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                    Guia Cego Descrita por Ricardo Costa e Ivan Lira.Baseada no jogo mestrado por Ivan Lira.
  Personagens principais da aventura: 
 Os 
                    Humanos: Arthos Fogo Negro [Torrellan Millithor]; Magnus 
                    de Helm [Marckarius Millithor]; Sigel O'Blound (Limiekki) 
                    [Dariel Millithor]; Danicus Gaundeford e Klerf Maunader. Os 
                    Elfos: Mikhail Velian [Narcélia Millithor]; Kariel 
                    Elkandor [Karelist Millithor]. O Halfling: Bingo Playamundo 
                    [Quertus Millithor]. Participação Especial: 
                    Storm Mão Argêntea [Ki'Willis Millithor].
 
 
  
  O 
                    Guia Cego
 Dois 
                    Caminhos       Em 
                    meio à escuridão completa e ao silêncio 
                    sepulcral das cavernas do Subterrâneo, a nau voadora 
                    da Comitiva da Fé desviava de gigantescas estalactites, 
                    conduzida habilmente pelo piloto evereskano, o elfo Arnilan 
                    Beldusyr, nos corredores que os conduziam à próxima 
                    parada, uma metrópole chamada Undrek'Thoz, assinalada 
                    no mapa da matrona Ky´Wyllis, líder do agora 
                    desaparecido clã drow dos Millithor. Apenas um dia 
                    havia se passado desde que a Comitiva da Fé deixou 
                    a arruinada cidade drow de Maerymidra. Durante este tempo, 
                    nada fizeram os heróis, além de descansar e 
                    curar as injúrias do corpo e da mente dos acontecimentos 
                    dos últimos dias, quando enfrentaram constante tensão 
                    e desafios. Estavam reunidos em um dos dois compartimentos 
                    dormitórios, o Harpista Klerf, Arthos, Kariel, Sirius 
                    e Mikhail, em um silêncio que já durava horas. 
                    O último, o elfo dourado sacerdote da Deusa da Magia, 
                    estava particularmente cabisbaixo, com os olhos abertos, mas 
                    perdidos em seus pensamentos. Kariel, seu amigo, aproximou-se.
 “O que há, 
                    Mikhail?”, perguntou o elfo de cabelos azuis celeste.
 “Este lugar me oprime, 
                    Kariel! E não me sinto bem em ter que interpretar uma 
                    sacerdotisa de Lolth, a maldita deusa dos drows, que é 
                    adversária de nosso Pai Corellon. É estranho... 
                    é como se eu o estivesse traindo!”
 “Este lugar oprime 
                    a todos. Sinto falta do céu e das árvores, do 
                    vento e do silvo dos pássaros, mas temos a chance de 
                    proteger tudo aquilo que prezamos. Enquanto ao seu papel, 
                    pode lhe ser difícil desempenhar, mas isto será 
                    compensado pela quantidade de vidas que poderemos salvar!”, 
                    disse o arcano, príncipe do pequeno reino de Kand.
 “Não sei 
                    nem se consigo garantir nossas vidas! E estar nesta forma 
                    de drow me incomoda muito!”, continuou o clérigo.
 “Acho que incomoda 
                    a todos. Os drows são nossos inimigos desde a criação, 
                    antes de nossos Reinos nascerem, mas temos que agir como eles 
                    se desejamos o sucesso da missão!”, disse o mago.
 “Bem...”, 
                    entrou na conversa Arthos, que do alto de seu beliche, limpava 
                    as unhas com uma adaga. “Acho que devíamos rever 
                    nossos conceitos sobre os drows. Veja Non... ele ajudou a 
                    mim e a Limiekki a nos libertarmos. Não devem ser de 
                    todo o mal.”
 “Conhecemos alguns 
                    drows de boa índole, como Nandro e aquele Drizzt do 
                    Norte. E sabemos que existe Eilistraee, que é uma deusa 
                    drow de boas intenções, mas...”, comentava 
                    Kariel, quando foi interrompido por Arthos.
 “Não vamos 
                    comentar sobre deuses, certo?! Para mim eles estão 
                    mais preocupados consigo mesmo do que com as criaturas que 
                    andam sobre Toril!”
 “Não diga 
                    isto, Arthos. Se estamos vivos, é por causa dos desígnios 
                    dos deuses.”, comentou Kariel.
 “E se morremos também!”, 
                    completou Arthos, em seguida.
 “Os deuses já 
                    nos ajudaram tantas vezes! Porque diz isto? Não deveria 
                    blasfemar contra os deuses! Perdeu a sua fé neles?”, 
                    interferiu Mikhail, com vigor.
 “Perdi... há 
                    muitos meses atrás!”, o semblante de Arthos tornou-se 
                    pesado e tristonho. “Depois de tantos sacrifícios 
                    que fizemos por eles e pelos Reinos, não nos fizeram 
                    um misero favor!”.
 Sirius, que estava mais calado do que todos, resolveu falar. 
                    Estava com a expressão de curiosidade e estranheza.
 “Desculpem-me a 
                    intromissão! Não estou com vocês a tanto 
                    tempo e não conheço todas as aventuras que já 
                    passaram, mas você fala como se os deuses lhes devessem 
                    algo! Não consigo entender isto!”, exclamou o 
                    guerreiro.
 “É uma longa 
                    história... há alguns meses, houve uma grande 
                    batalha no Monte Águas Profundas, contra o famigerado 
                    deus Bane. Ele estava atrás de um poderoso artefato, 
                    conhecido como Orbe de Orgor, que estava em nossa guarda. 
                    Quase perco minha cabeça por conta daquilo. Para me 
                    salvar, minha esposa acabou se sacrificando. Entregamos o 
                    Orbe na Escada Celestial, lugar onde os deuses descem à 
                    Toril, nas mãos do Deus Guardião Helm e suplicamos 
                    para que os deuses usassem seu poder para trazê-la de 
                    volta, mas ignoraram nossos pedidos.”, contou Arthos, 
                    com dificuldade e tristeza.
 “Arthos, mas todos 
                    os dias pessoas fazem sacrifícios nos Reinos. Alguns 
                    têm a sorte de escolher quais. Se estamos aqui é 
                    porque escolhemos nos sacrificar, por um motivo que é 
                    maior do que nossas vidas.”, disse o agente Harpista 
                    Klerf.
 “E não sei 
                    se os deuses têm a obrigação de nos salvar. 
                    Nós é que temos que salvar a nós mesmos!”, 
                    falou Sirius.
 “Acredito que tudo 
                    faça parte de um plano. Se morremos, se Diana morreu, 
                    era porque havia um determinado papel a ser desempenhado por 
                    ela no destino que lhe foi traçado pelos deuses. Ela 
                    cumpriu a sua missão e talvez seja por isso que não 
                    tenha retornado.”, colocou Kariel.
 
