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                  |  Por Ricardo Costa
 |   Os 
              Últimos Dias de Glória - Contos 
      O bravo e audaz 
              Sir Robin e as Pedras de Anaxander
 22 de Hammer, 1371Cidade de Águas Profundas
 Taverna Portal Bocejante
 O inverno no 
              Norte está sendo rigoroso. A noite da Cidade dos Esplendores 
              está coberta de neve e seus habitantes se aquecem no fogo 
              de suas lareiras, deixando as ruas da grande metrópole quase 
              vazias. Até mesmo a taverna mais famosa da cidade encontra-se 
              com poucos clientes. Durnan, dono da Portal Bocejante, hoje somente 
              atende dois fregueses, viajantes do leste, sentados em uma mesa. 
              A monotonia da noite fria é quebrada pela entrada de outros 
              visitantes, um cavaleiro de longos bigodes negros, e uma barriga 
              proeminente que denuncia seu gosto por cerveja e um pequeno goblinóide, 
              que o acompanha. O homem entra falando.
      - 
              Velho Durnan! O que tem para um nobre e corajoso cavaleiro beber 
              numa noite gélida como esta?- Sir Robin! 
              Basta mostrar-me este cavaleiro que o servirei um conhaque de minha 
              adega com o maior prazer.
 - Muito engraçado, 
              muito engraçado. - o cavaleiro se senta próximo ao 
              balcão, olha a volta e vê os dois forasteiros bebendo 
              em uma mesa próxima. - Quem são eles?
 - Não 
              sei. Pelas roupas e sotaque, acho que vieram da Sembia. Devem ser 
              mercadores. Aliás, o que não é novidade. Quase 
              todos os sembianos são mercadores.
 - Sembia...Sim...lembro-me 
              bem de um sembiano, o mago Kelta. Já contei-lhe que este 
              mago e seus companheiros deram-me uma pequena ajuda para matar alguns 
              dragões em um outro mundo, que visitei anos atrás?
 - Sim, Sir Robin...Você 
              já contou isto pelo menos umas trezentas vezes. - Diz Durnan, 
              fazendo uma cara aborrecida.
 - Mas é 
              uma história empolgante. Merece ser contata novamente! - 
              anima-se Sir Robin
 - Por Tyr! - 
              resmunga Durnan.
 - Em uma batalha 
              contra a bruxa Avereena, a maldita me pegou de surpresa e lançou 
              um encanto. em mim e em Legri, meu escudeiro goblin, e fomos parar 
              em um outro mundo, um deserto eterno que alguns chamavam de terra 
              do "Sol Escuro". Passei uns cinco anos por lá, 
              onde tornei-me um campeão dos combates em uma arena, lutando 
              contra homens insetos e outras criaturas bizarras. Mas queria retornar 
              para meu mundo e um dia encontrei estes aventureiros. Eles tinham 
              um barco voador. Protegi aquele grupo contra as criaturas e perigos 
              daquele lugar e os liderei. Em troca me trouxeram de volta até 
              Águas Profundas. Foi inesquecível.
 - Eu também 
              jamais esquecerei esta aventura. No dia em que eu esquecer, você 
              me contará novamente. Conheci o mago Kelta e seus companheiros 
              e não pareciam precisar de proteção...
 - Mas aqui em 
              Faerum eles não precisam mesmo. Mas nos mundos além 
              deste, até aqueles aventureiros precisaram de um guerreiro 
              poderoso para combater e lidera-los e tive que fazer este papel. 
              Não foi assim, Legri?
      O 
              goblin, pequeno até mesmo para os padrões de suas 
              espécie, concordou com a cabeça, enquanto saltava 
              do chão para um banco no balcão. Um dos homens que 
              estava sentado na mesa, levanta-se e aproxima-se de Durnan e de 
              Sir Robin.      - 
              Peço desculpas por interromper a conversa de vocês, 
              mas não pude deixar de ouvi-la. Sou Akabut e aquele sentado 
              à mesa é meu irmão, Ikbar. Somos negociantes 
              e realmente viemos da Sembia. Procuramos um guerreiro para nos auxiliar 
              em uma missão. Foi chamado de Sir Robin. Pelas histórias 
              que conta deve ser um guerreiro, um cavaleiro não!?- Sim, meu senhor! 
