|   
 
  Keczulla, 
                                  Amn
 Corra, pequena Aparição,, corra. 
                                  Mas não há onde se esconder. *** Na sombra fresca do beco, uma 
                                  dúzia de corpos cinzentos esperava, pequenas 
                                  sombras tensas prontas para o bote. As crianças 
                                  tinham de quatro a doze anos, as mais velhas 
                                  segurando as mais novas pelas mãos, para mostrá-las 
                                  como funcionava o golpe. Sem o conhecimento, 
                                  elas logo morreriam de fome, ou seriam pegas 
                                  pela Guarda de Keczulla. “É aquele”, disse Meisha. Ela 
                                  apontou o jovem mercador para os outros, apesar 
                                  de eles não terem como não notarem um alvo tão 
                                  fácil. O jovem andava tranquilamente pelo beco 
                                  atrás da taberna O Gnomo Thristy. O tolo estava 
                                  preguiçosamente brincando com uma pedra preciosa 
                                  do tamanho de uma moeda, seus lados lisos atraindo 
                                  a luz e os olhares ávidos de doze famintos. 
                                  Ele não tinha idéia de que estava prestes a 
                                  ser roubado. “Espera o sinal.” Meisha empurrou 
                                  Eklen, o garoto de quatro anos pelo qual estava 
                                  responsável, contra a parede ao lado dela. Os 
                                  outros estavam espalhados por ambos os lados 
                                  do beco, pressionando seus corpos cobertos de 
                                  lama contra as construções. “O que a gente tá esperando?” 
                                  choramingou o pequeno. Meisha silenciou-o com 
                                  uma cotovelada aguda nas costelas. “Pára.” “Fica quieto!” Meisha sibilou. 
                                  “Presta atenção ou a próxima vai ser na sua 
                                  cabeça. Olha, você tem que ser paciente, tá? 
                                  Espera eles virem até você.” O mercador parou, hesitando 
                                  na súbita escuridão fresca do beco. Ele ia dar 
                                  meia volta, pensou Meisha. Ele deve ter ouvido 
                                  alguma coisa. Maldito homem por ter um pouco 
                                  de bom senso. “Rápido, ele tá escapando”. 
                                  Eklen levantou-se de um pulo, mas Meisha agarrou-o 
                                  pela cintura com um braço ossudo e puxou-o de 
                                  volta. “Ele não vai a lugar algum”, 
                                  sussurrou ela. “Olha”. Silencioso como uma nuvem de 
                                  pó, uma das Aparições mais velhas se esgueirou 
                                  para longe da parede. Com movimentos rápidos 
                                  através do beco, ela se postou na frente do 
                                  caminho do mercador. Uma luz embotada saía de 
                                  sua cabeça raspada. Suor e lama seca haviam 
                                  deixado marcas sujas nos lados de seu rosto 
                                  magro. Para o mercador, ela devia ser parecida 
                                  com um pequeno demônio, fugido de algum confim 
                                  do Inferno. Aos olhos de Meisha, ele era 
                                  o melhor ladrão de bolsas que as Aparições tinham. 
                                  Ele era vital para conseguir comida para elas, 
                                  e apesar disso Meisha não sabia nem seu nome. 
                                  Nomes ou identidades não eram necessários entre 
                                  as Aparições. Só havia a força do grupo. Eles 
                                  se pareciam, meninos e meninas –moviam-se como 
                                  uma só pessoa, comiam e agiam como se fossem 
                                  um. O jovem mercador, sem fala 
                                  após a visão do pequeno demônio coberto de lama, 
                                  congelou quando ele deveria estar correndo. 
                                  Este foi o erro fatal. Quando ele voltou a si, 
                                  a Aparição havia cortado os cordões de sua bolsa 
                                  com uma pequena navalha amarrada em seu dedão. 