 Arthos parou e refletiu 
                    por alguns instantes.
 
 “Talvez vocês 
                    tenham razão. Não devo guardar tanto rancor, 
                    mas não farei mais sacrifícios pelos Deuses. 
                    Farei por vocês, meus amigos, que foram os únicos 
                    que me apoiaram todo o tempo. Por vocês sempre arriscarei 
                    meu pescoço com prazer”, disse Arthos, fazendo 
                    desaparecer o semblante tristonho que as lembranças 
                    difíceis o traziam. Agora o rosto sério pertencia 
                    a Sirius. O guerreiro tomou fôlego para falar algo que 
                    guardava em seu peito.
 
 “Amigos... estive 
                    pensando nestes dias e ouvindo vocês, especialmente 
                    o que Kariel disse sobre a missão de nossas vidas, 
                    concluí que devo retornar à superfície. 
                    Aqui não é o meu lugar. Estas cavernas, este 
                    silêncio, estas trevas me oprimem de uma maneira que 
                    não imaginava que aconteceria. É terrível 
                    para mim ficar aqui preso nesta caixa de madeira flutuante. 
                    Tenho receio de enlouquecer. Só peço que não 
                    me julguem covarde por isto!”
 “Não podemos 
                    julgá-lo. Você é um homem, seus dias são 
                    curtos e rápidos, e não sei quanto tempo ficaremos 
                    neste lugar. Talvez fiquemos muitos anos e não é 
                    justo que os desperdice sofrendo como diz”, disse Kariel, 
                    olhando para o amigo.
 “E esta é 
                    uma missão voluntária. Foi nos dado o direito 
                    de voltarmos quando desejássemos. Não se envergonhe 
                    por isto!”, completou Mikhail, o elfo de cabelos dourados, 
                    clérigo de Mystra.
 “Pode me levar de 
                    volta com a sua magia, Kariel? Para o Vale das Sombras? De 
                    lá pretendo partir para Fenda dos Anões, reencontrar 
                    Yorek e ir para Cormyr e lutar na guerra, Serei mais útil 
                    por lá!”
 “Sim. Isso pode 
                    ser feito.”
 “Ótimo! Agradeceria 
                    imensamente. O que preciso fazer?”
 “Arrume suas coisas 
                    e despeça-se de seus companheiros. Quando estiver pronto, 
                    avise-me!”, finalizou o mago da Comitiva.
 
 Então o guerreiro 
                    arrumou sua mochila. Seus amigos se despediram com abraços 
                    e apertos de mão. Storm ainda questionou ao grupo se 
                    havia mais alguém que desejaria ir com Sirius, mas 
                    os demais confirmaram o desejo de permanecer para completar 
                    a missão, apesar dos desejos de reencontrar o mundo 
                    que haviam deixado para trás. Arthos e Limiekki eram 
                    os que sentiam mais pesar pela partida do guerreiro, um parceiro 
                    ideal para jogos de dados e carteado, bem como para noites 
                    de bebedeiras. Arnilan Beldusyr manobrou a nau voadora até 
                    uma plataforma rochosa, na qual desceram todos os membros 
                    da Comitiva. À frente, bem próximo a Sirius, 
                    posicionou-se Kariel. O arcano gesticulou e pronunciou estranhas 
                    e sonoras palavras. Surgiu então no espaço, 
                    um disco ovalado de energia brilhante, da altura de uma porta.
 
 “Amigos... desejo-lhes 
                    boa sorte! Aguardarei o retorno de vocês no Vale das 
                    Sombras!”, disse o guerreiro, de frente para os companheiros.
 “Boa sorte nos seus 
                    caminhos, Sirius. Se houver tempo, vá à casa 
                    de meu amigo Kelta. Mande-lhe notícias e diga ao meu 
                    filho que estou bem e que ele está sempre em meus pensamentos.”
 “Farei isto! Adeus!”
 
 Sirius entrou então 
                    no portal e seu corpo desapareceu dentro da energia brilhante, 
                    que em seguida esmaeceu e sumiu. Voltaram então para 
                    a nau, onde ficaram todos, por algum tempo, sentados nas cadeiras 
                    da cabine. Mikhail lembrou-se de algo e retirou uma pequena 
                    caixinha de madeira negra com ornamentos dourados de uma bolsa 
                    que levava a tiracolo e entregou a Kariel.
 
 “O que é 
                    isto?”, perguntou o mago.
 “Dentro desta caixa 
                    existem duas varinhas de madeira negra. Acho que devem ser 
                    mágicas, mas você é mais indicado para 
                    analisá-las!”, respondeu o elfo de Evereska.
 
 Kariel abriu a caixa, 
                    manuseou as varinhas e depois pediu licença a Mikhail, 
                    retirando-se para um local mais isolado da sala. Retirou de 
                    uma bolsa, que carregava sempre consigo, duas pérolas 
                    negras, as quais apertou em uma das mãos. Em seguida, 
                    começou a murmurar e gesticular um encanto particular, 
                    para descobrir do que aqueles objetos eram capazes. Cerca 
                    de cinco minutos depois, o mago elfo retornou e sentou-se 
                    novamente ao lado do amigo.
 
