|   Nós somos nerds. Nós somos rpgistas. 
                                Um grande amigo meu, o Sandro, que, por acaso, 
                                me apresentou ao mundo da “brincadeira de 
                                interpretação de papéis”, 
                                vive dizendo que é fácil reconhecer 
                                um rpgista. Ele carrega sempre uma mochila nas 
                                costas (também chamada de marsúpio), 
                                usa sobretudo (mesmo no calor), poliedros coloridos 
                                nos bolsos da calça, anda sempre com livros 
                                de rpg e quadrinhos naquela tal mochila citada 
                                e vive falando sobre jogos eletrônicos. 
                                Tudo bem, essa é uma descrição 
                                bem generalista, mas salvo algumas exceções, 
                                os rpgistas são quase esse estereótipo. 
                                E como bom nerd que sou, sei que os nerds são 
                                bem mais que isso, mas essa não é 
                                uma questão a ser levantada aqui nesse 
                                artigo :P.
 
 De qualquer forma, uma coisa leva a outra. Rpgistas 
                                gostam de ler quadrinhos e gostam de jogos eletrônicos. 
                                E nem tudo precisa ser necessariamente nesta mesma 
                                ordem.
 
 O que eu quero aqui é sair um pouco dos 
                                livros, do papel e dos dadinhos coloridos. Dessa 
                                vez quero chegar nos bytes, nos bits, nas placas 
                                de silício e nos monitores de fósforo 
                                e plasma, bem como nas infindáveis horas 
                                esquentando as cadeiras com um fone de ouvido 
                                enterrado na cabeça.
 
 Sendo assim, eu vou tentar aqui neste artigo (que 
                                espero que se torne uma série de artigos, 
                                se possível) falar um pouco sobre os jogos 
                                eletrônicos, sejam eles feitos para computadores 
                                pessoais ou video games e que tem como cenário 
                                o nosso amado e mais bem conhecido mundo de fantasia 
                                rpgístico, os REINOS ESQUECIDOS.
 
 Vou tentar, ao longo do tempo, fazer uma pequena 
                                resenha dos jogos, senão todos, os mais 
                                importantes ou interessantes, os mais conhecidos, 
                                que sejam. Devo confessar, desde já, que 
                                muitos eu nunca joguei e outros eu sequer ouvi 
                                falar. Quando não for possível resenhar, 
                                vou pelo menos tentar informar aos fãs 
                                dos REINOS do que se trata cada 
                                jogo e fazer uma breve ficha técnica de 
                                cada um deles.
 
 Mas voltando um pouco na relação 
                                entre os rpgistas e os joguinhos eletrônicos, 
                                é verdade que existem alguns rpgistas ainda 
                                teimosos a se renderem a uma outra visão 
                                do “jogo” (é verdade que isso 
                                é raro, mas existe), assim como vários 
                                viciados em computador e vídeo game já 
                                jogaram os chamados “rpg’s eletrônicos”, 
                                mas nunca sentaram numa mesa e interpretaram um 
                                mago soltando uma bola de fogo. Eu mesmo sou testemunha 
                                de que esse “caminho” é mais 
                                produtivo, pois vários dos meus amigos 
                                de aventuras saíram da cadeira na frente 
                                do pc e passaram para a cadeira diante dos livros, 
                                fichas e dados.
 
 A verdade é que, independente daqueles 
                                poucos jogadores que não aderem aos rpg’s 
                                eletrônicos alegando a falta de intimidade 
                                com o computador ou que os jogos eletrônicos 
                                não possuem o mesmo appeal da interpretação, 
                                a maioria gosta desta nova visão do jogo 
                                ou do cenário. Falando por mim, os rpg’s 
                                eletrônicos são excelentes ferramentas 
                                para estimular a criatividade, nos dá idéias, 
                                nos ajuda a visualizar os cenários e até 
                                mesmo para entender algumas regras, que na mecânica 
                                eletrônica se torna bem mais visível 
                                que na mecânica da imaginação 
                                e interpretação.
 
 Sem se aprofundar muito na história dos 
                                rpg’s eletrônicos, vamos apenas dizer 
                                que eles tiveram seu início em meados da 
                                década de 70 e foram inspirados, porque 
                                não, nos recém criado Dungeons 
                                & Dragons. Não é difícil 
                                imaginar que aquele bando de nerds universitários 
                                reinventaram a interpretação inserindo-a 
                                nos jogos estratégicos e logo depois outros 
                                nerd vieram e colocaram essa idéia naqueles 
                                jurássicos computadores. No início, 
                                esses joguinhos eram chamados de “aventuras 
                                de texto”, pois se desenrolavam apenas através 
                                diálogos, portanto, nada de imagens. Mas 
                                com o tempo foram evoluindo e se tornaram os chamados 
                                “roguelike games” (ou jogos “tipo 
                                ladrão”), onde se exploravam masmorras 
                                bem simples, obviamente atrás de um tesouro 
                                protegido por monstros e outros perigos. Lembrando 
                                que tudo isso bem simples, afinal estamos falando 
                                da transição entre as décadas 
                                de 70/80.
 
