| Um
                      Engodo Abala os Trun'Zoyl'Zl Descrita
                                por Ricardo Costa.Baseada no jogo mestrado por Ivan Lira.
  Personagens
                            principais da aventura: 
 Os
                                      Humanos: Arthos Fogo Negro [Sohtrax
                                      Chumavh]; Magnus de Helm [Zoun Katar Chumavh];
                                      Sigel O'Blound (Limiekki) [Dron'Karnot
                                      Chumavh]; Danicus Gaundeford [Glemoran
                                      Chumavh] e Klerf Maunader. Os Elfos: Mikhail
                                      Velian [Exxor Chumavh]; Kariel Elkandor
                                      [Vandrax Chumavh]. O Grimlock: Loft
                                      Moft Toft Iskapoft. O
                                      Halfling: Bingo
                                      Playamundo [Taz'Uthur Chumavh]. Participação
                                      Especial: Storm Mão Argêntea.
 
 
  
  Um
                      Engodo Abala os Trun'Zoyl'Zl
       A
                        Comitiva da Fé agora atravessava o enorme portão
                        aberto das muralhas negras do grande distrito de Trun'Zoyl'Zl.
                        Adotavam novamente os nomes e a aparência dos Millithor
                        e assim se apresentariam para a guarda da fortaleza da
                        poderosa Casa drow de Undrek´Thoz. Percorreram
                        o centro da cidade, passando por muitas construções
                        dedicadas ao comércio e algumas moradias. Eram
                        muitos os prédios altos, que se erguiam em forma
                        de torres pontiagudas de diversos e sinistros formatos.
                        As ruas de Trun'Zoyl'Zl, podiam observar, seguiam um
                        padrão semelhante ao de fios de uma teia de aranha,
                        com o grande monólito negro que servia de relógio
                        e uma catedral dedicada a Deusa Aranha ao centro. Ao
                        chegarem na extremidade oposta a entrada do distrito,
                        viram o grande e largo pilar cinzento de pedra e o túnel
                        que o atravessava. Era o local onde Arthos e Limiekki
                      haviam espreitado, poucas horas antes.
 “É                      aqui!”,
                      disse o espadachim Arthos.
 “Vamos então! Pediremos audiência aos sentinelas.
                        Acredito que o nome Millithor deva abrir algumas portas!”,
                        comentou Kariel.
 “E o que vamos dizer aos encarregados da Retomada quando
                        eles vierem até nós?”, perguntou
                        o professor Danicus.
 “Diremos que viemos saber das condições
                        da jóia e do portal, devido à derrocada
                        da Casa Chumavh e de Maerymidra!”, sugeriu Arthos.
 “Isto deverá funcionar! Que Tymora nos acompanhe!”,
                      falou Kariel, rogando à Deusa da Sorte e dos Aventureiros.
 
 Os
                      heróis entraram então no túnel
                        que atravessava um grande paredão rochoso. Era
                        largo o suficiente para passar uma carroça e devia
                        ter trinta metros de comprimento. Cristais que emitiam
                        uma fraca luz branca encravados no teto iluminavam seu
                        interior. Após percorrerem o caminho, saíram
                        em outra gigantesca câmara cavernosa. A sua frente,
                        uma pequena fortaleza e ao lado dela, bloqueada por um
                        portão, havia uma extensa ponte de pedra, que
                        atravessava um abismo até chegar nos portões
                        de uma cidadela imponente, com torres que apontavam para
                        o alto: a fortaleza da Casa Trun'Zoyl'Zl. Logo na saída
                        do túnel, já podiam ver, muitos guardas
                        circulavam. Um pequeno destacamento, com cerca de dez
                        militares armados com sabres e escudos, aproximou-se
                      dos drows recém-chegados.
 
 “Alto! Quem são vocês?”,
                      perguntou um deles.
 “Somos forasteiros. Queremos uma audiência com a
                        Matrona”, falou Mikhail, que agora encarnava Narcélia,
                        sacerdotisa e, portanto, líder do grupo daqueles
                        drows.
 “Forasteiros? De onde são? E o que querem tratar?”,
                        questionou o capitão mais uma vez.
 “Viemos de Maerymidra. Pode comunicar à Matrona
                        que é um assunto importante, relacionado aos Millithor!”,
                        respondeu Mikhail.
 “Isto é muito estranho!”, comentou o oficial,
                        colocando a mão direita no queixo e olhando de
                        alto abaixo os estranhos. “Farei com que a informação
                        chegue até a Matrona. Porém não
                        posso garantir que ela os atenda rapidamente”.
 “Oficial... garanto que após a Matrona receber
                        a mensagem, seremos imediatamente atendidos!”,
                      comentou Arthos.
 