 “Esta varinha possui 
                    um encantamento de cura armazenado nela. E esta outra, armazena 
                    um feitiço de batalha, que invoca uma esfera flamejante 
                    explosiva. Fique com a primeira e eu ficarei com a segunda, 
                    já que estamos familiarizados cada um com um dos tipos 
                    de encantamento.”, disse Kariel, entregando a varinha 
                    de cura para Mikhail, e pondo a outra dentro de sua bolsa.
 
 Bingo aproveitou o momento 
                    de reunião para falar também. Retirou da bolsa 
                    a jóia mística que servia de chave para o portal 
                    destruído na cidade de Maerymidra.
 
 “Pessoal... o que 
                    vamos fazer com isto?”, perguntou o halfling.
 “Devemos destruir 
                    esta jóia o quanto antes! Ela não pode cair 
                    em mãos erradas!”, disse Storm.
 “Podíamos 
                    jogá-la do barco abaixo. O impacto com as rochas abaixo 
                    de nós deve destruí-la.”, sugeriu
 Limiekki.
 “Não acho 
                    uma boa opção. Se, por um infortúnio 
                    nosso, a pedra não se partir, poderá ser rastreada 
                    pela sua emanação mágica”, observou 
                    Kariel.
 “Eu a destruirei. 
                    Mikhail pode me emprestar seu martelo e posso partí-la 
                    com um golpe.”, colocou Magnus.
 “Mas a destruição 
                    da pedra pode liberar uma energia perigosa!”, alertou 
                    Storm, preocupada com a segurança do paladino, pelo 
                    qual nutria sentimentos de amor.
 “Não se preocupe, 
                    Storm. Sirius fez o mesmo com a pedra dos Millithor”, 
                    tranqüilizou Magnus.
 “É... mas 
                    a explosão o jogou longe!”, recordou Limiekki.
 “Mas não 
                    foi nada de mais! Acho que posso fazê-lo! Se me acontecer 
                    algo, acredito que Mikhail poderá me ajudar!”, 
                    confirmou o guerreiro de Helm.
 “Bem... está 
                    certo!”, disse Storm, um tanto receosa. “Arnilan... 
                    pare em um platô. Iremos destruir a jóia!”.
 
 O condutor da nau voadora 
                    procurou com o forte feixe de luz que partia do farol na proa 
                    do navio um local adequado. Minutos depois, aproximou a embarcação 
                    de uma maciça laje rochosa. Uma prancha de madeira 
                    foi estendida e Magnus desceu, portando o Destruidor de Tempestades 
                    na mão direita e a jóia mística, do tamanho 
                    de um punho, na esquerda. Seus amigos, do convés, acompanhavam 
                    seus passos. Magnus afastou-se e posicionou-se de costas para 
                    um paredão rochoso. Ergueu o martelo prateado ao ar 
                    com as duas mãos e golpeou. A jóia se partiu 
                    em uma explosão de luminosidade avermelhada e um ruído 
                    abafado. Magnus caiu ao solo, impulsionado pela onda de choque 
                    liberada. Imediatamente, seus amigos se aproximaram. Mikhail 
                    ajoelhou-se perante o guerreiro.
 
 “Magnus!?”
 “Estou bem. Foram 
                    apenas alguns arranhões e um zumbido nos ouvidos que 
                    deve passar logo”, disse o paladino, erguendo-se da 
                    laje empoeirada de pedra. Storm o olhava, aliviada.
 
 O grupo retornou a nau 
                    e navegou o ar das imensas e infinitas cavernas do Subterrâneo 
                    por mais algumas horas, seguindo as indicações 
                    dos Millithor. Em um dado momento, Arnilan parou a nau e debateu 
                    longamente com o professor Danicus, enquanto observavam um 
                    mapa.
 
 “O que houve?”, 
                    perguntou Storm, aproximando-se.
 “O túnel 
                    pelo qual deveríamos passar está bloqueado por 
                    pedras!”, respondeu Arnilan.
 “Houve um desmoronamento, 
                    certamente!”, completou o professor Danicus.
 “Não há 
                    outra passagem?”, questionou a Barda do Vale das Sombras.
 “Procurei por todo 
                    o paredão rochoso e somente encontrei um pequeno túnel, 
                    estreito demais para passarmos com a nau”, informou 
                    o piloto evereskano.
 
 Storm pensou por alguns 
                    instantes e sugeriu
 
 “Podemos enviar 
                    um grupo por este túnel e ver se existe a possibilidade 
                    de desbloqueá-lo do lado de dentro.”
 
 A idéia de Storm, 
                    rapidamente acatada por todos, era a única alternativa 
                    naquele momento, visto que não havia outros caminhos 
                    a percorrer para se chegar à próxima cidade 
                    do Subterrâneo. A mulher de longos cabelos prateados 
                    conversou com os aventureiros e selecionou um grupo para a 
                    missão exploratória. Minutos depois, Mikhail, 
                    Arthos, Kariel, Limiekki, Magnus e o Harpista Klerf, desciam 
                    da nau com tochas e lanternas nas mãos, em direção 
                    ao estreito túnel que penetrava na rocha.
 O Come-Pedras 
                    e o Grimlock       O 
                    caminho apertado e o piso repleto de pedregulhos tornavam 
                    a caminhada penosa e demorada. Estavam há dez minutos 
                    caminhando quando ouviram um ruído, um som gutural 
                    que ecoou nas paredes de pedra.
 “Por Mielikki! Que 
                    barulho foi este?!”, perguntou o mateiro Limiekki, com 
                    o rosto espantado.
 “Não me parece 
                    coisa boa, mas vamos ter que descobrir”, disse o espadachim 
                    Arthos, que iluminava o local.
 “Deixem-me ir à 
                    frente, invisível. Os alertarei, caso haja algum perigo!”, 
                    propôs o mago Kariel.
 
