta dissuadir Barba Grande dizendo que a raça dos 
              anões é a melhor de todos os reinos, disse ele é claro, bem longe 
              dos ouvidos aguçados de Villayete.  Em vão.  Recebe, entretanto, 
              um longo abraço Kragum Mata Orc, re-batizado por Kelta, e tendo-o 
              na conta de padrinho, dedica-lhe também caloroso abraço.  Quem 
              mais sofre é Iorek, e são para este as maiores vênias.  Não 
              faltou um afago a Feargal, que ajudou Forthum a resgatar o Martelo 
              do Trovão nas Minas de Mongoth.
       Ficaram para 
              trás o colorido e roliço Windowfim Braço de Clanggedin Barba de 
              Prata; o jovem Kragum, anão imberbe ornado por uma felpa; Dumairin 
              (sem que ninguém o tivesse argüido o porquê do título "Polegar Sujo"), 
              ainda bem, contasse ele, e ninguém quereria apertar-lhe a mão na 
              despedida.  Ficou para trás o Pai Forthum.  Só Feldin 
              Braço Forte seguiu com a Comitiva; a esperança em seu coração impedia 
              que deixasse a bela Diana de olhos de esmeraldas.  Um dia, 
              cogitava, um dia será minha esta bela mulher, mais formosa dentre 
              as fêmeas.  A Floresta Brumosa       Cavalgaram 
              durante algumas horas, sempre em direção oeste.  Adon e Villa 
              deixaram-se ficar um pouco para trás.
 "Por que você pensa que Bane 
              queria Érix livre?" Perguntou Elder Villayette.
 "Penso que para disseminar o 
              ódio.  Creio que Bane esperava que as revelações de Érix criassem 
              algum tipo de revolta humana contra os Deuses, em especial contra 
              o Pai Ao.  Falhou plenamente.  Talvez tenha Bane esperado, 
              com seu ardil, influenciar um humano desesperado a entregar-lhe 
              este fardo." E apontou para as costas. "Talvez ainda, Bane esperasse 
              que este humano fosse eu, haja vista meu histórico de fraquezas. 
               Mas sabe uma coisa, caro Villa, ocorreu o contrário."
 "Não compreendi."
 "É simples.  Desde que 
              tornei-me Patriarca, questiono-me: como pode o perfeito Pai do Universo 
              haver criado esta vilã raça humana.  Agora sei que esta imperfeita 
              obra não saiu de suas mãos. Isto conforta-me."
 O elfo franziu o sobrolho.
 "Como podes falar assim.  És 
              humano, meu caro Adon!"
 "Sou, e sei o quanto somos frágeis. 
               A mais frágil de todas as raças.  Tome Forthum para exemplo. 
               As palavras dos anões são como as montanhas, não há vento 
              capaz de mudá-las.  Por outro lado, não há nada mais volúvel 
              do que os juramentos humanos."
 
 Sem jeito, e meio a contra gosto, 
              Elder concordou.  Perceberam que estavam distantes dos demais, 
              assim, inclinando-se sobre as montarias, galoparam sacudindo o úmido 
              campo.  Sorriram um para o outro, e neste pequeno momento de 
              euforia, Adon esqueceu-se da face lesada por uma profunda cicatriz, 
              e Villa esqueceu a alma lesada por uma longa separação.  O 
              momento passou. Juntaram-se aos outros.
       Ao longe 
              distinguiam uma vasta floresta. Uma linha verdejante, envolta em 
              tênue bruma, que abrangia a totalidade do horizonte. 
 "Não acho prudente seguirmos 
              adiante até esta floresta, a menos que alguém a conheça".  Estas 
              temerosas palavras disse Kelta. Diante d'alguns comentários contrários, 
              ele acrescentou: "Há brumas adiante. Brumas... uma vez dormi sobre 
              as brumas e acontecimentos terríveis vieram ter comigo".  Chegou 
              o cavalo para perto de Coral.  Estendeu sua mão até a dela. 
               Coral, de ondas douradas no cabelo, estendeu as mãos para 
              Kelta. "Minha querida, sente alguma coisa lá adiante. Sonhaste algo?"
       A bruxa Coral, 
              mulher frágil na aparência, anacrônica espada longa pendendo da 
              cintura, respondeu."Amado esposo, não tive sonhos 
              divinatórios, ou não soube interpretá-los como sendo."
 Iorek declarou.
 "A floresta está em nosso caminho. 
               Prefiro atravessar o mato do que fazer um longo contorno".
       A druida 
              Adsartha, mais o ranger Kantras, seu marido, assentiram.  Disse 
              a sacerdotisa:"Não vejo problemas com a floresta. 
               Ademais, estaremos mais seguros lá do que aqui."
 "O que você diz?" Esta pergunta 
              fez Kelta. "Esta floresta pode estar habitada por criaturas terríveis..."
 Iorek olhou adiante.
 "Façamos o seguinte. Eu e Kantras 
              iremos na frente. Vamos investigar a mata; for problemática nós 
              faremos a volta." Disse e foram.
 
 Colóquio, durante a corrida, 
              entre Iorek e Kantras.
 "O que está havendo contigo, 
              ó bravo Iorek? Para onde está indo tua soberba sabedoria?"
 "Boa pergunta, jovem Kantras, 
              bravo como um Deus! É saudade o que sinto. Deu-me o grande Moradin 
              uma nova vida ao lado do meu amor, e aqui estou eu, longe dela..."
 "É verdade... Espero que a minha 
              sorte, a de ter ao lado a querida esposa, não o entristeça."
       Acharam a 
              floresta agradável.  Kantras entrou bastante entre as árvores 
              e conseguiu ver um gamo.  Haviam coníferas altíssimas, carvalhos 
              troncudos de galhos imensos, cipós pendendo de algumas árvores, 
              uma chuva de pólens, o barulho de córregos...Retornaram para o grupo.  Todos 
              gostaram da descrição e entraram na mata.
 Desmontados, caminharam por 
              entre as árvores verdes.  Iorek ia guiando o grupo.  Os 
              elfos de Evereska traziam os arcos preparados.  Foi quando 
              a druida, boa para as coisas da mata, passando, viu uma mulher encostada 
              a uma árvore.  A mulher meneou a cabeça como quem diz: "Sim, 
              aqui estou eu!"  Os demais passaram por ela sem tomarem conhecimento. 
               Adsartha deixou-se ficar.
 