              - Sir Robin curva-se em uma reverência exagerada - Sou Sir 
              Robin de Wilhelm, filho de Sir Wilhelm, cavaleiro do Rei Athar, 
              o paladino, e pai do Rei Piergeron. Já lutei muito em minha 
              vida e muitos perigos enfrentei. Qual é a sua missão? 
              Quer uma escolta? Quer saber o melhor lugar para se comprar armas?
 - Não, 
              Sir Robin - explica o homem - Eu e meu irmão descobrimos 
              a localização de um tesouro, em uma câmara subterrânea 
              não muito longe daqui. Precisamos de alguém com experiência 
              para entrar neste local e trazer para nós o que precisamos. 
              Pagaremos, no caso de encontrar o tesouro, quinhentas peças 
              de ouro.
 - E esta câmara? 
              Não existe monstros, armadilhas ou coisas parecidas por lá, 
              não é? É que com esta neve e este frio todo 
              peguei uma gripe que pode deixar meus reflexos mais lentos e isso 
              poderia me fazer vulnerável...teria que pensar melhor sobre 
              o assunto.
 - Achamos que 
              não há perigo. O local está abandonado há 
              décadas. No entanto eu e meu irmão somos simples mercadores 
              e temos receio em entrar em masmorras e coisas do gênero. 
              Nunca fomos aventureiros. Certamente será algo rápido 
              para você.
 - Sem monstros?! 
              Que pena. Acho que mesmo não estando em minha força 
              plena poderia destruir alguns vilões, mas se é assim... 
              - Sir Robin desembainha sua espada longa e ergue ao alto - O dever 
              mais uma vez me chama! Vamos Legri, seu goblin indolente, vamos 
              pegar nossas provisões e mochilas! Temos trabalho! Nos encontramos 
              aqui pela manhã?
 - Pela manhã 
              está perfeito, Sir Robin! Dormiremos aqui esta noite. - diz 
              Akabut.
      Sir 
              Robin deixa a Portal Bocejante, junto com o goblin Legri. Logo após 
              sua saída, Durnan chama Akabut.      - 
              O senhor tem certeza que Sir Robin é o homem certo para o 
              serviço? Ele é uma pessoa boa e honesta, mas como 
              guerreiro tenho cá minhas dúvidas. - fala o estalajadeiro.- Não 
              se preocupe. Não há perigo para ele. Como disse, só 
              não entramos nós mesmos na câmara pois somos 
              comerciantes e não gostamos de nos meter em ruínas. 
              Tenho certeza que será uma missão fácil. Será 
              mais um resgate arqueológico do que uma aventura. Agora gostaríamos 
              de um quarto para descansarmos.
       Durnan 
              entrega uma chave ao sembiano, que sobe com seu irmão as 
              escadas para os aposentos da Portal Bocejante. A noite fria passa, 
              e o dia chega. Os irmãos sembianos já deixaram o seu 
              quarto, comeram uma refeição e estão na frente 
              da taverna, esperando por Sir Robin. Eles o vêem chegando 
              com um cavalo, que parece muito cansado, carregado de objetos. Alguns 
              caem de sacos lotados enquanto andam e Sir Robin os recolhe atrapalhadamente.      - 
              Akbut... - fala o mais jovem dos sembianos, um homem de cabelos 
              negros e cavanhaque, que devia contar 30 anos - Tem certeza que 
              fez a coisa correta? O homem é um tolo. Será que conseguirá 
              obter as Pedras de Anaxander? Devia contratar um mercenário 
              ou um verdadeiro guerreiro.- Ikbar... - 
              responde o mais velho - Você é que está sendo 
              um tolo. Conhece o poder das Pedras de Anaxander. Quem possuir as 
              pedras poderá realizar um desejo por cada uma delas. Acha 
              que um mercenário ou guerreiro com tamanho tesouro nas mãos 
              sairia da câmara para nos entregar? No mínimo reivindicaria 
              uma das pedras para si. E ainda que não conhecesse nada sobre 
              elas, a magia está concentrada sobre belíssimas gemas, 
              que aguçaria o desejo de qualquer um. O homem da estalagem 
              disse que este cavaleiro é honesto e parece um parvo. Certamente 
              se encontrar nos trará o tesouro intacto e seremos, meu irmão, 
              os homens mais poderosos da Sembia, talvez até de Faerun.