 O arcano élfico 
                    de cabelos azuis celeste, depois da concordância dos 
                    colegas, deslocou-se para frente, até o limite da iluminação 
                    proporcionada pela luz da lanterna segurada por Arthos, e 
                    tocou seu elmo encantado, desaparecendo em seguida. Era, mais 
                    uma vez, o batedor.
 
 O elfo avançava, 
                    seguido de seus companheiros, e a cada avanço, ouvia 
                    o ruído aumentar. Era uma espécie de lamento 
                    bestial e assustador, que colocava os exploradores sob intensa 
                    tensão, sem, no entanto, parar os seus passos. O mago 
                    invisível chegou ao final do corredor, que levava a 
                    uma câmara, a qual não conseguia dimensionar, 
                    pelos menos, não com a fraca luz que vinha da lanterna 
                    de Arthos. Aguardou, então, a chegada dos companheiros 
                    e de uma iluminação mais apropriada.
 
 Os demais aventureiros 
                    chegaram até o final do corredor e com eles a luz, 
                    que preencheu uma pequena parte da galeria rochosa. Era um 
                    gigantesco salão, como muitos no Subterrâneo. 
                    Estavam em uma plataforma e para chegar ao nível do 
                    solo e continuar seria preciso uma pequena escalada de descida. 
                    A luz também lhes revelou algo que os intrigava: a 
                    fonte do misterioso gemido que ouviam. A cerca de trinta metros 
                    estava parada uma estranha criatura, com cerca de cinco metros 
                    de comprimento e três e meio de altura. Sua couraça 
                    era muito semelhante à rocha, tanto na cor como na 
                    textura, tanto que era difícil perceber com clareza 
                    seus contornos. Tinha duas patas dianteiras e não havia 
                    mais membros. Seu corpo se arrastava como o de uma lesma. 
                    A cabeça possuía um único e negro olho 
                    e uma grande boca. Continuava a emitir o ruído que 
                    haviam ouvido, sem sair do lugar ou promover alguma ameaça.
 
 “Pelas barbas de 
                    Elminster!”, exclamou Arthos.
 "Que monstro é 
                    aquele?", perguntou Limiekki para os colegas, que olhavam 
                    fixo para a criatura.
 "Não sei... 
                    será que ele está ferido?”, respondeu 
                    perguntando Mikhail.
 "Vamos chegar mais 
                    perto para ver”, disse Kariel. "Não parece 
                    ser hostil. Vamos descobrir o que há com ele”.
 
 Os aventureiros então 
                    desceram uma pequena parede e aproximaram-se da criatura. 
                    Estavam a cerca de quinze metros dela, quando Limiekki, que 
                    observava ao redor, notou algo entre as rochas.
 
 “Amigos! Vi um vulto 
                    passar nas pedras. Pode ser apenas as sombras provocadas pela 
                    luz da lanterna, mas é melhor ficarmos atentos!”
 
 O mateiro tinha razão 
                    em sua preocupação. Poucos metros depois, saltou 
                    das sombras na frente do grupo uma figura humanóide, 
                    de estatura baixa, larga e encurvada, envolta em um manto 
                    de trapos sujos, que ocultava seu rosto e a maior parte de 
                    seu corpo. Segurava em suas mãos sujas e de pele azulada 
                    um grande machado e, ameaçadoramente, se interpôs 
                    entre a Comitiva da Fé e o monstro, gritando algumas 
                    palavras em um idioma incompreensível.
 
 “Calma!”, 
                    pediu Arthos, levantando os braços, em sinal de paz. 
                    “Não viemos brigar. Me chamo Arthos”, disse 
                    o espadachim, batendo com a mão direita aberta sobre 
                    o peito.
 “Iskapoft!”, 
                    respondeu o estranho oculto.
 “Espere um instante, 
                    Arthos. Conheço uma magia que me fará compreender 
                    este idioma!”, disse Kariel.
 
 O mago executou o rápido 
                    ritual exigido pelo feitiço e, após os gestos 
                    e as palavras arcanas, falou para o ser com o machado.
 
 “Não viemos 
                    machucá-lo. Quem é você e que criatura 
                    é esta?”
 “Meu nome é 
                    Iskapoft. Esse é um come-pedra. Vocês o machucaram?”, 
                    perguntou, apontando para a gigantesca criatura.
 “Não. Apenas 
                    seguimos o som e viemos saber o que estava acontecendo”.
 “Bom”, disse, 
                    abaixando o velho machado. “Come-pedras não faz 
                    mal a ninguém. Ouvi barulho também, mas barulho 
                    diferente. Não era gemido de come-pedras!”.
 
 Kariel voltou-se para 
                    os seus colegas e pôs-se a traduzir a conversa. Em um 
                    dado momento, o humanóide envolto em trapos interveio, 
                    usando sua versão inculta do idioma mais comum na superfície.
 
 “Iskapoft entende 
                    fala de estranhos!”
 “Entende!?”, 
                    espantou-se Arthos. “Que criatura é você? 
                    Um tipo de anão ou o quê?”
 “Iskapoft não 
                    sabe o que ser anão. Alguns povos chamam nós 
                    de grimlock.”, disse o esfarrapado, que estranhamente 
                    ainda ocultava o rosto e jamais fitava seus interlocutores.
 “Como aprendeu nosso 
                    idioma?”, perguntou Mikhail.
 “Iskapoft já 
                    encontrou outros estranhos antes!”, respondeu o grimlock.
 “E o seu povo? Onde 
                    está?”, questionou Limiekki.
 “Iskapoft não 
                    sabe. Não consegue se lembrar. Iskapoft está 
                    sozinho aqui. Um dia ouvi barulho e apareci aqui!”
 “Pode nos dizer 
                    se esta criatura aí é hostil?”, quis saber 
                    Magnus.
 “Bicho come-pedras 
                    não mau. Bicho come-pedras só briga se for atacado. 
                    Come-pedras ferido.”
 “Você consegue 
                    se comunicar com este come-pedra?”, perguntou Mikhail. 
                    “Se souber, pergunte-lhe o que está acontecendo. 
                    Talvez possamos ajudar!”.
 