 "A Deusa ilumine os teus dias", 
              fez, aproximando-se da mulher.
 "A voz da Deusa preencha os 
              teus ouvidos", disse em resposta. "Sou Elifiem. Estás na Floresta 
              Brumosa."
 "Sou Adsartha, do Vale das Sombras. 
              Estamos profanando algum sítio sagrado, irmã?"
 "Não"
 "Esta mata é segura para mim, 
              meu marido, Kantras, e meus companheiros?"
 "Sigam tranqüilos, Silvanus 
              guarda esta terra; vá, não deixe que teus amigos dêem por sua falta."
 Os druidas de Silvanum
 Um lago de águas transparentes 
              se apresentou à exausta Comitiva.  Era assim: tão largo que 
              se perdia entre as árvores cobertas de musgo, suas águas não pareciam 
              frias ou quentes; o lugar estava envolto numa aura de raro encantamento; 
              as copas largas das árvores guardavam com um teto folhudo as águas 
              suaves, e da umidade das folhas luzes matizadas eram refletidas. 
               Adsartha, única com olhos para ver tais espetáculos, via uma 
              bela ninfa nadando, bailava desnuda sob e sobre as águas.
       Ájax retirou 
              toda a veste até restar apenas os panos que cobriam as suas vergonhas, 
              e lançou-se no lago.  Seguiu-o, entusiástico, Magnus, após 
              lutar contra as pesadas peças da sua soberba armadura.  Pegaram-se, 
              os dois guerreiros, numa luta de socos, destas que quotidianamente 
              há entre amigos.  Nos socos, estreitaram a amizade.  Depois, 
              Ájax, vestindo apenas as armas, caçou um gamo.  Sacou da grossa 
              coxa o afiado gládio e sacrificou o gamo na beira do lago, oferecendo-o 
              à Diva Tymora.  Iorek também trouxera boa caça.  Assim, 
              banquetearam-se de carne abundante e beberam vinho suave.  A 
              derradeira gota correu na garganta de Iorek que, pousando a mão 
              na empanturrada barriga, encostou-se numa pedra coberta de musgo. 
               Está aí a primeira proeza de Iorek, devorar, só, toda a carne 
              de um gamo.  O elfo Feargal, selvagem na raça e no cogitar, 
              achou aquela calmaria um tanto suspeita, sacou as espadas e pôs-se 
              de prontidão.  Arthos Fogo Negro correu com a bela Diana de 
              olhos de esmeraldas para um sítio afastado, derrubou-a na relva, 
              segurou-a nos seios, sentiu-a por dentro; seja talvez por tratar-se 
              de alguém que até pouco tempo voava por aí a cuspir fogo, seja outro 
              motivo, mas Arthos nunca derrubara na relva úmida mulher de entranhas 
              tão quentes.  O corpo estremeceu sobre o corpo dela.  Adormeceram 
              descompostos, despudorados que eram.        Kelta retirou 
              as botas e esticou os pés.  Teve vexame de que Coral, de ondas 
              douradas no cabelo, se molhasse assim, à vista de todos; calha da 
              roupa ficar transparente e todos veriam as belezas que apenas seus 
              olhos podem ver.  Puxou-a para si.  Ela, toda ouro contra 
              a luz oblíqua, veio.  Ele segurou-lhe os nacarados braços."Você estava certa!"
 "Sobre o quê?"
 "Sobre libertar Érix, sobre 
              respeitar as profecias!"
 "O que eu disse que o fez mudar 
              de idéia?"
 "Não apenas o que disse, mas 
              com alguns fatos do passado que me fizeram perceber que é inútil 
              usar a razão para compreender a natureza das coisas.  Se não 
              fosse pelas profecias, não teríamos nos conhecido.  Não tenho 
              certeza se expressei tudo o que sinto por você em todos estes anos, 
              não sei se minhas palavras passaram o mesmo calor do fogo ardente 
              que sinto por ti, mas prometo que me esforçarei ao máximo para fazê-lo 
              e hei de torná-la a mulher mais feliz dos reinos.  A alma dos 
              humanos é inconstante.  Inconstante sou em tudo, exceto nos 
              sentimentos votados a ti, querida.  Morram aqueles capazes 
              de duvidar do meu amor, que é desconhecido nesta terra, estranho 
              também nos céus, pois duvido que hajam Deuses dispostos a amar como 
              eu amo.  Coral..."  Estas palavras melífluas disse Kelta.
 Ela avançou.  Oscularam-se 
              ternamente.  Nisto, desequilibrados, caíram ambos da pedra 
              onde estavam para a água.  O ciúme varreu o cenho de Kelta. 
               Abraçou-a para eclipsar-lhe a beleza.
 Continuou Kelta:
 "Sei que eu não era puro de 
              corpo quando nos conhecemos..."
 Coral o interrompeu falando 
              assim:
 "Que diz? Nós druidas, ao contrário 
              do que pensam as demais religiões, não consideramos que o amor suja 
              o corpo.  Se eu tivesse deitado com outros homens antes de 
              lhe conhecer, não gostaria que pensasse sujidades de mim."
 "Eu..."
 "Eu sei o que queria dizer, 
              não se preocupe, são lindas as suas palavras."
 "Eu quero que saibas, ó Coral, 
              que quando nos casamos eu era puro de coração, ou seja, você foi 
              a única mulher por que me apaixonei e assim será sempre.  Só 
              conheci o amor através de ti." Deu uma pausa. "Ó Coral, nínfica 
              fêmea, se os Deuses a levarem antes de mim, e Eles cuidem e guardem 
              para que isto não aconteça, juro, juro profundamente, não conhecerei 
              outra mulher até o dia da minha morte, não derrubarei na aromática 
              cama virgem alguma, ou desejarei com meus sentidos.  Irei casto 
              para o além, olhos vermelhos de tanto chorar.  Você me esperaria 
              no Éter se tal tragédia acontecesse? Para ficarmos unidos para sempre?"
 Coral nada respondeu.  Não 
              sabia como não magoar Kelta, pois a resposta, a única possível para 
              ficar em paz com a sinceridade, não era a que ele esperava.  Contudo, 
              sorriu.  Não podia duvidar do amor que este homem lhe votava.
 Adsartha pôs-se de cócoras na 
              beira do lago.  Veio uma ninfa nua, que somente Adsartha enxergava, 
              e contou-lhe destarte:
 "Há, do outro lado do lago, 
              uma vila de druidas, Silvanum é como se chama, lá reina Amarílis 
              a bela.  Esperam-te e aos teus companheiros."  Fez e nadou 
              para longe.  Somente Adsartha viu as manchas na superfície 
              da água.
       Chamou Kantras, 
              seu marido, e disse-lhe que atravessaria o lago.  Kantras, 
              por seu turno disse para Villa que disse para Kariel.  A Iorek 
              ninguém disse, eis mais um feito, possuir ouvido élfico; escutou 
              e se escalou.  Ergueu entorpecido pelo vinho suave.  A 
              comitiva desmembrada da outra Comitiva, partiu.  Entraram no 
              lago que não parecia profundo e caminharam cautelosos dentro d'água. 
               Nem tão cautelosos assim.  É que vai com ele um escolhido 
              que apenas diz para as coisas acontecerem.  Do outro lado chegaram 
              a vila de Silvanum.  Vieram receber-lhes o elfo Mili'el, apenas 
              selvagem na raça, e a druida já conhecida, Elifiem.        Era Silvanum 
              uma terra de druidas como o são as outras.  Círculos de meníres, 
              dolmens, cabanas de paredes de pedra e teto de folhas, bois gordos 
              pastando, pastores deitados à sombra duma vasta faia, o som de flautas 
              e harpas.  O surpreendente era caminharem tantos elfos entre 
              tantos humanos.
 "Três Deuses nos guardam." Declarou 
              Elifeim à mesa e respondeu as perguntas dos forasteiros.  Já 
              estavam, nesta altura, sentados à mesa, numa casa grande, bebendo 
              vinho fresco e comendo frutas doces.  Refestelou-se Iorek com 
              uma vasta tigela de frutas.  De olho na fome do ranger, mandou 
              Mili'el trazer carne abundante.  Iorek, enquanto os outros 
              conversavam, devorou a carne macia, sorveu o tempero e chupou o 
              tutano dos ossos.  Diante da sede de Iorek, mandou Mili'el 
              que viesse o barril de rubro vinho.  Afinal, aos hóspedes tudo. 
               Estava realizada mais uma proeza quando a última gota molhou 
              a garganta do insaciável ranger.
       Villa contou 
              um pouco sobre o fardo da Comitiva.  Pediu pouso. "Quanto quiserem."  Vinha 
              esta resolução duma visita de Chauntea, Deusa Verde, à Amarílis 
              a bela, poucas horas antes.  Estas foram as palavras de Chauntea: 
              " Vem aí uma crente, muito devota, Adsartha é o nome dela.  Mandem 
              emissário para tranqüilizá-la, depois tragam-na para esta terra. 
               Ela e Comitiva necessitam descanso.  Saiba, bela Amarílis, 
              que um consórcio Divino os guarda."
 Cyric, o traiçoeiro       Cyric subiu 
              numa árvore.  Ficou só olhando.  Viu as ebulições amorosas 
              entre Kelta e Coral e descobriu o calcanhar vulnerável da Comitiva. 
               Os perseguia às ocultas a algum tempo, entrou na floresta 
              atrás deles; desde então maquinava um plano, um jeito de arrancar 
              a Orbe deles. 
 "Safados - pensava consigo - 
              fodo com todos, exceto com Elder Villa, desse merda eu gosto, o 
              resto se fode, comerão a merda do inferno quando eu voltar a ser 
              Deus."
 