                                  Ele deu um sorriso desdentados e saiu correndo 
                                  pelo beco. “Pare! Você! Guardas!” O mercador 
                                  saiu correndo atrás do ladrão, enquanto as outras 
                                  Aparições se preparavam. O pobre tolo olhava 
                                  só para frente, preocupado com suas moedas, 
                                  sem olhar em volta para ver a armadilha se fechando 
                                  em volta dele. Afinal de contas, era apenas 
                                  uma criança faminta. As sombras no beco se intensificaram 
                                  e se moveram em direção ao mercador. Em vez 
                                  de uma criancinha, de repente havia duas. E 
                                  pelo canto dos olhos ele viu mais duas, saindo 
                                  de seu encolhimento e dando o bote como gatos 
                                  raivosos. Eklen agarrou a perna do mercador, 
                                  envolvendo braços sujos em sua coxa. O mercador derrapou e tentou 
                                  arrancar o garoto dali, mas seus dedos escorregaram 
                                  e não acharam apoio na lama escorrendo pelos 
                                  braços finos do garoto. A criança ergueu a cabeça 
                                  e sorriu para o mercador. Moscas andavam por 
                                  sua cabeça raspada, mas o garoto não se importava 
                                  com elas. Eram bem melhores do que pulgas. Nenhum 
                                  deles podia ter cabelos por muito tempo por 
                                  causa das pulgas. Enojado, o mercador largou 
                                  o garoto e teve vontade de vomitar por causa 
                                  do cheiro que agora vinha dele. Ele arrastou 
                                  seu fardo na direção da construção mais próxima, 
                                  com a intenção de prensar o garoto contra a 
                                  parede. Ele conseguiu dar dois passos 
                                  antes que estivessem todos nele. Mais mãos agarraram seus braços, 
                                  imobilizando-os. Como um macaco, um quarta Aparição 
                                  subiu por suas costas. As mãos imundas deles 
                                  estavam em todos os lugares, em seu cabelo, 
                                  suas roupas, roubando jóias e bolsas onde quer 
                                  que as encontrassem. Eles arrancaram os anéis 
                                  de suas mãos suadas, quebrando dedos quando 
                                  não conseguiam tirar a jóia. E ainda assim eles 
                                  queriam mais. Ofegante, incapaz de gritar 
                                  por causa das mãos em sua boca, o mercador caiu 
                                  de joelhos. Ele cobriu sua cabeça o melhor que 
                                  pôde e não mais resistiu ao violento saque. 
                                  Ele apenas esperou até que acabasse. Depois do que pareceu um século, 
                                  o peso foi erguido de seu corpo, e o cheiro 
                                  – o enjoativo e desprezível de lixo e pobreza 
                                  – finalmente começou a desaparecer. O mercador ergueu a cabeça 
                                  e viu seus atacantes se retirando. Uma dor aguda 
                                  o atingiu atrás da orelha, e ele caiu para frente, 
                                  inconsciente no chão do beco. Ele estaria suficientemente 
                                  seguro até que acordasse, pensou Meisha. Ela 
                                  jogou longe a pedra que usara para silenciá-lo. 
                                  Ele havia sido totalmente roubado pelas Aparições. 
                                  Nada de valor havia sido deixado para qualquer 
                                  outra pessoa pilhar. Meisha teve de correr para 
                                  alcançar os outros. Ela queria garantir sua 
                                  parte. Virando a esquina, Meisha parou, 
                                  surpresa ao ver as Aparições ainda juntos. Eles 
                                  estavam amontoados nas sombras, conversando 
                                  em sussurros. Meisha olhou pela rua e viu o 
                                  que os havia parado. Um velho caminhava pela rua 
                                  estreita, seguindo mais ou menos o mesmo caminho 
                                  que o mercador havia feito em direção ao beco. 