 O grimlock encaminhou-se 
                    até a imensa cabeça da criatura do subterrâneo 
                    e proferiu algumas palavras na estranha linguagem do subterrâneo, 
                    sendo respondido com a uma voz gutural e arrastada. Iskapoft, 
                    em seguida, chamou os membros da Comitiva para perto. Ao chegarem, 
                    os aventureiros puderam perceber um grande rasgo do dorso 
                    do ser gigantesco, de onde vazava um sangue esverdeado e ralo.
 
 “Come pedras está 
                    morrendo! Disse que criaturas voadoras o atacaram.”, 
                    resumiu Iskapoft o diálogo.
 “Nosso amigo é 
                    um curandeiro”, falou Arthos, apontando para Mikhail. 
                    “Ele pode fechar a ferida usando encantos! Peça 
                    para que o deixe aproximar-se!”.
 
 Iskapoft então 
                    foi ao come-pedras e pediu-lhe a permissão. Em seguida, 
                    gesticulou, chamando Mikhail. O elfo de cabelos dourados aproximou-se 
                    do monstro e tocou-lhe suavemente as mãos, enquanto 
                    recitava uma prece à deusa Mystra. Em segundos, a região 
                    do ferimento modificou sua coloração, milagrosamente 
                    fechou-se por completo. A cor do come-pedras, de amarelo-terra, 
                    tornou-se amarronzada como as das grandes rochas da galeria 
                    cavernosa. Em seguida, a criatura falou algo, em sua voz ecoante.
 
 “O come-pedras está 
                    agradecendo vocês. Não sente mais dor!”, 
                    traduziu Iskapoft.
 “Ficamos felizes 
                    com isto! Também precisamos de ajuda. Existe um túnel 
                    pelo qual temos que passar, que foi bloqueado por um desabamento. 
                    Ele tem cerca de três vezes a altura do come-pedras 
                    em largura e altura. Por favor, Iskapoft, pergunte-lhe se 
                    pode remover as pedras para que possamos continuar nossa jornada.”, 
                    pediu Kariel.
 
 Iskapoft conversou mais 
                    uma vez com o monstro e transmitiu a resposta:
 
 “Come pedras disse 
                    que precisa da ajuda de outros come-pedras! Pediu para seguí-lo, 
                    mas para tomarem cuidado. Foi neste caminho que foi ferido 
                    por criaturas voadoras!”.
 “Diga-lhe que seremos 
                    sua escolta!”, falou Magnus, paladino de Helm.
 O come-pedras rapidamente concordou e todos seguiram numa 
                    direção das cavernas que levava ao lar de outros 
                    come-pedras.
 Bestas Voadoras       E 
                    assim seguiram a Comitiva, o misterioso grimlock e a gigantesca 
                    criatura que, apesar de enorme e pesada, se locomovia com 
                    desenvoltura, mesmo pelos terrenos mais irregulares. Os heróis 
                    avançavam com cuidado e vez por outra, lançavam 
                    feixes de luz para o alto, verificando possíveis movimentos 
                    hostis. Arthos, que ia mais avançado, acompanhado de 
                    Kariel e do jovem Harpista Klerf, conversava com Iskapoft.
 “Faz muito tempo 
                    que você está aqui?”, perguntou o espadachim 
                    da Comitiva.
 “Tempo?... Não 
                    sei dizer o que é tempo... e vocês? De onde vem?”.
 “Viemos da superfície. 
                    Um lugar acima das rochas!”, explicou Klerf.
 “Mas depois de rocha 
                    tem mais rochas!”, espantou-se Iskapoft.
 “Não... existe 
                    um local onde elas terminam e não há mais nada 
                    sobre nossas cabeças. Um túnel leva até 
                    lá.”, tentou explicar Arthos.
 “Iskapoft não 
                    entender!”, disse o aliado que tinha o hábito 
                    de se referir em terceira pessoa.
 “É um lugar 
                    muito distante!”, resumiu Kariel, que não via 
                    muito futuro naquela conversa.
 “Hei... podíamos 
                    levá-lo conosco! Você está aqui perdido 
                    e sozinho. Podemos tentar encontrar seu povo!”, sugeriu 
                    Arthos.
 “Porquê vocês 
                    quer ajudar Iskapoft? Todos que Iskapoft conhece quer apenas 
                    matar para viver! Eu sentir cheiro de carne saborosa de vocês. 
                    Vocês não tem medo?”
 “Você está 
                    nos ajudando e se podemos ajudá-lo, não vejo 
                    nada de errado em fazê-lo! E acho que não conseguiria 
                    nos fazer mal.”
 “Eu ficar feliz 
                    em ir. Não farei mal. Iskapoft não mata para 
                    comer. Iskapoft vive de restos de outros bichos!”
 
 Os aventureiros cruzaram 
                    a galeria extensa e entraram em um pequeno túnel, escavado 
                    anteriormente pelo come-pedras. Quando já podiam visualizar 
                    a entrada de outra câmara, a criatura de aparência 
                    rochosa falou algo, que o grimlock apressou-se em traduzir.
 
 “Come-pedras disse 
                    que foi nesse lugar que foi atacado por seres voadores. Disse 
                    que tem assim destes bichos!”, disse exibindo os dez 
                    dedos imundos da mão. “Temos que ter cuidado!”.
 
 Deixaram o túnel, 
                    mais atentos do que antes, e entraram em outra imensa galeria. 
                    Era como se estivessem em um vale, ladeado por altos paredões 
                    rochosos. Mikhail resolveu proferir alguns encantos. Tomou 
                    quatro pequenas pedras no chão e sobre elas recitou 
                    uma prece. Os pedriscos passaram a emitir uma luz forte, como 
                    a de uma tocha. Em seguida o clérigo os distribuiu 
                    entre os membros do grupo, que penduraram como puderam em 
                    suas roupas. Sua intenção era liberar as mãos 
                    dos companheiros para um provável combate.
 