 Cyric era muito veloz e esquivo 
              para ser descoberto.  Por mais que a Comitiva estivesse alerta, 
              por mais que os elfos de Evereska estivessem vigiando no alto das 
              árvores.  Tudo debalde.  Bom mesmo para se esconder era 
              este.  Reparou que em suas declarações de amor (Cyric não as 
              escutava, mas lia cada uma nos lábios de Kelta e controlava-se para 
              não se entregar às gargalhadas), Coral e Kelta afastavam-se um pouco 
              do grupo.  Rapidamente traçou em sua vil mente." Cato a gostosinha, 
              enfio minha faca curva na garganta da galinhazinha, e mando o otário 
              do Kelta dar-me a Orbe... Ele anda muito acovardado, já reparei, 
              quando a ameaça se estende à Coral; logo ele que eu outrora julguei 
              entre os mais valentes; de todo modo a canalhada tentou apagar o 
              fogo da vida dos meus membros, não terei piedade."
       Escorregou 
              da árvore.  Como uma folha que cai na mata, foi destarte que 
              seus alígeros pés tocaram o solo.  Qual estrelas nascem sutis 
              no firmamento, Cyric corria entre as árvores.  Parou num arbusto, 
              muito perto de Coral; sentiu mesmo o aroma campestre que emanavam 
              os cabelos de ondas douradas.  Ela estava muito próxima.  O 
              Mentiroso preparou o bote; dar-lhe-ia a jeito, não fosse a voz rouca 
              de Iorek.
 "Coral, Kelta, venham, encontramos 
              uma vila amiga do outro lado do lago, venham."  E eles se afastaram. 
               Cyric xingou Iorek de todos os nomes feios existentes em Toril, 
              se o curioso quiser saber o número exato, anote: 2753. Exemplos: 
              morfético, sodomita, pederasta, nariz-do-cão, capadócio... Não merece 
              Iorek, que acabou de estabelecer mais um feito: caminhava depois 
              do tanto que comeu e bebeu.
       O Mentiroso 
              os viu atravessar o rio. Deixou-se ficar. Banquete à Corellon À noite, os elfos selvagens, 
              apenas na raça, renderam hecatombes a Corellon, Pai dos Elfos.  Sangraram 
              um touro bravo, com a gordura avivaram a fogueira, as vísceras foram 
              para o fogo, eram as impurezas sendo queimadas; o mesmo fizeram 
              com dois outros.  Feargal, selvagem na raça e na fé, foi o 
              único filho do Pai a não render homenagens, contudo não fez polêmica.
       No círculo 
              de meníres, Adsartha participou dos serviços com as druidas de Silvanum. 
               Cantou a despedida do sol e a chegada de selune.  Iorek 
              mergulhou no braço do lago que entrava em Silvanum e de lá assistiu 
              ao festival de Corellon.  Estando assado o primeiro touro, 
              correu, ainda molhado, para diante da carne.  Entornou vinho 
              escarlate e engoliu carne suculenta, comeu mais do que todos.  O 
              segundo touro não precisou dividir com ninguém que já jaziam todos 
              satisfeitos, comeu Iorek a carne saborosa.  O terceiro touro, 
              cortou a carne em pedaços, e deixou-a secar sobre uma pedra; levaria 
              durante a viagem.  Não há necessidade de dizer haver Iorek 
              estabelecido mais um prodígio.  O maior ainda estava por vir.
 O anão, Feldin Braço Forte, 
              sentou-se só, num canto; só é exagero, trazia consigo o seu machado. 
               Também vinha consigo uma mágoa grossa, lodosa, pegajosa, podre, 
              uma que pesava qual as bigornas dedicadas a Moradin; um fardo que 
              ia, pouco a pouco, tornando-o lento, fraco, apagado, esgotado.  Quem 
              conhecera as cores do Feldin de outrora, pensaria estar o bravo 
              anão infetado por morfética enfermidade.  Olhava ao longe, 
              escutava os berros de Iorek, as palavras aladas de Villa, os resmungões 
              de Feargal; não, porém, via os olhos de esmeralda de Diana, nem 
              a cara cínica de Arthos Fogo Negro.  Agarrou a cabeça com toda 
              força, fechou os ouvidos, imaginou, à guisa de louco, os gemidos 
              de Diana, altos, altos... Tampou as orelhas com tanta força que 
              caiu exausto.  Lutou para dormir, conseguiu apenas a dor de 
              girar de um lado para outro.
 