 - Mas você 
              não acha que o mago Anaxander deixou algo guardando as Pedras? 
              Este "Sir Robin" pode perecer antes de trazê-las 
              para nós.
 - Não 
              sabemos se existem guardiões, provavelmente sim. Espero que 
              ele consiga por as mãos nas pedras e nos entregar antes de 
              qualquer problema acontecer, mas caso pereça, pelo menos 
              vamos saber que tipo de desafio iremos enfrentar para obtê-las.
 
      Sir 
              Robin aproxima-se dos dois irmãos.      - 
              Olá meus amigos. Trouxe meu cavalo, algumas armas e equipamentos 
              de sobrevivência. Somente o básico para nos aventurarmos. 
              - Após dizer isto, Sir Robin novamente abaixa para recolher 
              uma colorida touca de dormir, que caiu da bagagem sobre o cavalo. 
              Ikbar olha a quantidade de coisas sobre o pobre animal e volta-se 
              para o cavaleiro.- Touca de dormir? 
              Um barril de cerveja? Chama isto de equipamento básico?
 - Bem...a toca 
              é para o frio que sinto nas orelhas quando durmo e a cerveja...er...bom...é 
              para o caso de precisarmos fazer algum tipo de troca ou barganha. 
              Será muito útil. Mas para onde vamos?
 - Apenas há 
              umas cinco horas de viagem. - responde Akabut - Iremos pela estrada 
              aos pés do monte Helimbar e chegaremos ao monte Sar. A câmara 
              subterrânea do mago Anaxander fica próxima a uma parede 
              rochosa.
 - Mago? - Sir 
              Robin pergunta com a fisionomia preocupada.
 - Sim - responde 
              Ikbar - Anaxander foi um poderoso mago, mas era um eremita recluso.
 - Mas já 
              está morto há um século e não poderá 
              nos incomodar - complementa o outro sembiano.
 - Ótimo! 
              Então vamos pegar a estrada! Sir Robin monta seu cavalo com 
              o seu escudeiro, o globin Legri. Os sembianos fazem o mesmo. Durante 
              o início do percurso, Sir Robin se mantém alguns metros 
              atrás dos cavalos dos mercadores, o que chama a atenção 
              de Ikbar.
 - Sir Robin! 
              - diz em voz alta - Não deveria ir na nossa frente na estrada, 
              para verificar os perigos?
 - Esta tática 
              está ultrapassada! - responde o barrigudo cavaleiro - O mais 
              sensato é ficar aqui atrás para evitar que sejam pegos 
              de surpresa!
 Ikbar fala sussurrando para o irmão, enquanto cavalga.:- 
              Além de idiota, é um medroso este homem!
 - Acalme-se, 
              irmão! Em breve seremos as figuras mais poderosas dos reinos. 
              Não devemos nos irritar a troco de nada.
 - Akabut - interfere 
              Ikbar - Você tem certeza que as Pedras de Anaxander estão 
              lá? E que funcionam?