                                 
                                  |  Gráficos 
                                      sensacionais de um dos primeiros jogos de 
                                      RPG lançados para computadores, o 
                                      Dnd de 1975. Na época, os games eram 
                                      baseados principalmente em textos, já 
                                      que as máquinas não eram capazes 
                                      de reproduzir graficamente nada além 
                                      de monocromatismo em duas dimensões.
 |  Embora muitos destes jogos fossem 
                                independentes, baseados em cenários próprios, 
                                é indiscutível que a idéia 
                                surgiu por causa do D&D jogado 
                                nas mesas. Por isso mesmo, desde o início 
                                da criação dos rpg’s eletrônicos, 
                                os cenários de D&D 
                                sempre foram utilizados como referência. 
                               
                                 
                                  |  Acompanhando 
                                      a evolução dos games, uma 
                                      briga de taverna no primeiro jogo da SSI 
                                      para os REINOS em Pool of Radiance de 1988. 
                                      As imagens já não são 
                                      monocromáticas e os gráficos 
                                      isométricos davam uma impressão 
                                      mais tridimensional aos games.
 |  Desde 1988, um número 
                                de jogos eletrônicos que têm como 
                                cenário os REINOS ESQUECIDOS 
                                têm sido lançados. Como eu já 
                                havia dito, a maioria destes jogos é apenas 
                                um monte de diversão, mas alguns deles 
                                são bem mais que isso, eles revelam vários 
                                segredos sobre o cenário, sendo uma excelente 
                                referência para Mestres e jogadores.
 Dentre as várias companhias que lançavam 
                                rpg’s eletrônicos, a que tinha contrato 
                                com a TSR e a licença 
                                para lançar os jogos baseados em D&D, 
                                incluindo aí os dos cenários dos 
                                REINOS ESQUECIDOS era a Strategic 
                                Simulation, Inc., ou SSI. 
                                Entre 1988 e 1995, a companhia lançou 13 
                                jogos inspirados nos REINOS, entre eles alguns 
                                clássicos da época, como Pool 
                                of Radiance e a trilogia Eye of the Beholder 
                                (que até inspirou músicas, como 
                                a homônima do Metallica). Foram eles:
 
 • Pool of Radiance (1988)
 • Curse of the Azure Bonds (1989)
 • Hillsfar (1989)
 • Secret of the Silver Blades (1990)
 • Pools of Darkness (1991)
 • Gateway to Savage Frontier (1991)
 • Treasures of the Savage Frontier (1992)
 • Eye of the Beholder (1991)
 • Eye of the Beholder II: The Secret of 
                                Darkmoor (1992)
 • Eye of the Beholder III: Assault on Myth 
                                Drannor (1993)
 • Unlimited Adventures (1993)
 • Dungeon Hack (1994)
 • Menzoberranzan (1995)
 
 Embora a SSI também tenha 
                                lançado jogos em outros continentes de 
                                Toril, como em Al-Qadim, estes jogos não 
                                serão abordados aqui. Pelo menos não 
                                agora.
 
                                 
                                  |  Logotipo da 
                                      Strategic Simulations, Inc., a precursora 
                                      das sagas virtuais nos REINOS ESQUECIDOS
 |   
 Em 1996, uma empresa chamada Interplay 
                                Productions obteve a licença para 
                                lançar os jogos que tinha como cenário 
                                o mundo dos REINOS ESQUECIDOS, 
                                que já não mais pertencia à 
                                TSR que fora comprada pela Wizards 
                                of the Coast, agora nova detentora dos 
                                produtos D&D. Até 
                                agora a Interplay e suas subsidiárias lançaram 
                                sete jogos e sete expansões para alguns 
                                destes. São eles:
 
 • Blood & Magic (1997)
 • Descent into Undermountain (1998)
 • Baldur's Gate (1998)
 • Tales of the Sword Coast (1999; uma expansão 
                                para Baldur's Gate)
 • Icewind Dale (2000)
 • Baldur's Gate II: Shadows of Amn (2000)
 • Heart of Winter (2001; uma expansão 
                                para Icewind Dale)
 • Trials of the Luremaster (2001; uma expansão 
                                para Icewind Dale)
 • Throne of Bhaal (2001; uma expansão 
                                para Baldur's Gate II: Shadows of Amn)
 • Neverwinter Nights (2002)
 • Icewind Dale II (2002)
 • Shadows of the Undrentide (2003 uma expansão 
                                para Neverwinter Nights)
 • Hordes of Underdark (2003 uma expansão 
                                para Neverwinter Nights)
 • Kingmaker (2005 uma expansão para 
                                Neverwinter Nights)
 
 Destes sete jogos, Baldur’s Gate 
                                e Baldur’s Gate II são altamente 
                                recomendados a qualquer um interessado em rpg’s 
                                eletrônicos. Como eu duvido aqui que você 
                                que esteja lendo este artigo nunca tenha jogado 
                                esses magníficos exemplos de rpg’s 
                                eletrônicos, fica a dica deles serem a iniciação 
                                para novos jogadores interessados no rpg de mesa 
                                com enfoque de fantasia medieval. Já Icewind 
                                Dale e Icewind Dale II são 
                                jogos com um enfoque mais de ação 
                                e menos interpretação e são 
                                recomendados para aqueles que preferem mais esse 
                                aspecto nos jogos eletrônicos. No entanto, 
                                não deixam de ser jogos excelentes, bonitos 
                                e com uma trilha sonora impecável. Já 
                                os dois primeiros títulos (Blood & 
                                Magic e Descent into Undermountain) 
                                são mais difíceis de serem encontrados 
                                e poucos já ouviram falar.
 