 Viram o capitão passar pelo portão, acompanhado
                        por dois soldados, em direção a cidadela.
                        Aguardaram cerca de quarenta longos minutos, acompanhado
                        de outros guardas, momento no qual imaginavam em suas
                        mentes qual resposta poderiam receber, até que
                      o drow retornou e dirigiu-se a eles.
 
 “Peço-lhes perdão pela demora. A
                        senhora é a Matrona Ky´Wyllis?”, perguntou
                        em direção a Mikhail.
 “Não. Sou a sacerdotisa Narcélia. Nossa
                        Matrona está em nosso refúgio. Viemos em
                        nome dela!”.
 “Sou Veszafaein, o capitão do posto. Queiram me
                        acompanhar. Iremos escoltá-los até o palácio
                      da Matrona!”, solicitou o drow.
 
 O oficial seguiu na
                      direção do portão
                        e mais seis militares drows juntaram-se a ele e aos membros
                        da Comitiva. As portas de madeira grossa e ferragens
                        negras se abriram e eles percorreram a ponte de pedra
                        por cerca de dez minutos. Enquanto andavam, admiravam
                        a grandiosidade das estruturas que se agigantavam a sua
                        frente, à medida que se aproximavam da cidadela
                        murada. Ao fim da ponte, outro portão se abriu,
                      dando acesso ao interior da fortaleza.
 
 Os aventureiros seguiram
                        o capitão Veszafein
                        e seus comandados por uma rua iluminada por cristais
                        púrpuras encravados nas paredes das construções
                        agudas e altas. Viram alguns nobres e muitos militares,
                        que observavam a escolta com curiosidade. Passaram, depois,
                        por um grande pátio com bancos e uma fonte consagrada
                        com uma estátua à Rainha Aranha. De lá,
                        partia outro caminho, até a mais alta das torres.
                        Nela, uma escada externa contornava suas paredes como
                        se fosse uma grande serpente subindo em um alto tronco.
                        Galgaram então esta escada e ao fim da escalada,
                        encontraram uma porta guardada por quatro soldados, que
                        abriram passagem para o grupo. Penetraram então
                        no interior da construção, em corredores
                        estreitos, repletos de portas. Chegaram então
                        a uma maior e ricamente trabalhada, também guardada.
                        O capitão Vezsafein disse algo aos dois sentinelas
                        fortemente armados, que abriram as folhas de madeira
                        e ferro. A Iskapoft não foi permitida a entrada
                        e Bingo e Limiekki resolveram ficar com o grimlock e
                      aproveitar para observar algo dos caminhos daquela torre.
 
 Os
                        membros restantes da Comitiva, junto com os militares
                        da Casa Trun'Zoyl'Zl, entraram por fim, em um amplo salão.
                        Em um sinistro trono de pedra, sentava-se uma drow, que
                        trajava um rico vestido negro, luvas que cobriam quase
                        totalmente os braços e uma espécie de coroa,
                        cuja jóia central era vermelha e oval, compondo
                        o abdome de uma aranha de ouro. Ela apoiava os cotovelos
                        nos braços do trono e mantinha as mãos
                        trançadas à altura do peito. No seu lado
                        esquerdo, estavam de pé mais três mulheres
                        drows de aparência mais jovem, do direito, um drow
                        em trajes nobres, que pelo físico esguio e ausência
                        de armas não deveria ser um guerreiro. O capitão
                        e os soldados imediatamente inclinaram-se ao vê-la,
                      seguidos dos visitantes.
 
 “Matrona Jesthflett! Eis os forasteiros!”,
                        falou o oficial.
 “Excelente! Agora saiam daqui!”, disse a drow, abanando
                      com a mão esquerda.
 
 Os militares deixaram então a sala para aguardarem
                        do lado de fora. A líder da Casa, quase sem se
                      mover, fitou os recém chegados e disse:
 
 “Quem são vocês? Os Millithor os
                        enviaram aqui?”, perguntou.
 “Não, senhora! Somos os próprios Millithor!”,
                        respondeu Mikhail. “Sou Narcélia Millithor
                        e vim a mando de minha Matrona!”.
 “Sim!”, disse Jesthflett levando a mão direita
                        ao queixo e apurando a visão.       “Reconheço
                        agora face de alguns de vocês. Uma visita inesperada,
                        devo dizer!”.
 “Pois inesperados foram os acontecimentos que nos levaram
                        até aqui!”, disse Kariel interpretando o
                        mago Karelist.
 “Creio que o silêncio da Deusa à nossas preces
                        seja o motivo maior, não?”, continuou a
                        líder da Casa Trun'Zoyl'Zl.
 “É 
                        um deles, mas existem outros desdobramentos desagradáveis
                      envolvendo a Retomada!”, disse Arthos.
 