 Kelta sentou-se com Kantras. 
              Estavam a sós, afastados da festa:
 "Por que veio conosco, Kantras?"
 "Responderei por você ser mais 
              velho, deste modo, mais sábio.  Liguei-me a uma mulher maior 
              do que eu, a Grande Adsartha.  Precisava saber se ela realmente 
              me amava, ou se fizera apenas o que os druidas mandavam.  Hoje 
              não preciso mais deste entendimento, pois cresci.  Tornei-me 
              um homem e me basto.  Ela é sábia e basta-se; se estamos juntos, 
              é porque nos amamos." Disse uma verdade recheada de inverdades. 
               Ocorre que ele tinha Adsartha numa tal posição que não se 
              achava merecedor dela.  A cada nascer do sol ele aguardava 
              que ela viesse dizê-lo: "Kantras, meu tempo ao seu lado acabou, 
              vou-me, sigo o meu destino."  E em cada aurora que ela não 
              proferia tais palavras, ele lucrava.
 Pobre rapaz, pensou Kelta de 
              si para si. Tinha vituperiosas censuras à druida, mas calava-se. 
              Prosseguiu:
 "Vejo-o irritado conosco, Kantras. 
               Direi para não ser tão severo em seus julgamentos."
 "Farei como me pede, pois é 
              mais velho, contudo saiba que não tolero a falta de respeito e honra, 
              e há desrespeito no seio desta Comitiva."
 "Concordo com você, mas deve 
              cuidar para não dirigir às pessoas erradas o seu descontentamento. 
               Sei que sua rixa principal é com Feargal, contudo lembre-se: 
              ele faz parte da Comitiva da Fé mas não é a Comitiva da Fé."
 
 Calados, foram buscar suas mulheres. 
               Correram para os matos, cada casal para um lado.  Kelta 
              derrubou Coral na grama úmida, atrás de ampla faia, e a fez gemer 
              como só as druidas gemem.  Adsartha derrubou Kantras na grama 
              úmida, e ficou por cima no ato, gemeu e teve prazer, perícia druídica. 
               Ah, se Kelta soubesse que olhos cheios de vilania viram a 
              nudez da sua amada, explodiria de raiva e mataria o ofensor.
 
 Não adiantava Cyric fazer Coral 
              de refém naquele momento.  O cruel Ájax, maquinou, e o terrível 
              Adon estão distantes; aguardarei momento melhor.
       Arthos e 
              Diana só chegaram a Silvanum quando a lua já reinava alta e a vila 
              dormia.  Arthos fora avisado, mas preferiu amar mais duas vezes 
              a sua Diana de olhos esmeralda.  Notou uma conversa secreta 
              e decidiu fixar sua audição élfica.  A mesma conversa era escutada 
              pelo escolhido, Kariel, que sem precisar dormir, subira numa árvore 
              para apreciar a noite. 
 Relatavam as vozes:
 "Os forasteiros querem chegar 
              a Águas Profundas... Talvez possamos evocar o poder do círculo de 
              meníres, e ajudar os forasteiros."
 "Amarílis não acha prudente."
 A Sacerdotisa Amarilis       Os 
              amantes retornavam de suas aventuras noturnas na floresta.  O 
              restante da Comitiva acordava.  Estavam dispostos a continuar 
              sua jornada através da floresta.  Kariel procurou Adsartha 
              ainda bem cedo; relatou-lhe as coisas que escutara.  Concordaram 
              em não perturbar esta de nome Amarílis.  Se a ajuda fosse diretamente 
              oferecida, então talvez... Entretanto, cresceu em ambos o desejo 
              de conhecer a senhora deste tão agradável sítio.  Elifiem os 
              levou até a casa grande no alto da colina. Entraram num salão amplo, ornado 
              de mármores e estátuas antigas.  Sentada bordando estava Amarílis. 
               Adsartha que tinha olhos para ver, viu ali diante de si uma 
              semideusa, ninfa de alta estirpe, toda coberta de atmosfera dourada. 
               Kariel que tinha olhos mas não via tudo, enxergou somente 
              uma senhora ocupada e receptiva.
 Cumprimentaram-se. Disse Adsartha:
 "Viemos conhecer-te, ó druida, 
              agradecer-te também pela hospitalidade."
 "Não nos foi dado a dádiva de 
              conhecer o futuro, como saberei se amanhã não serei eu a bater à 
              sua porta?"
 "De todo modo, em nome de Chauntea, 
              muito obrigada."
 Kariel também expressou os seus 
              agradecimentos, contudo, sem igual oratória.
 Amarílis esticou um pergaminho 
              para Adsartha.
 "Aguardava sua visita.  Leve 
              esta mensagem para os druidas do Vale das Sombras.  Não se 
              acanhe com a pousada, pense nela como a integração de duas casas 
              que a muito se encontram separadas."
       Arthos Fogo 
              Negro é um sujeito estranho.  Não se esforça para agradar, 
              entretanto, não há quem o não queira bem.  É o seu jeito, dizem. 
               Estava dormindo com uma mulher-dragão e nem fazia caso do 
              fato, para ele não importava.  Aceitava a vida como ela se 
              lhe apresentava, não resmungava, e tudo, o tempo, as batalhas, as 
              amizades, tudo sempre ia bem.  Diana, que chegara na Comitiva 
              inclinada a procurar protetor, encontrou em Arthos o mais forte 
              do grupo, capaz de, aparecendo Mor'Ha'Dur, dar solução inesperada 
              ao caso.  Solução esta que ele (Arthos) nem sabia que existia 
              até que chegasse o momento.  Bem, foi imbuído destas inconseqüências 
              que se aproximou da Comitiva.  O grupo preparava as mochilas 
              e os cavalos. Arthos começou assim:
 "Grande dia, Comitiva Devota" 
              falou retirando o cabelo rubro da face. "Talvez nossa viagem esteja 
              resolvida."  Encostou-se na parede, talo verde entre os dentes. 
               Era este o modo Arthos de agir. Jogava a isca e aguardava.
 Todos se voltaram para ele.
 "Que diz?" esta pergunta fez 
              Kelta.
 Arthos então animou-se.  Contou 
              tudo sobre as vozes ouvidas.  A Comitiva não lhe deu ouvidos. 
               E Villa passou-lhe um sermão.
 "Arthos, esqueça isto, pois 
              seria indelicadeza de nossa parte, fomos convidados para passar 
              a noite, não ficar escutando as conversas alheias."
 Retornando Kariel e Adsartha, 
              o grupo partiu.
 A Chantagem de Cyric       Algum tempo 
              após a saída de Silvanus, o grupo continuou sua viagem através da 
              floresta, sob uma forte chuva que desabara, parecia que Talos se 
              mostrava presente como se proferisse o que estava por vir. Veio 
              Mystra, Deusa da Magia, falar ao ouvido do dileto Kariel.  Era 
              uma borboleta o seu Avatar.  Ninguém mais notou a presença 
              da Deusa; Kariel atentou às palavras divinas.
 "Dileto Kariel, por mim escolhido, 
              não tema ainda, o momento derradeiro ainda não chegou.  Embora 
              não tarde.  Saiba que muito a nordeste, os cavaleiros de Myth 
              Drannor mataram o último Nefário no momento em que se abria o portão 
              para o inferno.  A destruição do Grande Demônio fez ruir a 
              tenebrosa Gandhal-Mhor.  Em Cormyr, há dias as asas do terrível 
              Mor'Ha'Dur não são vistas.  Embora o reconhecimento recaia 
              sobre estes combatentes que defendem o Reino à vista de todos, torna-se 
              mais importante a missão da Devota Comitiva.  Não percam o 
              sono por Bane, não pode ele contra todos nós.  Não podemos, 
              porém, garantir contra seus filhos, que são muitos e maliciosos. 
               Resolvemos que a Orbe divinizadora deve ser depositada aos 
              pés da Escada Celestial, e quem deve decidir é o Grande Pai." A 
              borboleta-avatar foi-se.
 