 A providência de 
                    Mikhail mostrou-se útil, minutos depois. Ouviu-se o 
                    bater de asas e logo um vulto alado passou voando pelas cabeças 
                    dos heróis, deslocando ar e poeira. Uma criatura desceu 
                    em vôo rasante sobre Arthos, para atacá-lo com 
                    suas garras afiadas. Era um monstro do Subterrâneo já 
                    familiar à Comitiva. Um grande ser humanóide, 
                    de cor púrpura, com asas semelhantes às de um 
                    morcego, que não possuía boca, mas uma abertura 
                    no ventre, de onde brotavam tentáculos rosados. Haviam 
                    enfrentado estes monstros pouco antes de chegarem à 
                    cidade de Maerimydra.
 
 Arthos agiu rápido 
                    e, em um reflexo, ergueu seu sabre, talhando o corpo do agressor. 
                    Iskapoft foi o próximo a ser atacado. O grimlock conseguiu 
                    evitar o golpe, agachando-se rapidamente. E seguida retirou 
                    o rústico machado, esperando para o revide. O alcance 
                    da luz que partia das pedras encantadas por Mikhail já 
                    permitia enxergar os adversários que pairavam acima 
                    das cabeças dos heróis. Eram cerca de dez. Kariel 
                    foi o próximo a agir. O mago conjurou cinco pequenas 
                    esferas de energia brilhante, que partiram de suas mãos, 
                    indo explodir no corpo do monstro atingido por Arthos que, 
                    sentindo o golpe, perdeu momentaneamente a capacidade de voar, 
                    sendo obrigado a realizar um pouso forçado. O espadachim 
                    aproveitou a oportunidade e aproximou-se do oponente para 
                    enfrentá-lo. Mikhail apontou seu martelo Destruidor 
                    de Tempestades para uma das criaturas que voavam. Um raio 
                    de brilho fulgurante deixou a arma encantada e preencheu a 
                    caverna, atingindo o inimigo e queimando a sua pele. Um outro 
                    dos monstros púrpuras desceu do alto e engajou-se em 
                    combate contra o paladino Magnus. Um também se aproximou 
                    do come-pedras, que, mais velozmente do que se podia imaginar, 
                    ergueu uma de suas grandes patas e acertou um golpe potente, 
                    fazendo o inimigo ser arremessado por alguns metros.
 
 Aos poucos, os monstros 
                    púrpuras foram se abatendo do alto sobre os heróis, 
                    para combatê-los corpo-a-corpo, formando a configuração 
                    da batalha. Em poucos minutos, Arthos, Kariel, Klerf, Mikhail 
                    e Limiekki lutavam cada um contra duas criaturas e Magnus, 
                    Iskapoft e o come-pedras enfrentavam um oponente cada.
 
 O combate seguia-se e 
                    como uma mosca incômoda, o monstro arremessado pelo 
                    come-pedras, retornou voando até o imenso ser rochoso. 
                    Investiu com suas garras três vezes contra a espessa 
                    pele pedregosa, mas não conseguiu rasgá-la. 
                    Experimentou a criatura gigantesca um novo contra-ataque, 
                    desta vez fatal, com a imensa pata. Arthos estava sendo flanqueado, 
                    mas escapava das investidas graças a sua agilidade 
                    acrobática. O espadachim, com o seu sabre encantado, 
                    reduziu o número de inimigos: acertou uma estocada 
                    fatal no peito do monstro que já havia sido ferido 
                    por ele e pelo mago Kariel, fazendo-o tombar . Mikhail não 
                    conseguiu o mesmo sucesso que o ruivo amigo: tentou um golpe 
                    com o seu martelo, mas o inimigo horrendo escapou-lhe. Um 
                    de seus oponentes aproveitou-se da falha e prendeu o clérigo 
                    de Mystra, imobilizando-o com seus braços e com os 
                    tentáculos que saíam de seu ventre. Klerf escapou 
                    das garras de um dos monstros abaixando-se, em seguida retribuiu 
                    com cortes de sua espada.
 
 Magnus havia sido atingido, 
                    mas, por enquanto, os golpes que havia recebido eram suportáveis. 
                    Em revide, brandiu sua Hadryllis e em um golpe poderoso decapitou 
                    o monstro púrpura. O jovem paladino, após eliminar 
                    seu adversário, percebeu o apuro em que Mikhail se 
                    encontrava e partiu para ajudar o elfo de cabelos dourados. 
                    O mago Kariel resolveu que era o momento de conjurar uma magia 
                    do seu repertório, poderosa o suficiente para atingir, 
                    ao mesmo tempo, todos os oponentes da Comitiva. Deu alguns 
                    passos para trás, evitando o combate e, após 
                    rápidos gestos e palavras arcanas, uma rama elétrica 
                    surgiu e saltou das suas mãos, atingindo o inimigo 
                    a sua frente e depois ricocheteando para o outro monstro mais 
                    próximo e para o seguinte, seguindo este padrão, 
                    até que todos os inimigos em combate sofressem o efeito 
                    da descarga. Alguns não suportaram e caíram 
                    mortos, notadamente o que lutava com Arthos e um que batalhava 
                    com Iskapoft. A dor provocada pelo efeito destrutivo do feitiço 
                    invocado pelo mago afrouxou os braços e tentáculos 
                    que prendiam Mikhail e ele então se libertou. Magnus, 
                    que já estava próximo ao companheiro sacerdote, 
                    correu e investiu contra a criatura, em um empurrão 
                    que a desequilibrou. Em seguida, o paladino girou sua espada 
                    sagrada no ar e outra cabeça caiu ao chão.
 