 Ao ouvir esta
                      palavra, a matrona moveu-se de seu trono e olhou para uma
                      de suas filhas, a que parecia a mais
                      velha das três.
 
 “Eclavdra, leve sua irmã Baltana
                      daqui. Tenho um assunto particular a resolver!”
 “Mas minha mãe! Quero participar também!”,
                        protestou Baltana, visivelmente a mais jovem.
 “Obedeça-me e vá embora!”,
                        disse a drow, incisivamente.
 
 A jovem e bela drow resignou-se
                        e saiu acompanhada de
                        sua irmã. A matrona então retomou a palavra.
 “Bem, senhora Narcélia. Ao meu lado estão
                        minha filha Zesstra e o mago da Casa, Houndaer. Pois
                        bem, podem nos dizer qual são os problemas relativos à Retomada
                        que os trazem aqui?”.
 “Senhora Jesthflett, sugiro que o façamos em uma
                        reunião posterior. Temos muito que contar, mas
                        estamos exaustos e famintos pela difícil viagem
                        que empreendemos. Rogamos por sua compreensão
                      neste assunto!”, pediu Mikhail.
 
 A drow ponderou por
                      rápidos segundos e respondeu.
 
 “Receberão acomodações e
                        alimento. Ordenarei que sejam levados aos quartos. No
                        próximo ciclo, quando estiverem prontos, nos reuniremos!”,
                        resolveu a mulher.
 “Agradecemos!”, disse Mikhail em uma vênia.
 
 Deixaram então a sala e, momentos depois, foram
                        conduzidos aos aposentos onde descansariam. Eram um luxuoso
                        quarto individual, oferecido à sacerdotisa Narcélia,
                        encarnada por Mikhail, e dois cômodos coletivos,
                        mas bastante confortáveis, destinados aos demais
                        convidados. Em um deles ficaram Arthos, Limiekki e Kariel
                        e, no outro, Magnus, Bingo e o professor Danicus. Iskapoft,
                        que, como escravo, não poderia acomodar-se junto
                        aos seus ‘mestres’. Ficou do lado de fora,
                        encostado à parede próxima à porta,
                        mas, em verdade, o grimlock não se importou muito.
                        Para quem se deitava no desconforto das pedras e poeira
                        das cavernas, o chão liso e limpo do palácio
                        dos Trun'Zoyl'Zl parecia até muito bom. E ele
                      dormiu rapidamente.
 
 Antes de se deitarem, Arthos e Bingo
                        pensaram no conforto de seus estômagos e sugeriram aos seus colegas
                        que procurassem algo para comer. O espadachim foi quem
                        abriu de volta a porta do quarto e pediu por alimento
                        a um soldado que mantinha guarda. O drow ofereceu-se,
                        então, para levá-los ao refeitório.
                        Dos membros da Comitiva, apenas Mikhail preferiu não
                        ir. O clérigo de Mystra resolveu aproveitar os
                        momentos de solidão e privacidade para orar à Deusa
                      da Magia.
 
 Os heróis sob os disfarces de drow andaram pelo
                        corredor, até adentrar um amplo salão,
                        em forma de meia lua, repleto de mesas e cadeiras de
                        madeira negra. O refeitório era dividido em dois
                        ambientes: um maior e mais amplo e outro menor, em um
                        nível mais alto e central, ao fundo, onde somente
                        havia uma única e comprida mesa retangular. Poucos
                        drows se alimentavam no lugar e todos olharam com curiosidade
                        para os recém chegados, que se sentaram juntos,
                      longe o suficiente de eventuais ouvidos indiscretos.
 
 “Aposto que sei quem se senta naquela mesa lá em
                        cima!”, disse Limiekki.
 “As sacerdotisas e a elite da Casa por certo não
                        devem se misturar com os demais membros da nobreza!”,
                        comentou Magnus.
 “Estou cada vez mais impressionado com o Subterrâneo
                        e com a cultura dos drows”, disse o professor Danicus. “Vivem
                        em um luxo e avanço impensáveis, em face
                        dos rigores deste ambiente tão difícil.
                        Há quanto tempo eles devem viver aqui?”.
 “Desde que o Pai Corellon expulsou a deusa traidora deles
                        de Arvandor”, respondeu Kariel, relembrando as
                        míticas Guerras da Coroa, entre elfos e drows. “Portanto,
                        tenha cuidado ao admirar os drows, professor. A traição
                      faz parte deles desde a origem da sua raça!”.
 