 Cyric corria no meio das árvores. 
               Podia sentir a presença da Orbe, a realização dos seus desejos, 
              ali, seguindo quase ao seu lado.  Perdera o pudor, e seus alígeros 
              pés não mais deslizavam pelo solo molhado, feriam sim, de maneira 
              estridente, as folhas caídas e os galhos.  O cheiro da Comitiva 
              misturava-se com o cheiro de metal da Orbe, era tudo uma grande 
              loucura e a fome em seu ventre impedia-o de raciocinar.  Era 
              Cyric a efígie do puro desespero.  Soubesse ele quem estivera 
              a pouco conversando com Kariel, talvez mudasse de idéia. Sabia? 
              Não sabia.
 
 A água caía do céu em forma 
              de laje d'água, pesada e sonora.  O vento envergava as árvores. 
               Kelta cobriu Coral com uma manta grossa.  Seguiam por 
              um estreito corredor entre os matos altos, iam desmontados, conversando 
              amenidades, poluindo os ouvidos, dando possibilidade para o desesperado 
              Cyric.
 Se alguém perguntar para Kelta 
              como tudo aconteceu, ele certamente não será capaz de responder. 
               Ele caminhava ao lado de Coral num instante, no outro ela 
              jazia entre os braços dum homem ordinário, e uma faca curva havia 
              selecionado sua veia jugular.
 
 "A Orbe, filhos da puta, me 
              dêem a Orb..., calabocavagabunda, a Orbe ou a desgraçada vai morrer."
 Todos estavam parados.  Não 
              esperavam que tal criatura aparecesse tão cedo, mas lá estava ele, 
              com ódio nos olhos, o Mentiroso, ou melhor, ex-Deus, mas não menos 
              mitômano e perigoso.
 Coral trazia na face o horror, mas trazia também a determinação 
              de que morreria, mas não deixaria que a Comitiva entregasse de boa 
              vontade a Orbe a Cyric, nem a adaga curva que estava prestes a cortar-lhe 
              a jugular a fazia desistir.  Porém o medo em seu rosto, fez 
              com que Kelta perde-se a fibra.  O fogo guerreiro apagou-se.
 
 "A Orbe, Adon, me dê a Orbe." 
               Estas palavras disse Kelta, para em seguida arrancar das mãos 
              do Patriarca de Mystra o tão cobiçado artefato.
 Todos estavam estarrecidos, 
              eles viam seu companheiro Kelta, que outrora se mostrara forte, 
              sucumbindo ao ex-Deus das Mentiras.
 "É Adon, dê a Orbe p'ra ele 
              senão eu corto essa cadela."
 Feargal, selvagem na raça e 
              no cogitar, sacou suas duas espadas.  O som das lâminas girando, 
              cortando o ar, foi maior do que o da tempestade.
 "Saia da frente, Kelta, matarei 
              este miserável."
 "Se derem um passo eu a corto."
 Iorek, animado com a ação de 
              Feargal, sacou o arco e praticamente encostou a seta na cabeça do 
              Mentiroso.
 "Quando eu voltar a ser Deus 
              eu vou foder com todos, viu seu Iorek! Só vou poupar o Villa aqui." 
               Disse Cyric percebendo que ele se aproximava.
 "Calma Cyric, deixe-a em paz!" 
              Disse Villayette segurando a empunhadura da Lâmina lunar.
 "Cyric, ela não tem nada a ver 
              com isso, ela é inocente, e você não quer fazer isso, fique comigo, 
              deixe-a em paz!"  Insiste o elfo Elder Villa.
 Feldin sacou o grande machado. 
              Contudo não foi contra Cyric.  Protegeria Diana caso o ódio 
              de Cyric mudasse de alvo.
 "Villa, eu vou foder todos eles, 
              eles tentaram me matar, mas você não.  Eu gosto de você, mas 
              se der mais um passo eu vou cortar e ela vai se foder."
 Naquele momento, Kelta mostrava 
              todo seu desespero.  Ele já de posse da Orbe preparava-se para 
              entregá-la.  Arthos dava a volta, silenciosamente (pelo menos 
              acreditava andar silenciosamente).  Kariel ativava seu elmo 
              da invisibilidade.  O resto do grupo silenciou, a tensão estava 
              no ar, ninguém se mexia.  Nem mesmo pareciam respirar.  Villayette 
              não acreditava no que via.  Kelta acabara de entregar a Orbe.
 Cyric que apesar de ter uma 
              aparência doentia, era ágil e esperto, percebia todos os movimentos, 
              advertiu Arthos, Kariel e Iorek, e já de posse da Orbe exigiu:
 "Agora me dê a chave."
 Kelta partiu para Ájax que já 
              trazia a chave nas mãos.  Novamente Villayette não acreditava 
              no que via, com a garganta seca apesar da chuva que caia, sentiu 
              o aperto na alma, uma dor no peito.  Perdera a esperança, reviveu 
              seu sofrimento, e sentindo também a culpa pelo que estava acontecendo, 
              mais uma vez pediu ao infame.
 "Cyric.  Eles não vão parar. 
               Por favor solte-a.  Fique comigo.  Por favor, evitemos 
              mortes."
 Mas Cyric não ouvia, estava 
              obcecado.  Segurava Coral, mantinha a adaga pressionada no 
              pescoço dela.  O pescoço sangrava por um pequeno corte.  Ele 
              queria a chave, precisava dela para se tornar um Deus.
 Naquele momento, Kelta já de 
              posse da chave, gritou:
 "Você tem a Orbe. Solte ela 
              e eu te darei a chave."
 "Acha que sou burro, Kelta? 
              Coloque a chave na Orbe.  Depois que eu me tornar um Deus, 
              eu a solto."  Disse Cyric.
 "Saia da frente, Kelta.  As 
              minhas lâminas matarão o desgraçado."  Gritou Fergal, selvagem 
              na raça e no dizer.
 "Não!", gritou Kelta de volta, 
              mas uma outra voz foi ouvida.
 "Faça, não se preocupe comigo, 
              faça" Era Coral implorante.  Fergal atacasse, ela certamente 
              morreria... Seria o preço.
 "Cyric, está morto de qualquer 
              maneira.  Se a matar, morrerá. Solte-a." Fez Feargal girando 
              as duas espadas.
       Kariel, aproveitando 
              a distração, conjurou um feitiço.  Tentou prender Cyric, mas 
              o Escolhido não obteve sucesso.  Cyric, ágil como o gato pardo 
              de Calimshan, esquivou-se da carga mágica, girou com Coral, qual 
              num dança.  Também desviou-se dos diversos golpes desferidos 
              por Arthos."Filhos de uma cadela sodomita. 
               Se fizerem outra patuscada destas, eu rasgo o pescoço da porca."
 Kelta encaixara a chave na orbe. 
               O artefato brilhou, suas inscrições giraram, e o ar ficou 
              impregnado de runas divinas que giraram à roda da Comitiva.  Cyric, 
              embevecido pelo poder que ainda não possuíra, relaxou um segundo. 
               Apenas um segundo... Naquele momento todos só ouviram esta 
              curta frase.
 "Perdoem-me."
 Aquela frase carregada de mágoa 
              partiu do elfo Villayette, decidido a acabar com o sofrimento de 
              Coral, pois ele admirara a coragem dela ao implorar para Feargal 
              atacar.  Villa concentrando-se em um único pensamento, o de 
              livrar Coral do sofrimento, atacou.  Sem certeza de sucesso.
 Fora um ataque rápido e quiseram 
              os deuses que Coral fosse libertada, pois, naquele momento a nona 
              runa da Lâmina Lunar mostrou seu efeito.
 A atmosfera encheu-se de cores, 
              como numa explosão.  Os olhos ficaram ofuscados.  Iorek 
              viu o Mentiroso tencionando mover-se.  Disparou.  Mas, 
              adágio já aqui usado, "quem é Deus nunca perde a Divindade."  Cyric 
              desapareceu como que por encanto.  A flecha de Iorek ficou 
              numa árvore.  O Mentiroso havia escapado, mas deixara para 
              trás algumas coisas que até poucos segundos lhe pertenciam: um anel 
              de prata, uma adaga curva e, vejam, uma mão trêmula.
 Villa, carrasco da mão mentirosa, 
              também desapareceu da cena, correndo, todo desespero.
 Coral tombou.  Tombou também a Orbe.  Kelta, caiu 
              genuflexo, ergueu Coral da lama, deu-lhe uma poção mágica para beber. 
               Coral, ao chão, chorava e abraçava seu marido, suas lágrimas 
              misturavam-se com a chuva e depois com o sangue que escorrera do 
              pequeno corte em seu pescoço.  O talho desaparecera, sortilégios 
              das poções encantadas.  Kelta chorou, chorou e abraçou sua 
              amada esposa.
 