 - O diário 
              de Anaxander que encontramos com aquele ladrão em Baldur 
              não deixa dúvidas. Os mapas e descrições 
              são precisos. Pena para ele que não sabia ler e nos 
              vendeu o segredo por 2 peças de cobre. O livro diz que Anaxander 
              conseguiu fazer gemas de desejo muito especiais e perfeitas em seus 
              efeitos. Cada uma realiza um desejo e depois converte-se em rocha. 
              Pediremos para ser os homens mais ricos dos reinos, poderes arcanos 
              e para liderarmos o maior exército de Faerum. Com isto conquistaremos 
              os Reinos e nossos nomes serão lembrados para sempre, meu 
              caro.
 - Que a deusa 
              Waukeen o ouça, meu irmão - Ikbar dá um leve 
              sorriso em sua face ambiciosa. O trio caminha já por horas. 
              Passam pelo imponente monte Helimbar e chegam ao Sar, seguindo a 
              estrada. O caminho foi tranqüilo, sem ladrões, ou perigos. 
              Até mesmo o clima fora generoso neste dia, afastando a neve 
              da noite anterior. Em um determinado trecho, Akabut folheia as páginas 
              do diário e aponta um caminho entre as montanhas. Depois 
              de uma hora entre as paredes rochosas do Sar, chegam a um pequeno 
              pátio, onde uma árvore morta ergue ao alto seus galhos 
              desnudos pelo frio, como se suplicasse aos céus por algo.
 
 - É aqui! 
              - diz Akabut.
 - Mas não 
              vejo nada - responde seu irmão.
 - Não 
              há nada para ver agora, irmão. Mas observe! - Akabut 
              aproxima-se da árvore e puxa um de seus galhos. No chão 
              próximo abre-se um buraco.
 - Uma passagem 
              secreta! - exclama Sir Robin!
 - Sim. Este 
              era uma passagem de luz, no teto de uma sala subterrânea do 
              mago. - explica Akabut, enquanto ajoelha-se na entrada e joga uma 
              corda. - É por aqui que você ira descer!
 - Des-descer! 
              Ma-mas não consigo ver nada aí embaixo! - exclama 
              Sir Robin
 - Por isto trouxemos 
              uma tocha !- Ikbar entrega a tocha para o cavaleiro, e a acende.
 - Procuramos 
              três gemas vermelhas como rubis. - explica Akabut - São 
              grandes, do tamanho de um punho. Assim que as encontrar volte e 
              suba pela corda.Sir Robin olha para o buraco escuro, titubeando.
 - O que foi, 
              Sir Robin! - comenta Ikbar - Está com medo?
 O cavaleiro 
              estufa o peito e responde simulando firmeza.- Medo?! Ora vejo que 
              realmente não conhecem à Sir Robin de Wilhelm, que 
              matou dragões de outros mundos além dos deste.
 
 O cavaleiro 
              dá a tocha para o goblin, que vai na frente, e os dois começam 
              a descer a corda. A iluminação vai aos poucos revelando 
              a sala. Estantes semi destruídas, livros, um caldeirão, 
              muita poeira e teias de aranha. Quando desce completamente, Sir 
              Robin vai percebendo os detalhes. Percebe atrás si uma antiga 
              estátua de um grande demônio alado.
      - 
              Ahhhh!!!! - grita o cavaleiro!- O que foi, 
              Sir Robin ?- a voz de Akabut do alto pergunta.
 - Nada...não 
              foi nada!. Gritei para testar o eco do local e assim saber suas 
              dimensões. Não se preocupem. - responde, desconcertado
      A 
              sala tem uma única porta e Sir Robin avança por ela, 
              que está aberta.      - 
              Por Tyr, Legri! Esse lugar antigo e escuro me dá calafrios...- A mim também, 
              messstre - responde o goblin com sua voz sibilante.
      O 
              outro cômodo é um corredor, mais sombrio que a sala 
              anterior. No outro lado há uma nova porta de madeira. As 
              teias de aranhas são muitas e grossas e tem que ser rasgadas 
              pela espada do cavaleiro .     - 
              Quantas teias! - exclama Sir Robin- Sssir Robin! 