 Poucos
                      minutos depois, chegaram os pratos. Variadas eram as iguarias
                      servidas: cogumelos de tamanho e cores
                        diferentes, ovos de réptil cozidos, carne de lagartos
                        e alguns insetos, além de bebidas feitas com raízes
                        e um estranho vinho quase púrpura. Apesar do cardápio
                        exótico, comeram o suficiente para se sentirem
                        satisfeitos e retornaram aos quartos, levando um pouco
                        de comida para Iskapoft. Então, finalmente, descansaram
                      por um bom tempo.
 
 Oito horas depois, enquanto os outros
                        ainda dormiam, Kariel, que havia passado todo o tempo
                        atualizando o
                        seu diário e estudando o seu livro de magias,
                        levantou-se e deixou o quarto, em direção
                        ao cômodo onde estava a outra parte de seus amigos.
                        Queria falar com o professor Danicus. E foi mesmo o Harpista
                      que lhe abriu a porta.
 
 “Professor...”, começou
                      Kariel, logo depois de entrar.
 “Já sei o irá me dizer, jovem! O encanto
                        de disfarce está mais uma vez prestes a expirar!”,
                        interrompeu. “Já ia mesmo chamar-lhe quando
                        bateu à porta! Vamos acordar e reunir os demais
                      no quarto de Mikhail. Lá executaremos a magia!”.
 
 Danicus
                      e Kariel então foram acordando os companheiros,
                        um por um, quarto por quarto, até que, por fim,
                        reuniram-se no amplo cômodo onde se encontrava
                        o clérigo de Mystra. Então, o homem e o
                        elfo arcanos, iniciaram a seqüência de gestos
                        e palavras místicas e renovaram a magia que lhes
                        alterava a aparência mais uma vez. Mal o ritual
                        se encerrara, ouviram-se batidas na porta do quarto.
                      Mikhail abriu. Era um soldado.
 
 “Senhora, desculpe interrompê-la, mas nossa
                        Matrona pediu-me para chamá-los para a reunião.
                        Eu os conduzirei até a sala do trono!”,
                        disse o guerreiro em uma armadura de placas de metal
                        negra.
 “Aguarde-me por um momento! Já estamos indo”,
                      respondeu Mikhail, fechando novamente a porta do quarto.
 A
  Reunião e a Surpresa       Prepararam-se, menos
                        Bingo e Limiekki, que preferiram ficar. Estavam verificando
                        se existiam, por acaso,
                            passagens secretas que pudessem trazer eventuais
                        visitantes indesejáveis ou espiões para os quartos
                            ocupados pela Comitiva. Iskapoft, obviamente, também
                            não iria, permanecendo do lado de fora do quarto,
                            a espera de um momento onde pudesse mostrar sua utilidade.
                            Então deixaram a sala Mikhail, Arthos, Kariel,
                        Danicus e Magnus, seguindo o drow que os aguardava.
 Percorreram
                            em inverso o caminho que haviam feito antes, entrando
                            novamente na sala de reunião. Estavam à espera
                        os mesmos três personagens da elite da Casa Trun'Zoyl'Zl:
                        a Matrona, sua filha e o mago da Casa.
 
 “Agora, membros da Casa Millithor, aguardo
                        seus relatos! Quais são os problemas que os trazem
                        aqui? Ainda aguardo a ativação da jóia
                        mística que aciona o portal brilhar para iniciarmos
                        a invasão, conforme me disseram antes, mas já se
                        passaram muitos anos e até agora nada aconteceu.
                        Temos ainda muito interesse em participar da Retomada
                        e ser a primeira das Casas de Undrek’Thoz a atacar
                        e tomar a região de Thay”, disse a drow
                        sentada no trono.
 “Senhora...”, iniciou Mikhail, “... temo que
                        haja mais atraso em nossas pretensões. Além
                        dos problemas relacionados com o silêncio da Deusa,
                        sofremos um revés em Maerymidra. A cidade foi
                        atacada e destruída, junto com ela a Casa Chumavh
                        e a jóia mística e o portal que guardavam!”.
 “Maerymidra foi destruída? Mas como?”, perguntou
                        Houndaer, o Mago da Casa, intrigado.
 “Por escravos!”, Arthos respondeu. “A cidade
                        está arruinada. Subestimaram a organização
                        dos escravos e agora estão todos mortos. Pelo
                        que vimos nas ruas daqui, Undrek´Thoz pode cair
                        em um destino parecido”.
 “Não creio que isto se constitua em uma ameaça
                        para nós. Estamos suficientemente distantes de
                        Drezz'Lynur e temos capacidade de enfrentá-los,
                        se por acaso conseguirem chegar até aqui”,
                        manifestou-se a sacerdotisa Zesstra.
 “Creio que minha filha tem razão!”, disse
                        Jesthflett. “Se é por isso que vieram, não
                        deviam ter se preocupado. Nossa situação
                        está sob controle!”.
 “Não foi o único motivo”, interveio
                        Kariel. “Temo que a destruição da
                        gema mística de Maerymidra possa ter afetado o
                        encanto presente nas demais jóias. Gostaria de
                        ver a que está em posse de sua Casa, para analisar
                        se há algum problema com ela”.
 