 Agora somente haviam cinco 
                    inimigos no combate: dois estavam trocando golpes contra Kariel 
                    e dois lutavam contra Limiekki. Contudo, aquela situação 
                    não perduraria por muito tempo. O mateiro, com sua 
                    adaga e machado, era um guerreiro feroz e rápido. Ainda 
                    que tivesse recebido alguns cortes dos adversários, 
                    conseguiu derrubá-los, com um corte de machado no abdômen 
                    e um talho profundo no pescoço. Klerf, após 
                    trocar vários golpes com uma das criaturas, conseguiu 
                    feri-la mortalmente no tórax, aproveitou-se do estado 
                    fragilizado dele e o executou atravessando sua espada no crânio 
                    da criatura. Kariel, cuja poder não se refletia no 
                    manuseio da lâmina mas das energias místicas, 
                    não era tão rápido, mas seu bom treinamento 
                    de combate o fazia um guerreiro competente. Eliminou um dos 
                    monstros púrpuras, que já estava bastante ferido, 
                    devido à destruidora magia de que foi vítima. 
                    O outro, ao ver todos os seus companheiros derrotados, foi 
                    tomado de medo e o seu instinto de sobrevivência o aconselhou 
                    que era melhor fugir daqueles estranhos, mais poderosos do 
                    que podiam imaginar. Bateu suas asas potentes e começou 
                    a alçar vôo. Porém, antes que se afastasse, 
                    o elfo mago ergueu sua lâmina prateada em um golpe alto, 
                    e conseguiu abrir um rasgo no ventre do monstro, que interrompeu 
                    definitivamente sua fuga, caindo morto. Uma das criaturas, 
                    que estava apenas observando o embate, alçou vôo 
                    e conseguiu escapar com vida.
 
 “Acho que se outros 
                    destes estiverem observando não irão nos incomodar 
                    por algum tempo!”, comentou Kariel, embainhando sua 
                    espada.
 “Todos estão 
                    bem?”, perguntou Mikhail.
 “Só tenho 
                    alguns arranhões!”, respondeu Limiekki. “Nada 
                    que valha a pena gastar seus encantos!”, completou.
 “Esplêndido! 
                    É sempre incrível vê-los em ação!”, 
                    disse Klerf, olhando para a quantidade de monstros mortos 
                    ao chão. Foi quando o Harpista viu que Iskapoft estava 
                    ajoelhado à frente de um dos inimigos, e cortava-lhe 
                    com uma faca de pedra lascada, retirando tiras de carne, que 
                    guardava em um saco imundo e malcheiroso de couro, que havia 
                    retirado do seu manto esfarrapado.
 “Por Helm! O que 
                    está fazendo?”, perguntou o paladino Magnus.
 “Iskapoft guarda 
                    comida! Vocês querer?”, disse o grimlock, exibindo 
                    um pedaço de carne ensangüentada para o asco dos 
                    mais civilizados membros da Comitiva.
 “Não... obrigado! 
                    Ele não faz parte de nossa dieta!”, agradeceu 
                    Arthos, com uma feição um tanto distorcida.
 
 Os aventureiros refizeram 
                    seu ordenamento e voltaram a percorrer os túneis, em 
                    fila e atentos a possibilidade de confrontarem mais inimigos. 
                    O come-pedras os guiou pelo vale estreitos entre paredões 
                    e por um túnel sinuoso durante uma hora. Kariel chegou 
                    a se comunicar com Storm, utilizando-se de sua capacidade 
                    de Escolhido de Mystra. Queria tranqüilizar a barda quanto 
                    ao paradeiro e a situação do grupo. Por fim, 
                    chegaram a uma câmara, de onde se ouviam ruídos, 
                    semelhantes a pedras sendo arrastadas. Havia um desagradável 
                    o dor ácido no ar.
 
 “Chegamos! Este 
                    ser lar de come-pedras!”, anunciou Iskapoft!
 
 Assim que aquela Comitiva 
                    subiu uma elevação feita com pedregulhos, a 
                    luz que carregavam foi capaz de revelar um salão amplo, 
                    de terreno arenoso, onde se locomoviam lentamente cerca de 
                    duas dezenas de come-pedras, alguns até maiores que 
                    aquele que acompanhava os heróis. As paredes do salão 
                    também chamavam a atenção: eram preenchidas 
                    com veios de um mineral cristalino semi-transparente, que 
                    refletia a luminosidade que recebia, executando um belo efeito 
                    de cores e ampliando a iluminação trazida pelos 
                    aventureiros. Arthos viu um destes cristais quebrados perto 
                    dos seus pés e abaixou-se para pegá-lo. Pensava 
                    o espadachim se a pedra teria algum valor, o que não 
                    conseguiu avaliar. Isto, porém, não impediu 
                    que guardasse algumas no bolso, para uma avaliação 
                    posterior mais acurada e, quem sabe, algum lucro vindouro. 
                    Alguns de seus amigos fizeram o mesmo, com menores quantidades, 
                    por motivos diferentes, como curiosidade e admiração 
                    pela beleza do cristal.
 
 “Isto ser comida 
                    preferida dos come-pedras!”, observou Iskapoft.
 “Hum... espero que 
                    não tenham se chateado por termos guardado algumas 
                    delas!”, comentou Kariel.
 “Come-pedras não 
                    se importar se pegar quantidade pequena!”, disse o grimlock, 
                    o que fez, finalmente, que Arthos parasse de procurar pedras 
                    no chão para encher os bolsos já superlotados.
 
 O come-pedras que acompanhava 
                    a Comitiva aproximou-se de seus pares e com eles conversou 
                    durante alguns minutos. Em seguida, foi até Iskapoft, 
                    que traduziu a mensagem, usando seu conhecimento precário 
                    do idioma da superfície.
 
 “Muitos come-pedras 
                    vai ajudar a abrir túnel. Eles contentes por terem 
                    derrotado bestas voadoras! Pediram para indicar o caminho!”
 