 "Ó Coral, me perdoe."
 A Maior Proeza de Iorek
       Iorek 
              partiu em perseguição na mata, com seus olhos de ranger seguia a 
              trilha de pegadas e sangue que Cyric deixava.  Mais adiante, 
              ele viu "a coisa" em pé, espada em punho, incitando-o para um combate 
              franco."Venha Iorek.  Eu vou te 
              foder, eu te mato, comerei teu coração, desgraçado."  Disse 
              preparando-se para atacar.
 Iorek nada disse pois preferia 
              atacar a ser atacado pelo infame, e então começou aquela que seria 
              sua maior luta.
 Chegou Arthos Fogo Negro.
 "Esta luta é nossa, Iorek, ou 
              tens medo de encarar-me?"
 Então Arthos abaixou a arma 
              e apenas observou.
 Cyric enfiou o cotó, ainda sangrando, 
              no bolso da calça.  Preparou a arma na mão esquerda e avançou. 
               Os rivais se pegaram qual cães famintos esquecidos do osso; 
              ou como o raio que racha antigo carvalho.  Era assim que partiam 
              um contra o outro.  O sangue correu nesta refrega, pedaços 
              de carne sempre retornavam junto com as lâminas.  Os braços 
              de urso de Iorek, empunhando as espadas, desconjuntavam o esquelético 
              Cyric.
 Chegou Magnus de Helm.  Entendeu 
              o ocorrido e pôs-se ao lado de Arthos.
 Moradin segurou Iorek pelos 
              ombros, seria uma explicação plausível para o fato de, estando tão 
              massacrado, prosseguir avançando.  Acreditava estar morto quando 
              as pernas de Cyric falharam.  O Mentiroso retirou o braço de 
              mão amputada do bolso e com o cotovelo apoiou-se numa árvore.
 A tarde seguia, foram momentos 
              de tensão, de um lado Cyric do outro Iorek, ambos bastantes feridos. 
               O sangue dos dois emprestava uma tonalidade rubra ao solo 
              e o cheiro misturava-se ao ar, nem a chuva forte que caía diminuíra 
              seu odor.  Esgotados pela batalha, encaram-se.
 Iorek, exausto, podia ainda 
              erguer a espada. Cyric mal respirava.
 "Iorek", falou Cyric, "Iorek, 
              por favor, não me mate, me perdoe.  Dê-me uma chance, nós fomos 
              amigos.  Perdão, amigo, perdão, por favor, não me mate."
 Iorek chutou a perna do Mentiroso. 
               Escutou-se o barulho de ossos partindo-se.  Cyric caiu 
              de joelhos.
 "Por favor, por favor, Iorek, 
              por favor, não me mate, eu não quero morrer, eunaãooqueromorrerrr."
 Iorek atirou a lâmina longa 
              no chão e preparou a curta.  Passou para as costas de Cyric, 
              ignorou as súplicas e garrou-o pelos cabelos (foi neste momento 
              que Iorek percebeu trazer um dos seus dedos da mão direita, inutilizado, 
              pendurado apenas por fina camada de pele).  O ódio cresceu. 
               A noite eterna cobriu os olhos de Cyric, desligaram-se os 
              membros e a alma voou para Hades.
 Está ai a maior proeza de Iorek, 
              Flagelum Deorum, ou em língua comum, Flagelo dos Deuses.
 Kelta pede perdão       Erguendo 
              a cabeça cortada do ex-Deus, ex-Mentiroso, ex-ladrão, ex-guerreiro, 
              ex-vivo, Cyric, Iorek, trazendo na face feridas profundas, tentou 
              sorrir.  Disse para Arthos e Magnus."Por favor, coloquem minhas 
              armas no cinto."
       Iorek retornou 
              com a cabeça troféu.  Foram confusos os acontecimentos daí 
              por diante.  Sabe-se que Iorek não ficou entre a Comitiva, 
              que entrou na floresta sem deixar Adsartha terminar os curativos, 
              que Kelta recolheu-se em pesado silêncio, que Coral chorou o resto 
              do dia, que Feargal humilhou o cadáver de Cyric e espalhou os membros 
              do infeliz por vastas áreas da floresta, que os demais mantiveram 
              a prontidão até altas horas e que poucos dormiram. Algum tempo depois enquanto 
              caminhava sozinho, refletindo, Villayette foi surpreendido por Iorek. 
               Ficando impressionado com seu estado, pediu que ele retirasse 
              sua armadura de couro.  Eles ficaram ali, sem comentar sobre 
              os fatos.  Iorek, lembrando-se do assado que trouxera de Silvanus, 
              ofereceu a carne ao elfo.  Então eles ficaram no escuro, sob 
              chuva tremenda, comendo carne fria.  Não era o que ambos esperavam, 
              mas nenhum dos dois se queixou de nada.  Parando a chuva, Villa 
              costurou Iorek onde ele precisava, depois deitaram na grama úmida 
              (que não se faça ilações pederastas).
 