 Jesthflett
                        então se virou para a sacerdotisa
                        que estava à sua direita.
 
 “Zesstra, traga a jóia! Vamos deixá-los
                        examiná-la!”.
 “Sim, minha senhora!”, disse a drow de cabelos longos
                        e presos por uma tiara negra, pouco antes de deixar a
                        sala.
 
 A Comitiva aguardou por quinze minutos, até que
                        a sacerdotisa retornou, com uma caixa de madeira com
                        detalhes ornamentais. Ela abriu a tampa, exibindo uma
                        grande jóia alaranjada, brilhante e multifacetada,
                        semelhante à encontrada em Maerymidra. Kariel
                        então se aproximou e colocou sua mão espalmada
                        sobre a pedra. O arcano Escolhido de Mystra sentiu emanações
                        mágicas, porém em uma intensidade muito
                        menor do a que havia encontrado nas gemas místicas
                        dos Millithor e dos Chumavh. Então, suas feições
                        tornaram-se graves e ele disse:
 
 “Que engodo é este? Que tipo de truque
                        pretende nos aplicar? Esta não é gema mística
                        verdadeira!”
 “Truque!?”, bradou a Matrona espantada. “Não
                        entendo. Como pode ser!?”
 “A pedra está imbuída de um outro tipo de
                        magia, muito mais fraca do que a jóia original!”,
                        disse Kariel.
 “Então é esta a segurança que sua
                        Casa oferece?”, acrescentou Mikhail, em tom de
                        irritação.
 “Houndaer! Ele disse que a jóia é falsa!
                        Como explica este...”.
 
 Assim que Jesthflett pronunciou
                        a palavra ‘falsa’,
                        um gás esverdeado e fétido começou
                        a exalar da pedra, assustando Zesstra, que deixou a gema
                        cair ao chão.
 
 “É                        uma armadilha! Abram as portas!”,
                        bradou Magnus, em meio à confusão e a tosse
                        dos ocupantes da sala.
 
 Kariel e Mikhail abriam as duas
                        portas que existiam no cômodo e, aos poucos, os
                        gases se dissiparam.
 
 A Matrona, visivelmente furiosa e
                        ainda tossindo, levantou-se do trono e, voltando-se para
                        seus auxiliares, esbravejou:
 
 “Maldição! Houndaer, Zesstra! Vocês
                        têm que me explicar isto! Que traição é esta?”
 “Minha mãe, eu não sei como isto pôde
                        acontecer! A gema estava escondida em um lugar secreto!”,
                        disse a jovem drow aflita.
 “Quero que descubram quem armou isto! O responsável
                        irá pagar caro por esta traição!”,
                        ordenou a drow.
 “Senhora Jesthflett, queremos ver o portal! Ele pode ter
                        sido sabotado também!”, solicitou Kariel. “Diante
                        desta traição, as runas esculpidas podem
                        ter sido destruídas ou alteradas!”.
 “Farei como me pede. Sigam-me!”, disse a líder
                        drow, caminhando apressadamente para fora da sala do
                        trono.
 
 A Comitiva então seguiu a Matrona e seus dois
                        acompanhantes pelos corredores da torre e desceu quatro
                        lances de escadas. Os heróis estavam bastante
                        atentos e tentando memorizar o que fosse possível
                        daquele caminho, para a eventualidade de terem de retornar
                        para destruir o portal. A drow os levou, por fim, a um
                        amplo cômodo quadrado, vazio de qualquer tipo de
                        móvel ou decoração. O mago Houndaer
                        então pressionou uma das pedras que fazia parte
                        da parede. Ao mesmo tempo, parte do piso desceu de nível,
                        formando uma escada para uma passagem oculta: uma espécie
                        de túnel rústico, iluminado com cristais
                        mágicos e largo o suficiente para a passagem de
                        muitos soldados no momento em que a invasão fosse
                        realizada. Os heróis e os drows da Casa Trun'Zoyl'Zl
                        percorreram por ele a distância de vinte metros,
                        até um amplo salão escavado na rocha. Lá jazia
                        o portal em forma de arco de pedra. Kariel aproximou-se,
                        junto com o mago Houndaer.
 