                                  Como o tolo antes dele, o velho, inconscientemente, 
                                  seguia o mesmo destino em direção à ruína. Mas um fio de desconforto passou 
                                  por Meisha quando ela olhou para ele. Como um 
                                  grupo, as Aparições geralmente sabiam quando 
                                  um alvo não era bom. Poderia ser um mercador 
                                  armado ou vestindo armadura, um que conhecesse 
                                  os caminhos por entre o Vigilante Lunar do Porto, 
                                  ou um oficial da Guarda disfarçado, em busca 
                                  de uma gangue de crianças selvagens para prendê-las. 
                                  Às vezes era apenas um pressentimento que mantinha 
                                  os mantinha longe. Meisha não gostou desse alvo, 
                                  mas em volta dela as crianças já estavam planejando. Meisha deu um passo à frente, 
                                  colocando a mão nos pequenos ombros e Eklen. 
                                  “O velho não”, disse ela. Todos os rostos magros viraram-se 
                                  para olhar para ela como se uma segunda cabeça 
                                  tivesse acabado de sair de seu pescoço. “A gente já tem bastante coisa 
                                  por hoje”, Meisha insistiu. “Esse aí é ruim.” “O calor ferveu seus miolos!” 
                                  irrompeu o ladrão de bolsas. Ele apontou para 
                                  o velho. “As bolsas dele tão cheias que nem 
                                  bexiga de porco. Eu vou. Quem vem comigo?” O resto do grupo assentiu e 
                                  se enfileirou atrás dele. Eklen se livrou do 
                                  braço dela e os seguiu. Meisha correu até o lado dele. 
                                  “Você fica comigo nessa, ouviu?” “Vou pegar a perna dele!” Ela esmurrou-o. “Você é meu, 
                                  e faz o que eu falar”. O garoto esfregou o lado do 
                                  seu rosto e olhou-a com ódio. Ele arrancou sua 
                                  mão das mãos dela e correu para alcançar os 
                                  outros. Meisha ficou em seu posto contra 
                                  a parede. O velho entrou no beco. Meisha esperou, 
                                  a respiração presa nos pulmões. Por um momento antes de ele 
                                  ver a armadilha, os olhos do velho encontraram 
                                  os dela. Meisha sentiu um peso no estômago, 
                                  uma queimação estranha, ácida, como se ela tivesse 
                                  engolido brasas. A sensação era pior do que 
                                  a queimação da fome. Ela vivera com essa última 
                                  a vida inteira. Esta nova era... sobrenatural, 
                                  incontrolável. Isso estava acontecendo rápido 
                                  demais, pensou Meisha. Ela não conseguia respirar 
                                  por causa do calor expandindo seu peito. Estava 
                                  tudo errado. Então ela viu Eklen dando a volta 
                                  para agarrar a perna do velho, como ela o havia 
                                  ensinado. “Pára!” gritou Meisha. Aconteceu tão de repente, e 
                                  mais tarde Meisha nunca conseguiu descrever 
                                  do jeito certo. O velho virou-se na direção 
                                  do grito, e Eklen, confuso, pulou na frente 
                                  dele. Por que ninguém ia ajudar? 
                                  Meisha pensou selvagemente. A queimação ameaçava 
                                  consumi-la. Ela pressionou seu corpo contra 
                                  a parede fria do beco, mas nada ajudava. Ela 
                                  estava tão quente, tão desamparada. Ela não 
                                  conseguia chegar até Eklen. O velho estava tentando 
                                  chegar ao garoto, e Eklen estava de pé, imóvel... “Não encosta nele!” E então tudo havia acabado. 