              Tem alguma coisa se mexendo aí no chão! O cavaleiro 
              de Águas Profundas olha 
              para o chão e vê dezenas de pequenas aranhas!
 - Malditas! 
              Então foram vocês que fizeram estas teias! Morram! 
              Sir Robin irá matá-las sem piedade!- As aranhas morrem 
              ao ser pisoteadas pelas botas do cavaleiro, emitindo um nojento 
              som. Repentinamente um outro ruído é ouvido, um chiado 
              horripilante.
 - Pare com isto 
              Legri! Não vê que aqui já é assustador 
              o bastante!
 - Messtre...Olhe 
              pra cima!Presa o teto, uma gigantesca aranha com quatro pares de 
              olhos brilhantes e presas que gotejam um veneno esverdeado observa 
              o intruso de seus domínios, prestes a atacar.
 - Ahhhh! Por 
              Tyr! Socorro! Socorro! - Sir Robin e Legri saem correndo, tremendo 
              e gritando em direção de um corredor a frente. A aranha 
              salta do teto e lentamente os perseguer. Os dois fugitivos agora 
              estão encurralados: no final do corredor, uma porta trancada 
              impede a saída e o aracnídeo monstruoso aproxima-se 
              para seu ataque mortal..
 - Abre droga! 
              Abre logo! - O cavaleiro dá um pontapé e consegue 
              arrombar a entrada, segundos antes da aranha alcançá-los.
      A 
              nova sala é ampla. Houve um pequeno desabamento que encobriu 
              a parede à direita. O cômodo é decorado com 
              tapeçarias, armaduras e alguns baús. A frente, em 
              um altar estão três grandes gemas vermelhas, que apesar 
              da pouca luz do ambiente, brilham fulgurantemente, iluminando o 
              local com uma irradiação avermelhada. Atrás 
              do altar um imenso trono de pedra, provavelmente o local onde Anaxander 
              sentava para admirar sua criação. Na parede esquerda 
              um esqueleto sentado em uma cadeira, com uma espada no colo, parecia 
              ser o sentinela do local.      Apesar 
              da descrição impressionar, a única coisa que 
              Sir Robin queria notar mesmo era uma porta para fugir, mas não 
              havia nenhuma. A aranha vinha em sua direção. Ficou 
              parado por dois segundos em frente das gemas, pensando em levá-las. 
              Tempo suficiente para ver que o esqueleto na cadeira levantara e 
              que também vinha em sua direção. Desistiu de 
              pegar as jóias e correu para se esconder atrás do 
              trono.       - 
              Vou morrer! Vou morrer! Não tenho chance! Uma aranha gigante 
              e um esqueleto armado!      A 
              aranha olha para o humano em fuga e cospe seu veneno ácido. 
              Por sorte, o esqueleto que também perseguia Sir Robin inadvertidamente 
              se coloca na frente dele e é atingido, começando imediatamente 
              a derreter. O cavaleiro já escondeu-se atrás do trono 
              de Anaxander e ora para todos os deuses que conhece, enquanto a 
              aranha aproxima-se cada vez mais. O aracnídeo se encontra 
              agora a poucos metros do trono e em seu caminho derruba o altar 
              e as gemas. De súbito, ouvem-se vários zunidos e um 
              chiado amedrontador. Sir Robin pensa que sua hora chegou, mas com 
              o silêncio repentino que se faz, lentamente põe a cabeça 
              além da proteção do trono para ver o que aconteceu. 
              Vê a aranha, cravejada de flechas e lanças, morta, 
              com as patas para cima. O monstro ativara um armadinha mortal.      - 
              Tyr, Tymora e Mistra! Obrigado! Sir Robin sai de seu abrigo e vê 
              as magnificas jóias, espalhadas pelo chão. Com cuidado 
              as apanha e as põe em um saco de pano.- Vamos dar o fora deste lugar, Legri!