 “Parece-me que não houve nenhum problema
                        com o portal!”, disse o arcano da Comitiva, após
                        rápida análise das runas.
 “Alguém mais sabe deste lugar?”, perguntou
                        Arthos.
 “Não. Ele está mantido em completo sigilo”,
                        respondeu a Matrona.
 “Isto é um tanto difícil de garantir nas
                        atuais circunstâncias”, disse Mikhail. “Devo
                        comunicar a minha Matrona sobre estes acontecimentos!”.
 “Espere, sacerdotisa Narcélia. Peço-lhe
                        que não o faça ainda. Minha Casa tem interesse
                        de participar da invasão. Deixe-me resolver isto.
                        Encontrarei esta gema nem que tenha que mobilizar todos
                        os membros de nossa Casa. O ladrão será transformado
                        em drider!”, disse Jesthflett.
 “Concordo!”, disse Mikhail. “Porém
                        desejamos participar das investigações!
                        Precisamos saber quem possuía acesso à jóia”.
 “Somente eu e Houndaer!”, respondeu a sacerdotisa
                        Zesstra. “M-mas nada revelei a ninguém!
                        Não sei como a gema...”
 
 Ao terminar as palavras, Zesstra foi esbofeteada violentamente
                        pela mãe.
 
 “Cale-se e suma das minhas vistas!”, disse
                        a Matrona. “Está confinada aos seus aposentos!”.
 
 A
                        drow saiu da sala transtornada.
 
 “Terão passe livre para fazerem o que for
                        necessário para encontrar esta jóia. Se
                        o fizerem, receberão uma recompensa pelos seus
                        esforços.”
 “Deveremos então nos reunir em nossos aposentos
                        para tentar buscar uma estratégia para conduzir
                        nossas investigações! Nos retiraremos então,
                        com a sua permissão”, disse Mikhail.
 “Está bem. Boa sorte!”, finalizou Jesthflett.
 
 Pouco tempo depois,
a Comitiva retornou ao amplo aposento de Mikhail, onde encontraram Bingo e Limiekki.
 
 “Olá amigos. Esquadrinhamos todos os lugares
                        de nossos quartos. Não encontramos nenhuma porta
                        secreta ou visor escondido. E vocês como foram?”,
                        perguntou Limiekki.
 “É
                        . É. Viram a jóia?”, quis saber o
                        apressado Bingo.
 “Meu pequeno amigo, pôr as mãos naquela jóia
                        será mais difícil do que pensávamos!”,
                        disse o paladino Magnus.
 “Como? Dá para falar um pouco mais claramente!”,
                        insistiu Limiekki, curioso.
 “Alguém chegou antes de nós, Limiekki. Levaram
                        a jóia e a substituíram por uma cópia
                        com uma armadilha de gases venosos, porém ninguém
                        saiu ferido”, disse Arthos.
 “Pela Dama da Floresta! E agora? Têm algum suspeito?”,
                        perguntou o mateiro.
 “A Matrona nos informou que somente ela, uma de suas três
                        filhas chamada Zesstra e o mago da Casa, Houndaer, tinham
                        conhecimento do local onde a gema estava guardada”,
                        disse-lhe Mikhail.
 “Será que a Matrona não escondeu a pedra
                        da gente?”, perguntou Bingo.
 “Não creio. Seria uma vergonha para uma Casa drow
                        falhar tão miseravelmente em uma tarefa que lhe
                        foi incumbida, ainda mais na frente de enviados estrangeiros.
                        A Matrona me pareceu bastante nervosa e frustrada. Se
                        estiver mentindo, será uma atriz melhor do que
                        as que conheci em teatros de Amn!”, opinou o professor
                        Danicus.
 “Também não acho que foi fingimento!”,
                        opinou Arthos.
 “Acredito que temos, neste caso, três hipóteses
                        que podem ser levantadas: a gema foi roubada por uma
                        das sacerdotisas ou pelo Mago da Casa, por algum grupo
                        rebelde ou por outra Casa”.
 “E não podemos esquecer da espiã de horas
                        atrás. Talvez ela tenha alguma relação
                        com a substituição da gema”, ponderou
                        Danicus.
 “Bem observado, professor!”, disse Arthos. “Poderíamos
                        levar Iskapoft até o local onde Limiekki perdeu
                        a pista. Talvez ele consiga farejar algo!”.
 “É 
                        uma boa idéia, mas sugiro que uma parte de nós
                        fique aqui, em uma investigação interna”,
                        contrapôs Magnus.
 “Se todos estão de acordo, então vamos nos
                      dividir!”, disse Mikhail.
 