                                  O calor havia deixado seu corpo, descolando-se 
                                  de sua pele como uma presença física. Meisha 
                                  podia ver o vento quente espiralando pelo beco, 
                                  um funil de calor abrasador que arrancava lixo 
                                  e areia do chão, misturando tudo no ar num turbilhão 
                                  furioso. Será que ela havia sido possuída 
                                  por um demônio? Meisha nunca havia sentido isso 
                                  antes. Atordoada, ela viu o funil passar sobre 
                                  Eklen e sobre o velho. Ele ergueu os braços, 
                                  e o ar pareceu se abrir à sua frente, mandando 
                                  a nuvem para longe inofensivamente. Um mago, pensou Meisha. Tinha 
                                  que ser. Ela nunca havia visto os arcanos, mas 
                                  as Aparições, assim como outros habitantes de 
                                  Amn, contavam histórias sobre o terror e a destruição 
                                  causados pelo povo arcano. Para Meisha – que 
                                  vivia diariamente na escuridão da fome constante 
                                  – essas histórias eram como histórias inofensivas 
                                  de fantasmas, fantásticas demais para serem 
                                  reais. O vento acalmou-se, tirando 
                                  Meisha de seu transe congelado. Ela empurrou 
                                  a parede, confiando que seus pés ainda a agüentariam. E então ela viu Eklen, largado 
                                  no chão do beco junto com um monte de lixo. Ela correu até ele, ignorando 
                                  o mago que estava em pé acima dos dois. Que 
                                  ele acabasse com ela como fizera com o garoto. 
                                  Meisha não se importava. Meisha caiu de joelhos ao lado 
                                  da criança. “Eklen!” Ele não se mexeu. Ele estava 
                                  corado porém seco. Mesha colocou sua cabeça 
                                  contra o peito dele, procurando por sinais de 
                                  respiração. Não os encontrou. “Levanta!” Meisha sentiu suor 
                                  escorrendo por seu rosto. O ar estava pesado 
                                  e quente em sua garganta. Que ódio do calor 
                                  de Keczulla. “Escuta aqui. Você é meu e eu falo 
                                  quando você se mexe e quando você fica parado, 
                                  então levanta! Me escuta ou eu te soco, agora 
                                  levanta!” Sua voz lhe soava estridente e horrível. 
                                  Agarrada ao corpinho de Eklen, Meisha se balançava 
                                  para frente e para trás, sacudindo-o. Ele estava 
                                  pesado e flácido em seus braços, como um peixe 
                                  mole, morto na praia. “Acorda, seu idiota!” Uma sombra caiu sobre eles. 
                                  Meisha olhou para cima, estreitando os olhos, 
                                  em direção ao rosto do mago. “Sai daqui!” ela grasnou, quando 
                                  o mago se agachou ao lado dela. Mas o velho 
                                  ignorou-a. Ele sentiu a pele do garoto, seu 
                                  peito, como Meisha havia feito. Um olhar especulativo 
                                  apareceu em seus olhos quando ele finalmente 
                                  passou sua atenção para Meisha. “Não tinha como você saber”, 
                                  disse ele. “Não é sua culpa”. “Você matou ele!” Meisha cuspiu 
                                  na cara do mago. O velho limpou a sujeira da 
                                  sua barba e apenas continuou a observá-la. Isso 
                                  deixou Meisha furiosa. Ela era como um pássaro 
                                  nas garras de um falcão. “Vou chamar os guardas!” 
                                  ela gritou, arrastando Eklen para longe do velho. “Ah, mas quem é que eles vão 
                                  levar, imagino?” Meisha pulou em cima dele, 
                                  suas mãos como garras. Ela arrancaria olhos 
                                  dele antes de morrer. Uma explosão de força jogou-a 
                                  com as costas na parede de uma construção. Sua 
                                  visão estava embaçada, mas Meisha sacudiu a 
                                  dor para longe e ficou de pé. O mago continuou 
                                  agachado, sereno, ainda olhando para ela. “Minha magia não matou seu 
                                  amigo”, o mago disse após um momento. “Foi a 
                                  sua.”. Tudo dentro de Meisha reduziu-se 
                                  a medo e repugnância. As construções pareciam 
                                  sufocá-la. Ela queria desesperadamente escapar 
                                  dos olhos do mago, mas não conseguia. “Mentiroso”, ela sussurrou. 
                                  “Sua magia...” “É preciosa demais para gastar 
                                  num rato de rua mal alimentado”, o mago disse, 
                                  sensatamente. Ele apontou para o corpo de Eklen. 