 No dia seguinte Iorek tentou, 
              sem sucesso, fazer com que Villayette retornasse para junto dos 
              outros, mas Elder Villa ainda não queria olhar nos olhos dos seus 
              amigos, não estava preparado para encarar Coral ou até mesmo Kelta. 
               Eles decidiram viajar na frente.
       Dois dias 
              depois a Comitiva saiu da floresta.
 "Amigos! Eu gostaria de dizer 
              algumas coisas." Estas palavras disse Kelta.  Continuou, a 
              face triste, assim.  "Eu sei quase fiz uma coisa terrível, 
              mas gostaria que soubessem que eu não escolhi nada, tudo que fiz 
              foi por instinto.  O que eu sinto por esta mulher é mais forte 
              do que eu.  Ela é como a luz do amanhecer, é como o som dos 
              pássaros cantando, ou a brisa suave que sentimos agora, ela é como 
              uma fadinha.  Eu jamais poderia deixar que um desgraçado como 
              aquele pudesse fazer mal a ela.  Digo, infelizmente, que faria 
              tudo de novo, e de novo..."
 
 Abraçado com sua amada, Kelta 
              disse essas palavras aladas.  À medida que elas saíam de sua 
              boca, o ex-mago chorava como uma criança de dez anos pedindo desculpas 
              ao pai por ter cometido uma falta.  Estava inundado em vergonha.
 "Por Talos Agitador dos Mares, 
              que diz? Pede desculpas, mas se está entre aqueles que eu considero 
              mais corajosos.", comentou Àjax.
 
 Os integrantes da Comitiva ouviram 
              em silêncio.  Os que já conheciam Kelta estavam surpresos, 
              nunca o ouviram falar daquela forma.  Pior, nunca o tinham 
              visto chorar ou demonstrar seus sentimentos tão explicitamente. 
               Estavam acostumados com sua sisudez, de modo que sentiram 
              sua dor e a sua vergonha, mas não censuraram o companheiro.  Ninguém 
              saberia o que fazer.  Bem, ninguém é mais um exagero; não disse 
              nada, mas Arthos censurou sim as atitudes de Kelta, e a partir desta 
              data passou a considerá-lo um fraco.  Retornando as considerações 
              dos demais: naquela situação, não tentaram se pôr no lugar dele: 
              Kantras, Magnus, até mesmo Feargal (que já havia sentido o pesar 
              no seu coração quando sua esposa humana se fora), ficaram em silêncio; 
              Adsartha, que demonstrava a Kantras sua força, manteve-se em silêncio, 
              pois ela sentira o sofrimento de Coral e sentira a dor do companheiro. 
               Ela mesma também não saberia o que fazer se tivesse acontecido 
              com Kantras.  Kariel olhava para o amigo e recordava a sua 
              dor.  Sofrera por ter se afastado de Ênia, mas aceitara o que 
              o destino lhe reservou.  Olhando para Kelta, lembrou-se de 
              seu tio, que a pouco tempo fizera uma escolha terrível, salvando 
              a Comitiva e Faerûn, mas arriscando a vida de sua esposa, agora 
              prisioneira no Abismo de Graz´zt.
 
 Ájax, Adon, Diana e Feldin Braço 
              Forte também ouviram em silêncio.  Admiravam Kelta, uns pela 
              forma como demonstrara seus sentimentos, outros, pelo passado do 
              ex-mago.       Ninguém poderia afirmar 
              o que fariam se estivessem em situação parecida.  Após as palavras 
              de Kelta e de Ájax, o silencio permaneceu, mas foi sendo quebrado. 
               Quisesse que os homens, elfos e anões ficassem calados, os 
              deuses não lhes teriam dado bocas falantes.  Coral, estava 
              pasma, vivera anos com aquele homem, mas nunca o vira agir daquela 
              maneira, não conhecia aquela faceta de seu esposo.  Amou ele 
              mais que tudo, pois vira verdade em suas palavras, não conseguia 
              tirar os olhos dele, admirava sua face e ouvia sua voz, sentia-se 
              bem.
 
 "Nunca iria fazer mal algum 
              a Comitiva, vocês são meus amigos!" estas palavras falou Kelta. 
               Terminou.
 A Comitiva se reúne e prossegue       O dia chegava 
              na sua metade quando Villayette e Iorek vêem ao longe a Comitiva. 
               Iorek pergunta ao companheiro se ele estava disposto a encará-los, 
              e com um modesto aceno de cabeça ele concorda, então os dois seguem 
              em direção a Comitiva.        Kariel, vendo 
              o tio, o repreende pelo seu desaparecimento.  Villayette se 
              desculpa com todos por sua atitude, mas é Kelta quem se aproxima 
              dele com um semblante sério dizendo:"Me desculpe, eu não lhe agradeci 
              pelo que você fez.."
 "Não precisa agradecer."
 "Villayette, eu irei aos nove 
              infernos com você, para resgatar sua esposa." Este juramento fez 
              Kelta.
 "Não diga isso, Kelta, não precisa 
              ir.  Não se dê esta responsabilidade, meu amigo."       Responde 
              Villayette.
 "Você não me acha capaz de ir 
              com você?"  Pergunta Kelta.
 "Não duvido de tua capacidade, 
              mas me preocupo com todos vocês.  Prefiro que você fique." 
                    Responde Villayette.
 "Mas o que você fez por mim..." 
              Instou Kelta.
 "Eu não fiz nada, Kelta.  Eu 
              prefiro que você cuide dela." diz Villayette apontando para Coral. 
               "Será muito perigoso e eu não me perdoaria se você morresse 
              por lá, não quero separá-lo dela."
 "Villayette, eu rezarei todos 
              os dias para Corellon para que você consiga resgatar sua esposa, 
              rezarei até o fim dos meus dias."  Este novo juramento fez 
              Kelta.
 "Obrigado meu amigo..."  Agradece 
              Villayette com um leve sorriso.
 Kariel aproximou-se.
 "Não faça mais isto.  Desaparecer 
              desta forma! Deixou-nos a todos preocupados."
 Destarte redargüiu Elder Villa, 
              o mais velho desta Comitiva.
 "Vejam agora! Estou, no alto 
              dos meus 504 anos, a ser repreendido pelo meu jovem sobrinho."
 A esta observação, replicou 
              Kariel.
 "Sim.  Certamente é mais 
              antigo, mas às vezes, sou mais sábio."
 Três dias passaram rumando para 
              o oeste, sonhando com Águas Profundas, e sempre que eles paravam, 
              Kelta confortava Coral com abraços fortes para apagar o sofrimento, 
              tanto de um como de outro.
 Magnus, percebia a vergonha 
              de Kelta, mas não se incomodava.  Naquele dia ele estava desesperado, 
              com a vida de sua esposa em jogo. Não sentia raiva ou rancor do 
              amigo, mas satisfação ao vê-lo feliz.
       Diálogo teológico 
              durante a jornada.
 Comentou, de modo prosaico, 
              Kariel:
 "Mystra, Bane, Érix, Cyric... 
              Nunca imaginei que veria tantos Deuses Eternos!"
 ao que Magnus acrescentou, cheio de galhardia:
 "O melhor ainda está por vir, 
              verá Helm Guardião."  Pronunciou com face devota, o cenho muito 
              franzido.
 Ao que Adsartha espetou:
 "Não preciso ver a Mãe Chauntea, 
              pois ela vive em todas as plantas da natureza.  Ademais, não 
              necessito ver Helm."
 Fzoul ante à Bane Fzoul Chembryl, de Bane o Escolhido, 
              e sua tropa, surgiram em algum lugar do limbo.  Bane interveio 
              e levou-os ao seu castelo.  Apenas Fzoul adentrou no salão 
              da destruição.  Encontrou Bane sentado em seu definitivo trono, 
              o queixo apoiado no punho.
 