                                 
                                  |  Em 1998, Baldur’s 
                                      Gate revolucionou os jogos eletrônicos 
                                      de RPG. Gráficos isimétricos 
                                      tridimensionais, muitas cores, fidelidade 
                                      nas regras e diálogos massivos que 
                                      davam maior fidelidade à representação. 
                                      Que jogue a primeira pedra quem nunca foi 
                                      viciado nesse game.
 |   Neverwinter Nights 
                                se caracteriza por apresentar um suporte de jogo 
                                multiplayer e uma grande afinidade com as regras 
                                da 3ª edição de D&D, 
                                e, portanto, também é bastante recomendado, 
                                bem como suas expansões.
 Mas o primeiro jogo baseado no cenário 
                                dos REINOS e que conta com a 
                                edição 3.5 de D&D foi desenvolvido 
                                por outra empresa de jogos eletrônicos, 
                                a Ubi Soft, Inc., em 2001. Trata-se 
                                do jogo Pool of Radiance: the Ruins of Myth 
                                Drannor, e a despeito de suas várias 
                                falhas, principalmente em termos gráficos 
                                e de jogabilidade, merece a atenção 
                                devido à utilização das regras.
 
 No momento, existem planos para mais um jogo eletrônico 
                                nos REINOS. Trata-se de Neverwinter 
                                Nights II, que tem previsão para lançamento 
                                em setembro desse ano. Dessa vez serão 
                                utilizadas as regras da edição 3.5 
                                de D&D. O jeito é 
                                aguardar esse novo jogo que promete ser um grande 
                                sucesso, principalmente porque alguns boatos dizem 
                                que ele pode abrir portas para um MMORPG (ou seja, 
                                um rpg de multiplayer em massa), o primeiro para 
                                o cenário dos REINOS (bom, 
                                na verdade já houve um, o Neverwinter 
                                Nights AOL MMORPG, desenvolvido pela própria 
                                America Online em 1991, mas aquilo 
                                conta? :P).
 
                                 
                                  |  Neverwinter 
                                      Nights 2, ainda não lançado. 
                                      O topo do RPG eletrônico nos Reinos. 
                                      É esperar para ver e horas sentado 
                                      na frente do pc… desde que você 
                                      tenha uma excelente placa de vídeo.
 |  Além disso, existem alguns 
                                jogos eletrônicos que usam os REINOS 
                                como cenário que foram desenvolvidos originalmente 
                                para plataformas portáteis, os “velhos” 
                                video games. Forgotten Realms: Demon Stone, 
                                desenvolvido pela Stormfront Studios 
                                em 2004 para as plataformas Xbox e Playstation 
                                2, ganhou uma versão para computador. Baldur’s 
                                Gate: Dark Alliance (2001) e Baldur’s 
                                Gate: Dark Alliance II (2004) foram lançados 
                                somente para plataformas portáteis (Xbox, 
                                Playstation 2, Game Cube e Game Boy Advance) e 
                                desenvolvida pela Black Isle Studio, 
                                uma subsidiária da Interplay.
 Se por acaso você ficou interessado em qualquer 
                                um destes jogos mencionados acima e quiser saber 
                                mais detalhes sobre eles (tais como quais títulos 
                                estão disponíveis, quais são 
                                seus preços, quais plataformas eles suportam, 
                                como encontrar os mais raros, etc), contate um 
                                vendedor de jogos de computador, poste uma mensagem 
                                em alguma lista de discussão na Internet 
                                que trate do tema ou visite os sites oficiais 
                                das companhias mencionadas acima. Infelizmente, 
                                a SSI não existe mais, portanto os jogos 
                                produzidos por essa empresa são mais difíceis 
                                de serem encontrados à venda.
 
 
  
 Sobre o Autor
 
                                 
                                  |  Daniel Bartolomei 
                                      Vieira
 |  Daniel Bartolomei Vieira 
                                também é um nerd, mas não 
                                começou jogar RPG por causa dos jogos eletrônicos. 
                                O caminho foi inverso. Pode ter certeza de que 
                                ele passou várias horas jogando Baldur’s 
                                Gate I e II e mais várias 
                                outras horas jogando outros games e rindo dos 
                                gráficos “podres”. Ainda assim 
                                ele pode garantir que a diversão é 
                                certa, afinal, somos nerds, mas quem disse que 
                                não nos divertimos? |