 A Comitiva então formou dois grupos: um, composto
                        por Arthos, Mikhail, Kariel, Limiekki e Iskapoft, iria
                        para as cercanias da muralha da cidade, tentar descobrir
                        alguma pista da misteriosa espiã e outro constituído
                        por Magnus, Bingo e o professor Danicus, tentaria investigar
                      de dentro das muralhas da fortaleza.
 Investigações
                        Externas       Uma hora depois
                        de deixarem a fortaleza da Casa Trun'Zoyl'Zl, Arthos,
                        Mikhail, Kariel e Limiekki seguiam
                        Iskapoft,
                        em meio à plantação onde a espiã os
                        havia despistado. O grimlock, a princípio, não
                        conseguiu localizar o odor particular da fugitiva, mas
                        guiado por Limiekki, que o levou até ao ponto
                        onde havia perdido o rastro, reencontrou a pista e a
                        seguiu, pela estranha vegetação adentro.
                        Chegou em um paredão rochoso e nenhuma passagem,
                        natural ou não, foi encontrada. Parecia que a
                        caçada seria em vão, porém algo
                        brilhante no chão chamou atenção
                        aos olhos do mateiro Limiekki.
 “Parece pó de prata!”, disse o homem
                        de Forte Zenthil, analisando. “Estranho encontrar
                        isto assim!”.
 “A não ser que nossa misteriosa espiã tenha
                        conjurado alguma magia!”, colocou o arcano Kariel.
 “Sim. Pode ser um encantamento de proteção.
                        Conheço um deles que utiliza pó de prata
                        como ingrediente!”, informou Mikhail.
 “Então essa mulher pode ser uma maga ou sacerdotisa!”,
                        concluiu Arthos.
 “Se for uma sacerdotisa, ainda possui os seus poderes
                        e, portanto, não é fiel á Lolth.
                        Talvez seja uma serva de uma divindade proscrita em Undrek´Thoz.
                        Quem sabe se não da própria Eilistraee?”,
                        conjecturou Mikhail, recordando da única divindade
                        drow que seguia caminhos opostos aos da violência,
                        traição, falsidade e tirania, encarnados
                        pelos demais deuses do panteão dos elfos da escuridão.
 “Ela também pode ser uma maga, o que seria mais
                        provável, ainda que não sejam muito comuns
                        mulheres nesta função, pelo que vi até agora,
                        na sociedade drow”, disse Kariel. “De qualquer
                        forma, não temos nada além de perguntas
                        e hipóteses. Vamos retornar à fortaleza
                        e ver se nossos amigos tiveram melhor sorte!”.
 “Eu vou procurar uma taverna. Quero ver se encontro informação
                        por lá!”, colocou Arthos.
 “Vou com você!”, ofereceu-se rapidamente Limiekki.
 “Está bem. Nos encontraremos na fortaleza. Por
                        favor, sobretudo você Arthos, não arrume
                        confusão!”.
 “Pode deixar, Mikhail!”, disse o espadachim sorrindo. “Prometo
                        que irei me comportar!”.
 
 Então o grupo deixou as plantações
                        e novamente adentrou as muralhas, retornando à cidade.
                        Enquanto Mikhail e Kariel (que tinham muita dificuldade
                        em acreditar na promessa feita momentos atrás
                        pelo amigo espadachim) iam para a cidadela, Arthos e
                        Limiekki encaminharam-se para o centro da cidade, onde
                        descobriram um grande estabelecimento, cheio de mesas
                        e cadeiras. A taverna drow tinha uma placa de madeira
                        muito discreta na parede e chamava-se ‘Último
                        Gole’. Era, certamente um lugar para apreciar a
                        bebida e a comida, mas era um tanto diferente das tavernas
                        habituais de Faerûn; tinha mesas e bancos de pedra,
                        ambiente muito limpo e quase silencioso, sem a gritaria
                        dos bêbados, fanfarrões ou anões
                        contadores de vantagem. Os freqüentadores pareciam
                        pessoas sóbrias e distintas. Sentaram em uma das
                        mesas e ficaram a observar o público. Um atendente
                        veio até os dois. Limiekki pediu-lhe uma bebida.
 
 “E agora? Pensei em encontrar uns tipos estranhos,
                        ladrões, mercenários, que pudessem saber
                        alguma coisa, mas, pelo o que eu estou vendo, este estabelecimento é mais
                        fino do que os que eu estou acostumado a freqüentar.
                        Pelo menos, espero que a bebida seja boa”, falou
                        Arthos.
 “Colega...”, murmurou Limiekki, “... não
                        olhe agora, mas tem uma drow sentada sozinha em uma mesa
                        que não parou de olhar para você desde que
                        chegamos!”.
 
 Arthos disfarçou e deu uma rápida
                        olhadela. Seu olhar se encontrou com o da mulher. Uma
                        drow de cabelos
                        muito longos e um traje negro e justo, bordado com aranhas
                        amarelas e uma capa. O vestido era decotado o suficiente
                        para revelar o seu belo corpo. Usava um colar com um
                        pingente dourado que exibia a imagem de um livro aberto.
 