                                  “Este garoto não bebe água de boa qualidade 
                                  há mais de um dia. Isso é morte no calor de 
                                  Keczullan. Seu vento mágico simplesmente acelerou 
                                  o processo. A explosão repentina apenas tirou 
                                  o resto da umidade do corpo dele. Um feitiço 
                                  impressionante”, ele adicionou, em um tom que 
                                  era quase de elogio. Meisha sentiu sua cabeça voando. 
                                  “Eu não sou maga!” ela gritou, e foi para cima 
                                  dele novamente. A explosão de magia foi mais 
                                  dolorosa desta vez, e Meisha demorou um bom 
                                  tempo para levantar do chão. O mago, de pé, olhava para 
                                  ela. “Eu posso ensiná-la a controlar esse poder”, 
                                  disse ele. “Em vez de ficar com raiva de mim, 
                                  fique com raiva de algo mais útil. Procure redenção 
                                  pela morte deste garoto.” “Você é louco”, sibilou Meisha. 
                                  Com o canto dos olhos, ela viu sombras cinzentas 
                                  se aproximando. As outras Aparições haviam se 
                                  reunido para ver o que havia acontecido. Meisha 
                                  sentiu ódio delas por terem-na deixado para 
                                  trás, mas naquele momento tudo o que ela queria 
                                  era ver o mago sentir dor. Aquele velho tolo 
                                  que olhava para ela com pena nos olhos. “Tanto talento desperdiçado”, 
                                  disse ele. “Venha comigo, pequena Aparição. 
                                  Eu posso salvá-la, se me deixar.” “Me salvar”, Meisha caçoou. 
                                  “Mago louco.” Ela virou-se para sinalizar aos 
                                  outros e sentiu uma aguilhoada na perna. Ela 
                                  olhou para baixo e viu uma pedra afiada entalhada 
                                  na sua panturrilha. Desnorteada, ela olhou para 
                                  a pequena Aparição que havia jogado a pedra. “O que você tá… não!” Ela caiu 
                                  quando outro míssil bateu no seu ombro. Seu 
                                  braço adormeceu. Eles estavam se aproximando 
                                  dela agora, formando um círculo. Todos seguravam 
                                  pedras em suas mãos como garras. “Matem a maga”, 
                                  disse o ladrão de bolsas, e os outros se moveram 
                                  para obedecer. Pedras voaram, e Meisha cobriu 
                                  sua cabeça com os braços. A dor encheu todo 
                                  o seu mundo. Era pior do que qualquer coisa 
                                  que ela já havia imaginado. Gemendo, gritando, 
                                  implorando para que isso parasse, Meisha se 
                                  encolheu contra a parede da construção, enterrando 
                                  a cabeça nos restos de uma caixa de madeira 
                                  que havia sido jogada fora no beco. Foi a única 
                                  coisa que salvou sua vida. Depois de um tempo, ela perdeu 
                                  os sentidos. A morte, pensou ela, seria uma 
                                  libertação deliciosa, mas em vez disso ela acordou, 
                                  momentos ou dias depois, e não viu mais nenhum 
                                  . Ela olhou em volta, e o mundo 
                                  dançou frente aos seus olhos. Ela iria morrer, 
                                  pensou Meisha. Ela não conseguiria pegar comida 
                                  nem água. Sem as Aparições, sem a força do grupo 
                                  para apoiá-la, era apenas uma questão de tempo. 
                                  Ela olhou para o céu, esperando, apática. O mago não anunciou sua chegada 
                                  com barulho de passos, nem com um cumprimento. 
                                  Ele simplesmente apareceu acima dela, bloqueando 
                                  sua visão das nuvens que passavam. “Não foi dessa vez que morreu, 
                                  então?” perguntou, em tom de conversa. “Eu esperava 
                                  tal coisa.” Meisha não tinha mais força 
                                  de vontade para lutar. “Me mate”, ela pediu. 