 
      O 
              cavaleiro retorna para a sala onde entrara e dá um leve puxão 
              na corda, para avisar aos irmãos sembianos que concluíra 
              sua missão.      - 
              Sir Robin! - Exclama Ikbar! - Conseguiu as pedras?- Mas é 
              claro que sim! Foi fácil! Só tive que matar uma aranha 
              gigante e destruir um esqueleto. Agora deixem-me subir! Os mercadores 
              espantam-se, mas sorriem felizes. Estão prestes a realizar 
              o mais dourados dos seus sonhos de poder. Sir Robin sobe a corda 
              a frente, seguido depois de Legri. O goblin, começa a dar 
              puxões em sua calça.
      - 
              Messtre! Messtre!- O que foi 
              seu idiota! Não vê que estamos saindo deste lugar horrível. 
              Não me atrapalhe! O goblin continua a puxar a calça 
              do cavaleiro.- Messtre...sssai logo! - diz Legri, como se suplicasse. 
              Sir Robin olha para baixo.
 - Seu imprestável! 
              O que você... - O cavaleiro vê agora o motivo da pressa 
              do seu companheiro. A estátua que vira quando entrou na câmara 
              começa a se mover.
      Lá 
              fora, os irmão sembianos vêm o seu contratado subir 
              a corda, mais rápido que um raio. Sir Robin e Legri saem 
              do buraco em um pulo e correm desesperadamente, deixando para trás 
              os dois ambiciosos mercadores!- Volte aqui! 
              Devolva as Pedras, seu maldito ladrão! - Grita Ikbar
 - Fujam! A estátua 
              está viva! - grita Sir Robin, sem parar de correr. Depois 
              do aviso, a entrada da câmara de Anaxander é alargada 
              com violência pela figura de um gárgula de pedra, que 
              ganha os céus, segurando uma enorme espada.
 - Por Waukeen! 
              - exclama Akabut. Os irmãos sembianos param por um segundo, 
              paralisados pela repentina visão. Logo após, sacam 
              suas cimitarras e correm procurando um abrigo, mas não há 
              mais tempo.. A criatura alada ganha altura e investe agora em um 
              vôo rasante contra Ikbar. O mercador joga-se no chão 
              e consegue se esquivar. Sir Robin, já devidamente abrigado 
              no meio de algumas pedras observa ao longe a fuga dos irmãos.
 - Por Tyr. Gostaria 
              que esta criatura desaparecesse. Logo agora que completei a missão. 
              Seria meu grande sucesso. Até os bardos cantariam esta vitória!
 De súbito o gárgula some. Os dois irmãos olham-se:
 - O que aconteceu, 
              Akabut? - pergunta o mais jovem.
 - Não 
              sei. O monstro desapareceu! Um zunido, uma rajada de vento e um 
              rangido de pedras passam próximos dos irmãos. Ikbar 
              grita e em um segundo sua cabeça é separada do corpo.
 - Maldição. 
              A estátua ficou invisível! - Grita Akabut, enquanto 
              olha para o que restou do irmão. O mercador corre e grita 
              por Sir Robin!
 - As Pedras! 
              São a única esperança! Sir Robin, apareça! 
              Dê-me as Pedras de Anaxander! - brada o sembiano em fuga. 
              Logo depois recebe um soco da criatura invisível e é 
              arremessado contra uma parede do monte Sar.
 Enquanto vê o desespero de Akabut, Sir Robin comenta com companheiro 
              goblin:
 - Veja, Legri! 
              A ambição cegou aquele homem. Está sendo perseguido 
              por um demônio e tudo em que pensa são em algumas jóias. 
              Gostaria ser um corajoso cavaleiro, como meu pai para ajudá-lo. 