 E assim a Comitiva retornou 
                    pelo caminho por onde veio, até o estreito corredor 
                    pelo qual haviam penetrado na câmara onde encontraram 
                    Iskapoft e o come-pedras, seguido por cerca de doze das imensas 
                    criaturas. Os seres de rocha e carne tomaram a dianteira neste 
                    último trecho. Seus corpos produziam uma espécie 
                    de ácido que corroia a pedra, alargando o outrora estreito 
                    caminho. Em breve, estavam do lado de fora novamente.
 
 Os membros da Comitiva 
                    embarcaram mais uma vez na nau voadora e indicaram, com a 
                    luz do farol dianteiro, o túnel soterrado. Iskapoft 
                    também subiu ao convés, um tanto inseguro em 
                    estar naquele estranho veículo, com formato de peixe. 
                    Os come-pedras moveram-se até os gigantescos pedregulhos. 
                    Aos poucos, no tempo de trinta minutos, as pedras foram dissolvidas 
                    e o túnel pôde ser visto novamente, com espaço 
                    suficientemente grande para a passagem do veículo mágico 
                    da Comitiva.
 
 “Não sei 
                    o nome do come-pedras que nos ajudou, mas agradeça-o 
                    por nós, Iskapoft!”, pediu Mikhail. “A 
                    abertura que fizeram nas pedras é suficiente para prosseguirmos!”
 “Eles não 
                    se diferenciar por nomes, mas eu agradecer!”, disse 
                    o encapuzado.
 
 O grimlock bradou algo 
                    e foi respondido. Em seguida, os come-pedras deixaram o túnel 
                    livre, retornando ao corredor em direção à 
                    câmara cavernosa que lhes servia de lar.
 
 “E então, 
                    Iskapoft? Segue mesmo conosco, para ver se encontramos alguém 
                    de seu povo?”, perguntou Arthos, que estava rodeado 
                    por todos os seus companheiros de viagem, a exceção 
                    de Arnilan, o piloto, Storm e o professor Danicus.
 “Vocês ir 
                    pra onde?”, perguntou o grimlock.
 “Iremos por este 
                    túnel adentro.”, respondeu Kariel.
 “Humm... túnel 
                    leva à cidade de Undrek’Thoz. Lugar perigoso! 
                    Criaturas más, bichos grandes, armas enormes”, 
                    disse Iskapoft, para a surpresa dos aventureiros.
 “Então conhece 
                    Undrek’Thoz?”, perguntou Limiekki. “O que 
                    você viu? Que tipo de criaturas existe por lá! 
                    drows?”.
 “Há drows 
                    lá. E criaturas peludas e grandes e outras diferentes, 
                    mas Iskapoft não pode ver!”.
 “E esse capuz? Temos 
                    que ver como você é!”, pediu Bingo, que 
                    estava achando levar aquele ser malcheiroso uma idéia 
                    não tão agradável.
 
 O grimlock então 
                    retirou o manto de trapos que o envolvia. O pequeno halfling 
                    curioso deu um pulo para trás. Iskapoft tinha uma aparência 
                    horrível: não possuía olhos, tinha um 
                    nariz muito largo e uma boca mais larga ainda, repleta de 
                    dentes pequenos e pontiagudos como pregos, alguns podres e 
                    escuros, que exalava um hálito fétido. Na sua 
                    cabeça achatada e grande, de pele azul clara, poucos 
                    e engordurados cabelos. Vestia uma armadura feita com o couro 
                    de algum animal desconhecido.
 
 “Agora sei porque 
                    ele usa capuz!”, falou Bingo, bem baixinho, consigo 
                    mesmo.
 “Já esteve 
                    em outras cidades do Subterrâneo, Iskapoft?”, 
                    quis saber Arthos.
 “Memórias 
                    de Iskapoft confusas antes de Undrek’Thoz. Só 
                    lembrar que estava dormindo e ouvir barulho de metal fazendo 
                    ‘Dooommm’. Depois apareci na cidade”.
 “Bem... antes de 
                    tudo, temos que saber a opinião de nossa líder 
                    nesta missão. Vamos falar com Storm e saber o que ela 
                    pensa a respeito de levarmos você conosco. Ela tem a 
                    palavra final sobre o assunto. Por favor, aguarde-nos, Iskapoft!”, 
                    pediu Kariel, enquanto chamava os outros para irem com ele 
                    até a cabine, onde estavam a Barda do Vale das Sombras, 
                    o professor Danicus e o piloto Arnilan.
 
 Os aventureiros expuseram 
                    a Storm todos os acontecimentos passados na caverna. Queriam 
                    retribuir a ajuda do grimlock, que vivia sozinho e em condições 
                    bastante difíceis. Contaram sobre a recente descoberta 
                    de que Iskapoft já estivera em Undrek’Thoz e 
                    poderia fornecer algum tipo de informação. A 
                    mulher de cabelos longos e prateados perguntou a opinião 
                    dos aventureiros, especialmente à de Magnus, paladino 
                    que podia sentir o mal extremo no coração dos 
                    seres. Magnus informou que nada sentia de ruim em Iskapoft. 
                    Nenhum argumento desfavorável, além de alguns 
                    comentários cômicos sobre o cheiro e a feiúra 
                    do recém chegado, feitos por Bingo e Limiekki, foi 
                    levantado. E então, a mulher decidiu:
 
 “Está bem! 
                    Ele poderá ir conosco! Temos apenas que refrear seu 
                    instinto carnívoro. Digam-lhe que poderá vir. 
                    Arnilan... pode prosseguir rumo a Undrek’Thoz!”, 
                    comandou a heroína.
 “Sim, senhora!”, 
                    disse o piloto, movendo a nave para frente suavemente.
 
 E 
                    então a nau encantada de madeira, ferro e lona, no 
                    formato de um peixe, navegou o ar para desaparecer no túnel 
                    negro, desbloqueado pelos gigantescos come-pedras, levando 
                    a bordo um novo e estranho passageiro, na direção 
                    da próxima e arriscada missão nos confins do 
                    Subterrâneo.
 
 
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