 “Parece uma oportunidade!”,
                        sorriu Arthos.
 “Oportunidade de quê? Rapaz... tome cuidado. As
                        mulheres aqui são um problema!”, advertiu
                        o colega mateiro.
 “Calma... relaxe! Está tudo sob controle!”,
                        disse o espadachim, que chamou o atendente.
 “Sim?”, perguntou o jovem drow franzino que servia
                        as mesas.
 “Conhece aquela dama?”, perguntou Arthos.
 “Ela costuma freqüentar o estabelecimento. É da
                        casa Phandalkuzan. É tudo o que sei!”, respondeu
                        o garçom.
 “Leve uma taça de sua melhor bebida para ela, com
                        os meus cumprimentos!”
 “Como queira!”, assentiu o drow, retirando-se.
 
 O rapaz então foi até o balcão
                        e encheu uma taça com um líquido púrpura
                        e levou até a drow, que trocou algumas palavras
                        com ele. Palavras que o garçom prontamente transmitiu
                      a Arthos.
 
 “Senhor... a dama pediu-me para perguntar se
                      pode fazer-lhe companhia!”.
 “Claro que sim. Estou indo!”, respondeu o aventureiro,
                        levantando-se da cadeira.
 “Tome cuidado!”, pediu Limiekki.
 
 Arthos foi então até a mesa onde sentava
                        a elfa da escuridão, que o olhava serenamente.
                      Puxou a cadeira e sentou-se.
 
 “Então. Aceita meu oferecimento?”,
                        perguntou o homem disfarçado de drow.
 “Infelizmente não. Já tomei a minha bebida,
                        mas aceito se puder conversar”, respondeu a mulher. “É curioso...
                        não ostenta o símbolo de nenhuma casa conhecida.
                        De onde veio?”.
 “Sou um forasteiro. Vim de outra cidade. E você?
                        Seu símbolo não é dos Trun'Zoyl'Zl”,
                        disse o espadachim.
 “Vem de outra cidade? Isto é incomum. Talvez seja
                        por isto o estranho sotaque. Eu pertenço a Casa
                        Phandalkuzan. Suas roupas estão um tanto diferente
                        das que usava ontem... aquela conversa que você e
                        seus amigos travavam era realmente muito estranha. Estranha
                      e reveladora.”.
 
 Arthos franziu os olhos e seu coração
                      começou a bater mais forte e rápido.
 
 “E-era você ontem!?”,
                      perguntou, espantado.
 “Infelizmente não fui tão furtiva quanto
                        deveria, mas acho que ouvi o suficiente!”, disse
                        a mulher, que falava baixo e agia serenamente.
 “Quem é você?”, perguntou Arthos.
 “Quem eu sou não é importante, mas quero
                        saber quem é você e quem são os seus
                        amigos”, inquiriu a drow. “Caso não
                        me informe, não mais poderei guardar o seu segredo”.
 “Que segredo?”, perguntou o espadachim.
 “Não precisa fazer-se de desentendido. Ouvi bem
                        o seu amigo, o arcano chamado Kariel planejar algo contra
                        a Casa Trun'Zoyl'Zl. Fale-me o que desejo saber ou revelarei
                        agora mesmo tudo que ouvi.”
 “Direi que é uma louca e que não sei do
                        que está falando, ou que bebeu demais”,
                        retrucou o aventureiro.
 “Garanto que os Trun'Zoyl'Zl irão desejar fazer-lhe
                        algumas perguntas mesmo assim. Vamos... não desejo
                        fazer-lhe mal algum. Nunca houve uma oportunidade em
                        que você tivesse que confiar cegamente em alguém
                        desconhecido”, falou a drow, olhando fixo para
                        o seu interlocutor.
 “Já, mas todas as vezes que isto me aconteceu acabei
                        me dando muito mal. Não posso lhe dizer mais nada
                        sem saber se posso confiar em você”, respondeu
                        Arthos.
 “Está bem. Faremos um acordo. Lhe direi algo que
                        revele um pouco sobre mim e você revelará um
                        pouco sobre sua missão. O que acha?”.
 “Está certo!”, disse o herói, com
                        poucas alternativas para aquela situação
                      difícil.       “Acordo feito!”.
 
 A drow aproximou-se
                      de Arthos e disse-lhe sussurrando
 
 “A palavra Mystra significa algo para você?”
 
 Ao ouvir a palavra Arthos parou. Como uma drow saberia
                        o nome da Deusa da Magia? Seria uma aliada, afinal? Ou
                        uma armadilha? Estas questões povoaram sua mente
                      nos demorados segundos que se seguiram.
 
 
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