              Não um medroso que se esconde do perigo. - O cavaleiro, triste 
              abaixa a cabeça e olha para sua espada. - e quem dera que 
              ela fosse uma arma encantada, talvez assim teria uma chance de destruir 
              este monstro. Após terminar sua frase, Sir Robin sente uma 
              força emanando de seu corpo. Sua espada longa brilha uma 
              luminosidade dourada e ele enche seu peito de ar e seus olhos de 
              uma determinação inesperada. O seu sangue ferve e 
              ele diz:
 - Não 
              serei mais um covarde, Legri. Destruirei este monstro! - Sir Robin 
              então salta de seu esconderijo, espada em punho, gritando 
              - Criatura! Sir Robin está aqui. Venha morrer!
      O 
              cavaleiro de Águas Profundas posiciona-se. Sente o vento 
              deslocado pelo gárgula e , instintivamente desvia-se, aproveitando 
              para golpear a criatura. O som da pedra sendo quebrada, anuncia 
              o acerto da investida. A terra marcada e o barulho mostram que a 
              criatura caiu. Logo em seguida, o ar deslocado pela asas do gárgula 
              indicam que mais uma vez ele alçou vôo. Sir Robin agora 
              movimenta-se e fica de costas para uma parede rochosa.
 - Venha demônio! 
              Venha pegar-me! - grita
 
 Novamente o 
              gárgula investe dos céu, em altíssima velocidade. 
              O ruído de rochas rangendo, provocado pelo bater de suas 
              asas de pedra vai aumentando. Sir Robin aguarda até que aquele 
              barulho e a rajada de vento se aproxime ao máximo. Então 
              com um movimento de suas pernas, dá um salto para o lado. 
              Na parede de pedra, explode o gárgula em mil pedaços. 
              O cavaleiro olha seu oponente destruído, mas nada vê. 
              Volta-se agora para Akabut, que sofre uma estranha transformação. 
              Seu corpo da cintura para baixo já está convertido 
              em pedra e o restante começa a sofrer o mesmo destino. O 
              toque do gárgula mostrou seu terrível efeito. Sir 
              Robin aproxima-se do sembiano, que balbucia algo:
 - As Pedras. 
              Dê-me as Pedras, seu inútil. ..
 - Sempre ouvi 
              falar que os sembianos eram amantes do ouro e das jóias, 
              mas você me      surpreende. 
              Até neste estado preocupa-se com estas gemas! - comenta Sir 
              Robin.
 - Cale-se e 
              me dê as Pedras! Sir Robin entrega o saco de pano. Com os 
              braços já experimentando a rigidez da petrificação, 
              Akabut abre o saco com desespero e seu rosto se contrai com o que 
              vê: no lugar das três gemas, estão apenas três 
              pedras sem valor.
 -Você...maldito...u-usou 
              o poder das...- antes que terminasse a frase, a petrificação 
              se completa. Sir Robin não entendera o que aconteceu, nem 
              o que o sembiano iria dizer. As jóias, brilhantes e verdadeiras, 
              se converteram em rochas. Após um instante de silêncio, 
              ele e seu goblin Legri enterram o corpo de Ikbar, enquanto seu irmão 
              de pedra ficaria para sempre como testemunha daquela aventura. Depois 
              subiram nos cavalos dos sembianos e puxaram a sua antiga montaria 
              em direção à Águas Profundas.
 - Legri. Esta 
              foi minha mais estranha aventura! - comenta o cavaleiro - E hoje 
              sinto-me diferente. Com coragem e disposição para 
              enfrentar perigos e as injustiças e honrar o título 
              de cavaleiro, herdado de meu pai! Vamos, meu amarelado companheiro, 
              existem muitas batalhas em Faerun para nós. Mas antes...é 
              bom me exercitar e me livrar desta ridícula barriga e talvez 
              deste bigode. O goblin sorri, escancarando os dentes pontiagudos. 
              Os dois cavalgam, enquanto o sol lança seus raios, derretendo 
              o resto de neve acumulada nas árvores do caminho...
 
 
 
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