                                  Havia sangue seco em sua boca. Ela podia sentir 
                                  o gosto de cobre em sua língua. “Eu não quero que você morra”, 
                                  disse o mago. “Você tem muito potencial. Você 
                                  tem magia em estado bruto em você, pequena Aparição, 
                                  e ela está morrendo de vontade de sair. Se eu 
                                  deixar você aqui, você vai acabar morrendo, 
                                  mas não precisa ser assim. Eu posso salvá-la... 
                                  te dar um novo futuro.” Meisha forçou seu corpo espancado 
                                  a se mover. Ela rolou de bruços e se arrastou 
                                  para longe do mago. Cada osso quebrado gritou 
                                  de dor. Meisha gritou, agonizante, mas ela tinha 
                                  de se afastar dele e de seus delírios loucos. 
                                  Ela – uma maga? Ela preferia morrer. “Então vá”, o mago gritou atrás 
                                  dela. “Corra, pequena Aparição. Corra. Mas não 
                                  há onde se esconder. Não de você mesma.” Meisha desmoronou, seu rosto 
                                  pressionado contra a areia e a sujeira, a dor 
                                  insuportável. Não. Ela não queria morrer. Mas 
                                  ela havia matado Eklen. Ou o demônio dentro 
                                  dela o havia feito. Então ela não merecia a 
                                  morte? O mago se agachou e colocou 
                                  um frasco de líquido debaixo do nariz dela. 
                                  “Beba”, ele disse. Sua voz não era descortês, 
                                  mas ele não admitia recusas. Meisha bebeu. O líquido desceu 
                                  por sua garganta, fresco e um pouco doce. Seu 
                                  corpo quebrado agradeceu o frescor, e a dor 
                                  começou a diminuir. Ela olhou para o mago, tonta 
                                  e quase histérica de alívio. “O que é esse cheiro?” 
                                  ela perguntou. Sentia-se refrescada e sonolenta. 
                                  Ela queria dormir, dormir e estar segura. “A poção de cura não tem cheiro, 
                                  criança”, disse o mago. “Então deve ser você”, ela 
                                  disse. “Tem cheiro de...” O mago sorriu. “De musgo de 
                                  caverna e água descendo por um rio subterrâneo?” 
                                  Ele riu quando ela olhou para ele sem entender. 
                                  “Você nunca viu nenhuma dessas coisas, viu? 
                                  Você está morrendo de fome, e é ignorante e 
                                  não tem idéia do que poderia ser, se fosse cultivada 
                                  da maneira certa.” Ele chegou mais perto para 
                                  que ela pudesse ouvi-lo. A voz dele ainda parecia 
                                  vir de muito longe. “Eu posso tirá-la desse 
                                  calor sufocante, pequena. Eu posso tirar sua 
                                  dor. Você não quer viver, pequena? Não vai tentar?” “Sim”, Meisha disse. Ela estava 
                                  flutuando em uma nuvem sem dor, meio acordada. 
                                  “Eu quero... me sentir... segura.” “Então você vai se sentir. 
                                  Venha comigo.” “Sim”. Meisha podia ouvir o 
                                  mago murmurando algo suavemente. Quase poderia 
                                  ser uma prece, mas o povo arcano não tinha preces, 
                                  tinha? Não esses demônios. Ela forçou-se a abrir os olhos. 
                                  O sol havia desaparecido. A escuridão escondia 
                                  tudo à sua volta. Em algum lugar distante, ela 
                                  ouvia o eco suave de água corrente. O ar era 
                                  frio. Muito, muito frio. “Onde eu estou?” ela murmurou, 
                                  assustada. Ela ouviu a voz do mago, distante. 
                                  “Bem vinda ao meu lar, pequena Aparição. Bem 
                                  vinda ao Delve.” * * * Saia da dungeon em The Howling 
                                  Delve pelo autor Jaleigh Johnson.
 
  
 Para ver esta e outras publicações 
                                  de romances vá para nossa seção 
                                  de suplementos 
                                  - romances.
 
 |