 "Aceito teu castigo, Mestre!" 
               Fez Fzoul reverenciando.
 "Se não buscasses a Orbe para 
              ti, Dileto meu, se não quisesse poder, mesmo desafiando-me, mostraria 
              que nada aprendeu.  Retirei-te da morte prematura, pois este 
              Érix, de cuja libertação tramei, não será em nada maior do que eu, 
              o Senhor da Destruição.  A Orbe que tanto ambiciono está se 
              aproximando das ruínas de Ilefarn.  Os pupilos de Elminster 
              atravessarão a cidade rumando para o oeste.  Tu ficarás oculto 
              entre as ruínas da parte ocidental da cidade mitológica.  Quando 
              a Insignificante Comitiva, ou Comitiva da Insignificância, estiver 
              deixando a cidade, deverás atacá-los com fúria suprema e desprovido 
              de piedade.  Deixei que agisses livre, em busca da tua própria 
              ambição, contudo, falhaste e agora me servirás.  Quanto mais 
              impiedoso tu fores, mais poder dar-te-ei."
 
 Fzoul fez uma longa vênia e 
              deixou o salão.  Num átimo, ele e sua tropa, estavam entre 
              as ruínas ocidentais de Ilefarn, apenas aguardando.
 * * *       Após algum 
              tempo de estrada, a Comitiva vê ao longe uma cidade, e a medida 
              que se aproximam notam que a mesma parecia estar em ruínas.  Todos 
              ficam apreensivos e então Villayette recorda que aquela deveria 
              ser Illefarn, uma das maiores cidades élficas da antiguidade, destruída 
              pelos bárbaros há anos passados.  Villayette e Arthos, curiosos 
              e ansiosos para entrar na cidade (pois queriam saber mais sobre 
              seu povo) foram em direção ao que restou de Illefarn, sendo seguidos 
              pelos demais elfos.  Ao chegarem perto, vêem uma gigantesca 
              estátua, tombada e partida em três pedaços, erguendo uma espada.Aproximam-se da estátua.  Param 
              perante os seus olhos imensos.  Sopra um vento forte e os olhos 
              de pedra se abrem.
 
 "Que é você?"  Pergunta 
              Arthos de chofre, deslembrado de tudo pelo pavor.
 Sopra um vento forte novamente. 
               A estátua tombada, e partida em três parte, responde com voz 
              de trovão. Eis o trom:
 "Corellon Larethian!"
 Os elfos caem de joelhos diante 
              de seu Deus-Pai, reverenciando-o.  Então a estátua fecha seus 
              olhos.
 Eles entraram na cidade e Halaur 
              de Evereska confirma, realmente aquela era Illefarn.  Seguindo 
              pelas ruínas, o grupo vê diversas estátuas dos Deuses do Seldarine. 
               Villayette e os demais elfos seguiram em direção a uma acrópole, 
              onde distinguiram, talvez, antigo templo de Corellon, pois eram 
              carregados de reverência.
 
 Os que subiram até as ruínas 
              do templo de Corellon, viram um altar, onde outrora eram realizados 
              os rituais e os sacrifícios em homenagem ao pai de todos os elfos. 
               Atrás deste altar duas estátuas se apresentavam.  Eram 
              antigas, mas imponentes e belas.  Uma era a imagem da nua Hanali 
              Celanil, a outra do belicoso Corellon.  Ájax entrou no templo 
              com uma lebre que caçara a pouco, e a ofertou em hecatombe.  Quando 
              o sangue do animal tocou a antiga bacia de rituais, os olhos da 
              estátua de Hanali se abriram; soprou um vento e todos que estavam 
              no templo ouviram a voz como um trom.
 
 "O que desejam?"
 Depois de um momento de pura 
              contemplação, Kariel, Dileto de Mystra, e que já começava a habituar-se 
              às Divindades, respondeu. (os olhos abertos da estátua vivos como 
              olhos de carne)
 "Meu Senhor, gostaríamos de 
              chegar a Águas Profundas.  Estamos indo para a Escada Celestial. 
              Levamos conosco um grande fardo."
 "Passem entre nós e poderão 
              chegar lá, mas sairão em uma antiga passagem sob a cidade."
 Kariel agradece e os olhos das 
              estátuas se fecham.  O grupo se reúne para decidir se devem 
              seguir pelo portal ou pela estrada. Kelta preocupado pergunta:
 "Nós podemos descansar antes 
              de ir? Iorek está muito ferido.", disse Kelta estas aladas palavras.
 "Não, Kelta, devemos nos apressar, 
              aproveitar a dádiva que nos foi dada." Responde Villayette.
 "Mas nós podemos passar pelo 
              portal amanhã ou depois." Esta réplica fez Kelta.
 Kariel discordou assim:
 "Talvez...Porém lembre-se que 
              ainda estamos no período de celebração do Festival de Corellon. 
               Este pode ser o motivo pelo qual ele nós concedeu a passagem 
              pelo portal.  O Seldarine está na terra por causa do Festival. 
               Não podemos confiar em nosso calendário.  Vai que o festival 
              acaba daqui a poucos minutos."
 "Villayete, você esqueceu quem 
              é dono daquele lugar? Pois se o portal nos levará para o subterrâneo, 
              podemos acabar naMontanha Subterrânea.  Por acaso esqueceu 
              de Halaster? E se ele quiser a Orbe?" Estas acertadas palavras disse 
              Kelta.
 "Não, Kelta, não esqueci daquele 
              lugar, nem de seu dono, mas é fundamental que nós sigamos o mais 
              rápido possível.  Além do que, não sabemos se ele quer, ou 
              sabe da Orbe."  Responde o elfo, porém não havia convicção 
              em suas palavras.
 A Comitiva passou entre as estátuas 
              e uma escadaria se revelou.  Feargal, selvagem na raça e no 
              íntimo, teve habilidade para adestrar os animais primitivos.  Conseguiu 
              descer os cavalos pela escada e, quando eles chegaram no fim dos 
              degraus, um imenso espelho esculpido se revelou.  Foi quando 
              soprou o vento e uma face apareceu e argüiu:
 "Qual o destino?"
 "Águas Profundas."  responde 
              Kariel.
 A Comitiva atravessou o portal 
              e tudo ficou escuro.
 
 
 
  Esta 
              história é uma descrição em teor literário 
              dos resumos de aventuras jogadas pelo grupo Comitiva da Fé 
              em Salvador sob o sistema de RPG Advanced Dungeons & Dragons. 
               
               
                |  |  |  |